Nota 8 Terror surpreende com vilão original e teoricamente imbatível, além de tensão crescente
A fobia de viajar de avião é praticamente um fetiche para Hollywood e quanto mais catastrófico o passeio melhor. Imagine apenas supor que alguma coisa pode dar errado durante o trajeto, mas algo dentro de você parece implorar para que aborte a viagem. É dessa premissa que parte Premonição, terror adolescente acima da média e percussor de uma franquia de sucesso na qual o assassino é o próprio espectro da Morte. O jovem Alex (Devon Sawa) está prestes a embarcar para Paris em uma viagem escolar, mas antes mesmo de ir para o aeroporto já estava sendo perturbado por estranhos sinais, mas nada que se compare ao pesadelo que o assola dentro da aeronave. Ele tem a nítida e detalhada visão de que o avião explodirá poucos minutos após a decolagem e surta de desespero alertando para que todos saíssem. Seu estado de pânico convence a deslocada Clear (Ali Larter) a voltar para o saguão do aeroporto, mesmo não sendo uma grande amiga sua. Outros, porém, vão embora por ficarem irritados com a possibilidade de a viagem ser cancelada. O marrento Carter (Kerr Smith), sua namorada Terry (Amanda Detmer), o bobalhão Billy (Sean William Scott) e a Sra. Valerie Lewton (Kristen Cloke), membro do corpo docente, acabam ficando de fora da viagem ao se envolverem em uma briga com Alex. Tod (Chad Donella), seu melhor amigo, é o único que parece se importar com seu estado de nervos, enquanto a professora tenta apaziguar as coisas, mas não escondendo seu desapontamento.
Não demora para que todos fiquem boquiabertos ao verem com seus próprios olhos que a tal premonição realmente acontece e as reações ao episódio são diversas. Os pais de Todd o proíbem de ter contato com Alex, já que perderam um outro filho na tragédia. A Sra. Lewton demonstra medo e repúdio ao rapaz enquanto Billy passa a enxergá-lo como uma espécie de guru. Já Carter, com seu jeito confrontador, está sempre pronto para provocar aquele que de certa forma salvou sua vida, ao contrário de Terry que.... Bem, sem função na trama, ela é rapidamente limada, diga-se de passagem, em uma cena de assassinato que beira o cômico e a mais tola da fita. Quando todos pensavam serem privilegiados por terem sobrevivido à tragédia, um a um os sortudos passam a ser vitimados em estranhos acidentes domésticos ou do cotidiano. A Morte é esperta, cheia de artimanhas e refaz seus planos para caçar aqueles que ousaram enganá-la. O misterioso agente funerário William Bludworth (Tonny Todd) tenta ajudar Alex e Clear, o inerente interesse romântico do rapaz, a mais uma vez darem uma rasteira no maldito espectro, pois segundo suas teorias a lista de “encomendas” seguiria a ordem dos assentos em que cada um dos sobreviventes iria ocupar no avião a partir do foco de incêndio que ocasionou a tragédia.
Em meio a tantos filmes de seriais killers da época, a produção do diretor James Wong surgiu como um sopro de criatividade, tornando-se um grande e instantâneo sucesso de bilheteria em todo o mundo e até mesmo de críticas. É certo que a produção injetou certo gás no combalido gênero de terror que sobrevivia às custas de mulheres gostosas e rapazes promíscuos fugindo de malucos munidos de objetos cortantes. O roteiro de Jeffrey Reddick e Glen Morgan mantém uma fórmula parecida com as dos slashers movies, mas coloca em cena um vilão realmente original, astuto e invencível, um tema capaz de suscitar discussões e que querendo ou não traz à tona um dos maiores medos do ser humano. Até os mais resolvidos quanto ao assunto temem partir em circunstâncias suspeitas ou violentas e não há quem assista o filme e não se questione sobre o real sentido de estar vivo e passe a vigiar mais seu cotidiano a fim de evitar qualquer acidente. Dizem que a única coisa que não se tem solução é a morte, que ocorre mais cedo ou mais tarde, mas seria possível a partir de sonhos premonitórios prolongar a vida? Felizmente a trama foge do tentador e clichê caminho de transformar Alex em um vidente, assim como também evita o dramalhão extremo de retratá-lo como uma pessoa perturbada com seu dom. É claro que ele sofre, se sente responsável pelas mortes no avião e as que acontecem posteriormente, mas sua forma de encarar a situação é bem mais verossímil e racional. Ao invés de se lamentar a cada conhecido que perde, ele tenta evitar a próxima tragédia, porém, é óbvio que sempre chega tarde demais.
Não se pode cobrar tanta criatividade de um produto destinado no fundo a apenas entreter e com público-alvo bem definido e não lá muito exigente. Ainda que invista em personagens estereotipados, cada qual com uma característica marcante de personalidade, não se pode deixar de destacar que há uma boa construção de seus perfis a ponto de sofrermos até mesmo com a possibilidade da partida do inconsequente Carter que querendo provar sua valentia não se importa em colocar sua vida e a dos colegas em risco. Morgan e Reddick em parceria com Wong foram os responsáveis pela criação de "Arquivo x ", assim o primeiro projeto do trio para as telonas obviamente teve o aval concedido muito por conta da repercussão da série de ficção que deu fôlego novo a temas científicos e de ufologia, assim não era de se esperar menos que uma inversão de expectativas na condução de Premonição, que no Brasil deveria ter sido batizado com sua tradução literal, “destino final”, condizente e bem mais impactante. Promovendo a Morte a status de protagonista, eles tiveram a originalidade de criar um vilão invisível, cauteloso e imprevisível. Esqueça a figura clássica e funesta do espectro com manto negro e foice nas mãos, estereótipo que não por acaso é também a fantasia do assassino de Pânico responsável por reascender o interesse nesse tipo de produção. Sempre agindo na surdina, a Morte se manifesta por meio de pequenos deslizes ou coincidências causadas pelas próprias vítimas. Os cortes fatais com facas são deixados de lado, a não ser que elas estejam por acaso no cenário escolhido para a armadilha. Aqui o último suspiro pode ocorrer por meio de um enforcamento com o chuveirinho do banheiro, o computador que inesperadamente tem um curto-circuito ou um simples descuido ao atravessar a rua sem olhar para os lados.
Em casa ou fora dela quando chega a hora de partir não há para onde fugir e a vilã da história está sedenta por vingança e não parece disposta a dar uma terceira chance de viver a ninguém. Entretanto, quem conseguisse mais uma vez ganhar horas extras de vida estaria a salvo até quando? O tema é uma paranoia sem fim, tanto que gerou mais quatro sequências independentes, ainda que a segunda parte contasse com a presença da atriz Ali Larter e o final do quinto capítulo fizesse um link indicando que os eventos se passavam imediatamente ao final do longa original lançando 11 anos antes. Apesar das inúmeras possibilidades, a essa altura a franquia já dava sinais claros de desgaste, recorrendo até mesmo a publicidade dos efeitos tridimensionais para ganhar sobrevida. Sempre seguindo a batida fórmula, o jeito seria investir nas cenas de assassinatos, cada vez mais bizarras e mirabolantes, além da velocidade cômica com que os personagens eram limados em algumas sequências, um atrás do outro, perdeu-se a credibilidade conquistada no primeiro filme cujas armadilhas deixavam dúvidas sobre como as fatalidades iriam ocorrer, assim investindo mais na construção de suspense, mas sem deixar a violência gráfica de lado. É certo que a franquia não conseguiria driblar a Morte eternamente, porém, quanto a mais uma reencarnação nunca se sabe.
Terror - 93 min - 2000
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