Nota 1,0 Arrastado e sem sustos, longa vale apenas pela cuidadosa e melancólica ambientação
Escritor com bloqueio criativo decide se refugiar em um lugar isolado para se concentrar e escrever aquela que poderia ser sua grande obra, mas acaba se desequilibrando com acontecimentos estranhos. Ou seriam apenas delírios de sua mente aflorada pelo silêncio total e por sua criatividade despertada? Em quantas madrugadas insones você já não se deparou com filmes sustentados por um argumento do tipo? E quantas vezes já se decepcionou com o que viu? Com o suspense A Presença não é diferente. A trama gira em torno de uma escritora (Mira Sorvino) que se muda temporariamente para uma simples cabana em uma remota ilha onde passou alguns momentos da sua infância. Ela vai em busca de tranquilidade para escrever um novo romance, no entanto, ela não estará sozinha. Ela é vigiada todo o tempo por um rapaz (Shane West), um espírito que habita a choupana e que passa a influenciar no cotidiano e nas atitudes da moça.
Não demora muito e a escritora também ganhará a companhia de seu noivo (Justin Kirk) que veio com o propósito de pedi-la em casamento e que involuntariamente desperta uma obsessão ainda maior do tal espectro pela nova inquilina. Sentindo-se perseguida tanto pelo pretendente quanto pela presença de alguém do além, a escritora perde a noção entre o que é realidade e o que seria fantasia, ficando numa linha tênue entre a sanidade e a loucura. Tentando manter a aura de mistério do início ao fim, Tom Provost, roteirista e estreando como diretor, propositalmente não dá nomes aos seus personagens, apenas um coadjuvante é batizado, o Sr. Browman (Muse Watson). Ele é o vizinho mais próximo desta mulher que procura refúgio em um local cujo acesso só pode ser feito através de barco, mas a participação deste senhor na trama é mínima e nada acrescenta a algo que não tem um momento sequer empolgante.
No desenrolar da história ficamos sabendo que a protagonista tem um trauma que a impede de sequer pensar em formar uma família e que o espírito com expressões blasé quer persuadi-la a matar seu noivo, mas nada que injete empolgação na pasmaceira. Do inexplicável regresso à casa, que lhe traz lembranças danosas da época que era criança, à uma exagerada e descabida cena de discussão de relação com o noivo que deveria ser o clímax, não conseguimos criar empatia com a protagonista e seus dramas e medos inconsistentes. Pela introdução percebe-se que Provost não queria realizar de fato um suspense convencional, apesar dos créditos iniciais explorarem a natureza pantanosa que cerca o casebre ao som de uma trilha instrumental tenebrosa. Durante os 16 primeiros minutos o filme segue no silêncio total, sem nenhum diálogo, apenas acompanhamos a chegada e a rotina da escritora na cabana cujas ações são meticulosamente acompanhadas pelo espírito.
É uma pena que não dê para vender um filme sem divulgar a sinopse, caso contrário, A Presença teria a seu favor um intrigante pontapé inicial combinado com uma chuva torrencial que dá o clima de melancolia que casa perfeitamente com o isolamento procurado pela moça. O diretor passeia com prazer pelos detalhes do cenário e consegue um efeito aconchegante nas cenas noturnas com o uso unicamente da luz de lampião, mas seu trabalho, apesar de tecnicamente ser correto e cheio de boas intenções, está longe de ser algo que flerte com o cinema alternativo. Fica parecendo que a certa altura Provost não sabe mais que caminho seguir e isso se reflete nas interpretações. É nítida a insegurança dos atores. No caso de Sorvino, vencedora do Oscar de coadjuvante por Poderosa Afrodite, só temos a lamentar que seja vítima da tal maldição da estatueta dourada (há quem ganhe e a carreira desande) ou acreditar que ela precise de um bom agente. Só cai bomba nas mãos dela.
Já West exagera na cara de mau e constrói um personagem sem personalidade e que escancara suas limitações como intérprete. Claro que o roteiro também tem culpa, afinal não ficamos sabendo o porquê de ele ocupar a cabana e sua obsessão pela escritora que, diga-se de passagem, se escreve duas linhas ao longo de toda projeção é muito. A certa altura surge um segundo espírito (Tony Curran), um enviado do Diabo que manipula o jovem espectro a fazer atos ruins para ganhar a admiração do mestre e finalmente poder sair do limbo em que sua alma vive, mas nada que movimente a trama. O problema é que desde o início o diretor dá indícios que vai oferecer um suspense que mais cedo ou mais tarde poderia ter uma reviravolta . Acordes musicais de arrepiar vez ou outra cortam o silêncio, mas no conjunto soam dissonantes já que não antecedem nada de impactante. Parece até erro de edição. Por fim, a única lembrança que o longa deixa é a canção de jazz que é tocada repetidas vezes no primeiro ato. Gruda nos ouvidos que nem chiclete.
Suspense - 87 min - 2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário