quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O JOGO DOS ESPÍRITOS


Nota 0,5 Bom argumento perde-se em trama que apoia-se na fórmula e erros comuns do gênero


Você provavelmente já ouviu falar no jogo do copo para evocar espíritos, não? Tentação entre jovens que não tem nada para fazer, não sabe-se ao certo se essa brincadeira realmente tem o poder de abrir uma passagem de comunicação com os mortos, mas o fato é que toda a lenda criada em torno dela teria potencial para um bom filme de terror, pena que o diretor Marcus Adams desperdiçou a chance de explorá-la logo em sua estreia nas telonas e seu O Jogo dos Espíritos nada mais é que uma variação preguiçosa e tediosa de filmes de seriais killers. Basta trocar o assassino mascarado por uma entidade do mal que passa a perseguir um grupo de jovens acéfalos que quando não estão gritando ou fazendo caras e bocas de espanto travam diálogos com a mesma profundidade de um pires. 

A trama tem um prólogo passado no Marrocos em 1979 quando num ritual satânico fora evocado o demônio árabe Djinn que segundo a literatura ocultista é um espírito do fogo. A cerimônia terminou de forma catastrófica para seus participantes que foram atacados pela tal entidade e acabaram com letais queimaduras pelo corpo. O espectro foi esconjurado e ficou enclausurado por muito tempo até que 23 anos depois em Londres foi novamente evocado por um grupo de jovens embriagados e inconsequentes. Certa noite Lucy (Marsha Thomason), que conhece um pouco sobre teorias do além, propõe aos amigos Annie (Melanie Gutteridge), Spense (James Hillier), Stella (Lara Belmont), Webster (Lukas Haas), Joe (Mel Raido), Rob (Joe Absolom) e Liam (Alec Newman) que façam a experiência de manipular uma tábua Ouija, um tabuleiro com letras improvisadas e dispostas em forma de círculo. A ideia é que todos os participantes apoiem um dedo em um copo de vidro e se concentrem em uma corrente para abrir um portal de comunicação com o mundo dos mortos. 


Começam a ser lançadas perguntas e os espíritos respondem guiando o copo letra por letra até formar palavras ou frases curtas. No caso, logo na primeira pergunta a resposta é que todos eles serão mortos, o bastante para Liam entrar em desespero e tirar seu dedo do jogo, o que reza a lenda deixa a oportunidade do espírito contatado fazer a passagem para o mundo dos vivos. Os jovens moram em um tipo de república, um casarão velho de propriedade do estranho senhor Becker (Tom Bell), um homem solitário e misterioso que coleciona objetos, fotos e recortes de jornais a respeito do ocultismo, principalmente materiais sobre a citada e malfadada sessão de evocação de espíritos feita no Marrocos. Não é difícil descobrir as razões desse interesse em específico. 

O senhorio descobre a burrada que seus inquilinos fizeram e os avisa que a única maneira deles se livrarem do tal demônio é realizando um ritual de esconjuro, mas é claro que o espectro não é nada bobo e sabe que tem pouco tempo para aproveitar a liberdade e trata de limar aqueles que o despertaram sendo incorporado por um dos adolescentes. Adams, também autor do roteiro frouxo em parceria com Eitan Arrusi, para dar algum gás incerta na trama que o pai de Liam, que viveria recluso em um sanatório, é um dos poucos sobreviventes do ritual marroquino e considerado o responsável pela tragédia. Tal gancho será importante para a conclusão que até é razoável, mas a essa altura do campeonato nada que salve a produção de ser rotulada como lixo. Escorando-se em sustos fáceis e previsíveis, a passos de tartaruga o diretor conduz seu elenco sofrível que parece ter sido selecionado em teatrinhos colegiais. 


Se os diálogos por natureza já são péssimos, na boca dessa turma ficam ainda piores, mas é de se admirar que Adams tenha tido a sensibilidade de perceber o nível mental de seu elenco e até dos próprios personagens que criou e assim optado por reiterar trocentas vezes ao longo do filme as razões do espírito ter sido liberado e estar à caça dos jovens, mas ainda assim os atores parecem não perceber o propósito da trama e isso se reflete diretamente nas atuações. Sempre metidos em situações de riscos previsíveis, em nenhum momento conseguimos nos envolver com os personagens e seus medos e a condução da história é tão monótona que nem as cenas de mortes empolgam, ou seja, O Jogo dos Espíritos não oferece nem o básico para um filme de terror. O pior de tudo: a cena da evocação espírita que deveria ser o ápice é o ponto mais broxante. Rápida, mal editada e excluindo qualquer conteúdo relevante em torno da brincadeira do copo, ela é a prova de que Adams não sabe fazer cinema.

Terror - 95 min - 2002

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