quinta-feira, 23 de setembro de 2021

APAIXONADOS EM NOVA YORK


Nota 2 Com indefinição de gênero, longa não emociona e tampouco diverte, apenas entedia


Qualquer filme que tenha no título algo relacionado a amor tem público cativo e a plateia só tende a aumentar quando atrelada a ideia de que a ação se passa em algum grande centro turístico. A receita é infalível para conquistar a mulherada, certo? Deve ter sido um pensamento ridículo desses que motivaram o batismo de Apaixonados em Nova York para um filme estranhíssimo. O conflito amoroso é esquecido pouco depois da metade e é até difícil catalogar o filme em um gênero específico. Com roteiro e direção de Frank Whaley, com carreira bem mais promissora como ator sendo destaque no suspense Temos Vagas, a trama começa com ares de comédia romântica com um quê de produção independente, mas não demora a mudar seu foco. 

Owen (Freddie Prinze Jr.) vai ao cinema com a namorada Lynn (Jamie-Lynn Sigler), mas está visivelmente incomodado. Enquanto ela está entretida com um filme cult francês, ele está com a cabeça bem longe, mais especificamente em um barzinho onde seu amigo de infância Ray (Chris Klein) costuma se apresentar com sua banda. Na comparação, digamos que o rapaz tem muito mais afinidades com o músico, afinal não dispensam festas e bebidas. A diferença é que um tem consciência que cresceu, embora ainda meta os pés pelas mãos com frequência, e o outro tenta prolongar sua adolescência ao máximo, perdendo a noção de limites. Certa noite, Ray convence seu amigo mais certinho a ir a uma festinha particular repleta de marmanjos acéfalos e garotas sem um pingo de pudor e, como mentira tem perna curta, é óbvio que chegará o momento em que a pulada de cerca chegará aos ouvidos de Lynn. 


Desfeito o noivado, o gancho é lembrado vez ou outra, mas o filme ganha outro rumo. Owen sempre sonhou em ser cineasta (seu entusiasmo com o tal filme europeu demonstra sua aptidão para o ramo) e realizou um curta-metragem que acabou sendo selecionado para um festival no Kansas. Por ter atuado na produção, Ray é convidado a acompanhá-lo na viagem, mas como sempre se comportando como uma criança ele acaba se fazendo passar pelo filho de um importante produtor de cinema, tudo para conseguir se instalar em uma suíte de luxo e posar de playboy para a mulherada. Não é preciso ser adivinho para saber os desdobramentos da farsa. Ray é tão irritante, não só por seu perfil estereotipado, mas também por trazer resquícios do que havia de pior em outros personagens feitos por Klein. Se por sua conduta já era difícil simpatizarmos com tal figura, o repúdio é ainda maior quando descobrimos que um crianção como ele já é pai. Como educar e impor regras a um filho quando o próprio pai não tem limites?

A primeira parte, típica de comédias adolescentes que só pensam em curtição, não funciona como deveria e acaba por enfraquecer as tentativas do enredo em seguir o caminho da seriedade discutindo relações, sejam elas amorosas ou de amizade, até porque para cada papo sério surgem cinco piadinhas clichês ou idiotas para justificar a rotulagem de gênero.  O próprio Whaley cava uma pontinha como um motorista atrapalhado que em nada acrescenta à trama, apenas para tenta injetar humor em um produto que carece de identidade. É justamente essa falta de foco o que mais incomoda, embora, por mais incrível que pareça, a conclusão seja satisfatória mesmo não resgatando o gancho romântico do enredo e priorizando os resultados do amadurecimento forçado dos protagonistas. De qualquer forma, Apaixonados em Nova York frustra quem busca romance, comédia ou simplesmente apreciar a paisagem da metrópole norte-americana (aliás, que não é captada nem de longe como cartão-postal). 


É preciso destacar que a essência do argumento, discutir o amadurecimento e como ele ou sua falta podem influenciar nas relações interpessoais, deixa aquela sensação de que o diretor até tinha boas ideias e intenções, mas faltou lapidar o material. O elenco insosso contribui para que nem a parte dramática funcione. De onde saiu a intérprete de Lynn? Tentando compor a moça ajuizada, justamente o que os homens buscam para casar e não para se divertir, Sigler constrói uma personagem sem graça e que não cativa o espectador a ponto de torcer pela felicidade do casal, talvez por isso mesmo o segmento seja abandonado no meio do caminho. Prinze também contribui para isso, mas suas interpretações pouco inspiradas são suas marcas registradas. No final das contas, é Klein reciclando o papel de inconsequente quem sai menos chamuscado da parada, mas o saldo da produção é bastante negativo. Atira-se para tudo quanto é lado, mas não se acerta alvo algum.

Comédia Romântica - 103 min - 2007 

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