Nota 6 Apesar do péssimo subtítulo, suspense reinventa o mito do lobisomem com originalidade
Um título mal escolhido pode levar um filme ao fracasso e Romasanta – A Casa da Besta comprova isso. Remetendo a uma temática sobre exorcismo ou algo do tipo, na realidade esta produção espanhola revisita o mito do lobisomem, mas em nada lembra Grito de Horror, Um Lobisomem Americano em Paris ou coisas do tipo. Praticamente ignorando elementos do horror e prendendo-se ao suspense com toques dramáticos, a trama desenvolvida por Elena Serra e Alberto Marini se passa na cidade de Galícia, na Espanha, no ano de 1852 quando a população está alvoroçada com o grande número de pessoas desaparecidas em contraponto a elevada concentração de cadáveres encontrados dilacerados. Tais atrocidades poderiam estar sendo causadas por ataques de lobos, tanto que o governo está oferecendo recompensas para cada exemplar da espécie capturado.
No entanto, há indícios de que um lobisomem estaria cercando a região, hipótese desmentida pelo Professor Philips (David Gant) que supõe que um assassino necrófilo seja o autor das mortes. Detalhe, ele é atraído para a cidade para analisar os corpos de quatro vítimas, mas estas são apenas aquelas que foram descobertas por populares. Na verdade há dezenas de cadáveres escondidos, todos destrinchados de forma semelhante. Há sinais de cortes com lâminas e a gordura de algumas partes dos cadáveres foram removidas. Tais desconfianças levam ao nome de Manuel Blanco Romasanta (Julian Sands) um caixeiro viajante que também ganha alguns trocados vendendo sabão que faz com banha em sua própria casa. Sua esposa María (Maru Valdivielso) e a filha Teresa (Luna McGill) foram mortas também, mas este homem parece pouco ligar para o ocorrido e rapidamente passa a assediar Barbara (Elsa Pataky), sua cunhada que cada vez mais parece corresponder ao repentino desejo.
A moça escapa de um acidente sendo salva por um estranho que diz q um dia ousou olhar nos olhos do diabo, no caso o Mal é representado pela figura do lobo. Desde então, Antonio (John Sharian) tem sido condenado a viver uma vida infernal na qual não consegue suprimir seus instintos de caça e forçado por Romasanta a matar, como uma espécie de discípulo. Barbara então está convencida de que o cunhado é um lobisomem e que matou sua irmã e a sobrinha, assim começa a investigar as cartas que ele redige para populares e vai atrás de pistas de seu passado que sirvam como provas para incriminá-lo. Se antes podia causar estranheza a forma fria como Romasanta reagiu a morte de suas parentas, a cunhada vai descobrir em suas averiguações que a insensibilidade faz parte da natureza deste homem. Sabendo que está sendo caçado pela jovem e autoridades, ele tenta fugir, mas para onde vai deixa um rastro de sangue. Quanto mais acuado mais mortes provoca.
Com direção de Paco Plaza, que alguns anos depois viria a fazer sucesso com Rec e suas duas continuações, Romasanta – A Casa da Besta não é um filme tradicional de lobisomens, o que pode resultar em uma grata surpresa para quem se assustar com a palavra besta do subtítulo. Aliás, desculpem o trocadilho, mas que ideia mais besta a deste adendo, ainda que de forma remota o enredo aborde a possessão por alguma entidade maligna. Só o enigmático nome do protagonista já seria o suficiente para chamar atenção, ainda mais se tratando de uma obra inspirada em um caso real. Romasanta foi preso por ter confessado o assassinato de 15 pessoas (fora as tantas outras cujas identidades são desconhecidas) e devorado partes de seus corpos. Reza a lenda de que o nono filho de um casal sofre com a maldição de ser controlado pelo diabo e em seu julgamento alegou se transformar em um lobisomem e não ter controle sobre suas ações neste estado.
Condenado à morte, a sentença fatídica de Romasanta fora revista e atenuada para a prisão perpétua quando Philips redigiu um documento que comprovava cientificamente que o acusado sofria de licantropia, um problema psiquiátrico no qual o indivíduo acredita ter se transformado em um animal, mas visto na época por muitos como uma manifestação demoníaca. Com atmosfera de filme de terror antigo, o longa adota um estilo narrativo lento, porém, constantemente impacta com imagens de mutilações, cadáveres, animais dilacerados e vísceras. Equilibrando-se entre o suspense e o drama, a produção é original, com belos cenários, figurinos e locações, e Sands se destaca com uma interpretação dúbia alternando agressividade e melancolia que refletem com perfeição o conflito interno do protagonista.
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