quarta-feira, 14 de julho de 2021

CONFIDENCE - O GOLPE PERFEITO


Nota 3 Longa afasta espectador ao falhar na construção de personagens e exagerar em clichês


Alguém ainda se interessa por filmes a respeito de golpes milionários? A resposta é sim, mas nem sempre tal público recebe produções que lhe satisfazem. Existem alguns bons filmes do tipo, mas, por ser um argumento que atinge em cheio o gosto popular, exemplares da categoria são feitos aos montes, principalmente para abastecer o mercado doméstico. Contudo, nem mesmo quando há um elenco estelar em cena podemos considerar sinônimo de qualidade e sucesso. Nos anos 2000, o diretor Steven Soderbergh revitalizou tal subgênero com Onze Homens e Um Segredo, mas após duas sequências nos mesmos moldes mais uma vez o filão foi esvaziado. De qualquer forma, o sucesso da trilogia fez com que filmes com temáticas semelhantes ganhassem sinal verde para serem produzidos como é o caso de Confidence – O Golpe Perfeito, suspense com elenco de peso e trama aparentemente envolvente, porém, totalmente esquecível. O diretor James Foley, do elogiado O Sucesso a Qualquer Preço, se serve do maior número possível de clichês e o longa já estreou datado com uma parte técnica envelhecida. A impressão é que o filme foi realizado alguns bons anos antes e acabou sendo lançado tardiamente. 

O roteiro de Doug Jung gira em torno de uma quadrilha liderada por Jake Vig (Edward Burns), um trambiqueiro cheio de estilo que junto com os comparsas Gordo (Paul Giamatti) e Miles (Brian Van Holt) arquiteta bem bolados planos para despistar a polícia. Sempre depois que aplicam um golpe o grupo simula um confronto sangrento entre eles mesmos para assustar a vítima e a desencorajá-la de fazer qualquer tipo denúncia. Sem recorrer a violência de verdade, a conta bancária destes vigaristas vai engordando e sem causar peso na consciência de nenhum deles. No entanto, a vida lhes dá uma rasteira quando ousam roubar milhões de dólares do contador Lionel Dolby (Leland Orser) sem saber que ele trabalhava para o excêntrico Winston King (Dustin Hoffman), um poderoso chefão do crime organizado que ao saber do ocorrido mata seu subordinado e um dos membros da quadrilha para servir de lição a quem mais pudesse querer afrontá-lo. Para tentar contornar a situação, Vig se propõe a trabalhar para o magnata como uma forma de compensar seu prejuízo financeiro. O mafioso aceita a proposta e já tem até um servicinho engatilhado: aplicar um golpe em Morgan Price (Robert Foster), um banqueiro que mantém estreita ligações com a máfia. Para cumprir a tarefa, o bando ganha a companhia de Lupus (Franky G), homem de confiança de King, e da sedutora Lily (Rachel Weisz), uma batedora de carteiras por quem Jake se apaixona, este que ainda terá que driblar a perseguição de Gunther Butan (Andy Garcia), um incansável agente do FBI e seu inimigo já de longa data. 


Como se o longa já não estivesse superlotado, ainda somam-se à narrativa Manzano (Luiz Guzmán) e Lloyd (Donal Logue), dupla de policiais corruptos, e Travis (Morris Chestnut), outro escudeiro de King a quem Vig conta sua experiência de quase morte após falhar em um golpe. Com montagem ligeira e narrativa não-linear, Foley tentou dar ares de modernidade a um dos argumentos mais surrados de Hollywood, mas não conseguiu sair do trivial e mais uma vez temos em cena a história de uma espécie de Robin Hood contemporâneo. Ele é o fora-da-lei que junto com seu bando passa a mão no dinheiro de mafiosos inescrupulosos, o ponto que de certa forma conforta o espectador ao ver um bandidão provando do seu próprio veneno, porém, os lucros não são divididos com a plebe. Em tempos individualistas e de ganância exagerada, o fruto dos roubos é dividido apenas entre os membros da quadrilha. Vendo por esse prisma, este suspense policial parece ser acima da média, mas no fundo não passa de uma colcha de retalhos que busca emendar todos os clichês possíveis dos filmes de golpistas. Com referências desde o clássico e premiado Golpe de Mestre, o roteiro de Jung tem inspirações até no seu contemporâneo Uma Saída de Mestre e a obsessão em não deixar nenhuma boa ideia de fora acabou embananando a narrativa.  Implicando em sucessivas reviravoltas que não oferecem o tempo necessário para o espectador assimilar as mudanças, o interesse na fita cai consideravelmente minuto a minuto, ainda mais porque não existe conexão de quem assiste com os personagens.

Mesmo tendo poucas cenas, Hoffman é quem se sai melhor, afinal já tem traquejo para lidar com roteiros fracos. Sua baixa estatura injeta certa ironia ao personagem dando ares de inofensivo à primeira vista, mas sua fala apressada e sorriso sarcástico demonstram seu verdadeiro caráter. A insinuação de ser bissexual também contribui para o destaque, já que agrega às cenas com Vig uma tensão dúbia. O vigarista de estirpe sente-se ameaçado tanto física quanto sexualmente e ocorre uma inversão de papéis já que o antagonista torna-se o principal chamariz. Boa pinta, com porte atlético e inteligência para atuar como roteirista e diretor, Burns não é reconhecidamente um grande ator. Parece desconfortável nos papéis de galã, no entanto, os maus elementos também não combinam com sua cara de bom moço.  Seu protagonista carece de carisma, parece discursar frases decoradas e consegue o feito de ser esmagado quando comparado ao desempenho dos demais atores que, diga-se de passagem, também não dignificam seus personagens. Aliás, o ator não tem química alguma com Weisz, o que torna dispensável o gancho de um relacionamento amoroso em uma trama onde a misoginia fala mais alto. Mesmo assim, isso não significa que temos bons personagens masculinos em cena, pelo contrário, um é mais desinteressante que o outro e isso se constata quando percebemos que a tal farsa do título não mexe com nosso emocional, o que indica que alguma peça do plano engenhoso falhou.


Em Confidence – O Golpe Perfeito parece que toda engrenagem tem problemas, a começar pelo início cujas mortes que desencadeiam toda a trama não causam comoção alguma pelo simples fato de que sobre as vítimas nada sabemos. Faltou aquele flashback para criar algum tipo de conexão com os assassinados e também desenvolver o lado mais humano dos criminosos.  Por evitar a violência, mas não dispensar enriquecer às custas dos outros, o bando de Vig merece torcida ou ser condenado? No conjunto, ficamos na expectativa de que todos se ferrem já que o lance é bandido contra bandido, isso se você conseguir chegar até o final já que o excesso de reviravoltas é um convite para a desistência. Só para não dizer que o longa não tem nada de bom, vale a pena conferir a verdadeira engenhosidade de um plano colocado em prática por Vig e Lily em uma joalheria. É o único momento em que o forçado casal demonstra alguma química e também a melhor sequência de uma produção em que o tédio dita os rumos.

Suspense - 97 min - 2003 

CONFIDENCE - O GOLPE PERFEITO - Deixe sua opinião ou expectativa sobre o filme
1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
5 – 6 Bom, cumpre o que promete
7 – 8 Ótimo, tem mais pontos positivos que negativos
9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
Votar
resultado parcial...

Nenhum comentário: