Nota 5 Suspense psicológico tem boa premissa, mas se perde em seu clímax um tanto confuso
Adolescentes problemáticos são fontes inesgotáveis de inspiração para o cinema, principalmente aqueles com mentes privilegiadas, mas estado emocional instável. Mentes Diabólicas acompanha o caso do jovem Alex Bennett (Eddie Redmayne) que está preso por conta da morte de Nigel Colby (Tom Sturridge). O rapaz alega que o amigo precisava realmente morrer e que na hora que isso aconteceu ele teve a impressão de ouvir estranhos sons, como se os deuses festejassem tal fato. Apesar de aparentemente confessar o crime e terem sido encontrados resíduos de pólvora em suas mãos, não há provas claras para indiciá-lo, mas o detetive Martin Mckenzie (Richard Roxburgh) está certo que o garoto é um assassino psicótico que não tem remorso de seus atos, porém, trabalha sob a pressão do pai do suspeito (Patrick Malahide), um homem influente disposto a fazer de tudo para abafar o caso.
A psicóloga Sally Rowe (Toni Collette) então é chamada para ajudar nas investigações Entre as sequências de diálogos entre o detento e a médica, o diretor e roteirista Gregory J. Read aposta em flashbacks para assim conhecermos um pouco a respeito do convívio do acusado com o rapaz assassinado. Alex se interessou por Nigel logo que o novato chegou na escola porque ele era diferente dos outros garotos, nutrindo interesse por assuntos mórbidos e bizarros. Todavia, obrigados a dividir o mesmo quarto no colégio interno, inicialmente os dois não se davam bem. O pai de Alex é o diretor do colégio e obrigava seu filho a viver naquele ambiente sufocante e sem lhe oferecer regalias, exigindo que fosse um aluno brilhante e não abria mão de que ele dividisse seu dormitório com outro estudante. Mesmo quando toma conhecimento das excentricidades de Nigel, como manter no quarto uma coleção de animais empalhados, o chefão da instituição não quis tomar qualquer tipo de atitude que o repreendesse por ser o herdeiro de um conhecido seu e de posses.
Com o tempo, o novato e o filho do diretor acabam se aproximando pelo exercício da tolerância. Certa noite, Alex leva Nigel para um passeio de trem à força com a ajuda de Josh (Jonathan Overton), outro estudante, este que acaba se desequilibrando e cai do vagão, sendo decapitado por conta da velocidade do veículo. Nutrindo uma espécie de raiva em relação ao excêntrico colega que julga ter negado salvar a vida do outro e ainda descobrindo que ele pode estar apaixonado por Susan (Kate Maberly), por quem Alex também demonstrava afeto, é curioso que ambos acabam ficando mais próximos e Nigel parece ler os pensamentos do amigo. O que poderia ligar estes rapazes que tinham motivos plausíveis para se odiarem até o final da vida? Até a parte em que os colegas de quarto convivem com algumas reticências, o filme segue de forma intrigante e funcional, mas a partir do momento em que é revelado um segredo que explica o porquê desta relação de amor e ódio a tendência é que as expectativas diminuam.
Muita coisa ainda está para acontecer depois desta revelação, inclusive a Dra. Rowe vai a campo para confirmar se as declarações de Alex são verdadeiras e se surpreende com suas descobertas. Com um histórico familiar conturbado, que tornou o acusado um alvo frágil e fácil de dominação apesar da aparente valentia, logo no primeiro encontro a psicóloga percebe que o adolescente tem conhecimentos a respeito de História e religião que influenciam diretamente em seu cotidiano, principalmente como forma de demonstrar rebeldia a educação severa do pai. Tal empáfia justificaria a forma agressiva com que ele se comporta na delegacia, tirando do sério os policiais, mas a doutora quer conduzir o caso ao seu modo, na base do diálogo e da interpretação, a fim de compreender e estudar tal mente brilhante, mas ao mesmo tempo doentia.
Infelizmente, o roteiro passa a seguir um viés confuso abordando uma seita secreta baseada em histórias da época dos cavaleiros templários, uma viagem envolvendo simbolismos e rituais que fogem um pouco da proposta realista defendida por Read até então. Todavia, este suspense consegue entreter sem precisar apelar para sustos, sangue ou violência extrema, preferindo manter a tensão psicológica, afinal para mentes insanas tudo é possível, imagine então neste caso que são duas. Na realidade, Mentes Diabólicas pode interessar bastante aos profissionais e estudantes da área de psicologia e afins, pois aborda o gestalt, uma teoria que visa explicar como uma mente mais evoluída consegue exercer poder de manipulação sobre outra mais suscetível, chegando a casos em que elas se fundem em uma só através do compartilhamento de pensamentos semelhantes. Vale uma conferida.
Suspense - 105 min - 2006
Leia também a crítica de:
Um comentário:
Uma mente diabólica já é ruim de aguentar, imagina duas.
Postar um comentário