quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

UM NOME NA LISTA

NOTA 6,0

Suspense se torna cansativo ao
enveredar pelo caminho da
conspiração política, mas ainda
assim 
entretém com qualidade
O cinema desde os seus primórdios apresenta histórias fascinantes ao público, todavia algumas de suas melhores tramas podem não estar na tela e sim em seus bastidores, ironicamente as vezes bem mais interessantes que os filmes em si. A metalinguagem é um recurso que costuma agradar os espectadores. O cinema falando sobre cinema é instigante, mas no caso de Um Nome na Lista a receita não deu certo. Fracasso nos EUA, o longa infelizmente chegou na surdina ao Brasil e certamente em tantos outros países, ainda que supostamente trate de um caso real envolvendo o famoso Orson Welles, o diretor do clássico Cidadão Kane. Quem? Pois é, talvez a monossilábica pergunta seja a resposta para o fracasso do longa do cineasta Oliver Parker, de O Marido Ideal. Embora se exalte que vivemos na era dos conectados, o que fica cada vez mais claro é que em meio a tanta informação o público quase não absorve conteúdo algum e tem muita gente que se diz cinéfila que sequer ouviu falar em Welles que aqui é personificado com vigor por Danny Huston, não por acaso um ator que cresceu entre os sets de filmagens (ele é filho do saudoso cineasta John Huston, pai da também atriz Anjelica Huston). A trama roteirizada pelo próprio Parker, baseada no romance de Davide Ferrario, se passa em 1948, época ruim na vida de Welles que sofria com baixa popularidade, havia se separado recentemente da atriz Rita Hayworth, outra figura lendária de Hollywood, e para sobreviver estava aceitando qualquer convite ligado ao meio cinematográfico, inclusive atuar em um filme B rodado em Roma, na Itália. “Memórias de um Mágico” era uma produção um tanto obscura, com roteiro e direção duvidosos, o que irritava Lea Padovani (Paz Vega), a estrela feminina do elenco, atriz um tanto temperamental que se estranha com Welles logo no primeiro encontro. Este por sua vez não se sentia muito a vontade protagonizando um projeto que não confiava nem um pouco e ainda sentia a pressão da imprensa local que só queria saber das fofocas a respeito de seu mal fadado casamento. Contudo, ele não podia imaginar o que iria acontecer durante as filmagens. Alessandro Dellere (Frano Lasic), um dos atores, acabou falecendo misteriosamente enquanto atuava e sua última palavra ele sussurrou ao pé do ouvido de Welles, mas o rapaz acabou omitindo esse detalhe da polícia que acredita que a morte foi ocasionada por overdose de drogas.

Dellere era padrasto de Lea, que mesmo não sendo muito simpática no início com Welles acabou chamando a atenção dele. Para conquistá-la, curiosidade ou puro ócio, o fato é que o diretor e ator acabou se enrolando mais do que deveria com a história do morte do colega de elenco. Tommaso Moreno (Diego Luna) é o motorista que está servindo como guia e confidente ao artista, mas na realidade é um ex-policial que provavelmente abandonou a carreira por preferir ir a fundo nas investigações. Sim, sua honestidade seria seu defeito em uma época política e financeiramente conturbada pela qual a Itália passava após a Segunda Guerra Mundial. Com os ânimos exaltados, qualquer coisa era motivo de brigas e manifestações populares, um prato cheio para um aspirante a cineasta que desejava realizar um tipo de cinema que fizesse diferença na vida das pessoas, mas sua ousadia para investigar os motivos de tantas revoltas e até mesmo a morte de Dellere acabou o envolvendo em uma guerra política. Pete Brewster (Christopher Walken), um agente do governo americano e velho conhecido de Welles, o reencontra em Roma, pois está ajudando a montar uma plataforma política pós-guerra para os italianos. O agente faz parte de uma espécie de rede de solidariedade, o Programa da Amizade, projeto no qual alguns países em melhor situação ajudavam com alimentos e bens materiais a população carente de outras nações, mas obviamente com segundas intenções. Apoiando os democratas cristãos, a intenção da caridade é que o povo eleja os representantes deste partido para assumir o Poder (o tempo passa e isso não muda), mas os comunistas pareciam dispostos a qualquer coisa para saírem vitoriosos. Certo dia Welles descobre uma lista com alguns nomes de democratas influentes, alguns já recentemente assassinados, e seu nome também consta entre eles e então se dá conta que se envolveu em uma conspiração que atinge os mais altos níveis do governo e ele estava sendo visto como um inimigo dos comunistas devido a sua amizade com Brewster. Sua situação se complica ainda mais quando ele tem a ideia de dirigir Othello, um clássico literário de William Shakespeare, em solo italiano e quando seu investidor é assassinado ele entrega a tal lista para a polícia. Ato heróico para alguns, para os comunistas essa era a gota d’água que faltava para terem certeza que tinham por perto um grande rival.

Seguindo o estilo de suspense noir, Parker constrói uma narrativa razoável, mas que deixa a desejar em diversos momentos. Certamente o grande chamariz da produção é reviver o clima dos bastidores do cinema dos anos 40, época fértil para a sétima arte, ainda que no caso acompanhamos as filmagens de um filme B, todavia, já era perceptível que na época a vida pessoal dos atores chamava mais a atenção do que seus trabalhos. É uma pena que as aventuras românticas de Welles tenham pouco espaço nesta narrativa. Lea naturalmente é seu interesse amoroso desde o primeiro minuto que a vê, mas não há liga entre os personagens, tornando-se bem mais interessante o flerte do rapaz com a mãe da moça, Aida (Anna Galiena), duas vezes viúva e entusiasta da carreira da filha. Outro gancho perdido é a disputa pelo amor da jovem que poderia existir entre o ator e seu motorista, rapaz que sofreu no passado uma grande perda amorosa por conta de seu faro incansável para achar verdades. Já fica o aviso também que Parker não quis fazer uma homenagem ao cineasta-protagonista citando a todo o momento seus trabalhos, pelo contrário, por vezes até esquecemos que estamos acompanhando um fato marcante da vida de uma figura ilustre. A grande temática aqui é a conspiração política. Máfia, fascistas e democratas pareciam estar juntos em um plano contra os comunistas, mas estes estavam dispostos a qualquer coisa para chegar ao Poder e ameaçar as interrupções do filme que Welles desejava dirigir era provavelmente a vingança mais branda. Até o finado Dellere está envolvido no enrosco. Um Nome na Lista está longe de ser um grande suspense, mas no conjunto funciona para matar o tempo ocioso. Com belas fotografia, trilha sonora, direção de artes e figurinos, contudo, a obra sofre com o mesmo problema que tantas outras do gênero. Chega um momento que estamos saturados de ouvir falar em tantos nomes cujos rostos são desconhecidos ou não facilmente identificáveis na trama e a tendência é que da metade para o final o espectador disperse a atenção. Por outro lado são poucos os filmes que retratam a situação de países em um período tão curto após a Segunda Guerra Mundial, um diferencial que vale a pena ser conhecido ainda que tal tema sirva literalmente apenas com pano de fundo para a trama principal. Realmente existiu o declínio na carreira de Welles? Houve uma morte misteriosa durante as filmagens? Ele se meteu em confusão política? O próprio protagonista faz questão de responder na conclusão: “se você procura fatos leia um livro de História, mas não deixe de verificar o autor”. Quem conta um conto aumenta um ponto. Acredite se quiser.

Suspense - 105 min - 2006 

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