NOTA 6,0 Suspense se torna cansativo ao enveredar pelo caminho da conspiração política, mas ainda assim entretém com qualidade |
O cinema desde os seus primórdios
apresenta histórias fascinantes ao público, todavia algumas de suas melhores
tramas podem não estar na tela e sim em seus bastidores, ironicamente as vezes
bem mais interessantes que os filmes em si. A metalinguagem é um recurso que
costuma agradar os espectadores. O cinema falando sobre cinema é instigante,
mas no caso de Um Nome na Lista a receita não deu certo. Fracasso nos EUA, o
longa infelizmente chegou na surdina ao Brasil e certamente em tantos outros
países, ainda que supostamente trate de um caso real envolvendo o famoso Orson
Welles, o diretor do clássico Cidadão
Kane. Quem? Pois é, talvez a monossilábica pergunta seja a resposta para o
fracasso do longa do cineasta Oliver Parker, de O Marido Ideal. Embora se exalte que vivemos na
era dos conectados, o que fica cada vez mais claro é que em meio a tanta
informação o público quase não absorve conteúdo algum e tem muita gente que se
diz cinéfila que sequer ouviu falar em Welles que aqui é personificado com
vigor por Danny Huston, não por acaso um ator que cresceu entre os sets de filmagens
(ele é filho do saudoso cineasta John Huston, pai da também atriz Anjelica
Huston). A trama roteirizada pelo próprio Parker, baseada no romance de Davide
Ferrario, se passa em 1948, época ruim na vida de Welles que sofria com baixa
popularidade, havia se separado recentemente da atriz Rita Hayworth, outra
figura lendária de Hollywood, e para sobreviver estava aceitando qualquer
convite ligado ao meio cinematográfico, inclusive atuar em um filme B rodado em
Roma, na Itália. “Memórias de um Mágico” era uma produção um tanto obscura, com
roteiro e direção duvidosos, o que irritava Lea Padovani (Paz Vega), a estrela
feminina do elenco, atriz um tanto temperamental que se estranha com Welles
logo no primeiro encontro. Este por sua vez não se sentia muito a vontade
protagonizando um projeto que não confiava nem um pouco e ainda sentia a
pressão da imprensa local que só queria saber das fofocas a respeito de seu mal
fadado casamento. Contudo, ele não podia imaginar o que iria acontecer durante
as filmagens. Alessandro Dellere (Frano Lasic), um dos atores, acabou falecendo
misteriosamente enquanto atuava e sua última palavra ele sussurrou ao pé do
ouvido de Welles, mas o rapaz acabou omitindo esse detalhe da polícia que
acredita que a morte foi ocasionada por overdose de drogas.
Dellere era padrasto de Lea, que
mesmo não sendo muito simpática no início com Welles acabou chamando a atenção
dele. Para conquistá-la, curiosidade ou puro ócio, o fato é que o diretor e
ator acabou se enrolando mais do que deveria com a história do morte do colega
de elenco. Tommaso Moreno (Diego Luna) é o motorista que está servindo como
guia e confidente ao artista, mas na realidade é um ex-policial que
provavelmente abandonou a carreira por preferir ir a fundo nas investigações. Sim,
sua honestidade seria seu defeito em uma época política e financeiramente
conturbada pela qual a Itália passava após a Segunda Guerra Mundial. Com os
ânimos exaltados, qualquer coisa era motivo de brigas e manifestações
populares, um prato cheio para um aspirante a cineasta que desejava realizar um
tipo de cinema que fizesse diferença na vida das pessoas, mas sua ousadia para
investigar os motivos de tantas revoltas e até mesmo a morte de Dellere acabou
o envolvendo em uma guerra política. Pete Brewster (Christopher Walken), um
agente do governo americano e velho conhecido de Welles, o reencontra em Roma,
pois está ajudando a montar uma plataforma política pós-guerra para os
italianos. O agente faz parte de uma espécie de rede de solidariedade, o
Programa da Amizade, projeto no qual alguns países em melhor situação ajudavam
com alimentos e bens materiais a população carente de outras nações, mas
obviamente com segundas intenções. Apoiando os democratas cristãos, a intenção
da caridade é que o povo eleja os representantes deste partido para assumir o
Poder (o tempo passa e isso não muda), mas os comunistas pareciam dispostos a
qualquer coisa para saírem vitoriosos. Certo dia Welles descobre uma lista com
alguns nomes de democratas influentes, alguns já recentemente assassinados, e
seu nome também consta entre eles e então se dá conta que se envolveu em uma
conspiração que atinge os mais altos níveis do governo e ele estava sendo visto
como um inimigo dos comunistas devido a sua amizade com Brewster. Sua situação
se complica ainda mais quando ele tem a ideia de dirigir Othello, um clássico literário de William Shakespeare, em solo
italiano e quando seu investidor é assassinado ele entrega a tal lista para a
polícia. Ato heróico para alguns, para os comunistas essa era a gota d’água que
faltava para terem certeza que tinham por perto um grande rival.
Seguindo o estilo de suspense
noir, Parker constrói uma narrativa razoável, mas que deixa a desejar em
diversos momentos. Certamente o grande chamariz da produção é reviver o clima
dos bastidores do cinema dos anos 40, época fértil para a sétima arte, ainda
que no caso acompanhamos as filmagens de um filme B, todavia, já era
perceptível que na época a vida pessoal dos atores chamava mais a atenção do
que seus trabalhos. É uma pena que as aventuras românticas de Welles tenham
pouco espaço nesta narrativa. Lea naturalmente é seu interesse amoroso desde o
primeiro minuto que a vê, mas não há liga entre os personagens, tornando-se bem
mais interessante o flerte do rapaz com a mãe da moça, Aida (Anna Galiena),
duas vezes viúva e entusiasta da carreira da filha. Outro gancho perdido é a
disputa pelo amor da jovem que poderia existir entre o ator e seu motorista,
rapaz que sofreu no passado uma grande perda amorosa por conta de seu faro
incansável para achar verdades. Já fica o aviso também que Parker não quis
fazer uma homenagem ao cineasta-protagonista citando a todo o momento seus
trabalhos, pelo contrário, por vezes até esquecemos que estamos acompanhando um
fato marcante da vida de uma figura ilustre. A grande temática aqui é a
conspiração política. Máfia, fascistas e democratas pareciam estar juntos em um
plano contra os comunistas, mas estes estavam dispostos a qualquer coisa para
chegar ao Poder e ameaçar as interrupções do filme que Welles desejava dirigir
era provavelmente a vingança mais branda. Até o finado Dellere está envolvido
no enrosco. Um Nome na Lista está longe de ser um grande suspense, mas no
conjunto funciona para matar o tempo ocioso. Com belas fotografia, trilha
sonora, direção de artes e figurinos, contudo, a obra sofre com o mesmo
problema que tantas outras do gênero. Chega um momento que estamos saturados de
ouvir falar em tantos nomes cujos rostos são desconhecidos ou não facilmente
identificáveis na trama e a tendência é que da metade para o final o espectador
disperse a atenção. Por outro lado são poucos os filmes que retratam a situação
de países em um período tão curto após a Segunda Guerra Mundial, um diferencial
que vale a pena ser conhecido ainda que tal tema sirva literalmente apenas com
pano de fundo para a trama principal. Realmente existiu o declínio na carreira
de Welles? Houve uma morte misteriosa durante as filmagens? Ele se meteu em
confusão política? O próprio protagonista faz questão de responder na
conclusão: “se você procura fatos leia um livro de História, mas não deixe de
verificar o autor”. Quem conta um conto aumenta um ponto. Acredite se quiser.
Suspense - 105 min - 2006
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