Nota 6,0 Baseado em fatos reais, suspense feito para a TV perde fôlego pelo excesso de pistas
A mente humana é uma caixinha de surpresas e por isso não
devemos nos surpreender com os mais estapafúrdios casos policiais envolvendo
pessoas com distúrbios psicológicos. Dependendo dos motivos que levam uma
pessoa a ter um comportamento criminoso podemos julgar uma bizarrice, mas por
incrível que pareça casos semelhantes podem ser mais comuns do que imaginamos.
Erotomaníacos é o nome dado as pessoas que passam a se comportar de forma
diferenciada e erotizada após sofrerem alguma grande decepção ou trauma em
relação ao sexo e então começam a perseguir algum objeto de desejo podendo
chegar a atos extremos e perigosos, sendo um distúrbio mais comum em mulheres.
Esse pode ser o problema da protagonista de Presença de Ellena,
roteirizado por Matthew Tabak que se baseou em um artigo redigido por Marie
Brenner inspirado em fatos reais. Ellena Roberts (Jenna Elfman) certo dia se
encontrou por um acaso com o famoso médico David Stillman (Sam Robards) na
porta de um aeroporto e aceitou uma carona. Após um jantar, eles passam a noite
juntos. Os encontros começam a ficar cada vez mais constantes, mas o problema é
que ele é um homem casado e não aceita abandonar sua esposa e família. Assim,
Ellena começa a enviar cartas e a telefonar para a residência do amante e até
mesmo passa a assumir a identidade de sua rival, Claire (Jane Wheeler), em
algumas ocasiões para ter acesso ao médico. O caso vai parar nos tribunais sob
a alegação de assédio e ameaças à integridade física e moral da família
Stillman e a moça é defendida pela advogada Sara (Kate Burton), esta que se
surpreende conforme vai se aprofundando no caso. Defendendo o médico está Sam
(Mark Camacho), este que afirma que a história do romance entre Ellena e David
não passa de uma fantasia psicótica da acusada. De que lado a verdade está?
O diretor John Badham, do nostálgico Os Embalos de Sábado a
Noite, fragmentou sua narrativa de forma que acompanhamos três caminhos de uma
mesma história. Temos Ellena na prisão contando sua versão dos fatos à
advogada, esta que ao mesmo tempo faz suas próprias pesquisas sobre o caso e as
formas possíveis para ao menos atenuar a sentença da ré. Em flashback, temos as
imagens dos eventos que a acusada relata e em paralelo a isso é mostrado o
trabalho da acusação procurando meios para sustentar a afirmação de que o
envolvimento amoroso entre Ellena e David não passou de um delírio psicótico da
jovem. Pelos primeiros minutos não temos muitas informações para entender o
porquê deste episódio de adultério ter levado uma mulher à prisão. A hipótese
mais óbvia é de que ela teria assassinado o amante já que ele se recusou a
abandonar sua família, o que implicaria em manchar sua reputação como
profissional e também abrir mão de uma vida de luxos. Para o bem do filme, felizmente
a coisa não é bem por aí. Por outro lado, para quem costuma assistir a dramas
de tribunais, até mesmo de novelas, Presença de Ellena é bem previsível, mas
não deixa de ser interessante acompanhar a reunião de pistas dos advogados de
ambas as partes, a constante cara de cinismo de Elfmnan e ter a surpresa de
revelações a respeito de duas personagens muito próximas à criminosa. Todavia,
ao longo da narrativa vão sendo dadas dicas sobre o comportamento e o passado
de Ellena que acabam ofuscando o impacto que a conclusão poderia oferecer.
Típico produto a la “Super Cine”, apesar das boas intenções, este suspense é
próprio para entreter platéias menos exigentes, a julgar pelo roteiro
mastigadinho e a estética carregada de vícios televisivos (foi produzida por um
canal a cabo), principalmente no que diz respeitos aos cortes de edições.
Todavia não é dos piores entre as produções de porte pequeno, dá para encarar
numa boa.
Suspense - 90 min - 2002
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