Nota 4,0 Nonsense e clichê, comédia se perde em sua própria ânsia de querer ser mais do que pode
Fábio Porchat, Paulo Gustavo e
Marcelo Adnet são alguns nomes fortes da comédia brasileira e seus filmes
costumam fazer sucesso nos cinemas e depois repetidos a exaustão na TV, mas
certamente se exportadas suas produções seriam fracassos. Eles trabalham com um
tipo de humor muito próprio e tiveram a ajuda da mídia para se destacarem. A
grosso modo podemos dizer que eles são equivalentes a Xuxa ou os Trapalhões
anos atrás. As pessoas não ligam muito para os roteiros, mas assistem seus
filmes por causa dos artistas em questão. Nos EUA também há muitos casos
semelhantes de humoristas que bombam na TV e em shows stand up e que também
tentam fazer carreira no cinema, mas fora do solo ianque seus nomes não dizem
nada. Cedric the Entertainer é um exemplo. No Brasil ele é um ilustre
desconhecido. É aquele cara engraçado que sabe que já viu em outras produções,
mas não conhece o nome e nem se lembra de algum papel marcante. Suas escolhas
também não ajudam para ter popularidade. Em Operação
Limpeza ele interpreta Jake Rodgers, um homem comum que certo
dia acorda em uma linda suíte de hotel com uma terrível dor de cabeça, mas perto
de uma maleta contendo milhões de dólares. Porém, do outro lado da cama, se
encontra o corpo de um agente do FBI. Ele não se lembra de absolutamente nada
que aconteceu, não se recorda nem mesmo de Diane (Nicollette Sheridan), sua
esposa que o resgata dali e o leva para uma gigantesca mansão que afirma ser
dele. Na verdade ela pretende drogá-lo para conseguir informações sigilosas que
podem estar perdidas em sua mente. Rodgers descobre o plano a tempo de fugir e
eis que conhece a garçonete Gina (Lucy Liu) que também diz ter um
relacionamento amoroso com o desmemoriado e afirma que ele trabalha como
faxineiro em uma companhia de videogames, embora ele bata o pé que é um agente
secreto da CIA cujo codinome é "The Cleaner". Agora ele quer provar
sua versão dos fatos ao descobrir que poderia incriminar o presidente da tal
empresa de games, o poderoso Eric Hauck (Mark Dacascos), e também terá que
enfrentar Riley (Will Patton), também envolvido com falcatruas.
Pelo título e os minutos iniciais
já percebemos que esta comédia não vai muito longe sendo uma típica produção
que no máximo pode entreter em uma tarde chuvosa ou de ócio, mas para se
esquecer com a mesma rapidez que se devora um balde de pipoca. Tem bastante
corre-corre, piadas idiotas, mulheres bonitas exibindo seus corpos com roupas
provocantes e um protagonista que nada mais faz que repetir trejeitos e caretas
de outros atores negros que se destacaram em comédias, como Eddie Murphy ou Martin
Lawrence. O roteiro rocambolesco engloba algumas poucas situações genuinamente
divertidas, outras forçadas e muitas cenas desnecessárias apenas para preencher
uma trama que daria um enxuto episódio de sitcom, tudo conduzido por um elenco
que carece de equilíbrio. Entertainer até que segura bem as pontas como
protagonista, embora por vezes sua cara de bobo seja irritante, mas pelo menos
evita o quanto pode as tão corriqueiras piadinhas raciais nesse tipo de fita. Os
vilões de Patton e Dacascos, assim como outros que entram e saem de cena sem
dizer a que vieram, causam risos não por serem divertidos e sim pelo
constrangimento de seus perfis, totalmente sem personalidades. O diretor Les
Mayfield já havia explorado o casamento de ação e humor em O Cara com um pouco mais de êxito, inclusive no que diz respeito
aos apuros técnicos e visuais e na direção dos atores, diga-se de passagem,
melhores escalados. Curioso que os roteiristas Robert Adetuyi e George Gallo
beberam na fonte do suspense A Identidade
Bourne, mas digamos que só um tiquinho de inspiração foi tirado do longa
protagonizado por Matt Damon. Todo o resto parece copiados de seriados ou
telefilmes de quinta categoria. Infelizmente o gancho de brincar com a confusão
do termo agente (há muita diferença entre ser um profissional de limpeza e um
investigador) não foi bem explorado, apresentando piadas previsíveis e sem
graça. Operação Limpeza só não é
totalmente execrável porque cumpre de certa forma ao que se propõe: ser um
passatempo ligeiro e descartável. Desligando o senso crítico dá para encarar
numa boa.
Comédia - 91 min - 2006
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