NOTA 8,0 Comédia italiana discute o amor através das quatro etapas pelas quais uma relação fracassada passa |
É interessante notar que o
enredo começa com um tom mais romântico e o humor vai sendo introduzido
conforme seu desenvolvimento. As histórias são intituladas de forma a fazer
alusão do início ao fim de um relacionamento, como se fossem as fases de um
amor fadado ao fracasso. A primeira é "A Paixão", em que Tommaso
(Silvio Muccino) se apaixona por Giulia (Jasmine Trinca), mas não é
correspondido até que a moça conhece o lado família do seu cortejador. A
segunda representa "A Crise", mostrando Barbara (Margherita Buy) e
Marco (Sergio Rubini), um casal de meia idade buscando uma solução,
possivelmente um filho, para o desgaste do relacionamento de muitos anos.
"A Traição" é o terceiro conto e nos apresenta à fiscal de trânsito
Ornella (Luciana Littizzetto) que está arrasada com a traição de seu marido
Gabrielle (Dino Abrescia) e declara guerra aos homens usando sua autoridade.
Por fim, em "O Abandono", Goffredo (Carlo Verdone) é um médico
bem-sucedido que foi deixado pela esposa e se mete em uma confusão com sua
secretária Luciana (Sabrina Impacciatore). Desesperado para encontrar uma
solução para sua solidão, ele busca auxílio em um livro de auto-ajuda chamado
"Manual do Amor", que oferece dicas às pessoas com o coração partido.
Entre as alegrias e as tristezas que o amor proporciona, solteiros,
apaixonados, traídos e até mesmo quem nunca viveu uma grande paixão devem
encontrar motivos para se envolver e se divertir em ao menos um desses contos.
A opção de oito protagonistas, uma dupla para cada segmento, ajudou a dar um
dinamismo ímpar à obra, quando o caminho mais fácil seria seguir um mesmo casal
ao longo dos anos, do entusiasmo do amor a primeira vista até o barraco que
fatalmente colocaria um ponto final ao relacionamento. Estruturas narrativas do
tipo já foram usadas à exaustão, por isso a escolha italiana é bem-vinda e até
certo ponto original.
A produção é impecável tecnicamente,
com uma fotografia muito bonita, principalmente nas cenas finais passadas em
uma praia praticamente deserta, e surpreende por sua edição na forma de
capítulos substituindo as misturas de tramas tão comuns em obras fragmentadas
que acabam por unir todas as arestas na conclusão. Quanto ao texto, ainda vale
ressaltar a simplicidade e a emoção implícitas no tocante das relações
amorosas. As cenas reproduzem momentos com os quais os espectadores podem se
identificar facilmente. Eles são universais, ou seja, podem ocorrer com
qualquer um e em qualquer parte do mundo. O humor utilizado aqui é bastante
natural, o que facilita a identificação do espectador, mas resquícios dos
estereótipos das comédias também marcam presença como, por exemplo, no último
conto, quando o médico atrapalhado precisa se esconder embaixo da cama para não
ser pego pelo marido de sua secretária, a típica cena cômica do amante em
perigo tão corriqueira em filmes e novelas, mas que aqui ganha um gostinho
diferenciado. Todavia, as situações engraçadas passam longe de serem forçadas e
são calcadas em eventos cotidianos que podem ou não acontecer em sigilo. O
elenco afinado colabora para o o bom resultado oferecendo interpretações
críveis e divertidas, provando que um filme não precisa de um elenco super
famoso para ser bom. Claro que é preciso ter um mínimo de interesse nas
relações humanas para poder aproveitar esta obra. É uma pena que o cinema
italiano, ou melhor, o europeu em geral, ainda sofra um preconceito
pré-histórico sendo tachado de chato, lento ou extremamente dramático. Embora
já tenha dado diversas provas de sua qualidade, Manual do Amor é mais uma
chance que o público tem de rever seus conceitos. Pena que seja raro encontrar
o filme, mas quem sabe em uma daquelas locadoras que ainda se orgulham de
estarem com as portas abertas...
Comédia romântica - 116 min - 2005
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