quinta-feira, 16 de abril de 2015

K-PAX - O CAMINHO DA LUZ

NOTA 6,0

Drama com premissa
interessante tem boas
intenções, mas sua narrativa
não empolga muito
Geralmente os filmes dramáticos têm vida útil longa, ou seja, são aqueles que não importa o quanto o tempo passa eles sempre continuam vivos na memória coletiva ou ao menos seus títulos tratam de perpetuar sua fama. Tomates Verdes Fritos, A Casa dos Espíritos, As Pontes de Madison e tantas outras produções do gênero certamente ainda despertam curiosidade nas novas gerações e aguçam a nostalgia dos mais velhos. Pena que nem todo drama consegue esse tipo de status. Algumas produções caem no ostracismo pela falta de prêmios, indicações, elenco famoso ou por abusar absurdamente dos clichês, mas alguns filmes até são feitos com as melhores intenções, mas acabam se atropelando justamente em seus objetivos. Talvez este seja o caso de K-Pax – O Caminho da Luz, longa com uma premissa interessante, porém, com uma narrativa filosófica e até certo ponto crítica um tanto arrastada, o que não favorece a obra. Uma meia hora a menos seria benéfica. A história começa apresentando a abordagem por policiais de um estranho homem em uma estação de trem. Sua primeira aparição já entrega os segredos do personagem. Prot (Kevin Spacey) surge aparentemente do nada, cercado por uma luz e um homem comum o olha atentamente e demonstra que tal visão lhe fez bem. Seria ele um dos famosos espíritos de luz que vez ou outra descem na Terra para ajudar os humanos? Essa não é a teoria na qual os policiais acreditam. As suspeitas de ele ser um criminoso ou até mesmo um terrorista vão por água abaixo quando ele se recusa a tirar os óculos escuros para não ter os olhos ofuscados pelo excesso de luz do Sol e ao mencionar que veio do planeta K-Pax pertencente a uma galáxia desconhecida até mesmo pela ciência. Assim, ele é encaminhado para um hospital psiquiátrico e desafia o ceticismo e os conhecimentos de médicos e pesquisadores, chamando principalmente a atenção do Dr. Mark Poweell (Jeff Bridges) que está disposto a provar que o suposto extraterrestre na verdade está sofrendo de um grave distúrbio de personalidade. Sem reagir aos medicamentos e cada vez detalhando mais as particularidades da vida em um planeta que parece um sonho, Prot acaba encantando os demais pacientes do lugar que acreditam que um deles será escolhido para ir com ele para K-Pax em sua próxima viagem que seria dentro de alguns dias. Paralelamente, Powell se rende ao fascínio que passa a sentir pela inteligência e compreensão deste paciente em especial, o que intensifica suas invetigações sobre seu caso a tal ponto de sua família e amigos perceberem que o próprio parece não estar em seu juízo perfeito.

Como em um duelo de gigantes, os oscarizados Spacey e Bridges (este na época ainda sem sua sonhada estatueta) travam uma batalha pelos diálogos, mas a troca de espadas por palavras pode ser elegante, porém, não muito eficiente. As conversas adentram campos psicológicos e filosóficos que podem ser de difícil compreensão para muitos e até mesmo os entendidos do assunto devem se chatear com tanto papo e pouca ação. A carga dramática acaba sendo diluída entre cenas mais tocantes e outras que podem até deixar um leve sorriso estampado no rosto do espectador, mas os alicerces desta história são os pontos sentimentais. Se a esperança é a última que morre, aqui ela aparece bem vivinha antes de cessar. O tal alienígena tem a esperança de voltar a seu planeta em breve, os internos do hospital estão na expectativa de quem será o escolhido para ir junto com ele para esse novo refúgio e o médico espera conseguir solucionar os mistérios que envolvem seu excêntrico paciente ao mesmo tempo em que se dá conta que também tem alguns conflitos a serem resolvidos consigo mesmo. A esperança em algo é o que move esta narrativa e certamente é o ponto de salvação da produção. Em meio a muitas críticas negativas que encontramos na internet e até mesmo consultando arquivos de revistas e jornais da época, existem diversas que defendem os objetivos do longa. No fundo, nada mais é do que uma forma diferenciada de levar mensagens boas ao público. Curiosamente, segundo registros, o filme foi lançado em solo americano bem na época do fatídico acidente com as torres gêmeas do World Trade Center, o que explica seu fracasso nas bilheterias e consequentemente o enfraquecimento de sua campanha quando estreava em outros países. Em tempos tão confusos em que não se sabia se o amanhã existiria, a mensagem desta obra cairia como uma luva, mas obviamente ninguém estava com a cabeça aberta para algo assim. Visto hoje em dia podemos ter uma visão diferenciada e positiva, mas ainda assim não classificá-lo como algo excepcional.


A idéia do longa nasceu a partir de um romance de Gene Brewer lançado em 1995 cuja trama tinha um apelo universal e benéfico para as sociedades. E olha que os eventos reais mencionados no parágrafo acima ainda estavam bem longe de acontecerem, assim o roteirista Charles Leavitt não foi influenciado ou manipulado a construir uma trama edificante propositalmente, tanto é que demorou cerca de seis anos para apresentar a versão definitiva de um roteiro pouco convencional, mas cujo foco não é totalmente desconhecido no mundo do cinema. O enredo do extraterrestre que chega a Terra para fazer estudos sobre o modo de vida dos humanos e particularidades do ambiente e que não quer fazer mal a ninguém, mas que acaba sendo hostilizado, já foi utilizado em diversas produções como O Dia em Que a Terra Parou, E.T. – O Extraterrestre e Starman, O Homem das Estrelas, este último coincidentemente protagonizado por Bridges e cuja narrativa guarda semelhanças com K-Pax – O Caminho da Luz. Ambos fogem do gênero ficção científica repleta de efeitos especiais e assumem um tom dramático em que o importante da história é o envolvimento do extraterrestre com um terráqueo. Bem, esse lado sentimental é bastante comum, afinal sempre tem que haver um humano com bom coração para salvar a criatura boazinha, caso contrário a história descamba para o trivial conflito entre humanos versus alienígenas ou em outras palavras heróis versus vilões. Talvez seja justamente a ausência destes estereótipos que contribuíram para o seu fracasso, mas não se podia esperar algo explosivo vindo do diretor Iain Softley, o mesmo de Asas do Amor, que parece ter apreço pelo sóbrio e a melancolia, tanto que isso se reflete no visual deste trabalho. Durante as duas horas de duração o branco é uma cor predominante e quase sempre existe uma claridade excessiva, o que explica o subtítulo nacional que, embora já deixe claro que a produção quer discutir a questão dos seres elevados e de como todos podem se tornar um dos membros desse grupo selecionado, muitos certamente iriam preferir o surrado tipo de trama já mencionado que hoje é típico de trash movies. Este longa na verdade deixa para o espectador tirar suas próprias conclusões sobre quem seria Prot, um alienígena de verdade ou um psicótico do bem que filosofa sobre a vida tão bem ou até melhor que um homem em sã consciência? Longe ser a tragédia que muitos dizem, esta é uma obra que tem seus pontos positivos e é mais uma boa pedida para quem procura algo leve e que proponha a reflexão. Vale uma conferida.

Drama - 118 min - 2001 

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