NOTA 7,5 Datado de uma época difícil para a Disney, longa composto de duas pequenas histórias é simpático e nostálgico |
Em tempos de vacas magras o
jeito é apertar os cintos, porém, sem abrir mão da qualidade. Esta é a grande
lição que os estúdios Disney aprendeu e passou adiante de um dos períodos mais
conturbados de sua trajetória. Durante a Segunda Guerra Mundial as pessoas não
estavam no clima para se divertir, não havia disposição para as massas irem ao
cinema, por isso a empresa teve muito prejuízo com seus longas animados e a
maneira encontrada para se manter em atividade foi apostar em curtas e
médias-metragens protagonizados por personagens da casa como Mickey ou Donald
ou baseados em contos clássicos. Cenas em menor quantidade, economia bem-vinda.
Tais produtos eram exibidos nos cinemas agrupados de forma a atingirem o tempo
de duração semelhante a de um longa-metragem comum. O 11º clássico animado do
estúdio, As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo, é uma compilação de duas histórias baseadas em clássicos da
literatura européia: a de um sapo extremamente exagerado em tudo o que fazia e a
de um sujeito franzino enfrentando uma ameaça de outro mundo. Cada uma é
contada de forma independente da outra e aparentemente a única ligação
existente entre elas é que seus protagonistas parecem sondados pelo infortúnio.
O primeiro conto é de um sapo um tanto excêntrico baseado na obra "The
Wind In The Willows", de Kenneth Grahame. O milionário J. Thaddeus Toad é
o dono da mansão Toad Hall, mas suas manias e costumes extravagantes o têm
enchido de dívidas. Quando o Sr. Sapo, como é mais conhecido, fica obcecado por
um automóvel motorizado, ele é injustamente acusado de roubar um exemplar.
Agora resta aos seus amigos provar sua inocência. A segunda história tem como
base o livro "The Legend of Sleepy Hollow", de Washington Irvin. Em
uma pequena cidade da Inglaterra surge um estranho homem, o professor Ichabod
Crane. Embora não seja atraente, ele logo ganha o coração da maioria das
mulheres da cidade, inclusive o da bela Katrina Van Tassel, filha do maior
milionário da região. Isso desperta os ciúmes de Brom Bones, o valentão da
cidade que também está de olho nela. Durante uma festa de Halloween, Bones quer
provar para a moça que seu rival é um medroso assustando o professor com a
lenda de um cavaleiro que assombra a região cortando as cabeças de quem vaga pela
floresta durante a noite.
Para alguns pode parecer que
este produto foi feito as pressas para tapar algum buraco no cronograma da
empresa, mas na realidade sua confecção começou em 1941 e uma equipe de seis
roteiristas tomou as rédeas do trabalho. A trama do Sapo Maluco já contava com
algumas sequências animadas por completo quando o projeto foi abortado devido
aos já citados problemas financeiros e sociais que a guerra proporcionou. Após
o término do conflito, foi acordado retomar tal ideia, mas em uma versão mais
enxuta. A história do Sr. Sapo é até desconhecida pelos brasileiros, mas conta
com bichinhos falantes e um protagonista divertido para agradar a criançada. Para
completar a duração mínima de um longa-metragem, patamar que o próprio Sr. Walt
Disney ajudou a conquistar quando brigou para que seu Dumbo fosse aceito em tal categoria, os diretores Jack Kinney,
Clyde Geronimi e James Algar recorreram ao conto do Cavaleiro sem Cabeça, bem
mais conhecido, porém, uma opção curiosa visto que é um texto que aposta no
gênero terror e, diga-se de passagem, com um final inesperado para um produto
Disney, mas não espere ver sangue e cabeças rolando obviamente. Fonte de
inspiração para o cineasta Tim Burton que faria sua versão sobre tal mito cinco
décadas mais tarde, a sequência de perseguição envolvendo o Cavaleiro e o
franzino Ichabod é considerada por muitos especialistas em cinema como uma das
mais impactantes e amedrontadoras já produzidas pela Disney, comentários que
certamente colaboraram para certa ousadia adicionada em futuros lançamentos da
empresa como A Bela Adormecida cujas
aparições da Malévola são um tanto sombrias. Apesar de ser um produto de baixo
orçamento e realizado sem grandes expectativas financeiras, é perceptível a
tradição Disney em cada fotograma desde a primeira cena passada em uma
biblioteca. Os antigos desenhos geralmente começavam focados em um livro sendo
aberto ou em salas com paredes forradas de estantes, mas aqui esses elementos
têm uma importância maior, pois servem como link entre as duas histórias. É
justamente aí que a obra parece ter sido feita como um tapa buraco devido a
fragilidade do argumento de ligação, apenas uma simplória justificativa.
Esta produção foi a última deste modelo
de coletâneas produzida pelo estúdio que ao perceber uma pequena reação em seu
caixa voltou a investir nos longas animados, retomando a produção com Cinderela. Todavia, o formato da compilação de pequenas
histórias sem que necessariamente uma dependa da outra para um pleno
entendimento das propostas acabou sendo benéfico para a Disney. As produções
montadas originalmente não ganharam relançamentos como era uma tradição da
companhia, porém, todas foram desmembradas e os curtas passaram a ser
reutilizados de múltiplas formas, primeiramente exibidos em ocasiões especiais
na TV. Quando o catálogo da empresa passou a ser distribuído em VHS, os
“filmetes” passaram a ser inseridos nas fitas cassetes de seus clássicos como bônus
ou então rearranjados em novas coletâneas, opções que continuam até hoje a serem
utilizadas nos DVDs como, por exemplo, a coleção “Fábulas Disney”. No Brasil, a
versão integral da história do Sapo Maluco e de Ichabod Crane foi lançada
primeiramente nos cinemas como Dois Sujeitos Fabulosos. O título As
Aventuras de Ichabod e o Sr. Sapo passou a ser utilizado somente nas raras exibições no canal fechado
Disney e quando finalmente a obra original foi disponibilizada em meados de
2005 para locação ou venda direta ao consumidor, até então um produto inédito
por aqui. A versão em DVD, embora restaurada e remasterizada, apresenta
alguns pequenos defeitos na imagem por ser a versão legítima levada aos cinemas
no final dos anos 40, mas o que seria um incômodo no final das contas deixa a
apreciação do filme com um charme todo especial de sessão nostalgia afinal de
contas, sem dúvidas, este é um produto destinado a um público mais maduro ou
que não se prenda a vícios do cinema moderno, ou seja, para crianças pequenas
esta não é das melhores opções. Já aos que não tem paciência para encarar um classicão
Disney hoje em dia, porém, fica com aquela vontade de matar as saudades do
estilo marcante ou ainda para os curiosos que gostam de explorar esses pequenos
tesouros do estúdio, esta sim é uma excelente escolha. Não chega a ser
memorável, mas é bem feitinho, agradável e se levarmos em consideração a época
conturbada de sua produção compreenderemos melhor o porquê dos aplausos e
elogios que colheu quando lançado.
Animação - 69 min - 1949
Animação - 69 min - 1949
Um comentário:
Qdo li a resenha, achei divertido!! Difícil vai ser achar o filme por aqui...
A história tbm parece ser curiosa. Ainda mais a do Sr. Sapo (só o nome já dá vontade de rir) =)
Até mais! ;)
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