NOTA 10,0 Produção japonesa é uma obra-prima que injetou ânimo no campo da animação tradicional |
Impressionante, delicado, inteligente, poético, enfim
são diversos os adjetivos que podem ser aplicados perfeitamente quando falamos
de A
Viagem de Chihiro, considerada a obra prima do diretor Hayao Miyazaki,
até então praticamente um desconhecido em terras ocidentais, e certamente uma
das melhores e mais importantes animações da história do cinema. Surpreendendo
ao conquistar o Urso de Ouro do Festival de Berlim (prêmio que dividiu com o
sério Domingo Sangrento), a animação
desafiou os limites de seu território, onde destronou Titanic que na virada do milênio ocupava o posto de filme de maior
bilheteria no Japão, e por onde passou casou burburinho, principalmente após
conquistar o Oscar de Melhor Animação. Era a segunda vez que este prêmio era
entregue e novamente a Disney perdeu (antes foi para o Shrek), o que alertou a empresa para a sua eminente perda de
prestígio, tanto é que correu para adquirir os direitos do desenho japonês para
distribuí-lo nos EUA, um trabalho preguiçoso que mais escondeu do que divulgou
a obra. No Brasil a espera foi longa, mas também não causou frisson, ainda que
esse tipo de produção aparentemente tenha conquistado fãs por aqui. Só pela
sacudida que deu no cenário cinematográfico já seria o bastante para colocar a
produção em lugar de destaque, mas a originalidade da narrativa por si só já
faria esse favor, ainda que ela guarde semelhanças com o clássico conto “Alice
no País das Maravilhas”, já que em ambos os casos as protagonistas tem seus
ideais e objetivos, vão parar em um reino fantástico comandado por uma mulher
má e a cada passo nesses lugares surreais surgem novas surpresas. A trama gira
em torno de Chihiro, uma garotinha que está de mudança com os pais para uma
nova cidade. No caminho eles encontram um túnel que leva até um local
misterioso e aparentemente deserto. Mesmo sem uma única alma por lá, há um
imenso e delicioso banquete servido em uma das casas e seus pais resolvem se
servir, enquanto ela vai explorar o lugar e acaba sendo surpreendida por Haku,
um jovem que pede a ela para sair dali antes do anoitecer. Ela corre para
encontrar seus pais, mas inexplicavelmente eles foram transformados em porcos.
Sem saber o que está acontecendo, a garota se vê em meio a um mundo repleto de
criaturas fantásticas e curiosas, mas Haku a ensina como chegar até a bruxa
Yubaba, a dona de uma casa de banhos para deuses e a mulher mais poderosa pelas
redondezas, a única pessoa que poderia desfazer o feitiço e ensiná-la o caminho
de volta. No local, ela conhece Kamaji e Lin que a ajudarão a enfrentar as
dificuldades e a levam até a feiticeira que revela que todos os humanos que
entram em seus domínios são transformados em animais e depois devorados.
Aqueles que são salvos precisam provar seu valor trabalhando para continuarem
vivos. Sem alternativa, a menina faz um trato para trabalhar renunciando à sua
liberdade e até seu nome, passando a ser chamada de Sen. Para voltar ao seu
mundo e salvar sua família, a garota terá de ter muita humildade, coragem e
determinação para vencer desafios e tirar lições importantes dessa aventura sem
precedentes.
Apesar de uma leve semelhança com o conto citado de Lewis Carroll que foi imortalizado nos cinemas através do clássico animado da Disney, Myiazaki buscou inspiração em antigas lendas de seu país para criar um universo fantástico e de certa forma bucólico. Para quem não tem a mínima idéia de quem são as figuras do folclore nipônico não há problemas. O espectador se embriaga tão rapidamente da deliciosa e tranquila atmosfera do longa que pouco importa tal informação que em nada atrapalha a compreensão deste enredo absolutamente inovador que, além dos aspectos mitológicos, também apresenta na composição de seus personagens características que permitem estudos ligados à psicologia e hábitos culturais. A protagonista, por exemplo, é uma garota que acaba descobrindo a maturidade com essa experiência fantástica e que luta pelos seus objetivos, coisa que as meninas orientais não costumam fazer, resquícios de uma educação rígida e ainda enraizada no passado. A super proteção é manifestada quando Yubaba tenta manter seu bebezão escondido, como se o mundo fora de casa ele nunca fosse conhecer. Por trás da valentia amedrontadora da feiticeira, esconde-se uma frágil mulher que tem medo que algo aconteça com aquele que mais preza. Assim a produção nipônica revela-se muito mais complexa e cheia de mensagens e simbologias do que seu visual tradicional e aparente fragilidade transmitem. Os primeiros minutos não prometem uma aventura de tirar o fôlego por sua beleza e criatividade, mas assim que Chihiro e seus pais atravessam o túnel tudo pode acontecer e o espectador fica boquiaberto a cada nova cena. As cores, cenários, trilha sonora, sombras, luzes, o bucolismo do ambiente ou até mesmo uma noite chuvosa, tudo aqui parece essencial na narrativa e está presente por algum motivo óbvio ou algum significado subliminar que pode ou não fazer sentido em qualquer lugar no mundo, mas o encantamento é garantido. A atmosfera obtida é única e só mesmo o próprio Myiazaki para poder fazer algo semelhante como provou em seu projeto seguinte, O Castelo Animado. Contribui para tanto a opção de não recorrer às modernidades e optar pela simplicidade da técnica tradicional de animação. Cada quadro é pintado a mão e refeito com mínimas variações para criar movimentos. O computador só faz parte da criação visual em algumas poucas cenas, mais um ponto para colocar esta produção em destaque já que na época se decretava o fim da animação convencional em detrimento da computadorizada.
Apesar de uma leve semelhança com o conto citado de Lewis Carroll que foi imortalizado nos cinemas através do clássico animado da Disney, Myiazaki buscou inspiração em antigas lendas de seu país para criar um universo fantástico e de certa forma bucólico. Para quem não tem a mínima idéia de quem são as figuras do folclore nipônico não há problemas. O espectador se embriaga tão rapidamente da deliciosa e tranquila atmosfera do longa que pouco importa tal informação que em nada atrapalha a compreensão deste enredo absolutamente inovador que, além dos aspectos mitológicos, também apresenta na composição de seus personagens características que permitem estudos ligados à psicologia e hábitos culturais. A protagonista, por exemplo, é uma garota que acaba descobrindo a maturidade com essa experiência fantástica e que luta pelos seus objetivos, coisa que as meninas orientais não costumam fazer, resquícios de uma educação rígida e ainda enraizada no passado. A super proteção é manifestada quando Yubaba tenta manter seu bebezão escondido, como se o mundo fora de casa ele nunca fosse conhecer. Por trás da valentia amedrontadora da feiticeira, esconde-se uma frágil mulher que tem medo que algo aconteça com aquele que mais preza. Assim a produção nipônica revela-se muito mais complexa e cheia de mensagens e simbologias do que seu visual tradicional e aparente fragilidade transmitem. Os primeiros minutos não prometem uma aventura de tirar o fôlego por sua beleza e criatividade, mas assim que Chihiro e seus pais atravessam o túnel tudo pode acontecer e o espectador fica boquiaberto a cada nova cena. As cores, cenários, trilha sonora, sombras, luzes, o bucolismo do ambiente ou até mesmo uma noite chuvosa, tudo aqui parece essencial na narrativa e está presente por algum motivo óbvio ou algum significado subliminar que pode ou não fazer sentido em qualquer lugar no mundo, mas o encantamento é garantido. A atmosfera obtida é única e só mesmo o próprio Myiazaki para poder fazer algo semelhante como provou em seu projeto seguinte, O Castelo Animado. Contribui para tanto a opção de não recorrer às modernidades e optar pela simplicidade da técnica tradicional de animação. Cada quadro é pintado a mão e refeito com mínimas variações para criar movimentos. O computador só faz parte da criação visual em algumas poucas cenas, mais um ponto para colocar esta produção em destaque já que na época se decretava o fim da animação convencional em detrimento da computadorizada.
Segundo o próprio Myiazaki, a idéia de
realizar este trabalho surgiu da vontade de oferecer aos filhos de amigos algum
referencial no cinema, principalmente as garotas, afinal heróis japoneses
existem aos montes, mas heroínas não, ainda mais uma como Chihiro que é tão
crível e determinada a ponto de quebrar os padrões educacionais já mencionados.
O melhor é que o cineasta consegue imprimir em seu longa imagens que parecem
realmente saídas do imaginário infantil, mas que jamais se mostram tolas, pelo
contrário, incluindo os personagens que são tão encantadores quanto
enigmáticos. Vale destacar também a ausência de bichinhos ou outras
criaturinhas falantes e piadistas. Todos os tipos apresentados dialogam
praticamente como adultos demonstrando seriedade e inteligência, mas ainda
assim com certa inocência. Myiazaki também propõem um desafio ao público:
quebrar o preconceito que há com os diferentes. É fácil se afeiçoar a um
cãozinho falante ou a um simpático e travesso peixinho, mas o que dizer de um
monstro gosmento ou um ser sem rosto que não fala uma única palavra? É
inexplicável como conseguimos sentir empatia por tais seres e tantos outros,
mas uma hipótese pode ser justamente o fato deles não serem delineados baseados
em arquétipos únicos. Todos eles são ambíguos e adornados por uma aura de
mistério que permite que o espectador construa um histórico de vida próprio
para cada um deles. Não vale revelar aqui, mas com certeza há surpresas e
revelações de todos eles que servem apenas para acentuar ainda mais o caráter
inventivo da obra. Não há como fazer uma análise sincera e justa deste desenho
em poucas linhas e tampouco dar a sua real dimensão ao leitor. É um tipo de
produção que só mesmo vendo para crer e certamente o desejo de assistir mais
vezes será impossível de controlar. Apesar de todos
os elogios que lhe cabem, A Viagem de
Chihiro não é um filme para todos os públicos, infelizmente. E não é por sua
culpa e sim do perfil consumista ou até mesmo ignorância dos espectadores. Se
alguns anos antes já encontrava dificuldades em achar sua platéia, hoje então
mais ainda, afinal atualmente até mesmo os desenhos moderninhos não sobrevivem
sem se apoiar na muleta do 3D e outras frescuras. Não é a história do filme que
importa? Com certeza, pena que vivemos em um Era em que imagem é tudo
literalmente, mas não aprendemos ainda a selecionar o que é bonito de se ver,
caso contrário Myiazaki teria feito fortuna em todo o mundo e estariam
disponíveis no mercado Princesa Mononoke,
Serviços de Entrega da Kiki, Meu Vizinho Totoro, Porco Rosso e outros
tesouros da terra do sol nascente, incluindo trabalhos de outros cineastas no campo da animação.
Vencedor do Oscar de filme de animação
Vencedor do Oscar de filme de animação
Animação - 122 min - 2001
Um comentário:
Chirriro é 1 00000000000000000000...
Como todos filmes de Hayao Miyazaki... sempre vale a pena ver...
recomendo toda sua obra, principalmente: Meu vizinho Totoro, Castelo Animado e Porco Rosso.
Postar um comentário