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quarta-feira, 4 de março de 2015

AS AVENTURAS DE ICHABOD E SR. SAPO

NOTA 7,5

Datado de uma época difícil
para a Disney, longa composto
de duas pequenas histórias é
simpático e nostálgico
Em tempos de vacas magras o jeito é apertar os cintos, porém, sem abrir mão da qualidade. Esta é a grande lição que os estúdios Disney aprendeu e passou adiante de um dos períodos mais conturbados de sua trajetória. Durante a Segunda Guerra Mundial as pessoas não estavam no clima para se divertir, não havia disposição para as massas irem ao cinema, por isso a empresa teve muito prejuízo com seus longas animados e a maneira encontrada para se manter em atividade foi apostar em curtas e médias-metragens protagonizados por personagens da casa como Mickey ou Donald ou baseados em contos clássicos. Cenas em menor quantidade, economia bem-vinda. Tais produtos eram exibidos nos cinemas agrupados de forma a atingirem o tempo de duração semelhante a de um longa-metragem comum. O 11º clássico animado do estúdio, As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo, é uma compilação de duas histórias baseadas em clássicos da literatura européia: a de um sapo extremamente exagerado em tudo o que fazia e a de um sujeito franzino enfrentando uma ameaça de outro mundo. Cada uma é contada de forma independente da outra e aparentemente a única ligação existente entre elas é que seus protagonistas parecem sondados pelo infortúnio. O primeiro conto é de um sapo um tanto excêntrico baseado na obra "The Wind In The Willows", de Kenneth Grahame. O milionário J. Thaddeus Toad é o dono da mansão Toad Hall, mas suas manias e costumes extravagantes o têm enchido de dívidas. Quando o Sr. Sapo, como é mais conhecido, fica obcecado por um automóvel motorizado, ele é injustamente acusado de roubar um exemplar. Agora resta aos seus amigos provar sua inocência. A segunda história tem como base o livro "The Legend of Sleepy Hollow", de Washington Irvin. Em uma pequena cidade da Inglaterra surge um estranho homem, o professor Ichabod Crane. Embora não seja atraente, ele logo ganha o coração da maioria das mulheres da cidade, inclusive o da bela Katrina Van Tassel, filha do maior milionário da região. Isso desperta os ciúmes de Brom Bones, o valentão da cidade que também está de olho nela. Durante uma festa de Halloween, Bones quer provar para a moça que seu rival é um medroso assustando o professor com a lenda de um cavaleiro que assombra a região cortando as cabeças de quem vaga pela floresta durante a noite.

Para alguns pode parecer que este produto foi feito as pressas para tapar algum buraco no cronograma da empresa, mas na realidade sua confecção começou em 1941 e uma equipe de seis roteiristas tomou as rédeas do trabalho. A trama do Sapo Maluco já contava com algumas sequências animadas por completo quando o projeto foi abortado devido aos já citados problemas financeiros e sociais que a guerra proporcionou. Após o término do conflito, foi acordado retomar tal ideia, mas em uma versão mais enxuta. A história do Sr. Sapo é até desconhecida pelos brasileiros, mas conta com bichinhos falantes e um protagonista divertido para agradar a criançada. Para completar a duração mínima de um longa-metragem, patamar que o próprio Sr. Walt Disney ajudou a conquistar quando brigou para que seu Dumbo fosse aceito em tal categoria, os diretores Jack Kinney, Clyde Geronimi e James Algar recorreram ao conto do Cavaleiro sem Cabeça, bem mais conhecido, porém, uma opção curiosa visto que é um texto que aposta no gênero terror e, diga-se de passagem, com um final inesperado para um produto Disney, mas não espere ver sangue e cabeças rolando obviamente. Fonte de inspiração para o cineasta Tim Burton que faria sua versão sobre tal mito cinco décadas mais tarde, a sequência de perseguição envolvendo o Cavaleiro e o franzino Ichabod é considerada por muitos especialistas em cinema como uma das mais impactantes e amedrontadoras já produzidas pela Disney, comentários que certamente colaboraram para certa ousadia adicionada em futuros lançamentos da empresa como A Bela Adormecida cujas aparições da Malévola são um tanto sombrias. Apesar de ser um produto de baixo orçamento e realizado sem grandes expectativas financeiras, é perceptível a tradição Disney em cada fotograma desde a primeira cena passada em uma biblioteca. Os antigos desenhos geralmente começavam focados em um livro sendo aberto ou em salas com paredes forradas de estantes, mas aqui esses elementos têm uma importância maior, pois servem como link entre as duas histórias. É justamente aí que a obra parece ter sido feita como um tapa buraco devido a fragilidade do argumento de ligação, apenas uma simplória justificativa. 

Esta produção foi a última deste modelo de coletâneas produzida pelo estúdio que ao perceber uma pequena reação em seu caixa voltou a investir nos longas animados, retomando a produção com Cinderela.  Todavia, o formato da compilação de pequenas histórias sem que necessariamente uma dependa da outra para um pleno entendimento das propostas acabou sendo benéfico para a Disney. As produções montadas originalmente não ganharam relançamentos como era uma tradição da companhia, porém, todas foram desmembradas e os curtas passaram a ser reutilizados de múltiplas formas, primeiramente exibidos em ocasiões especiais na TV. Quando o catálogo da empresa passou a ser distribuído em VHS, os “filmetes” passaram a ser inseridos nas fitas cassetes de seus clássicos como bônus ou então rearranjados em novas coletâneas, opções que continuam até hoje a serem utilizadas nos DVDs como, por exemplo, a coleção “Fábulas Disney”. No Brasil, a versão integral da história do Sapo Maluco e de Ichabod Crane foi lançada primeiramente nos cinemas como Dois Sujeitos Fabulosos. O título As Aventuras de Ichabod e o Sr. Sapo passou a ser utilizado somente nas raras exibições no canal fechado Disney e quando finalmente a obra original foi disponibilizada em meados de 2005 para locação ou venda direta ao consumidor, até então um produto inédito por aqui. A versão em DVD, embora restaurada e remasterizada, apresenta alguns pequenos defeitos na imagem por ser a versão legítima levada aos cinemas no final dos anos 40, mas o que seria um incômodo no final das contas deixa a apreciação do filme com um charme todo especial de sessão nostalgia afinal de contas, sem dúvidas, este é um produto destinado a um público mais maduro ou que não se prenda a vícios do cinema moderno, ou seja, para crianças pequenas esta não é das melhores opções. Já aos que não tem paciência para encarar um classicão Disney hoje em dia, porém, fica com aquela vontade de matar as saudades do estilo marcante ou ainda para os curiosos que gostam de explorar esses pequenos tesouros do estúdio, esta sim é uma excelente escolha. Não chega a ser memorável, mas é bem feitinho, agradável e se levarmos em consideração a época conturbada de sua produção compreenderemos melhor o porquê dos aplausos e elogios que colheu quando lançado.

Animação - 69 min - 1949
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Um comentário:

  1. Qdo li a resenha, achei divertido!! Difícil vai ser achar o filme por aqui...
    A história tbm parece ser curiosa. Ainda mais a do Sr. Sapo (só o nome já dá vontade de rir) =)

    Até mais! ;)

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