Nota 3 Mais uma tentativa de adaptar clássico desenho para live action soa frustrada e ingênua
Se a Disney por muitos anos foi a principal empresa produtora de desenhos animados para cinema, suas empreitadas no mundo dos cartoons para a televisão nunca chegou ao mesmo nível de sucesso da companhia Hannah e Barbera que criou centenas de personagens que fizeram parte da infância de muitas gerações. Hoje, infelizmente, poucos deles povoam o imaginário das crianças, sendo "Scooby-Doo" e sua turma e a família de "Os Flintstones" talvez os mais participativos, muito por causa de um empurrãozinho do cinema que lançou longas com atores de verdade baseados nestas saudosas criações. Zé Colmeia, mistura de live action com animação, também procurou dar sobrevida ao simpático personagem-título criado na década de 1960, um urso comilão e não raramente preguiçoso. Contudo, por mais que se esforçassem, os animadores não extraíram o melhor que a computação gráfica poderia oferecer e o resultado soa bastante incômodo e artificial, não agradando aos adultos saudosistas e servindo apenas para distrair crianças bem pequenas que se contentam em gargalhar com qualquer tropeço ou algazarra a cada cinco minutos.
O enredo é dos mais simples e previsíveis possíveis. No ano do centenário do Parque Jellystone, o prefeito da cidade, o Sr. Brown (Andrew Daly), decide lotear a área verde para a iniciativa privada e com o dinheiro que seria arrecadado já fazia planos para sua campanha para se tornar governador do Estado, prometendo que cada habitante ganharia uma porcentagem simbólica da empreitada. Ao guarda-florestal Smith (Tom Cavanagh), que dedicou praticamente toda a sua vida a proteger o local, só lhe resta a alternativa de tentar provar que a área é rentável como destino de lazer ou aceitar a vaga como agente de limpeza em uma praça de pouco movimento por estar localizada em uma área predominantemente urbana. Para impedir o arrendamento, Smith conta com a ajuda de Rachel (Anna Faris), uma documentarista especializada em registros da vida selvagem, e de Zé Colmeia e de seu inseparável amigo Catatau desesperados quando cai a ficha que sem os visitantes do parque suas sobrevivências estariam em risco, pois não teriam como roubar alimentos. Contudo, os ursos mais atrapalham que ajudam nos embates.
Para desenhos de poucos minutos, o simplório universo de Zé Colmeia servia bem, mas para sustentar um longa-metragem falta estopo. Para cumprir as exigências, a obsessão do protagonista em roubar cestas de piquenique, lançando mão de engenhosas geringonças e armadilhas, é misturada a temas mais complexos como política e preservação ambiental. É louvável a tentativa de inserir algum conteúdo à uma produção fadada a girar em torno de uma piada só, mas para tanto é preciso traquejo, algo que falta ao diretor Eric Brevig, da refilmagem de Viagem ao Centro da Terra. Ele tentou ao máximo preservar o espírito que permeava as animações, mas houve também uma bem-vinda atualização na personalidade do personagem-título que ao menos deixou de falar sozinho como era de seu costume. Por outro lado, é frustrante perceber que muitas possibilidades foram descartadas. Bastava uma revisão entre as dezenas de tramas dos cartoons que certamente encontrariam algumas que mereciam ser aprofundadas.
Os roteiristas J. R. Ventimilia, Joshua Sternin e Brad Copeland acabaram por se ater a uma narrativa bastante ingênua e sem qualquer resquício de criatividade. A impressão é que jogaram toda a responsabilidade da fita sob o carisma e fama dos personagens animados que de fato são o chamariz, contudo, nosso urso protagonista beira o insuportável, nem tanto por suas traquinagens, mas simplesmente porque força uma empatia que nunca surte efeito junto ao espectador, assim o humor que caberia às suas armações também não funciona. Tortadas na cara, escorregões e outras tantas gags visuais não garantem as gargalhadas. Catatau conquista por sua fofura inerente, mas também não tem muito a dizer ou fazer assim como os personagens humanos que parecem não saber como falar de temas sociais importantes e que geram polêmicas de uma forma fácil de ser compreendida pelas crianças a ponto de as fazerem rever suas expectativas quando vão a um parque. Muito mais que um ambiente necessário para a diversão, eles tem importância para a melhoria da qualidade de vida dos humanos, preservação de espécies animais e de plantas, garantem o sustento de funcionários da manutenção, entre tantos outros fatores.
Infelizmente, Zé Colmeia revela-se mais uma tentativa frustrada de adaptar séries de desenhos animados para o cinema, assim como também não agradaram os longas de Garfield, por exemplo. Mesmo não transformando o protagonista em um legítimo herói ou algo parecido, mantendo o seu aspecto bonachão, o longa erra ao tentar impor lições de moral e ecológicas sendo que os mais interessados na produção serão crianças em idade pré-escolar que pouco se atém à história e podem nem se incomodar com o visual tosco de Zé Colmeia e Catatau, ambos em cena de forma pesada, sem naturalidade nos movimentos corporais ou faciais. Isso impacta direta e negativamente no desempenho do elenco de humanos que parece pouco a vontade em atuar sem ter muita certeza de como e onde os personagens digitais seriam inseridos.
Comédia - 80 min - 2010
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