Nota 7 Embora clichê, trama ágil, ambientação soturna e vitalidade do elenco garantem o interesse
O final da década de 1990 foi marcada pela volta dos slashers movies graças a revitalização do subgênero que o diretor Wes Craven promoveu com Pânico e sua primeira sequência. Obviamente dezenas de outras produções tentaram pegar carona nessa onda, mas todas qualitativamente revelaram-se inferiores. Desta safra salvam-se um ou outro título, entre eles Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, que de certa forma apenas recicla a fórmula de Sexta-Feira 13, por exemplo. Um pequeno ajuste aqui e acolá e o argumento continua bastante atual e interessante. Vivemos em uma época em que ameaças podem ser feitas pela internet e se o autor delas não for perspicaz e arquitetar um engenhoso plano facilmente pode ser identificado. Fotos que podem ser manipuladas digitalmente, redes sociais, emails, torpedos... Existe um grande arsenal de artifícios para se amedrontar alguém, da mesma forma que elas também estão disponíveis para a vítima se defender e descobrir quem a persegue. Agora imagine-se vivendo em uma época em que a comunicação se não fosse via telefone era por meio de cartas ou bilhetes através dos quais um sádico podia se esconder atrás de uma caligrafia diferenciada ou escrevendo ameaças com letras recortadas de jornais e revistas.
A situação seria ainda pior caso os recadinhos amedrontadores tivessem fundamentos e você com culpa no cartório. É essa sensação de ser vigiado e de que a qualquer momento um segredo obscuro poderá vir a tona que vivenciam quatro jovens que após uma noite de festa e muita bebedeira acabam por atropelar acidentalmente um homem em uma estrada deserta. Inconsequentes, eles preferem não levar o caso à polícia e fazem um pacto de se livrar do corpo jogando-o ao mar e de que nunca mais tocariam no assunto, porém, a amizade deles nunca mais será a mesma. Nem suas vidas. A data para que voltem a ser atormentados é emblemática: próxima a 04 de julho (verão no hemisfério norte, inverno para nós), dia da independência dos EUA, uma comemoração pelo heroísmo da sociedade estadunidense, postura que os protagonistas do filme precisam adotar caso queiram sobreviver. Vencedora de um concurso de beleza em uma pequena cidade litorânea, Helen (Sarah Michelle Gellar) tinha planos de se mudar e tentar uma carreira artística, mas acaba frustrada como atendente de um comércio familiar. Já Ray (Freddie Prinze Jr.), como a maioria dos jovens da região, acaba indo trabalhar em uma empresa de pesca enquanto a vida de Barry (Ryan Phillipe) não muda muita coisa, continuando com sua arrogância característica, vivendo às custas da família e apenas dedicando seu tempo aos treinos na academia. Por fim, Julie (Jennifer Love Hewitt), que sempre foi aplicada nos estudos, tem dificuldades para acompanhar as aulas da faculdade e tudo piora quando recebe um misterioso bilhete com a mensagem que intitula o filme.
É nesse momento que Julie decide voltar ao litoral para reencontrar os amigos que pelo peso da culpa acabaram se separando ao longo do ano que se passou após o acidente. Aos poucos, cada um deles passa a ser ameaçado seja por bilhetes, telefonemas ou situações amedrontadoras, como descobrir um cadáver no porta-malas do carro ou amanhecer com os cabelos cortados. Alguém presenciou o que o quarteto fez naquela fatídica noite, não descartando a possibilidade do próprio acidentado ter sobrevivido, e quer vingança. Como o grupo de vítimas é pequeno e sempre tem que sobrar alguém para contar história ou para surgir em uma continuação, sobra para os quase figurantes virarem presunto nas mãos do misterioso assassino que esconde-se por baixo de um logo capote, cobre seu rosto com um chapéu de abas grandes e carrega em punho um gancho afiado. Baseado no livro homônimo de Lois Duncan, lançado no longínquo ano de 1973, o correto na verdade é dizer apenas inspirado já que muita coisa foi alterada para a adaptação cinematográfica, a começar pelo fato de que ninguém morre no romance... Oi? A própria autora manifestou repúdio por uma das sequências do filme, já que sua própria filha foi assassinada e seu corpo encontrado escondido em um carro.
O roteirista Kevin Williamson, especialista no gênero de horror, não trouxe nenhuma novidade arquitetando uma trama clichê, repleta de sustos falsos e personagens superficiais, embora fujam dos estereótipos de rapazes descerebrados e de moças extravasando libido. Mesmo assim, para quem é apreciador de fitas do tipo, o longa consegue envolver e até ser considerado acima da média comparando-o com outras produções da seara. Pelo menos a história é bem amarrada e não dá brecha para furos, pelo contrário, a edição de cenas deixa tudo até muito esmiuçado, diminuindo expectativas nos momentos de tensão genuína. Curioso que apesar das inevitáveis comparações com as citadas obras de Craven, também com texto de Williamson, na verdade o script de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado já estava pronto anos antes, só não saiu do papel por problemas com produtores que não acreditavam no projeto. O diretor Jim Gillespie conseguiu segurar a previsibilidade mantendo um constante clima de tensão no ar, sem aquelas desagradáveis deixas para piadinhas sem graça e investindo em uma edição coerente e em uma fotografia soturna, mesmo em cenas diurnas. Ele não tem pressa em colocar seu serial killer em ação e faz uma introdução extensa, com apresentação digna dos personagens.
As poucas cenas de morte, se na época já não surpreendiam, hoje soam tão inofensivas quanto uma perseguição de Tom e Jerry diante de produções que abusam da carnificina explícita. Todavia, as plateias da época, entenda-se o público-alvo adolescente, aprovaram a produção que rendeu seis vezes mais que seu custo irrisório. Hoje o longa pode ser visto por curiosidade por novas gerações, mas para quem viveu naqueles tempos ele tem gostinho de nostalgia, ainda mais quando nos lembramos que para os quatro jovens e promissores protagonistas o sucesso foi ligeiro. Quando paramos para assistir é como se o tempo tivesse parado. É estranho ter em mente seus rostos ainda jovens tanto tempo depois e nada mais se ouvir falar deles. Ilustres desconhecidos literalmente.
Um comentário:
Freddie e Daphine no primeiro encontro nesse filme 🥰 quem diria que iam se casar e fazer o Scooby Doo depois
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