Nota 7,0 Longa conquista crianças e adultos com trama divertida, ligeira e nostálgica
Grandes ideias podem surgir
inesperadamente e geralmente impulsionadas por algum tipo de necessidade. Foi
isso que aconteceu com Angela Sommer-Bodenburg que de uma simples professora
passou a ser uma escritora de sucesso. Ao perceber a carência do setor
literário europeu para atender as expectativas do público infanto-juvenil local
(certamente bem antes de Harry Potter, as aventuras nas terras de Nárnia e
companhia bela caírem no gosto universal), ela mesma decidiu escrever histórias
que incentivassem seus alunos ao hábito da leitura. O filme O
Pequeno Vampiro é inspirado em
seu livro homônimo, um sucesso editorial que gerou pelo menos mais quinze
outras obras literárias narrando as aventuras do protagonista de dentinhos
afiados e traduzida para mais de vinte idiomas. Um sucesso desse porte não
seria ignorado pelos ianques e logo profissionais de Hollywood se aliaram a
produtores alemães e holandeses para adaptar a obra para as telas. Com roteiro
de Larry Wilson e Karey Kirkpatrick, este também responsável pelo argumento de A Fuga das Galinhas lançado pouco tempo
antes, o longa nos apresenta ao pequeno Tony (Jonathan Lipnicki), um garoto que
todas as noites tem estranhos sonhos com um clã de vampiros, nada mais natural
já que ele vive em um gigantesco e antigo casarão na Escócia onde circulam
lendas de que no passado a região era berço das criaturas sanguinárias.
Recém-chegado da Califórnia, ele está tendo dificuldades para se adaptar à nova
vida e constantemente é humilhado na escola, mas ganhará um improvável amigo.
Brincando em seu quarto, certa noite ele chama a atenção do jovem vampiro
Rudolph (Rollo Weeks) que o confunde com um de sua espécie. Desfeito o mal
entendido, eles acabam fazendo amizade e não demora muito para Tony conhecer a
família do amigo e o drama que vivem. Contrariando expectativas, as temidas
criaturas da noite revelam-se não ser cruéis como nas histórias de terror.
Frederick (Richard E. Grant) e Freda (Alice Krige), os pais de Rudolph, são
evoluídos e querem deixar de lado a imagem ruim que os vampiros têm. A dieta a
base de sangue humano é trocada por mordidas nos pescoços de bovinos, mas isso
ainda é muito pouco para eles viverem com liberdade entre os humanos.
Ainda atormentados pelos raios de luz,
crucifixos e estacas, estes vampiros estão dispostos a abandonar a vida eterna
pela mortalidade. Está para acontecer um fenômeno, a passagem de um determinado
cometa pela Lua, que poderia transformá-los em humanos, mas o rito só
funcionará se estiverem munidos de um secular amuleto. Houve uma tentativa a
muitos anos de realizarem o ritual, mas ele foi interrompido quando a tal pedra
foi roubada por Von (Ed Stoppard), outro vampiro, mas que foi ferido e
socorrido pela humana Elizabeth (Elizabeth Berrington). Tudo isso Tony consegue
ver com riqueza de detalhes em seus sonhos, assim ele descobre que o amuleto
deve estar em poder da tradicional família de Lorde McAshton (John Wood), um
milionário da região que logo é convencido por um caça-vampiros (Jim Carter)
que as temidas criaturas estão prestes a atacar o que atrapalharia na
publicidade do campo de golfe que irá inaugurar em breve. Como era de se
esperar ninguém acredita nas histórias de Tony, nem mesmo seus pais, Robert
(Tommy Kinkley) e Dottie (Pamela Gidley), que ao conhecerem a família de
Rudolph os consideram excêntricos e amáveis aristocratas adeptos de figurinos
de época e linguajar rebuscado, mas relevam em prol da amizade do filho. Histórias
de terror costumam chamar a atenção das crianças, mas é uma tarefa difícil
adaptá-las para o universo delas ainda mais para um cineasta como o alemão Uli
Edel, diretor de produções pesadas como Christiane
F. – Drogada e Prostituída e Corpo em
Evidência. Todavia, ele surpreende com a desenvoltura que mostra na
condução de O Pequeno Vampiro, produto acima da média que não subestima a
inteligência do público-alvo e que pode divertir adultos com seu toque de
nostalgia. Com belas locações, ação e piadas divertidas, podemos deixar de lado
a implicância com o excesso de cenas escuras ou a facilidade em que se
estabelece o contato entre os protagonistas-mirins, mas fica a sensação de que
o personagem Gregory (Dean Cook), irmão mais velho e revoltado de Rudolph, foi
subaproveitado. Defendendo o espírito violento da espécie, poderia render a
discussão da ovelha negra em meio ao clã de vampiros politicamente corretos. Em
tempo: Lipnicki, na época em alta após o sucesso de O Pequeno Stuart Little, mostra-se mais uma vez carismático e
talentoso, mas sua carreira infelizmente não vingou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário