Nota 7,0 Apesar de problemas narrativos, animação francesa conquista com visual refinado
Já faz algum tempo que filmes de
animação deixaram de ser uma opção exclusiva para a criançada, assim aumentou a
pressão dos estúdios em cima dos realizadores. Não basta contar com a
bilheteria dos pais ou responsáveis que levam as crianças aos cinemas. É
preciso também chamar a atenção de quem não tem a desculpa de ter um pimpolho
para acompanhar. Talvez a maturidade mínima exigida dos enredos para se
alcançar tal objetivo tenha colaborado para desenhos animados fora do eixo
Hollywood ganharem mais visibilidade. Não é só uma trama mais elaborada o
chamariz, mas a própria origem diferenciada das produções pode ser um convite
para adultos. Sim, ainda há quem ache coisa de intelectual ou chique gostar de
filmes franceses, por exemplo, ainda mais se for uma animação que ousa brigar
por espaço com os gigantes norte-americanos. No entanto, mesmo amparado por
elogios da crítica especializada,
Um Monstro em Paris não caiu no
gosto popular. A trama escrita por Stephane Kazand Jian e Bibo Bergeron, este
também autor da história original e responsável pela direção, se passa na bela
Paris de meados da década de 1910. O jovem Emile é apaixonado por filmes e
sonha em viver um romance de cinema com Maud, a moça que trabalha na bilheteria
das salas de exibição, no entanto, sua timidez o impede de se declarar e ele
acaba se contentando em viver um amor platônico. Como projecionista, o rapaz a
vê diariamente no trabalho e alimenta o sonho de poder fazer seus próprios
filmes, o que poderia ser possível com uma câmera que seu amigo Raoul lhe dá.
Metido a galã e vendendo animação, esse homem inventa engenhocas quando tem
folga de seu trabalho como entregador de mercadorias, mas uma de suas missões
irá acabar em desastre. Certa noite, Raoul e Emile vão deixar uma encomenda na
estufa de um professor de botânica, mas na ausência dele deveriam procurar seu
macaco-assistente, o esperto Charles. Tudo muito simples, mas a dupla quis se
divertir com a tal câmera dentro do laboratório e acabaram criando um
gigantesco girassol que não aguentou o próprio peso e tombou sobre as
prateleiras de produtos químicos.
Passado o susto, eles descobrem
que na confusão alguma reação aconteceu entre as substâncias e trouxe à tona
algum tipo de monstro com olhos avermelhados e que se locomove com rapidez. Por
onde passa o tal vulto deixa sua marca de susto involuntariamente, mas acaba
sendo acolhido pela jovem cantora Lucille que se encanta pelo talento da
assombração para a música. Disfarçando e o batizado de Francoeur, ela deseja
fazer seus shows em sua companhia, mas a criatura está na mira do comissário
Maynott que como autoridade quer capturar e exterminá-lo para provar sua
coragem à população. Tal feito seria extremamente benéfico à sua campanha para prefeito
de Paris e quem sabe assim finalmente conquistaria o amor da cantora, mas Raoul
e Emile também estão à caça do monstro, porém, para lhe protegerem. O argumento
é promissor, mas é certo que faltou um trabalho mais apurado em seu
desenvolvimento. A criatura do título é pouco explorada, a dupla de heróis
carece de mais astúcia, seus respectivos interesses românticos não convencem e
o vilão é apenas razoável. Se a história é irregular, por que
Um
Monstro em Paris merece ser visto? O simples fato de ser um produto não
americano já vale a curiosidade. Com referência a textos clássicos como “O
Fantasma da ópera”, “Frankestein” e “O Corcunda de Notre Dame”, é perceptível
que o enredo não foi bolado de uma hora para a outra, mas para competir em um
mercado onde imagem é tudo talvez Bergeron tenha se preocupado mais em elaborar
o visual. Diretor dos bons
O Caminho Para
El Dorado e
O Espanta Tubarões,
não se pode negar que este seu trabalho é dotado de charme e beleza. Com a
ajuda da trilha sonora, cada cena carrega o irresistível clima parisiense e de
época e a obra chama atenção desde o início com sua introdução que invoca o
clima das antigas sessões de cinema com direito a um resumo de notícias antes
do filme. O clímax de tudo não poderia ser em outro local senão a Torre Eiffel
retratada com riqueza de detalhes. Com alguns belos números musicais em tom
onírico, o filme foi realizado com técnicas em 3D para se adequar ao mercado
contemporâneo, embora em versão tradicional o resultado seja espetacular, mas na
maioria dos países o lançamento foi feito diretamente em DVD. A velha regra, se
os ianques não gostam...
2 comentários:
Amigo concordo com quase tudo de seu conceito.......só acho que não podemos usar o argumento de que o fato do filme, por não ser americano, merece ser visto.
Não sou o maior fã do cinema do país de Barack Obama, porém, não podemos esquecer que por la também existe coisa boa. Eu sou fã dos Simpsons e outros derivados que esculacham o próprio padrão americano.
Gosto muito de animação. As japonesas e europeias são as prediletas.
Jack e o Coração Mecânico assisti recentemente e amei.......Valeu pela sua dica.
Abraços
Sim Renato, sei que nos EUA há muitos desenhos bons, mas como o acesso a animações que não são de lá ainda é restrito (pelo menos em cinema ou DVD original), quando há distribuidoras dispostas a investir nestes produtos eles acabam naturalmente chamando a atenção, de certa forma ganham um quê de originalidade. Foi essa a ideia que quis passar no texto.
Grato pelo comentário.
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