Quem não tem ao menos uma história engraçada ou irritante envolvendo
um velhinho sem noção ou literalmente pentelho que atire a primeira pedra. É
fato que conforme a idade avança o idoso acaba perdendo um nível considerável
de sua capacidade intelectual e bom senso, mas alguns representantes dessa
faixa etária muito bem de saúde acabam se aproveitando da generalizada condição
para se dar bem e tirar o melhor proveito da situação. É mais ou menos nisso
que provavelmente pensou Danny DeVito ao aceitar dirigir
Duplex extraindo o máximo
de humor de situações anárquicas do início ao fim.
A direção não
poderia ser de outra pessoa que não uma experiente no campo do humor. Aos politicamente corretos, que fique
claro que a índole da personagem idosa do filme não deve ser encarada como uma
ofensa as pessoas acima dos 60 anos, até porque no final existe uma
justificativa hilária para seu comportamento no ágil e eficiente roteiro de
Larry Doyle. Quem é ela? A senhora Connelly (Eileen Essel) é a inquilina de
Alex Rose
(Ben Stiller) e Nancy Kendricks (Drew Barrymore), um jovem casal que tinha um
sonho de consumo: ter um belo duplex no famoso bairro do Brooklyn, na cidade de
Nova York. Quando eles enfim encontram o apartamento dos seus sonhos, precisam
enfrentar um problema que pouco a pouco torna-se um perturbador pesadelo. A
antiga e simpática moradora do segundo andar se recusa a deixar o local e pelas
leis do inquilinato americano ela não pode ser despejada. O casal tenta viver
pacificamente com a vizinha, mas a senhora apronta tudo que pode e mais um
pouco para deixá-los irritados 24 horas por dia literalmente. Até mesmo quando
eles tentam dormir a velhinha está com todo pique para aprontar algo. Assim, o
casal passa a perceber o real preço de seus sonhos, mesmo com o acréscimo do
dinheiro do aluguel que recebem dela. No limite da situação, para conseguirem
finalmente o imóvel só para eles, Alex e Nancy começam a planejar várias
tentativas de tirá-la do local e pensam até mesmo em matar a aparente doce
velhinha.
Estrelado por uma dupla carismática e com muita química, o longa é
excelente para espantar as tristezas e os espectadores devem se identificar
facilmente com diversas passagens. Há várias piadas e situações que são de
rolar de rir, mas aos poucos, conforme o desejo do casal em se livrar da
inquilina aumenta, algumas pessoas podem se incomodar com o rumo que a história
toma. Apesar de o clima continuar engraçado, a proposta de tentar matar um
idoso não é bem recebida por todos nem em ficção. Assim não é de se espantar
que a produção fracassou nas bilheterias americanas e não se tornou um
estrondoso sucesso por onde passou. É curioso esse dado, afinal são poucas as
comédias nos últimos anos que contavam com um arsenal de piadas tão grande,
afiado e funcional, ao menos para quem é adepto do humor visual e que flerta
levemente com algumas passagens de mau gosto, mas nunca chegando a ofender. Com
cerca de uma hora e meia de duração,
Duplex surpreende
por não enrolar o público. Acontecem tantas situações diversas nesse enxuto
espaço de tempo que é difícil entender como coube tudo. É uma piada atrás da
outra e você nem vê o tempo passar. Acordar com o som de uma orquestra de
velhinhas, acompanhar a vizinha para cansativos passeios até a farmácia ou ao
supermercado, ter o teto da casa esburacado devido a uma infiltração estratégica
e até depor na delegacia para se defender da acusação de abuso sexual a uma
idosa são apenas alguns dos perrengues que os protagonistas passam. DeVito mais
uma vez foi parar atrás das câmeras e deu uma reciclada no enredo de um antigo
sucesso seu,
Jogue a Mamãe do Trem. Antes uma mãe enchia a
paciência do seu filho até que ele deseja se livrar dela de uma vez por todas.
Aqui o comediante faz pequenas modificações, mas o espírito anárquico da história
é mantido. Seu trabalho não está tão apurado quanto nos tempos de
A
Guerra dos Roses ou
Matilda, mas na medida para alcançar
seus objetivos. Não merecia o desprezo do público, afinal para quem procura rir
sem medo de ser feliz não há pedida mais indicada. Destaque para a abertura
construída com uma animação dos protagonistas procurando um lar e para o
desempenho da veterana atriz inglesa Eileen Essel que rouba a cena como a
endiabrada velhinha. Superar seu desempenho é bem difícil.
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