Nota 0,5 Desculpe o trocadilho, mas este filme realmente merece ser esquecido na escuridão
Está aí um filme que faz jus ao seu título.
Lugares
Escuros literalmente deve ficar arquivado em algum lugar de penumbra em
nossas mentes tamanha a sua babaquice. Alguém deve ter dito ao experiente
produtor Donato Rotunno que qualquer coisa fazendo alusão à escuridão tinha
chances de fazer sucesso entre os fãs de suspense e horror e assim ele decidiu
se arriscar na direção, sua primeira e única experiência em tal cargo (e que
permaneça inapto na atividade até o fim dos seus dias). A trama tem como
protagonista Anna Veigh (Leelee Sobieski), uma jovem professora especializada
em arte-terapia, mas seus conceitos não agradam ao diretor do colégio em que
trabalha. Contudo, ela mal perdeu o emprego e já foi convidada para se tornar
babá e educadora particular de um casal de crianças bem-nascidas. O estranho é
que ela nem chega a ser entrevistada e já é contratada para cuidar de Flora
(Gabrielle Adam) e Miles (Christian Olson) que ficaram recentemente órfãos e
aos cuidados de um tio sempre ausente. Vivendo isolados em uma mansão distante
da cidade, a chegada de uma nova pessoa e com espírito jovem soa como um alívio
para os garotos que no fundo sofrem com algum tipo de trauma, algo escondido
pela governanta, a misteriosa Srta. Grose (Tara Fitzgerald). Anna acaba se
adaptando a nova rotina rapidamente e até consegue criar laços com os irmãos,
mas fica intrigada com certas coisas. Além dos constantes pesadelos e vozes que
escuta a noite, lhe chama a atenção o comportamento dos menores que às vezes
mudam radicalmente, como se pressentissem forças ocultas ao redor e dentro da
própria mansão. Tudo leva a crer que existe alguma coisa a ver com a antiga
ocupante do posto de babá que morreu afogada também há pouco tempo.
Traumatizados, impressionados ou possuídos? O que acontece com Flora e Miles?
Resposta: nenhuma das anteriores. Tudo leva a crer que o mistério criado em
torno deles é tão furado quanto uma peneira, assim como todo o filme que se
revela um tremendo engodo capaz de descartar até mesmo o conhecido argumento do
tio de olho na herança dos sobrinhos. Na falta de coisa melhor seria uma opção
válida.
Por contar com personagens infantis, o
mínimo que se podia esperar é que eles cativassem a audiência, ainda mais em
enredos como este em que aparentemente eles são vítimas de algum tipo de
maldição ou coisa assim, mas isso não acontece principalmente porque seus
perfis são mal delineados. Flora surge dando a impressão de ter tido uma
educação muito rígida que lhe priva de viver como uma criança comum, mas na cena
seguinte já faz planos para se divertir com a babá. Já Miles surge envolto a
uma aura de mistério, acabara de ser expulso da escola por não o considerarem
um bom exemplo aos demais alunos, porém, em sua primeira aparição surge
sorridente e educado. O roteirista Peter Waddington não soube jogar com o
caráter dúbio dos personagens, assim faltam cenas para acreditarmos que são
menores absolutamente comuns, mas que são tomados por influências do além vez
ou outra. A jovem Leelee, há tempos tentando cravar seu nome no gênero de
suspense, também tem uma personagem esquisitíssima. Parece não ter boas
lembranças de sua infância, o que justifica sua profissão, mas de resto parece
uma marionete muito mal manipulada. Não sabe trabalhar expressões de medo, até
para o drama é insossa e tudo só tende a piorar com sua aproximação da
governanta que tem a ingrata tarefa de guardar um segredo que para qualquer fã
do gênero é rapidamente descoberto. Sem trunfos na manga e nem mesmo talento
para reciclar clichês básicos (quando o faz é constrangedor de tão tolos que
são os sustos), Rotunno chega a um ponto que não sabe mais o que fazer com um
roteiro tão vazio e apela para algumas poucas, porém, desnecessárias cenas de
sexo e nudez. Lugares Escuros só serve para reforçar a ideia de que filmes
lançados diretamente em DVD costumam ser a maior furada. Na realidade, há muita
coisa boa que só vê a luz do dia dessa forma, mas infelizmente para cada
produção que vale a pena surgem pelo menos umas quinze “podreiras”. Em tempo: a
trama é baseada na obra literária “The Turn of the Screw”, escrita no final do
século 19 por Henry James e que já havia ganhado uma adaptação cinematográfica
nos anos 60, Os Inocentes, estrelada
por Deborah Kerr.
Suspense - 100 min - 2006
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