Nota 4 Mais um drama explora a temática do mestre e aprendiz sem trazer novidades
Os americanos são apaixonados por esportes, sendo o beisebol um dos mais tradicionais, e levam a sério a crença de que investindo em atividades do tipo é possível transformar um ser humano através do trabalho em grupo e os conceitos da responsabilidade e da determinação. Tal ideia explica a grande quantidade de filmes com mensagens edificantes atreladas a temáticas esportivas que existem e continuam sendo lançadas todos os anos, embora dificilmente tragam alguma novidade. Virou um produto de nicho. Existe uma quantidade razoável de público para tais produções por isso elas continuam sendo feitas, geralmente lançadas para consumo doméstico, salvo raras exceções como o caso de O Homem que Mudou o Jogo que traz como respaldo Brad Pitt como protagonista, é baseado em fatos reais e ainda conquistou algumas indicações a prêmios, inclusive ao Oscar. Contudo, em geral, o destino destes filmes é tapar buracos nas programações da TV ou abastecer catálogos de streamings. Tempo de Aprender é um bom exemplo de tal teoria.
Cheio de boas intenções, simpático e com uma premissa bacana, simplesmente o longa chega ao fim deixando o espectador com cara de paisagem. Escrito e dirigido por James Ponsoldt, a trama gira em torno de dois homens de idades completamente diferentes, porém, cujas formas de encarar a vida são semelhantes. O adolescente Dave Tibbel (Trevor Morgan) é um desacreditado jogador de beisebol e seu treinador, Ray Cook (Nick Nolte), um sessentão com cara de poucos amigos e que não cria mais expectativas quanto sua carreira e talvez nem mesmo quanto a sua vida pessoal. Após perderem um jogo e culpando a falta de apoio do professor, alguns jovens do time decidem invadir a casa dele para lhe darem um susto, mas acabam surpreendidos pelo próprio e fogem causando alguns estragos do lado de fora da propriedade. Todos menos Dave que não consegue e acaba tendo que se entender com o treinador. Eles fazem o seguinte trato: se o rapaz reparar os estragos no jardim e pagar um novo vidro para substituir o quebrado do carro Ray não o denunciará à polícia.
O convívio diário dos dois acaba fazendo com que nasça uma amizade entre eles de forma que ambos se sentem a vontade para falar de seus problemas um com o outro. Dave mora com a irmã mais nova, Ashley (Sonia Feigelson), e com o pai, este com quem ele não se dá bem por causa da mágoa que guarda da mãe os ter abandonado, ainda que o motivo não fique bem claro. Desiludido com a vida, o jovem não sabe nem mesmo qual profissão quer seguir, afinal não teve exemplos ou incentivos por parte do Sr. Tibbel (Timothy Hutton). Já Ray desde pequeno foi incentivado pelo pai a gostar do beisebol, mas sua dedicação ao esporte foi tanta que ele se esqueceu de viver outros lados da vida. Perdeu contato com amigos e família, tanto que virou um mito já que ninguém que o conheceu na juventude sabia de seu paradeiro. Contudo, quando descobrem seu endereço, Ray recebe um convite para comemorar os 40 anos de sua turma dos tempos do colegial.
Receoso de como poderia ser recebido pelos antigos colegas e o que diria sobre o que fez de bom durante todos estes anos, o treinador faz uma nova proposta à Dave, uma troca de favores. Ele deveria acompanhá-lo na festa e fingir que é seu filho, e assim o jovem estaria livre de todas as obrigações de reparar os danos que causou em sua propriedade. Ponsoldt não se arrisca e explora a já saturada temática do mestre e seu aprendiz, duas pessoas que se estranham inicialmente, mas aos poucos vão descobrindo afinidades, cultivando amizade e aprendendo um com o outro a enxergarem a realidade de uma forma mais amena. Sempre histórias edificantes são bem-vindas, mas neste caso são desperdiçados vários ganchos e a trama principal não chega a emocionar verdadeiramente.
O cineasta não explora satisfatoriamente a relação conturbada de Dave com seu pai, oferece algumas cenas à Ashley apenas para encher linguiça, aguça a curiosidade do espectador a descobrir mais sobre o passado de Ray, mas não oferece subsídios para tanto, e, por fim, constrói esquematicamente a amizade entre o homem mais velho e o outro mais novo, esquivando-se até mesmo de uma leve insinuação de um relacionamento homossexual entre eles, uma brincadeira por parte dos amigos do adolescente. Tempo de Aprender é apenas um passatempo ligeiro, bonitinho e perfeito para assistir em família afinal a obra é totalmente livre de qualquer tipo de ousadia. Livre até demais.
Drama - 94 min - 2006
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