terça-feira, 5 de janeiro de 2016

ASSALTO EM DOSE DUPLA

NOTA 1,5

Tentando fazer humor em cima
dos filmes de roubo a banco,
comédia é sem graça e não
não envolve o espectador
Filmes cujo tema principal são golpes e assaltos já tiveram seu auge, mas aos poucos a repetição de clichês cansou o espectador e este subgênero que mescla ação e suspense passou a ser visto com ressalvas. Onze Homens e Um Segredo deu um gás a esse tipo de produção injetando uma generosa dose de humor e reunindo um time de peso. Assim uma nova leva de filmes protagonizados por quadrilhas de assaltantes passou a invadir cinemas e locadoras, a maioria trazendo um tom de ironia implícito. Fazer uma comédia legítima já é um tanto difícil, imagine então extrair risos de uma situação que teoricamente era para deixar qualquer um com os nervos a flor da pele ou ao menos sob o efeito delirante das descargas de adrenalina. Bem, Assalto em Dose Dupla é um híbrido de ação, policial e comédia e realmente faz rir. Sim, provavelmente o espectador irá rir de si mesmo por estar perdendo tempo com algo tão descartável e por vezes excessivamente ignorante. Todavia, a premissa não é das piores. Por uma infeliz coincidência duas gangues de criminosos, uma composta por profissionais e outra formada por amadores, têm a ideia de assaltar um mesmo banco e na mesma hora. Para não perderem a viagem, os bandos decidem se unir para realizarem o assalto, mas tudo sai do controle, principalmente quando os próprios criminosos começam a se equivocar para cumprirem suas metas e os reféns tentam descobrir o que há por trás destes misteriosos e pontuais ataques. Tripp (Patrick Dempsey), cliente do banco, tenta proteger a todo custo Kaitlin (Ashley Judd), uma das caixas do local, por quem ele parece ter uma quedinha, porém, ele se mostra muito astuto do que o esperado para lidar com uma situação do tipo, o que tira um pouco do brilho do único motivo capaz de fazer o público se envolver com este longa. Sim, fora esse fiapo de história que une estes dois personagens, há pouca coisa para se entreter com esta trama desenvolvida em um ambiente de certa forma claustrofóbico, afinal toda a ação se passa dentro uma instituição financeira cuja noção completa de espaço jamais é passada com eficiência, parecendo que os personagens transitam sem rumo por ambientes aleatórios até que a polícia chegasse, diga-se de passagem, uma espera que parece uma eternidade devido a arrastada narrativa que tem poucos momentos divertidos ou de tensão.

Apesar da direção frouxa e do roteiro enfadonho, é curioso que por trás desta produção existem nomes que merecem respeito, mas que parecem não ter muita intimidade com a temática em questão. O diretor é Rob Minkoff, codiretor de O Rei Leão e quem assina O Pequeno Stuart Little e sua continuação, ou seja, o universo infantil e fantasioso é a sua praia. Já os roteiristas Jon Lucas e Scott Moore, responsáveis pelos textos de Eu Queria Ter a Sua Vida e Se Beber Não Case (não incluindo a sua primeira continuação como erroneamente é divulgado até na própria capa do DVD), flertam mais com o humor besteirol, não demonstrando terem inteligência o suficiente para fazerem um humor inteligente e crítico satirizando um subgênero clássico. Deveriam ter visto com atenção e repetidas vezes Queime Depois de Ler dos irmãos Ethan e Joel Coen, por exemplo, que consegue a proeza de alfinetar os principais clichês dos filmes de espionagem, a começar pela inversão de papéis onde os bonitões são apresentados como verdadeiros patetas e as mulheres “ajeitadinhas” se acham o máximo. Para provar que desde as suas raízes o projeto já apontava que não sairia do convencionalismo basta fazer uma rápida análise do personagem Tripp que desde que entra em cena o enxergamos como o herói da história (será mesmo?), embora ele surja dotado de características peculiares que seriam um prato cheio a serem exploradas pelo roteiro. Dempsey vive um usuário de calmantes e antidepressivos, mas sem os tais medicamentos a mão em um momento caótico sua dependência vira o combustível para que o sujeito passe a se comportar de maneira estranha e frenética, praticamente não conseguindo ficar parado em algum lugar ou sem falar uma palavra sequer. O ator sem dúvida é o chamariz do filme, mas infelizmente decepciona. Pode ser preconceito já que ele não parece ficar muito a vontade nem mesmo em comédias românticas, preferindo fazer a pose do homem sério e de classe sem entrar realmente no espírito dessas produções, mas o fato é que sua atuação é um tanto histriônica em muitos momentos, sendo o mais embaraçoso quando Tripp parece ter um surto de loucura após um beijinho sem graça em Kaitlin. Aliás, Judd tem uma interpretação tão esquisita quanto a do parceiro, mas pelo menos os minutos finais compensa, na medida do possível, para ambos. Se cortassem a maior parte das cenas desnecessárias, tipo de uma hora para dez ou quinze minutos, e mantivessem o fim até que o enredo renderia um curta-metragem envolvente, afinal as poucas ideias relevantes são esgotadas rapidamente. E nesse passatempo chato e até esquizofrênico em alguns pontos o espectador se sente tão refém (no mal sentido) quanto os próprios personagens que se encontram na mira dos criminosos.

Analisando com bons olhos e espírito generoso, é até possível dizer que Minkoff tentou fazer uma variação daqueles suspenses de classe com ares europeus, tipo Assassinato em Gosford Park, guardadas as devidas proporções e diferenças obviamente. Aqui também temos muitos personagens em cena presos a uma limitação cenográfica e o momento-clichê da queda de energia para em seguida surgir um elemento surpresa e a dúvida de quem entre todas aquelas pessoas presas no banco está enganando as demais, ocultando ser um dos mais perigosos e procurados ladrões de banco em solo norte-americano. Sim, a certa altura perceberam que não dava para sustentar um enredo sobre roubos de forma leve com base em piadas sem graças e resolveram agregar um mistério a trama de forma a causar reviravoltas, mas ainda assim o longa não deslancha e continua calcado em diálogos e interpretações fracas. Com tantos personagens e situações a serem desenvolvidas paralelamente em um curto espaço de tempo (que parece até demais aos olhares de decepção dos espectadores), as coisas partem ladeira abaixo com uma rapidez absurda e a identificação com a narrativa é praticamente impossível. Curiosamente, até mesmo um dos pontos altos que deveria ser a sequência de entrada dos criminosos no banco não funciona adequadamente, pois já estamos dopados pelo desinteressante e rápido diálogo entre Judd e Dempsey na introdução. A dupla de ladrões formada por Tim Blake Nelson e Pruitt Taylor Vince, respectivamente Peanut Butter e Jelly (na tradução Manteiga de Amendoim e Geléia), fazem o que podem para justificar a classificação do longa como comédia, como seus próprios apelidos indicam o perfil dos personagens: dois panacas tentando se dar bem na vida através de golpes, mas com uma capacidade e tanto de se meterem em encrencas.  No final das contas, Assalto em Dose Dupla é uma baboseira que se enrosca em sua própria pretensão. Querendo achincalhar os filmes de assaltos orquestrados por quadrilhas experientes, Minkoff acabou confundindo as bolas e tirou sarro de seu próprio trabalho a medida que a narrativa avança tentando ao máximo trazer sentido a um roteiro que é equivocado desde sua primeira linha. Do jeito que o projeto final ficou, a fórmula serviria para um nicho específico do cinema brasileiro. Que tal seria “Didi e Xuxa em um Assalto em Dose Dupla”? Não duvide que tal engodo renderia uns bons trocados e um cachê razoável para uma penca de “subcelebridades” que se pegariam a tapa para conquistar uma vaguinha como bandido ou refém. Há gosto para tudo.

Comédia - 87 min - 2011 

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Um comentário:

Carina Cleto disse...

Boa noite, parabéns pelo seu blog. Curti bastante os posts, ótimos textos. Adoro blogs que aumentam meu repertorio sobre a sétima arte e o seu, com certeza, será um deles. muito interessante a tematica!

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