NOTA 6,0 Comédia aposta no choque entre gerações, mas faz humor apenas com situações triviais e não se aprofunda na parte dramática do conflito |
Enquanto Paulo Gustavo e Leandro
Hassum mantém uma disputa acirrada pelo posto de grande nome masculino do
cinema de humor nacional, correndo por fora ainda Bruno Mazzeo e Marcelo Adnet
para tal posto, do lado feminino Ingrid Guimarães reina absoluta desde que
lançou De Pernas Pro Ar, produção
despretensiosa que termina como uma trilogia de sucesso. Embora com poucos
filmes no currículo, a atriz tem o aval de seu público televisivo que se
acostumou principalmente com seus trejeitos e sua maneira ágil de contar
piadas. Contudo, em Fala Sério, Mãe! ela parece mais
comedida e obrigada a dividir o protagonismo. Sua personagem começa narrando o
longa, mas antes mesmo de meia hora de projeção a própria entrega que chegou o
momento de outra pessoa continuar a história a seu modo. Então a bola é passada
para a estrelinha teen Larissa Manuela, já a alguns anos um rosto
representativo do SBT, mas que aqui viu a chance de se aproximar do universo da
Globo, canal que fatalmente mais cedo ou mais tarde irá pertencer. O filme é um
tanto clichê explorando os conflitos entre gerações a partir de situações
cotidianas e banais. Adaptada do livro homônimo de Thalita Rebouças (um nome de
sucesso considerável no cambaleante mercado editorial brasileiro), a trama
começa nos apresentando Ângela Cristina (Ingrid) que pouco depois de se casar
descobre estar grávida e como toda mamãe de primeira viagem está cheia de
dúvidas e expectativas. Os primeiros minutos são dedicados a apresentar os
tropeços dela e do marido Armando (Marcelo Laham) nos cuidados com uma criança,
como as noites em claro quando tinham ainda uma bebezinha e tentar solucionar
pacificamente pequenos conflitos quando a menina passa a ter vida social mais
intensa, mas eles gostaram tanto de ser pais que não demorou muito e já tinham
em casa três crianças. O ideal seria que o roteiro se preocupasse em mostrar as
dificuldades do casal para lidar com as peculiaridades de cada filho ao mesmo
tempo em que percebiam que a relação íntima deles dava sinais claros de
fragilidade, um argumento bem mais consistente. Contudo, tal linha poderia
fugir das verdadeiras intenções: um programa família com apelo juvenil.
Os holofotes então caem todos sobre Maria de Lourdes, ou simplesmente Malu (Larissa), a primogênita que quando chega a fase da adolescência começa a brigar por sua liberdade para desespero da mãe superprotetora. No entanto, a rebeldia da garota já estava intrínseca em sua personalidade desde a infância, como revela uma das melhores cenas na qual a menina mostra-se contrariada a fazer aulas de balé enquanto a mãe insiste, provavelmente projetando na filha a possibilidade de suprir alguma frustração própria. Ainda na fase criança, Ângela consegue manter a filha sobre suas asas e até procura participar ativamente de sua vida (até de forma um pouco exagerada), mesmo que fosse pagando mico dançando junto em festinhas de aniversário ou bancando a carrasca na hora de dar bronca em alguma coleguinha da garota que se portou mal. O bicho pega mesmo quando Malu vira adolescente e a crise entre as duas se acelera. Não há reviravoltas e tampouco acontecimentos grandiosos na relação delas, mas isso não chega a ser um problema. É na simplicidade que encontramos o trunfo da trama escrita pela própria Ingrid em parceria com Paulo Cursino e Dostoiewski Champagnatte. Das aspirações profissionais, passando pelos problemas de aceitação pelos colegas até chegar nas amarguras e alegrias do primeiro amor, tudo é pincelado no texto, diga-se de passagem, bastante enxuto (no caso não é um elogio). Um simples deslize da mamãe falando ao telefone para o paquerinha da filha que ela não pode atender porque está no banheiro ou uma intervenção num ônibus escolar para entregar o remédio de gases que a menina esqueceu para alguém no auge dos seus quinze anos pode ser tão ameaçador quanto estar na mira de um revólver. São nessas pequenas, mas irritantes bobagens do cotidiano que se encontra o segredo da fácil identificação. As adolescentes se veem na tela e desejam que suas mães percebam os vários constrangimentos que elas involuntariamente as fazem passar em nome de um amor incondicional.
Os holofotes então caem todos sobre Maria de Lourdes, ou simplesmente Malu (Larissa), a primogênita que quando chega a fase da adolescência começa a brigar por sua liberdade para desespero da mãe superprotetora. No entanto, a rebeldia da garota já estava intrínseca em sua personalidade desde a infância, como revela uma das melhores cenas na qual a menina mostra-se contrariada a fazer aulas de balé enquanto a mãe insiste, provavelmente projetando na filha a possibilidade de suprir alguma frustração própria. Ainda na fase criança, Ângela consegue manter a filha sobre suas asas e até procura participar ativamente de sua vida (até de forma um pouco exagerada), mesmo que fosse pagando mico dançando junto em festinhas de aniversário ou bancando a carrasca na hora de dar bronca em alguma coleguinha da garota que se portou mal. O bicho pega mesmo quando Malu vira adolescente e a crise entre as duas se acelera. Não há reviravoltas e tampouco acontecimentos grandiosos na relação delas, mas isso não chega a ser um problema. É na simplicidade que encontramos o trunfo da trama escrita pela própria Ingrid em parceria com Paulo Cursino e Dostoiewski Champagnatte. Das aspirações profissionais, passando pelos problemas de aceitação pelos colegas até chegar nas amarguras e alegrias do primeiro amor, tudo é pincelado no texto, diga-se de passagem, bastante enxuto (no caso não é um elogio). Um simples deslize da mamãe falando ao telefone para o paquerinha da filha que ela não pode atender porque está no banheiro ou uma intervenção num ônibus escolar para entregar o remédio de gases que a menina esqueceu para alguém no auge dos seus quinze anos pode ser tão ameaçador quanto estar na mira de um revólver. São nessas pequenas, mas irritantes bobagens do cotidiano que se encontra o segredo da fácil identificação. As adolescentes se veem na tela e desejam que suas mães percebam os vários constrangimentos que elas involuntariamente as fazem passar em nome de um amor incondicional.
Ingrid consegue concentrar os
clichês e as paranoias de uma figura materna que de imediato nos remetem a uma
outra mamãe famosa, a Dona Hermínia, de Minha
Mãe é Uma Peça. Ao mesmo tempo real e absurda, a atriz constrói sua
personagem com o mesmo olhar afetuoso, porém, crítico que o ator Paulo Gustavo
lançou mão. Aliás, o próprio faz uma participação especial como ele mesmo que
se vê obrigado a tirar selfies dentro de um supermercado em que gravava um
comercial. A cena é um tanto forçada e uma forma nada velada de reiterar que as
comédias nacionais (ao menos as mais populares) são provenientes todas de um
desejo em comum e com fórmulas parecidas: humor simples e estética televisiva. Como
já dito, é uma pena que o texto utilize o personagem Armando e os seus demais
filhos como mero acessórios, trazendo certo artificialismo ao enredo. Não é só
Malu que tem conflitos e desejos a serem atendidos. Seus irmãos caçulas também
precisam de atenção e carinho assim como o pai cuja figura acaba reduzida a
alguém que só serve para trazer dinheiro e ajuda em casa apenas em algumas
situações pontuais. O diretor Pedro Vasconcelos, que começou sua carreira como
ator de novelas, peca ao se dispor a ser refém do que é oferecido por suas
protagonistas, embora demonstrem uma química invejável. Ingrid não tem em mãos
nenhum desafio. Simplesmente se repete no papel da mulher moderna neurótica,
com fala rápida e ininterrupta e mil preocupações de caráter doméstico, mesmo
perfil que interpretou no citado De
Pernas Pro Ar, embora aqui ela não tenha objetivos profissionais, apenas
deseja ser uma mãe boa mãe e esposa. Preocupando-se tanto com quem a filha vai
sair e se ela leva preservativos na bolsa, era de se esperar que seu casamento
fosse a bancarrota, a deixa para Armando ser esquecido de vez pelo roteiro, mas
por outro lado reforçar os laços entre Ângela e Malu que apesar da relação
entre tapas e beijos se unem para enfrentar o período da separação. Fala Sério, Mãe! é um produto que não ousa,
mas seu valor de fato parece estar no mapa emocional que desenha cuja
identificação é instantânea, afinal qual mãe nunca deu uma bola fora e qual
filho nunca disse o que não devia e se arrependeu depois?
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