NOTA 7,0 Embora rotulada como produção religiosa por suas origens, drama cativa com uma história universal de amor, esperança e solidariedade |
Para muita gente quando se fala
em cinema cristão, evangélico ou qualquer um ligado a um culto religioso, logo
vem à cabeça a ideia de figuras bíblicas, como os famosos filmes sobre os
apóstolos de Jesus Cristo. Também facilmente nos lembramos de produções que tem
o intuito de convencer quem assiste a cultuar algum tipo de religião com o
intuito de conseguir a salvação ou melhorias de vida. O preconceito de boa
parte do público tem fundamento, afinal hoje em dia a religião ganhou contornos
de empresa, necessitando das colaborações financeiras dos fieis, das vendas de
músicas gospel e dos aluguéis de espaços na televisão e rádio. Deixando esses
bastidores polêmicos de lado, o fato é que nos últimos anos tem chegado com
mais facilidade ao mercado produções com belas lições de vida e moral que
escamoteiam o teor religioso de seus enredos e são vendidas em embalagens de
luxo e com títulos carismáticos sendo praticamente impossível rotulá-las como
produtos de cunho religioso. O mercado está tão animado com os resultados desse
nicho que muitas distribuidoras multinacionais estão investindo pesado na
importação de obras do gênero e até empresas especializadas exclusivamente no
ramo já foram criadas. Desafiando os
Gigantes, A Virada e À Prova de Fogo
são alguns exemplos de fitas que se tornaram uma febre entre cristãos e
evangélicos que trataram de fazer a propaganda popular e logo esses filmes
passaram a ser alguns dos mais procurados para venda, locação e download (não
chegam a ser exibidos em cinemas). O filão é bem rentável é até mesmo quem não se interessa por religião acaba se
sentindo instigado a conferir tais recomendações. O segredo para tanto sucesso
é trazer a tona mensagens reconfortantes e bonitas, passando levemente pelo
intenção de impor a dedicação à religiosidade como algo necessário para
vivermos em paz e com felicidade. Milagre na Cabana é
mais um prova que o cinema de cunho religioso está cada vez mais maduro e se
tornando universal.
A trama escrita por Joe Slowensky
gira em torno de duas irmãs, Wanda (Patricia Heaton) e Sarah (Meredith Baxter),
que nunca se entenderam muito bem e há vários anos estavam afastadas. O
reencontro acontece forçosamente por causa do falecimento da mãe e agora elas
estão se desentendendo por causa da repartição da herança. Sarah teria direito
a apenas uma pequena lembrança afetiva, mas quer a todo custo ser responsável
por um terreno que não consta no testamento. As irmãs visitam a propriedade e
descobrem que existe uma idosa vivendo em uma cabana nas terras que de fato
pertenciam à falecida. Lilly (DellaReese) é uma senhora que oscila entre
momentos de lucidez e outros de insensatez, mas nem suas condições de vida
precárias são o bastante para amolecer o coração da ambiciosa Sarah que quer
vender a propriedade mesmo sem a concordância da irmã. O apreço de Wanda pela
velhinha aumenta quando sua sobrinha Gina (Anna Chlumsky) faz amizade com a
idosa e consegue informações preciosas sobre o passado de sua família. Com o
convívio como uma pessoa vivida e cheias de experiências, essas mulheres têm a
chance de transformar suas vidas com os conselhos e lembranças da velha senhora
que, mesmo passando por muitas dificuldades e estando à beira da morte, não
perde as esperanças de rever seu filho que lhe tiraram quando ele ainda era
apenas um bebê. Por esta sinopse nem dá para perceber as origens religiosas da
produção. Simplesmente é uma bela história que traz uma mensagem edificante e
necessária ligada aos conceitos de compreensão, solidariedade e amor ao
próximo, lições que nunca são demais e em tempos de tanto egoísmo caem como uma
luva. O longa deveria ser obrigatório para muita gente, mesmo sendo um drama
rasgado e narrado em tom novelesco.
O enredo mostra-se eficiente,
emocionante e consegue envolver o escpetador facilmente, independente de suas
crenças. Mesclando a época atual (lembrando que é uma produção datada de 1997) com
alguns flashbacks de décadas passadas para explicar o drama da senhora Lilly e
sua relação com a proprietária do terreno recém-falecida, o filme passa
despercebido pelo rótulo de religioso e os desavisados nem devem notar tal
fato. Aos já cientes, claro que é preciso de livrar de certos preconceitos para
apreciar esse tipo de produção, caso contrário, fatalmente ficará procurando
defeitos e deixará de apreciar a simplicidade e beleza da obra. Esqueça a ideia
de que irá assistir a uma fita que quer convencê-lo a procurar a igreja ou
tempo mais próximo para conseguir a salvação de seus problemas. As mensagens
passadas são de amor, união, solidariedade e esperança, ensinamentos que todos
podemos adquirir e colocar em prática sem a necessidade frequentar um lugar
específico para rezar ou se dedicar à caridade. Claro que aos mais críticos
esta obra é totalmente dispensável e piegas. O diretor Arthur Allan Seidelman
assume tal risco, pois não fez um filme para ganhar prêmios e sim um trabalho
de olho na satisfação popular. Clichê e lacrimoso ao extremo, Milagre na Cabana mira em um público que
procura emoções fáceis e conquista uma grande quantidade de espectadores que
não eram exatamente o alvo. Tanto na estética quanto na condução da trama,
passando pela edição e interpretações, tudo aqui é muito próximo ao que se
espera, por exemplo, de um feito para a TV ou os chamados de suporte, aqueles
que antes eram lançados exclusivamente para abastecer as videolocadoras e hoje
compõem os catálogos dos sistemas de streaming. Aliás, muita produção de
gabarito não chega a apresentar o mesmo nível de qualidade de produção.
Seidelman trabalhou bem o material que tinha em mãos e construiu um drama que
cumpre bem seus objetivos, uma excelente pedida ao menos para extinguir a ideia
de "religião à delivery" e dar um voto de confiança a esse tipo de
cinema que tem muito futuro. Ao menos plateia cativa já existe e promete só
aumentar.
Drama - 90 min - 1997
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Um comentário:
Nunca tinha ouvido falar, a premissa, pelo que me parece, é interessante. Ótimo blog, sempre! abs
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