NOTA 8,0 Misturando ficção e realidade, suspense político prende atenção com narrativa coesa, envolvente e que continua atual e chocante |
Em uma festa na casa de seu
chefe, Raybourne conhece a fotojornalista Alison King (Stone), uma profissional
ousada e corajosa que está em Roma para fazer uma cobertura da situação
problemática e assustadora deflagrada pelas ações das Brigadas. Após colocar
sua vida em risco para cobrir um assalto a banco, suas fotos acabam sendo
publicadas em uma famosa publicação americana e ela se torna alvo de facções
criminosas italianas afinal não mede esforços para penetrar nos conflitos e
conseguir as melhores e mais impactantes imagens possíveis. Em muitos momentos
de dificuldades Raybourne acaba ajudando a moça a se safar e pouco a pouco eles
passam a se sentir envolvidos amorosamente. Bem, algum sentimento do tipo pode
até ser que surja futuramente, mas em um primeiro momento Alison tenta seduzir
o jornalista por interesses profissionais. Além de prestar atenção em seus
comentários a respeito dos conflitos, a moça se lembra que o fotografou no
passado quando foi taxado de revolucionário em uma manifestação, assim tem
certeza que ele é tão interessado no momento político italiano quanto ela,
tanto que se propõe a ilustrar seu livro, mas ele desconversa e diz que está
redigindo apenas um diário de viagens. Na realidade sua obra será um romance
que une fatos verídicos e ficcionais baseando-se nas especulações a respeito de
um possível sequestro de uma importante figura do governo. Aliás, logo que
chegou a Roma, outro homem respeitável da cidade já havia sido raptado e
rapidamente morto e fatos assim estavam afastando famílias ricas e tradicionais
do país, potenciais próximas vítimas. Para escrever seu livro, o jornalista
recorre a pesquisas em jornais e a conversas com o amigo Italo Bianchi (John
Pankow), um professor universitário simpatizante da causa defendida pelas
Brigadas, porém, que deixa claro que não participa ativamente do movimento que
ganhou forças num piscar de olhos graças ao destaque dado pela mídia aos seus
atentados. Cada vez mais convencida de que Raybourne tem um trabalho secreto,
mas na base da amizade não conseguindo persuadi-lo que poderia ajudar, Alison
decide resolver seu problema levando o rapaz para cama, uma forma de poder
bisbilhotar seu quarto. Suas intenções não eram de forma alguma prejudicá-lo,
apenas o pressionar para deixá-la participar do projeto, mas sua insistência
acabou os levando a trafegar por caminhos tortuosos. Sem perceber, em uma
conversa informal, a fotógrafa revela sobre a existência do livro para uma
pessoa ligada ao alto escalão das Brigadas que logo é encarregada a roubar os
manuscritos.
O problema é que Raybourne não
perdeu apenas o seu trabalho, mas também ficou na mira da facção criminosa
irremediavelmente. Um único personagem é inventado, todos os outros são
baseados em pessoas reais e suas funções no enredo fazem alusão as suas
verdadeiras atividades, além de ser divulgado os planos de sequestro do tal político.
Assim, o conteúdo do livro acaba interferindo diretamente nos acontecimentos
posteriores da História italiana e no destino de várias pessoas, mas quando o
autor toma ciência disso já é tarde demais o que o obriga a correr contra o
tempo para tentar fugir do país junto com Alison que também fica marcada pelos
terroristas como sua cúmplice. É nesse momento que Lia retorna à cena e o filme
ganha sequências impactantes e reviravoltas que o elevam de patamar. O falecido
diretor John Frankenheimer, adepto do thriller político como Sob o Domínio do Mal, estava há cerca de
quinze anos colecionando produções medianas em seu currículo quando aceitou
realizar O Ano da Fúria, certamente seduzido pelo conteúdo do roteiro que
poderia gerar um suspense marcante. Bem, o filme não foi um sucesso passando
batido como tantas outras fitas que prometiam se apoiar em clichês do gênero,
no entanto, a obra se revela uma boa surpresa para aqueles que apreciam uma
história bem contada. Tem uma cena longa de apelo sexual entre os protagonistas
que poderia ser encurtada ou apenas sugestionada, mas no geral a fita mantém um
ritmo relativamente lento e a violência, embora chocante, é adicionada nos
momentos certos e em sequências totalmente justificáveis. É importante
ressaltar que o gancho político não pretende dar uma aula sobre o tema, apenas
expõe o necessário para ser compreendido por um amplo público e assim
envolvê-lo com os dramas dos personagens invariavelmente ligados aos fatos do cotidiano
da época. Curiosamente, essa essência ainda é bem atual. As manifestações
populares que se tornaram tão frequentes no Brasil a partir de junho de 2013
trazem resquícios das motivações das Brigadas Vermelhas. O envolvimento de
pessoas influentes em seus atos não foram comprovados, mas a revolta da
população contra os abusos do governo a nível nacional lembram um pouco o que
motivou os universitários italianos dos anos 70 a irem as ruas e em ambos os
casos o destaque que a mídia deu a tais ações acabou fazendo com que a maior parte dos
manifestantes perdessem o foco e as reivindicações abrissem espaço para a
baderna e o vandalismo. Fora isso, os personagens Raybourne e Alison, seja por
levar a profissão a sério ou puro objetivo de enriquecimento e fama, retratam
os sonhos daqueles que decidem atuar no jornalismo, a vontade de levar adiante
o compromisso com a verdade, uma bela ideologia, mas difícil de ser sustentada.
Suspense - 111 min - 1991
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