terça-feira, 7 de julho de 2015

MUITA CALMA NESSA HORA

NOTA 2,0

Com estilo americanizado,
longa só vale uma espiada
em caso de não haver outra
coisa para fazer
O cinema brasileiro cresceu tanto nos últimos anos que precisou abrir novos caminhos para se sustentar. Se antes filme nacional era símbolo de prêmios e elogios e pouca bilheteria, isso já na época pós-retomada, agora sabemos que existe espaço e necessidade também para produções mais comerciais em nosso mercado cinematográfico. Houve inclusive um período fértil no qual público e crítica aplaudiram trabalhos brasileiros que conseguiram não só espaço nas salas especiais e cults, mas também nos multiplex dos shoppings. Finalmente era compreendido que um mercado de cinema competitivo e ativo precisa equilibrar qualidade e diversão, assim os filmes-pipoca são de extrema importância. Um sucesso da grife Daniel Filho, como Se Eu Fosse Você, pode bancar dois ou três filmes menores para agradar a um público mais intelectual e ainda concorrer prêmios. É essa a lógica que segura as pontas até mesmo de Hollywood. O problema é que algumas pessoas andam levando a sério demais o termo cinema comercial e realizando produções desastrosas que no final das contas não passam de veículos chamativos para empresas que querem melhorar suas imagens através do patrocínio a arte brasileira. O modelo de cinema imposto pela apresentadora Xuxa está fazendo escola. Se nos últimos tempos ela se ausentou das telas grandes com a sua trupe de amigos (entenda-se pagodeiros, modelos, ex-paquitas e artistas em evidência na época), o diretor Felipe Joffily veio para ocupar o posto com a bomba Muita Calma Nessa Hora, uma espécie de road movie com influências do cinema americano. O diretor tentava falar a língua dos jovens, algo que já havia procurado com seu trabalho anterior Ódiquê?, mas especificamente neste filme em destaque ele subestimou a inteligência de seu público-alvo. Repare na sinopse do longa. Tita (Andréia Horta), Mari (Gianni Albertoni) e Aninha (Fernanda Souza) são três jovens amigas que estão enfrentando momentos problemáticos em suas vidas. Decididas a relaxar, elas partem para uma viagem para curtir um fim de semana em Búzios. No caminho elas encontram Estrella (Débora Lamm), uma hippie a quem dão carona e que está atrás de seu pai desaparecido. Em um cenário paradisíaco, as quatro moças vão passar por situações adversas, noitadas quentes e conhecer diversas pessoas, cada uma com seus conflitos, manias e virtudes que de certa forma irão interferir na vida delas, cujo rumo muda a cada minuto e assim elas passam a olhar o futuro com outros olhos.

Bem, o enredo pode parecer correto e bem próximo do que uma comédia teen americana de sucesso tem a oferecer. O problema é como esta trama é desenvolvida. Ok, Joffily nunca prometeu um trabalho para ganhar prêmios, mas sim para conquistar plateias, principalmente o público jovem que não encontra muito espaço no cinema nacional. Ser despretensioso o diretor conseguiu, mas o tipo de humor que ofereceu é um tanto duvidoso. Sua proposta é extremamente irregular e com um ritmo muito próximo ao de um programa de humor ou especial feito para a televisão. Aliás, o longa só deve ter feito certa carreira nas salas de exibição e ter tido procura nas locadoras por causa do bombardeio de chamadas na TV. Publicidade é tudo. Quanto mais em evidência o produto estiver maior a procura independente da qualidade do mesmo, o importante para boa parte do público é simplesmente estar por dentro do assunto do momento. Já para a equipe de produção o lema da campanha publicitária do longa devia ser fale bem ou fale mal, mas falem de mim. Todos os clichês dos filmes nacionais do estilo de Xuxa e Renato Aragão estão presentes. Enredo frouxo e com passagens sem sentido, atuações pouco inspiradas, propagandas descaradas, músicas da moda e pequenas participações do início ao fim de um elenco escolhido a dedo para constranger os espectadores. A modelo e apresentadora Gianni Albertoni é uma das protagonistas e até engana bem no papel de gostosona, mas é quase impossível não ficar na expectativa de uma gafe sua ou que do nada ela comece a discursar para vender algum produto como faz habitualmente na TV. Falando em merchandising, os garotos-propaganda e onipresentes em tudo quanto é lugar Bruno Mazzeo e Marcelo Adnet aparecem para lembrar o público de "fazer um 21", como se já não fosse o bastante vê-los fazendo isso a cada dez minutos nos intervalos comerciais. Ainda temos o pretensioso Marcos Mion fazendo uma ponta e até o ultrapassado Sérgio Mallandro bate ponto, mas pelo menos sem fazer suas micagens e caretas costumeiras.

O roteiro foi escrito pelo próprio Mazzeo em parceria com João Avelino e Rosana Ferrão, mas praticamente todos os atores deram seus pitacos no texto o que explica a falta de unidade narrativa e os personagens estereotipados como o surfista garanhão e empregada fanática por religião. O enredo é quase como uma colcha de retalhos na qual são emaranhados vários esquetes de humor alternados com momentos edificantes. Resta às quatro protagonistas tentar manter intacto o fiapo de história que as une. É curioso, mas pesquisando na internet é possível encontrar algumas críticas favoráveis a esta comédia. Claro que não são elogios rasgados, mas até as atuações são levadas em alta conta. Bem, cada um tem sua opinião, mas é um pouco difícil poupar um elenco gigantesco no qual cada integrante fala uma língua, ou melhor, tenta falar a língua do jovem. Ok, um ou outro ator até se sai bem, como Lúcio Mauro Filho e Maria Clara Gueiros, mas realmente se existem elogios a serem feitos eles ficam por conta da parte técnica e da ousadia em experimentar uma nova forma de se fazer cinema no Brasil. Apesar de algumas falhas da parte de fotografia, vale destacar as belas tomadas da praia de Búzios que realçam a ideia de um filme típico para curtir as férias, só que com a diferença de que ele provavelmente não ficará na cabeça de ninguém como uma super lembrança, pelo contrário, é totalmente esquecível poucos minutos depois de subirem os créditos de encerramento. A edição e a trilha sonora original interpretada por músicos conhecidos dos jovens também são pontos favoráveis. Muita Calma Nessa Hora é em suma uma produção que devemos encarar como algo experimental para que ela seja um pouco tolerável, mas essa não é uma tarefa fácil. Todos sabem que o cinema nacional cresceu e a diversidade de trabalhos e estilos é que garantem que ele possa continuar caminhando a passos largos, inclusive adaptando gêneros de sucessos de outros países como neste caso que percebemos uma aproximação a maneira hollywoodiana de se comunicar com os jovens. Todavia, um filme retalhado e cheio de participações nada a ver é até tolerável nas produções de Xuxa, afinal as crianças e fãs querem ver ela, o resto não interessa. Agora, quando não temos um grande chamariz em cena, dispara-se para tudo quanto é lado e no fim temos a sensação de que perdemos o tempo ou jogamos dinheiro fora, é sinal de alerta na certa. Infelizmente, uma sequência desta pérola foi apenas questão de tempo. Há louco para tudo, inclusive jogar dinheiro fora produzindo lixos desse tipo.

Comédia - 92 min - 2009 

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Um comentário:

renatocinema disse...

O pior, no meu entender, foi a ponta do Sérgio Mallandro. Essa foi a chave do caixão.kkk