Índice de conteúdo

sábado, 28 de fevereiro de 2015

ANTI-HERÓIS

Nota 3,0 Trama confusa e personagens que não despertam simpatia prejudicam thriller policial

Channing Tatum é um jovem ator em alta. Al Pacino já não é mais o mesmo, mas seu nome virou sinônimo de qualidade. Juliette Binoche é conhecida por atuações premiadas e bom faro para escolher roteiros. E Ray Liotta e Katie Holmes... Bem, esses aceitam qualquer convite afinal nunca tiveram carreiras equilibradas. Todavia um elenco com nomes famosos não é garantia alguma de que um filme pode ser bom e é isso que fica provado em Anti-Heróis, longa vendido como um autêntico thriller policial. Se produções do tipo são desse jeito está explicado o motivo do gênero praticamente não ser mais usado para fins de rotulagem e os poucos títulos existentes que razoavelmente se encaixariam na categoria serem divididos entre suspense ou ação. A trama escrita e dirigida por Dito Montiel não oferece oportunidades de cartase ao espectador. Nem mesmo criamos expectativas de que aquele momento de tirar o fôlego vai chegar mais cedo ou mais tarde simplesmente porque pouco nos importamos com o destino dos personagens. A história se passa em 2002 quando Jonathan White (Tatum), um policial novato, acaba de ser transferido para a delegacia do Capitão Marion Mathers (Liotta), o mesmo lugar onde seu falecido pai trabalhou anos antes. O rapaz chega à corporação na mesma época em que a jornalista investigativa Lauren Bridges (Binoche) está recebendo cartas anônimas denunciando duas mortes ocorridas em 1986 em um condomínio de classe baixa. As vítimas eram um viciado em drogas e o outro era um traficante. Tal episódio foi acobertado durante anos pelo detetive Charles Stanford (Pacino) e envolve White de forma comprometedora. Assim, o jovem policial começa a viver uma fase conturbada. Além de ter seu emprego em risco, sua esposa Kerry (Holmes) e a filha pequena, Charlotte (Ursula Parker), também podem sofrer com esta história voltando à tona.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

BOLT - O SUPERCÃO

NOTA 8,0

Primeiro desenho da parceria
Disney/Pixar agrada com humor,
cores vibrantes e agilidade, mas
se esperava mais do roteiro
Disney e Pixar há anos formam uma parceria de sucesso, porém, até 2007 havia uma racha entre os estúdios, algo perceptível na irregularidade das produções lançadas. Enquanto uma surpreendia com tramas que agradavam a todas as idades e com visuais acachapantes, como Monstros S.A e Os Incríveis, a outra tentava sobreviver procurando dar vida à combalida animação tradicional com textos originais, como Lilo e Stitch e Nem que a Vaca Tussa, e até se arriscou no campo da animação computadorizada com O Galinho Chicken Little, mas o fato é que a situação estava insustentável. A casa do Mickey Mouse antigamente só tinha acordo para distribuir os produtos Pixar sem ter o poder de interferir nas produções, assim as duas empresas precisavam se unir em definitivo ou então uma delas teria que sair de cena e todos sabem de que lado a corda arrebenta em casos assim. Felizmente a união com direitos iguais para ambas as partes prevaleceu e o primeiro fruto do casamento foi Bolt – O Supercão. A animação já estava prevista antes do fechamento da parceria, mas certamente o resultado final seria bem diferente caso o seu comando não tivesse caído nas mãos do diretor John Lasseter, de Toy Story. Sob sua batuta o projeto foi inteiramente remodelado de forma a agregar as características que fizeram a fama de seu antigo estúdio-solo, ou seja, história ágil e inteligente, personagens carismáticos e visual colorido e rico em detalhes. Contudo, o chefão preferiu não atrelar diretamente seu nome à produção, talvez uma forma de se proteger caso o filme fracassasse, e assim ele supervisionou o trabalho de uma dupla de animadores, Byron Howard e Chris Williams, que se saíram muito bem na difícil tarefa de assinar o primeiro longa-metragem Disney/Pixar. A trama começa com a garotinha Penny ganhando um cãozinho de verdade que batiza de Bolt, aquele que seria o amigo mais fiel de toda a sua vida. Quando ela já é uma adolescente, o bichano se torna literalmente seu cão de guarda, tendo sido modificado geneticamente pelo pai dela para ganhar certos poderes especiais, como força extra e um super latido. Dr. Calico, também conhecido como o homem do olho verde, sequestrou o pai da garota, provavelmente para usufruir de sua inteligência, e agora Bolt e Penny precisam se unir para resgatá-lo e dar uma lição ao vilão. Esse seria um bom ou fraco roteiro para uma animação? O fato é que essa sinopse não é a respeito do filme e sim uma brincadeira que serve como estopim para o foco principal.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

COINCIDÊNCIAS DO AMOR

NOTA 7,0

Enfocando mais o protagonista
masculino e dando ênfase ao seu
amadurecimento forçado, longa
oferece certo conteúdo reflexivo
É possível um intérprete levar adiante sua carreira basicamente reciclando um mesmo personagem? A trajetória de Jennifer Aniston prova que sim, basta saber incorporar ao perfil das criações características compatíveis a sua faixa etária. Ela já viveu a sua fase de sonhar com príncipe encantado, curtir a vida trocando de namorado como quem troca de roupas, mas chegou a hora do estereótipo da quarentona que se preocupou mais com a vida profissional que com a pessoal estampar seu currículo (coincidindo com os rumos de sua vida pessoal). Em Coincidências do Amor ela dá vida à Kassie Larson, uma mulher que sempre sonhou em ser mãe, mas as preocupações para conseguir sua independência financeira e o perfil de homem ideal (entenda-se bonito, rico, culto e tudo o mais que possa elevar a moral do pretendente) acabaram a cegando a ponto de não ver que o tempo passa rápido. Quando se deu conta já estava próxima de uma idade limite para engravidar e decidiu partir para uma produção independente. Recorrendo a um banco de esperma, ela teve a oportunidade de selecionar um doador levando em consideração o que ela esperava do futuro do filho, mas por tabela baseou-se em características que formariam o perfil do parceiro ideal. Assim, cerca de sete anos mais tarde ela resolve voltar para sua antiga cidade, a agitava Nova York, e aproximar o pequeno Sebastian (Thomas Robinson) de seu pai biológico, Roland (Patrick Wilson). A intenção era evitar que o garoto se tornasse um adulto complexado, algo que já se manifestava na infância, e de antemão ter a resposta para uma inevitável pergunta a respeito de quem seria seu pai. É claro que tentando fazer essa aproximação ela acaba também tendo contato com o homem dos seus sonhos e o interesse é correspondido, tudo para atacar o ciúmes de Wally Mars (Jason Bateman), um dos melhores amigos desta mulher, mas que não concordava com a ideia dela ser mãe solteira, uma decisão que mudaria a vida dela irremediavelmente. A surpresa é que para este tímido apaixonado, que desperdiçou algum tempo antes a chance de assumir o papel de marido dela, a existência de Sebastian também mudaria seus planos para o futuro. Quando estava tudo certo para a inseminação, Kassie fez uma festa para comemorar e Mars, já demonstrando um interesse além da simples amizade por ela, bebeu todas para suportar a decepção e acabou aprontando no banheiro.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

AS MÚMIAS DO FARAÓ

NOTA 6,0

Com pinta de produção americana,
aventura francesa tecnicamente é
ótima, mas falha ao mesclar gêneros
e deixar as múmias em segundo plano
Por mais que o tempo passe infelizmente ainda o público em geral cultiva uma imagem errada do cinema feito fora de Hollywood, rotulando automaticamente as produções como  realizações que visam exclusivamente atender aos anseios da crítica especializada e para colecionar indicações a prêmios. Por causa desse pensamento metódico e arcaico muitos filmes excepcionais acabam encontrando dificuldades para chegaram ao mercado e se comunicar com o grande público.  Porém, vez ou outra produtores e diretores desafiam esses conceitos e investem em algo que possa se assemelhar ao cinemão americano, claro que guardadas as devidas proporções. Não chegam a arrebatar multidões e tampouco o resultado final é excepcional, porém, a experiência é válida para termos contato com outras culturas e maneiras de se fazer cinema.  Histórias ambientadas em mundos fantásticos ou que apresentam algum tipo de herói que possam dar origem a uma franquia ainda são raros investimentos fora dos EUA, mas aos poucos as coisas estão mudando e esse pode ser um caminho a ser desbravado, claro que com o apoio de uma boa campanha de marketing. Esse poderia ser um ponto para justificar o desconhecimento de boa parte do público da existência de As Múmias do Faraó, aventura francesa que poderia suprir a vontade de ver algo novo e fora do eixo Hollywood. É uma pena que aliada à falta de propaganda, a obra em si está longe de ser um trabalho primoroso, pelo contrário, tem graves problemas de ritmo ao não conjugar bem ação, comédia e até mesmo drama. Contudo, surpreende quanto aos aspectos técnicos contando com ótima trilha sonora, fotografia, figurinos e cenografia. A trama se passa no início do século 20 e tem como protagonista Adèle Blanc-Sec (Louise Bourgoin), uma espécie de Indiana Jones de saia e batom. Ela é uma jovem e corajosa repórter que já viveu muitas aventuras, mas no momento quer se dedicar a uma missão pessoal. Ela decide viajar para o Egito para encontrar a cura da doença de sua irmã Agathe (Laure de Clermont-Tonnerre) que vive em estado vegetativo desde que sofreu um acidente. Há indícios de que a solução estaria dentro da tumba secreta de Patmosis, uma múmia que em vida dedicou-se à medicina, mais especificamente a cuidar pessoalmente do lendário faraó Ramsés II.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O PREÇO DA TRAIÇÃO

NOTA 8,0

Misto de drama e suspense
baseado em longa francês
exala sensualidade do
inicio ao fim com classe
Sem dúvidas um dos temas mais trabalhados pelo cinema americano ao longo de sua história é a infidelidade. São centenas de títulos e dos mais variados gêneros que tratam do assunto, mas tudo o que é demais enjoa. Por exemplo, um filme sério que flerta com o erotismo hoje em dia é considerado fora de moda, visto que o ápice desse tipo de produção foi no final dos anos 80 e início da década seguinte quando estrelas como Glenn Close, Sharon Stone e Demi Moore apareciam nos créditos para dar algum valor a produtos que poderiam facilmente ser massacrados pela crítica. Foram tantas cruzadas de pernas insinuantes e amassos em locais proibidos que hoje uma obra do tipo não causa mais impacto, embora sobrevivam graças aos canais fechados que bancam trabalhos assim para rechear suas programações e depois servem para preencher o “Super Cine” da Globo, já que a maior parte dos filmes desta sessão são sobre adultérios e oriundos de canais a cabo ou lançamentos direto para locação e venda. Bem, por ainda fazer renda, mesmo que não em exagero, e ter sua carreira de sucesso em determinada época, não podemos dizer que o gênero do thriller erótico não tem sua importância para a história do cinema, mas o fato é que não há lugar de destaque no circuito comercial para ele atualmente. Por sofrer preconceito devido a seu conteúdo forte ou até mesmo pelo público considerar uma categoria datada, alguns bons títulos acabam não tendo o devido reconhecimento como é o caso de O Preço da Traição, dirigido pelo egípcio Atom Egoyam, profissional que se dedica mais ao cinema alternativo e já premiado em Cannes por O Doce Amanhã. Neste caso ele se entrega a uma produção bem ao estilo hollywoodiano, carregando na sensualidade, porém, criando um clima noir e melancólico envolvente que ganha muita sustância por causa da competência do triângulo amoroso composto por três grandes atores. A trama gira em torno da ginecologista Catherine (Julianne Moore) que aparentemente vive um casamento feliz com o professor David (Liam Neeson), porém, a dedicação do marido ao trabalho e aos alunos a deixa com a pulga atrás da orelha suspeitando que está sendo traída. A gota d’água é quando ela prepara uma festa surpresa de aniversário e ele não aparece alegando que houve um imprevisto na volta para casa depois de uma viagem de trabalho. Catherine então decide colocar a fidelidade do esposo à prova, uma decisão que certamente não resultaria em algo bom para ela própria.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

PEQUENOS GRANDES ASTROS 2

Nota 4,0 Repetindo basicamente o enredo do original, longa torna-se cansativo e sem propósitos

Por que produtores resolvem investir em continuações quando não há de nada de novo a se acrescentar a história original? Pior ainda, por que gastar dinheiro em uma segunda parte quando a primeira não foi um sucesso? Bem, se a produção em jogo tiver apelo infantil eis as respostas para estas perguntas. Pais desesperados por alguns minutos de sossego pagam o que for preciso para levar os filhos ao cinema ou mantê-los ocupados diante da TV, assim qualquer bobagem classificação livre tem chances de faturar alguns trocados. Só assim para explicar a existência de Pequenos Grandes Astros 2 estrelado por novos personagens, mas no fundo repetindo a mesmíssima história do longa anterior e suas lições de moral. Jerome Jenkins Junior (Jascha Washington) é um pré-adolescente aficionado por basquete e seu pai, conhecido como Duplo J (Michael Beach), foi um excelente jogador amador, mas perdeu a chance de virar um profissional do esporte e caiu no ostracismo.  O filho está decidido a honrar o passado do pai, porém, Lydia (Enuka Okuma), sua mãe vê com ressalvas a carreira esportiva para o filho devido a sua baixa estatura e imaturidade. Por seus pais serem separados, Jerome nunca teve muito contato com o pai e vê nesta decisão a chance de se reaproximar. Vamos agora as similaridades mais gritantes do roteiro de Keith Mitchell e Allie Dvorin em relação ao filme original. Certo dia, o menino encontra por acaso um par de tênis pendurados em um poste com as iniciais MJ, automaticamente identificadas como sendo a abreviação do famoso Michael Jordan. Munido de coragem e seus calçados, ele decide se inscrever em um campeonato de seu bairro, mas na hora H acaba ficando apenas na plateia, porém, quis o destino que ele pisasse em quadra para provar do que era capaz. A bola em determinado momento acaba sendo desviada para o seu lado e ele a arremessa de volta acertando em cheio a cesta, assim provocando a ira dos finalistas da competição que o desafiam a vencê-los. Obviamente o garoto dá um show vencendo os gigantes fortões e chama a atenção do treinador Archie (Blu Mankuma) que o convida para passar o verão treinando com seu time, o Game On. Jerome se anima, a mãe coloca obstáculos, mas acaba sendo convencida por Ray (Kel Mitchell), um jovem bobalhão e preguiçoso que foi agregado a família.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

PEQUENOS GRANDES ASTROS

Nota 6,0 Previsível e esquemático, longa cumpre objetivo de entreter e passar lições aos guris

No Brasil costumamos ficar com um pé atrás quando um cantor se aventura nas artes dramáticas e vice-versa, mas nos EUA isso é muito comum e apreciado. O que é ruim é quando alguém da área musical resolve fazer do cinema uma extensão do palco ou simplesmente um veículo para sua autopublicidade como foi o caso do lançamento de Lil’Bow Wow como ator. Quem? Shad Gregory Moss, ou simplesmente Wow, hoje pode ser apenas um nome, mas em um passado não muito distante ele era uma promessa de superstar em solo americano. Rapper profissional desde os três anos de idade, aos 15 ele já tinha seus videoclipes entre o mais pedidos na MTV. Dizem que no Brasil a Globo manda, então não seria errado dizer, guardada as devidas proporções, que o canal adolescente dita regras e modismos entre os ianques, assim a promessa de astro (e aquele que ajudaria a sustentar a emissora por alguns anos) teria que expandir seu público estrelando seu próprio filme. E assim surgiu Pequenos Grandes Astros onde o rapper não tem seu momento popstar em um palco, mas sim em uma quadra esportiva, porém, sem precisar fazer esforços para atuar já que os produtores procuraram recriar parte de seu mundo na tela. E não é que ele convence. Wow dá vida à Calvin Cambridge, um garoto que vive em um orfanato, mas que já está ficando “velho” para ser adotado, assim seu sonho de ter uma família feliz típica de seriado de TV está se esvaindo. Contudo, o espaço vazio está sendo preenchido por outra fantasia: ser um famoso jogador de basquete. Certo dia, enquanto vendia doces para arrecadar fundos para a instituição, ele tem a sorte de conhecer Wagner (Robert Foster), o treinador dos Knights, o time de seu coração. Comovido, o esportista acaba lhe dando ingresso para assistir a um jogo. Um dia antes da partida, mais uma surpresa do destino. Em meio a uma doação de roupas ele encontra um par de tênis com as iniciais MJ, o que significaria que o calçado era dos tempos em que Michael Jordan também sonhava em ser um astro do esporte. Que sorte não? Eles servem direitinho para Calvin, mas uma confusão acontece e eles ficam presos nos fios da rede elétrica. De madrugada, mesmo chovendo forte, ele resolve ir pegá-los e acaba levando um choque. Ganha um doce quem descobrir o restante.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

OU TUDO O NADA

NOTA 8,5

Comédia britânica traz
temática sexual leve aliada
a um pano de fundo social
e histórico dos anos 90
Todos os anos o Oscar trata de jogar uma luz em cima de diversos títulos e os cinéfilos de plantão tentam fazer de tudo para conseguir assistir a todos os concorrentes. O tempo passa e muitos desses filmes continuam povoando o imaginário dos espectadores fazendo parte de suas listas do que desejam ainda assistir ou rever, mas algumas produções acabam sendo esquecidas mesmo colecionando algumas indicações da Academia de Cinema e de outras organizações. Da safra de premiáveis de 1998, quando certo navio tratou de massacrar a concorrência tanto nas bilheterias quanto nas festas, Ou Tudo ou Nada envelheceu sem sorte. Comédia britânica elogiadíssima na época, o longa concorreu a quatro Oscars, incluindo Melhor Filme, mas seu nome está longe da ponta da língua dos populares, uma injustiça ao trabalho de estreia do cineasta Peter Cattaneo. A história se passa em Sheffield localizada no norte da Inglaterra e conhecida como a cidade do aço devido ao elevado número de empresas do ramo instaladas por lá. Após uma fase próspera o local está em declínio, fábricas fechando as portas e muitas pessoas foram pegas de surpresa com suas demissões. Um dos mais novos desempregados é Gaz (Robert Carlyle) que está desesperado com a iminente perda da custódia do filho por não ter como sustentá-lo. Seus amigos também se encontram em situação difícil. Dave (Mark Addy) está com depressão e teme perder sua esposa; Lomper (Steve Huison) cuida da mãe e tem tendência suicida; e Gerald (Tom Wilkinson) está desempregado há seis meses e não tem coragem de contar à mulher. Esse jogo tem tudo para mudar quando Gaz tem uma idéia. Ao saber do sucesso que um show de strippers masculino está fazendo na cidade ele decide convencer sua turma a fazer o mesmo para arrancar bons trocados da mulherada. O problema é que eles não são malhados e belos como os dançarinos profissionais e precisam então encontrar um diferencial para o show. Juntam-se à trupe Horse (Paul Barber), que está disposto até a aumentar a sua “ferramenta” de trabalho para fazer jus ao seu nome, e também Guy (Hugo Speer), que não sabe dançar, mas possui uma qualidade importantíssima para o espetáculo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

BENDITO FRUTO

NOTA 6,5

De maneira bem humorada,
longa trata de temas polêmicos
envolvendo representantes do
povão que só querem ser felizes
Entre os anos de 2003 e 2004 o mercado cinematográfico brasileiro passava por um momento expressivamente positivo. Além das bilheterias em ascensão como um todo, os produtos nacionais finalmente conseguiam brigar de igual para igual com os longas norte-americanos por um lugar ao sol, ou melhor, no escurinho do cinema. Cidade de Deus, Carandiru e Olga são alguns dos principais exemplos bem sucedidos desse período. Além de revisitar fatos históricos, nossos profissionais do ramo também aprendiam que a sétima arte em terras tupiniquins podia alçar voos mais altos e arriscaram em produções com estéticas sujas e aparentemente modestas para retratar a violência presente na modernidade, mas que tinham por trás um firme alicerce financeiro e artístico. E aqueles filmes menores que costumam causar burburinhos nos diversos festivais espalhados pelo país e conquistam elogios da crítica especializada, qual a marca que eles deixaram? Pois é, tal qual ainda acontece muitos bons projetos passaram em brancas nuvens tanto nos cinemas quanto nas locadoras e nem mesmo na TV encontraram espaço digno. Esse é o caso de Bendito Fruto, uma comédia com toques dramáticos protagonizada por um grupo de cidadãos suburbanos tipicamente brasileiros envoltos em situações por vezes problemáticas, mas jamais abandonando o bom humor. O longa marca a estreia no campo da ficção do diretor de documentários Sergio Goldenberg e traz uma narrativa que conta com um triângulo amoroso principal e algumas subtramas paralelas, uma estrutura que passa a ideia de um painel social, ainda que pequeno. Edgar (Otávio Augusto) é o dono de um salão de beleza localizado em Botafogo, no Rio de Janeiro, que herdou do pai e vive de certa forma convivendo com a solidão, já que ainda busca uma esposa e nunca teve muito tempo para si mesmo por causa das obrigações de cuidar da mãe doente até sua recente morte. Na verdade, ele até tem uma candidata à vaga de seu coração, Maria (Zezeh Barbosa), com quem mantém um relacionamento às escondidas por ela ser filha da antiga empregada de sua família e também ser negra. Ela levava a situação numa boa fingindo trabalhar de doméstica na casa de Edgar, mas quando seu namorado reencontra por acaso uma antiga amiga dos tempos de escola, Virgínia (Vera Holtz), e percebe que existe um clima romântico entre eles, a moça não quer de jeito nenhum assumir definitivamente o papel de “a outra” e exige que ele a assuma como seu verdadeiro amor.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

MUTILADOS (2001)

NOTA 4,0

Com todos os predicados para
ser rotulado como trash, longa
surpreende com narrativa ágil e
que usa bizarrices sem pudor
É provável que muitas empresas distribuidoras de filmes os comprem às cegas, ou seja, sem saberem do que se trata os materiais que estão adquirindo ou se dignando a conhecer o mínimo deles. Só assim para explicar o péssimo tratamento da Imagem Filmes com o suspense Mutilados, hoje uma raridade para ser encontrado e fora do catálogo da empresa. A tagline que estampava o dvd, "na hora errada... no lugar errado", também serviria para justificar a má campanha de lançamento da fita que de imediato a rotulou como uma produção trash. Sim, de fato é um projeto de baixo orçamento, com momentos que parecem desconexos, atuações canastronas, enfim tudo que é necessário para um filme de qualidade duvidosa, contudo, divertido e que prende a atenção do início ao fim como poucas superproduções as vezes conseguem. O roteiro nos apresenta à Thomas Kempton (Alex McArthur), um renomado diretor de filmes de animação para adultos. Certo dia ele resolve acampar com amigos em uma região fria e montanhosa onde acaba sofrendo um leve acidente. Ele procura ajuda na cabana mais próxima e encontra as irmãs Vanessa (Laura Esterman) e Ann Boulette (Sage Allen) que apesar das aparências bizarras mostram-se bondosas, prometendo pedir ajuda e lhe tratando com total hospitalidade. Contudo, Kempton acaba adormecendo e quando acorda está amarrado a uma cadeira de rodas e com poucas roupas. É quando as tais irmãs revelam suas verdadeiras e macabras intenções. Ele consegue escapar do ritual de mutilações delas, mas meses depois ele ainda não esqueceu o que passou e fica obcecado para entender a mente daquelas mulheres, principalmente de Vanessa que parecia não estar de acordo com os atos perversos que cometia, mas também não podia se conter como se algo ou alguém a comandasse. A obsessão aumenta quando kempton conhece a aspirante a atriz Clara Hansen (Maria Cina) e seu filho, o misterioso Sandor (Fred Meyers), um adolescente perturbado e violento que cultiva hábitos bizarros. Aos poucos o sobrevivente percebe que o destino não os colocou em seu caminho por acaso e que a aproximação pode trazer de volta as irmãs assassinas em seu encalço.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO

NOTA 8,5

Seguir tradições ou romper
seguindo a trilha da
novidade, eis a grande
questão deste drama
Já é um costume da Academia de Cinema de Hollywood escolher anualmente ao menos um filme que poderia passar em brancas nuvens para concorrer em algumas categorias do Oscar, podendo muitas vês tais títulos se tornarem verdadeiras zebras e faturarem algumas estatuetas. A iniciativa é uma forma de dar incentivo para que o mercado de pequenas produções continue ativo e até para enaltecer que a imagem dos votantes é digna de seres pensantes e não de ovelhinhas seduzidas por mimos cedidos por grandes estúdios. Em 2010, ao optar por ampliar de cinco para dez as vagas para a principal categoria da festa, aumentou consideravelmente também o número de filmes aparentemente sem brilho a marcarem presença do evento. Alguns realmente são merecedores da lembrança, outros claramente foram ajudados por questões de marketing e também há aqueles que são bons, mas que acabam sofrendo com o fato de estamparem em seu material publicitário menções às indicações. Neste último caso se enquadra Educação, um belo drama a respeito do período de transição de uma jovem para a vida adulta e sua dúvida entre optar pela educação ou a diversão. A história se passa no início da década de 1960, quando a colegial Jenny (Carey Mulligan) se esforça para ser a melhor aluna da sala e sonha em cursar uma boa faculdade. Basicamente vivendo entre os livros e as atividades domésticas, sua idéia a respeito de viver a vida muda completamente quando ela conhece David (Peter Sarsgaard), um homem elegante, culto e bem mais velho.  A moça enxerga nela a porta para um mundo novo, repleto de referências à cultura, arte, espetáculos, boa comida e companhias refinadas. Ela se apaixona rapidamente por ele, ou melhor, por seu estilo de vida que também parece atrair a atenção de seu pai, Jack (Alfred Molina), que apóia o relacionamento e se simpatiza com o futuro genro. Sua orientadora escolar (Emma Thompson) teme que sua pupila esteja escolhendo um caminho errado para seu futuro, mas, por outro lado, Jenny vê na sua professora Miss Stubbs (Olivia Williams) o exemplo do que pode lhe acontecer caso não siga seus próprios instintos e se deixe guiar pelas convenções e imposições de sua família e até mesmo da sociedade. Contestando e avaliando as possibilidades da vida regrada dos estudos e de uma carreira exemplar e da vida de sonhos e glamour que teria ao lado de seu grande amor, o espectador passa a vivenciar estas dúvidas junto com Jenny ao mesmo tempo em que a personagem amadurece em cena, um grande trabalho de uma jovem atriz merecidamente reconhecido com diversas indicações a prêmios.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O DISCURSO DO REI

NOTA 9,5

Drama traz a tona um fato
prosaico acerca da História da
família real britânica através de
narrativa e visual clássicos 
Um futuro rei gago que se submete a uma estranha terapia na qual mais parece que ele está participando de uma aula de teatro ou tendo algum tipo de ataque. Por esta premissa dificilmente alguém diria que ela renderia um bom drama e muito menos que é um fato verídico que aconteceu com um antigo membro da família real da Inglaterra. Contrariando expectativas, não é que esta ideia bizarra realmente é baseada em fatos reais e rendeu um bom filme. Deixando de lado a pompa que se tornou marca registrada do épico Elizabeth ou o apelo polêmico e nostálgico que gerou o interesse pelo drama A Rainha, o roteirista David Seidler foi buscar inspiração em um fato prosaico da realeza britânica que poderia ser ligeiramente cômico se não fosse tratado com seriedade pelo escritor e também pelo diretor Tom Hooper na condução de O Discurso do Rei, um título que não era o favorito da temporada de prêmios, mas acabou se tornando a zebra das festas dos melhores do ano de 2011 no meio cinematográfico. Com doze indicações ao Oscar, vencendo em quatro delas, e acumulando outros tantos troféus e menções em diversas premiações, o longa fez sua fama pouco a pouco e acabou atropelando outras excelentes produções. Digamos que este trabalho é o que teria mais a cara de premiável entre os selecionados do período por ser uma produção de época, o que já lhe garantiria alguns prêmios pela parte técnica e visual, mas é curioso que justamente estes atributos não chamaram tanto a atenção e os votantes dos eventos miraram nas categorias principais para laureá-lo. A obra foi a escolhida para ser a queridinha dos críticos na temporada por ser uma obra correta que pode não ser inovadora, mas consegue apresentar com elegância e competência o que se propõe, uma produção acadêmica e irretocável. A trama se passa na década de 1930 e gira em torno de Albert Frederick Arthur George (Colin Firth), ou simplesmente George VI, que desde a infância sofreu com a gagueira, muito devido aos traumas que sofreu com as severas punições de seu pai, o rei George V (Michael Gambon). Este é um sério problema para um integrante da família real britânica que frequentemente precisa fazer discursos. Apesar de ter procurado diversos médicos, nenhum deles trouxe resultados eficazes, mas as coisas mudam quando sua esposa Elizabeth (Helena Bonham Carter) o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta especializado em distúrbios da fala que utiliza métodos pouco convencionais para a época, como gritar palavrões repetidas vezes, mas os benefícios do tratamento compensariam o esforço e a quebra de protocolos. O médico se coloca de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, assim com o passar do tempo acaba tornando-se seu amigo e confidente. Os exercícios e métodos aplicados no tratamento fazem com que o paciente adquira autoconfiança para cumprir o maior desafio de sua vida: assumir a coroa após a morte de seu pai e a abdicação de seu irmão David (Guy Pearce), o primeiro nome na linha de sucessão que teve coragem suficiente de renegar tamanha responsabilidade.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

IRMÃOS

Nota 8,0 Drama convida espectador para uma dolorosa jornada de reflexão sobre a vida

Este título é reservado para uma seleta platéia sem dúvidas. Produção francesa, narrativa lenta, poucos diálogos e discussões sobre doença e homossexualismo compõem o cenário deste sensível e reflexivo longa premiado no Festival de Berlim com direção e roteiro de Patrice Chéreau, o mesmo do até hoje muito comentado Rainha Margot. Falar que Irmãos é um drama para poucos não é um sinal de desprezo, mas sim de exaltação das suas qualidades. O espectador é convidado a viver cada momento doloroso junto com os protagonistas e acaba também refletindo sobre sua própria vida graças a mão firme do cineasta que usa sua câmera ora de modo documental ora flertando com o estilo amador com a lente muito próxima ao rosto dos atores para captar detalhes das reações, criando assim um laço afetivo entre os personagens e o público. A trama se passa em meados da década de 1980 quando Thomas (Bruno Todeschini), ao descobrir que possui uma rara doença sanguínea, não procura auxílio dos pais, mas decide pedir ajuda ao seu irmão mais novo, Luc (Eric Caravaca), com quem não falava há anos. O reencontro entre eles é cordial, sem rompantes de emoção, e o irmão pródigo resolve ajudar no que puder o familiar procurando deixar para trás ressentimentos do passado. Em meio a exames e diagnósticos nada animadores, parece mesmo que a tal doença não tem cura, apenas um controle que pode prolongar a vida do paciente. Porém, sem querer, Thomas leva as pessoas que estão em sua volta a refletirem sobre suas próprias existências e os caminhos que suas vidas seguiram. A sua morte iminente faz com que sua companheira Claire (Nathalie Boutefeu) reflita melhor se quer mesmo se relacionar com alguém que pode ter pouco tempo de vida e Luc se ainda quer investir no caso que tem com o jovem Vincent (Sylvain Jacques), motivo que pode ter afastado os irmãos.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

A FLORESTA

Nota 1,5 Embora recicle diversos clichês do gênero, suspense não empolga em momento algum

Porque cargas d’água alguns pais achariam conveniente colocar suas filhas adolescentes para estudarem num internato só para garotas instalado em meio a uma floresta e a quilômetros da civilização? Achar sarna para se coçar é a melhor resposta. Quando alguém busca a escola ideal geralmente procura o máximo de informações possíveis sobre a instituição e sua localização e o ambiente que a cerca são fatores importantes para fazer a melhor escolha. Só por esse deslize já dá para ficar com o pé atrás com A Floresta que deixa claro em alguns poucos minutos de exibição que compromisso com a realidade é o de menos, o importante é assustar o espectador mesmo recorrendo a elementos batidos no gênero de suspense e terror como uma misteriosa floresta e boatos que envolvem bruxarias para contar uma história que aparentemente pretende causar arrepios à moda antiga. O início até que promete, mas aos poucos o enredo desanda. As ações ocorrem provavelmente em meados da década de 1960 em Falburn, um renomado colégio só para meninas localizado próximo de uma floresta e que agora é o novo endereço de estudo e moradia da jovem Heather Fasulo (Agnes Bruckner). Seus pais, Alice (Emma Campbell) e Joe (Bruce Campbell), a deixaram lá com o intuito de darem uma boa educação para a filha, mas nem imaginavam o que poderia acontecer. Heather logo percebe que nada naquele colégio lembra sua boa fama, a começar pela diretora, a senhorita Traverse (Patricia Clarkson), e sua equipe. A menina percebe que é tratada de forma diferente e sua adaptação é difícil. Ela faz amizade com Marcy (Lauren Birkell), mas precisa manter a calma para aguentar as provocações da maldosa Samantha (Rachel Nichols). Porém, nada é tão torturante para ela quanto as vozes que escuta e que parecem querer atrai-lá para a floresta. Uma história macabra sobre o passado do local envolvendo garotas e bruxas pode ser o segredo por trás desses estranhos chamados. Premissa batida demais? Pois é, até os seus realizadores devem ter concluído que o longa não tinha poder de fogo para brigar por bilheterias e o lançou diretamente em DVD nos EUA e o mesmo aconteceu no Brasil e em outros países.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

UM MESTRE EM MINHA VIDA

NOTA 3,5

Texto teatral a respeito das
relações inter-raciais tem boas
intenções, mas torna-se estranho
em sua versão cinematográfica
Nas regiões africanas são muito comuns os conflitos e os preconceitos gerados pelas disputas entre negros e brancos, problemas que já estão enraizados na cultura local infelizmente. O regime do Apartheid é um dos casos mais notáveis e conhecidos de descriminação racial de toda a História mundial, política que apostava em relações inter-raciais que de certa forma colocavam os brancos em um patamar acima dos negros, aquela velha ideia de que o branco foi feito para mandar e os negros para obedecer. É justamente nessa discussão que está centrada a narrativa de Um Mestre em Minha Vida, drama passado na África do Sul na década de 1950 com direção de Lonny Price que optou por centrar as ações boa parte do tempo em um único cenário e praticamente com dois atores de idades antagônicas em cena travando diálogos fortes carregados de explosões emotivas e mensagens. Harold Ballard (Freddie Highmore), ou simplesmente Hally, é um adolescente branco pertencente a classe média alta que cresceu na companhia de Sam (Ving Rhames) e Willie (Patrick Mofokeng), dois homens mais velhos e negros que trabalham como garçons na casa de chá de seus pais. Tal interação poderia indicar uma tolerância maior entre as raças, mas na realidade os empregados viviam em um sistema de segregação racial no qual as pessoas de pele escura até poderiam ter boa parte dos direitos dos caucasianos, como trabalhos dignos remunerados e com carga horária estipulada, mas para tanto deveriam residir isolados em um mundo particular. Os negros eram obrigados a construir suas casas em lugares afastados dos centros das cidades e necessitavam até de documentos especiais para poderem atravessar uma espécie de fronteira para poderem ir trabalhar. Apesar das dificuldades, os garçons até que lidam bem com a situação procurando serem trabalhadores exemplares e levando a vida com otimismo e bom humor, transmitindo mensagens positivas a seus semelhantes e ensaiando seus passos de dança, a atividade que renova a energia da dupla. Contagiado pelo modo sadio como os empregados levam e veem a vida, Hally acabou se acostumando a chegar da escola e ir direto para a casa de chá para poder compartilhar seus problemas, ouvir os conselhos dos amigos e se divertir com suas histórias de vida, uma maneira que ele encontrou para superar os problemas do dia-a-dia.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A RODA DA FORTUNA

NOTA 8,5

Filme menos conhecido dos cultuados
irmãos Coen diverte e leva à reflexão
com história edificante sobre sonhador
traído por sua ingenuidade
Os famosos irmãos Joel e Ethan Coen desde os primeiros passos no mundo do cinema nunca passaram despercebidos, tendo o apoio da crítica quase que integralmente. Há anos suas obras são consideradas cults e as várias passagens por premiações acabaram ampliando e diversificando seu público. Eles não saem de moda e seus nomes se tornaram grifes que chamam a atenção tanto de atores que fariam de tudo para atuar em alguma de suas produções quanto dos espectadores, estes que cada vez mais querem conhecer a fundo o currículo da dupla. Curiosamente, uma obra muito elogiada em suas filmografias hoje em dia é praticamente desconhecida, apesar de ter chegado a ser lançada em DVD, porém, logo tornou-se um título raro. Na realidade, A Roda da Fortuna não fez o sucesso esperado, mas tem filmes que só com o passar do tempo consegue mostrar seu valor. Esta produção é uma reinvenção do estilo preferido de filme do cultuado cineasta Frank Capra que sempre gostou de histórias de pessoas em busca das realizações de seus sonhos. Desde as cenas de abertura até os créditos finais, a atmosfera nostálgica da primeira metade do século passado está presente. Este exemplar do chamado "screwball comedies", denominação para as comédias inspiradoras e com belas mensagens, abriu as portas de Hollywood para os irmãos Coen que até então fizeram a fama de seus nomes com a ajuda de festivais espalhados por todo o mundo. Ethan assina a produção enquanto a direção ficou a cargo de Joel, mas os créditos do roteiro são divididos. Eles ainda contaram com a ajuda do experiente Sam Raimi no texto e atrás das câmeras, profissional já acostumado a lidar com orçamentos modestos devido ao seu início de carreira na década de 1980. Com muita criatividade e talento, esta equipe pequena provou que não é necessário milhões em caixa para fazer um bom trabalho.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

9 - A SALVAÇÃO

NOTA 6,0

Animação tem visual caprichado
e original, mas peca no quesito
narrativa com seu ritmo arrastado
e trama por vezes enfadonha
Os filmes de animação levam certa vantagem em termos de impacto em relação aos demais gêneros. Dificilmente nos decepcionamos com as criações visuais, sejam de personagens ou cenários, ainda mais quem realmente curte e entende de cinema e tem noção das dificuldades que cercam a produção de cada minuto de um desenho. É um trabalho respeitável, mas nem só de imagens se faz um filme, mesmo se ele for uma obra muda. É justamente a narrativa de 9 – A Salvação o seu grande problema. Apesar da forma escolhida para contar a história seja um chamariz para o público infantil, certamente a garotada não irá curtir, todavia, até para os adultos o envolvimento fica comprometido. Embora curto este desenho parece ter uma narrativa extremamente arrastada, sensação acentuada pela temática razoavelmente pesada do enredo e a falta de humor. Conteúdo relevante oferecido com estética de produto infantil, isso cheira a Tim Burton, certo? Bem, realmente o criativo cineasta está envolvido neste projeto, mas apenas como produtor apadrinhando o trabalho do diretor estreante Shane Acker que concebeu esta animação primeiramente como um curta-metragem como projeto de conclusão de curso da faculdade. Além de vários prêmios em festivais universitários, o aparente pequeno trabalho acabou extrapolando limites, sendo exibido no Festival de Sundance e chegou a concorrer o Oscar da categoria em 2006. O curta trazia como personagem principal um boneco de pano com olhos que parecem binóculos cujo nome era um tanto diferente, o numeral 9. Ele habitava um mundo destruído e vivia cercado por ruínas e bugigangas quebradas ou sem serventia e nesse cenário caótico este pequeno ser vagava sem rumo, apenas carregando as trágicas lembranças da morte de seu amigo 5 e da ocasião em que enfrentou uma máquina exterminadora. Esta simples sinopse deixava muitas dúvidas e curiosidades no ar e foi a vontade de explorar mais este universo enigmático que levou Acker a trabalhar em cima do projeto de um longa e não é difícil identificar os elementos que levaram Burton a investir na ideia: a atmosfera sombria, o visual impactante dos personagens, o medo do desconhecido e um protagonista solitário sentindo-se sem rumo na vida. Contudo, mesmo com a ajuda de um cineasta renomado, transformar um curta em um longa-metragem não foi fácil e a produção levou cerca de quatro anos para dar esse salto evolutivo, porém, o resultado final ficou aquém do esperado. Pode parecer estranho, mas um filme com aproximadamente 80 minutos de duração acabou sendo menos eficiente que uma produção de 10 minutos. A economia de explicações cedeu espaço para desnecessárias explanações que no fundo caem no lugar comum: a ganância e o desejo do poder do homem é que destruíram o mundo, dando a entender que o cenário em que a trama é desenvolvida é o Planeta Terra, outro dado omitido no curta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O LOBISOMEM (2009)

NOTA 7,0

Clássico monstro ganha
oportunidade para aterrorizar
novas plateias trazendo de volta
um estilo visual nostálgico
Sinais tristes do passar do tempo. Para a maior parte dos amantes de cinema deve ser muito revoltante ver figuras de monstros clássicos da sétima arte hoje não causarem mais expressões de repúdio ou pavor, mas sim serem idolatrados e adornarem os quartos de adolescentes através das fotografias de jovenzinhos bonitinhos que brincam de viver vampiros e lobisomens carismáticos. E a onda não é nova. Os anos 80 e 90 foram marcados por produtos típicos de sessão da tarde que procuravam unir o universo infanto-juvenil com o poder de sedução do terror. Por outro lado, vez ou outra surge algum projeto bacana que tenta trazer de volta a imagem clássica de criaturas que apavoraram gerações e sendo a Universal Pictures a produtora com o catálogo mais amplo deste tipo de personagem é sua obrigação resgatá-los do limbo. Conseguiram com sucesso ressuscitar a Múmia, gerando uma franquia milionária, mas que em seu último capítulo já demonstrou estar saturada. Se as tentativas de resgatar o mito de Drácula e seus discípulos por Francis Ford Coppola e John Carpenter, por exemplo, embora datadas da década de 1990, ainda estavam muito frescas na memória do público, o jeito era investir em um personagem relativamente menos explorado nos últimos anos. O Lobisomem, refilmagem do original de 1941 dirigido por George Waggner, foi um projeto muito aguardado, mas que deu errado desde sua concepção. As origens cinematográficas deste monstro são datadas da primeira metade do século 20. Após a famosa crise financeira de 1929 que abalou o mundo ocidental, tendo reflexos principalmente no território norte-americano, os executivos da Universal foram buscar inspiração no cinema de horror característico do Expressionismo Alemão. Produzidos após a Primeira Guerra Mundial, a ideia era apresentar no escurinho do cinema algo tão perturbador quanto a realidade para conquistar a sintonia das plateias. É desta safra os longas originais de todas as criaturas citadas no início do texto entre tantos outros personagens amedrontadores. Nascidos da literatura ou a partir das crendices populares, como é o caso do Lobisomem, tais personagens foram ganhando modificações em seus perfis ao longo dos anos tornando-se criações de uso universais, tanto que o bichano peludo já foi tema até de filme brasileiro. Contudo, a bestialidade inerente a personalidade de todos eles são características dos protagonistas dos filmes originais da citada produtora americana, tanto que eles são conhecidos como os “Monstros da Universal”. Por esse breve histórico fica um pouco difícil entender o porquê de tentarem resgatar produções do tipo, visto que hoje em dia os sádicos humanos assassinos assustam bem mais e até mesmo porque anos atrás houve uma tentativa frustrada de reunir o Lobisomem e companhia bela na aventura Van Helsing – O Caçador de Monstro. Por esses motivos e o tanto de problemas que envolveram a produção do longa dirigido por Joe Johnston, de Jurassic park 3, fica claro que a ideia deste projeto veio em momento inoportuno, embora para quem esteja alheio as fofocas de bastidores a obra até que garante certa diversão, principalmente para aqueles que apreciam um boa construção de clima e reconstituição de época. O cineasta fez questão de manter a aura gótica da obra que lhe serviu de inspiração, assim abusando dos tons escuros nos cenários, figurinos e até mesmo na fotografia e iluminação, além é claro da trilha sonora e dos efeitos de sons acompanharem o clima latente de tensão.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

UM SONHO POSSÍVEL

NOTA 7,0

Com certas passagens que soam
artificiais, longa baseado em
fatos reais tenta mostrar a
adoção de forma diferenciada
Quando um filme destaca em sua publicidade que a história que está trazendo ao público é baseada em fatos reais significa que os produtores identificaram nela algo que a faria valer a pena, geralmente emoções ligadas a lições de vida envolvendo superações e conquistas. Não é a toa que produções destacando ícones do mundo esportivo existem aos montes e são vários os exemplos de pessoas que venceram ou se reconciliaram com a vida dessa forma. O problema é que isso já está tão clichê que nenhum roteiro do tipo parece se destacar hoje em dia. Todos eles seguem as mesmas fórmulas narrativas, são previsíveis e elevam seus protagonistas a títulos de heróis servindo como uma metáfora sobre valores humanos. Todavia, assim como as comédias românticas esquemáticas tem seus fãs fervorosos, os filmes envolvendo esportes também tem e eles adoram ver mais do mesmo, mas o entusiasmo pode ser ainda maior quando grandes estrelas resolvem emprestar seus talentos a tais produções. Baseado na história verídica do jogador de futebol americano Michael Oher, Um Sonho Possível estreou nos cinemas americanos sem grandes expectativas, mas aos poucos conquistou o público oferecendo o que eles mais gostam: esporte e uma das queridinhas de Hollywood, Sandra Bullock. Provavelmente se não fosse a presença da atriz este drama estaria fadado a ter passagem relâmpago pelos cinemas ou ser lançado diretamente em DVD em muitos países, inclusive o Brasil já que o futebol americano ainda é alheio a nossa cultura. Porém, provando que a Academia de Cinema está cada vez mais atenciosa ao lado comercial da sétima arte, o longa do diretor John Lee Hancock ganhou uma publicidade extra conseguindo a proeza de figurar na famigerada lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, mas sua obra ficará marcada como a produção que deu a tão cobiçada estatueta dourada à Bullock. Dizer que esta produção foi uma das melhores de 2009 é um pouco de exagero e claro exercício de poder das produtoras de cinema e mídias sobre as premiações, mas é inegável que a atriz surpreende demonstrando talento para filmes dramáticos já que seu território seguro são as comédias. Mais contida que de costume, mas ainda assim mantendo seu carisma e sua energia positiva, os votantes das premiações (não só do Oscar) provavelmente decidiram premiá-la mais pela política da boa vizinhança afinal de contas ela não faz nada de extraordinário aqui, inclusive em certas partes até causa estranheza os seus cuidados exagerados da mãe adotiva que interpreta, mas, segundo dizem, é assim mesmo que a matriarca da vida real reagia diante das dificuldades que seu filho de coração passava.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA

NOTA 8,0

Drama retrata o difícil
período que a China viveu
com governo reacionário e
veto à elementos culturais
Quem nunca ouviu falar que a cultura pode mudar um ser humano e a longo prazo quiçá o mundo? O cinema e a literatura obviamente são dois caminhos prazerosos para isso, mas o efeito positivo da junção dessas duas manifestações artísticas pode ser ainda mais avassalador como nos prova Balzac e a Costureirinha Chinesa, um belo drama com pano de fundo histórico dirigido por Dai Sijie, um chinês radicado na França. O longa é baseado no livro homônimo do próprio cineasta, uma autobiografia retratando o final de sua adolescência quando passou por um processo de reeducação em um povoado escondido entre as montanhas. Saber criticar, opinar e ter uma ampla cultura sempre representou empecilhos aos regimes totalitários e não por acaso foram duramente reprimidos durante a maioria deles, períodos marcados pela ênfase no desenvolvimento da disciplina e tarefas que exigiam máximo esforço físico. Partindo do mesmo princípio, Hitler comandou a Alemanha dessa maneira, por exemplo, e até o Brasil viveu uma realidade parecida nos tempos da Ditadura Militar. No filme acompanhamos alguns jovens que driblam as adversidades para enriquecerem suas mentes e assim consequentemente tornando-se ameaças às regras governamentais da China comandada por Mao Tsé-Tung. Nos anos 70, Luo (Chen Kun) e Ma (Liu Ye) são dois rapazes que passam a ser apontados como inimigos do povo pelo fato de seus pais serem médicos e considerados burgueses reacionários. Estes adolescentes são presos e encaminhados a um campo de reeducação em uma vila isolada no Tibet. Mesmo sem preparo físico, eles são obrigados a realizar tarefas pesadas como camponeses e mineradores, uma forma de aprenderem o que realmente é importante nesta vida segundo ditava o governo, ou seja, o trabalho forçado e a obediência a uma hierarquia firmemente estabelecida. No campo eles apenas encontram alívio nas músicas tocadas por Ma e nas histórias narradas por Luo, embora livros e instrumentos musicais fossem proibidos e confiscados sempre que encontrados. Através da cultura, esses amigos acreditam que a mentalidade da ignorante comunidade da qual fazem parte pode ser mudada. A vida miserável de ambos ganha um sopro de esperança quando conhecem a neta do alfaiate local, uma garota conhecida simplesmente como costureirinha (Zhou Xun) por quem os dois se apaixonam, cada um a sua maneira. Ela então lhes revela um precioso tesouro: livros considerados subversivos e de autoria de pensadores como Flaubert, Tolstói, Victor Hugo e Balzac, que estão de posse de Quatro Olhos (Wang Hongwei), outro jovem que também está sendo reeducado e está prestes a retornar à cidade. O trio então decide por roubá-los para promoverem suas próprias revoluções pessoais, assim almejando a liberdade de pensamento e a tão sonhada ruptura do autoritarismo.