NOTA 4,0 Com todos os predicados para ser rotulado como trash, longa surpreende com narrativa ágil e que usa bizarrices sem pudor |
É certo que este trabalho do
diretor John Hancock, oriundo de séries de TV, está longe de ser inesquecível
ou merecer uma avaliação positiva acima do regular, mas é um trabalho curioso
que serve para matar o tempo livre e quem sabe até se tornar uma pequena
surpresa. O início é um tanto bizarro, mas é curioso que a primeira parte
parece beber na fonte do excelente Louca Obsessão, suspense dos
bons que deu o Oscar de Melhor Atriz para Kathy Bates em 1990. Nele a atriz
vive uma mulher obcecada por uma personagem de uma série de livros cujo autor
ela salva de um acidente na neve e passa a torturá-lo para que ele reescreva o
último exemplar no qual sua amiga fictícia viria a morrer. No longa de Hancock,
o roteiro de Dorothy Tristan também aproveita a ideia de um homem envolvido com
o entretenimento sofrendo um acidente na neve e sendo salvo por pessoas
estranhas, mas as irmãs Boulette extrapolam os limites da loucura. Elas
colecionam partes de corpos humanos, preferencialmente de homens, e Ann chega
até a cometer atos canibais. O diretor de animações então resolve usar sua arte
para tentar se salvar. Se no outro título citado o grande James Caan enrolava
sua algoz prometendo reescrever seu livro de acordo com as vontades dela, aqui
Kempton jura que as Boulettes servirão de inspiração para sua nova animação, o
que atiça a vaidosa Vanessa que sonhava em ser uma grande bailarina. Bem, até
cerca de trinta minutos a narrativa é digna de filmes B e os risos não podem
ser contidos, principalmente quanto a tortura psicológica imposta ao cineasta.
As irmãs exibem sem pudores fotos de outras vítimas, apresentam partes humanas
em conserva (inclusive um pênis digno de sex shop) e discutem acirradamente
sobre o modo que vão assassinar o rapaz. É muita doideira junta, mas o enredo
já dá pistas de que a perversidade destas mulheres tem fundamentos, raízes
familiares, o que serve para aguçar os curiosos que não desistem de ver um
filme até chegarem os créditos finais. E até que vale a pena seguir adiante.
Felizmente a bizarra situação
na cabana das loucas não domina a narrativa, evitando o manjado caminho de
mostrar o sequestrado se arriscando a várias tentativas limites de fugas. Kempton
consegue rapidamente sair daquele local sinistro, mas antes de voltar para casa
vive uma alucinante perseguição de snowmobile com Vanessa em sua cola munida de
um machado e completamente ensandecida. Pela introdução, seu comportamento é
digno de classificá-la como uma das maiores vilãs de todos os tempo do cinema e
o espectador também pode chegar a pensar que está diante de um dos melhores
filmes do gênero, mas é uma pena que a adrenalina e o choque positivo inicial
não se mantenham constante para preencher o restante do tempo que apresenta o
trivial, como mortes, pistas falsas ou não e mais bizarrices. O longa ganha
muito com a entrada dos personagens Clara e Sandor Hansen, mãe e filho que
vivem uma conflituosa relação, algo que faz Kempton ainda se sentir mais
instigado a decifrar as mentes e comportamentos doentios das Boulettes, já
que ele está convencido que a moça é a filha desaparecida de Vanessa. De
qualquer forma, Hancock consegue realizar um bom suspense com pinta de produção
trash, cria ganchos interessantes para prender a atenção do espectador e toca
no assunto sobre transtornos psicológicos e de personalidade, mas não se
aprofunda. Se assemelhando a um telefilme, Mutilados perde
muito ao não oferecer a violência gráfica implícita no título nacional e a
rapidez no desenrolar dos fatos não explora ao máximo o perfil das vilãs. É uma
pena que seu título genérico e sua arte de publicidade sejam tão pobres em
criatividade e até vendam errado a verdadeira essência deste trabalho que
acabou sendo jogado ao ostracismo. Quem conseguir um DVD perdido em alguma
locadora ou sebo vale a pena dar uma conferida para ver algo diferente e poder
tecer um ou outro comentário elogioso ou até mesmo para meter a boca e falar
horrores sobre ele. Este é mais um daqueles títulos que você elenca com prazer
seus diversos pontos negativos, mas no fundo quer dizer " é ruim, mas é
legal".
Suspense - 114 min - 2001
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