NOTA 8,5 Seguir tradições ou romper seguindo a trilha da novidade, eis a grande questão deste drama |
É justamente o excesso de badalação e menções a prêmios que reduz consideravelmente o brilho desta produção assinada pela dinamarquesa Lone Scherfig, do sucesso em festivais Italiano Para Principiantes. O filme é bem feitinho, interpretado por um elenco competente, com uma excelente reconstituição de época, mas se revela um pouco simplório demais. Analisando bem temos aqui mais uma variação de uma clássica história romântica que já ganhou diversas versões no cinema, no teatro e na TV. A mocinha é perfeita, educada, amável e até certo ponto ingênua. Seu pretendente é bonito, simpático, inteligente e aparentemente bem de vida em termos financeiros. Já o vilão, surpresa! Não há um vilão cruel e cheio de planos mirabolantes para atrapalhar a felicidade do casal. A vilania pode estar contida na própria dúvida da protagonista em decidir qual caminho seguir ou em seu namorado. Eis aí um contraponto interessante, estratégico ou não. Baseado nas memórias da jornalista Lynn Barder, o roteiro de Nick Hornby, que já havia trabalhado com o tema do fascínio da cultura pop em Alta Fidelidade, apresenta Jenny como um diamante que vai sendo lapidado ao longo da trama, resgatando a idéia de que somos aquilo que o meio em que vivemos nos torna. Se antes fechada dentro de casa ou da escola ela parecia um bibelô, quando entra em contato com as novidades propostas pelos agitados anos 60 ela se transforma ligeiramente. Não vemos um furacão em cena, mas sentimos que ela quer se libertar das amarras seja tomando uma bebida em um barzinho ou dando alguns passinhos tímidos ao som de rock. Já David é um personagem que tem um desenvolvimento previsível. Desde as primeiras cenas já fica no ar que suas intenções com a moça não são tão inocentes e que ele tem um segredo e não é difícil de saber qual é bem antes da revelação. Seu perfil é o do típico cafajeste da atualidade, só que com muito mais classe. Ele seduz com o que seu dinheiro pode comprar e tem na ponta da língua frases de efeito e palavras dóceis.
Fazendo jus a fama da elegância britânica, esta produção
passa longe de ser um dramalhão e tem alguns toques sutis de humor. Nem mesmo
quando chegamos ao ápice do longa, com a revelação do segredo de David,
sentimos a narrativa dar solavancos. É tudo com uma fluidez ímpar e certa
melancolia agradável. Para quem gosta de boas histórias, dificilmente não se
sentirá envolvido pelo clima nostálgico, um prato cheio para saudosistas se
divertirem com as canções selecionadas para a trilha sonora ou buscando
detalhes característicos da época nos cenários e figurinos que ajudam a
transformar a obra em mais um registro histórico e comportamental do período. É
interessante que muitas das questões tratadas no filme perduram até os dias de
hoje. A cobrança em ser o melhor no que faz, a sociedade impondo
comportamentos, a cultura direcionando caminhos alternativos, enfim, muitos
anos se passaram, muita coisa mudou, mas no fundo ainda vivemos sobre os
alicerces arcaicos sociais. O título Educação é simples e eficiente.
Apesar de nos remeter a idéia do ambiente acadêmico, ele também faz alusão ao
aprendizado que a própria vida nos oferece a cada dia e a cineasta soube
aproveitar muito bem estes dois pontos de vistas trabalhando cada um deles com
certa profundidade e se preocupando em envolver o espectador. Já que o filme
trata sobre as quebras de padrões, é curioso saber que a diretora fez parte do
movimento Dogma 95, uma manifestação a favor de filmes mais autorais e sem as
firulas costumeiras de Hollywood que acabaram se espalhando pela produção
cinematográfica de outros países. Aqui a diretora acaba negando o manifesto e
entregando uma obra convencional, porém, eficientíssima, afinal conquistou a
atenção da crítica em massa. Todavia, como dito antes, o filme é muito bom, mas
difícil de engolir menções honrosas como melhor filme do ano (de 2009) e coisas
do tipo. Dica: para quem gosta de se aprofundar nas discussões, vale a pena
assistir também O Sorriso de Monalisa para
uma análise curiosa. Ambas as produções se passam em um ambiente escolar e
sobre as dúvidas de adolescentes, porém, o longa protagonizado por Julia
Roberts se passa nos anos 50. No espaço de tempo de uma década ficam claros os
avanços que as mulheres conquistaram. Antes ensinadas a estudarem até o colegial
e incentivadas depois a se casarem e se tornarem donas de casa, alguns anos
depois suas próprias famílias apóiam a realização de uma faculdade ou curso
profissionalizante, não sendo mais uma obrigação da mulher abdicar de uma
carreira para assumir as rédeas da casa e da família por completo. Nos dois
casos fala-se sobre repressão de alguma forma e da insatisfação do ser humano
qualquer que seja o caminho que decida seguir. Vale a pena conferir os dois
longas que são datados no visual, mas na mensagem são atemporais.
Drama - 100 min - 2009
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