NOTA 6,0 Com pinta de produção americana, aventura francesa tecnicamente é ótima, mas falha ao mesclar gêneros e deixar as múmias em segundo plano |
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mais que o tempo passe infelizmente ainda o público em geral cultiva uma imagem
errada do cinema feito fora de Hollywood, rotulando automaticamente as
produções como realizações que visam exclusivamente atender aos anseios
da crítica especializada e para colecionar indicações a prêmios. Por causa
desse pensamento metódico e arcaico muitos filmes excepcionais acabam
encontrando dificuldades para chegaram ao mercado e se comunicar com o grande
público. Porém, vez ou outra produtores e diretores desafiam esses
conceitos e investem em algo que possa se assemelhar ao cinemão americano,
claro que guardadas as devidas proporções. Não chegam a arrebatar multidões e
tampouco o resultado final é excepcional, porém, a experiência é válida para
termos contato com outras culturas e maneiras de se fazer cinema. Histórias ambientadas em mundos fantásticos
ou que apresentam algum tipo de herói que possam dar origem a uma franquia
ainda são raros investimentos fora dos EUA, mas aos poucos as coisas estão
mudando e esse pode ser um caminho a ser desbravado, claro que com o apoio de
uma boa campanha de marketing. Esse poderia ser um ponto para justificar o
desconhecimento de boa parte do público da existência de As Múmias do
Faraó, aventura francesa que poderia suprir a vontade de ver algo novo
e fora do eixo Hollywood. É uma pena que aliada à falta de propaganda, a obra
em si está longe de ser um trabalho primoroso, pelo contrário, tem graves
problemas de ritmo ao não conjugar bem ação, comédia e até mesmo drama. Contudo,
surpreende quanto aos aspectos técnicos contando com ótima trilha sonora,
fotografia, figurinos e cenografia. A trama se passa no início do século 20 e
tem como protagonista Adèle Blanc-Sec (Louise Bourgoin), uma espécie de Indiana
Jones de saia e batom. Ela é uma jovem e corajosa repórter que já viveu muitas
aventuras, mas no momento quer se dedicar a uma missão pessoal. Ela decide
viajar para o Egito para encontrar a cura da doença de sua irmã Agathe (Laure
de Clermont-Tonnerre) que vive em estado vegetativo desde que sofreu um
acidente. Há indícios de que a solução estaria dentro da tumba secreta de
Patmosis, uma múmia que em vida dedicou-se à medicina, mais especificamente a
cuidar pessoalmente do lendário faraó Ramsés II.
Adèle
pretende levar a múmia para Paris e entregá-la para o professor Esperandieu
(Jack Nercessian), um especialista em história antiga que desenvolveu uma forma
de ressuscitar os mortos, mas para tanto terá que enfrentar Dieuleveult
(Mathieu Almaric), um velho desafeto que está disposto a impedir a viagem da
moça. Enquanto isso, na capital francesa, o mestre ancião continuava com seus
experimentos e conseguiu fazer um ovo dos tempos dos dinossauros chocar e dar
vida a um pterodátilo que passa a aterrorizar a cidade e parece só obedecer aos
comandos do professor como se fosse hipnotizado. Quando está longe de seu
“criador”, o animal jurássico recobra seus instintos naturais de caça para
sobrevivência. Fazendo uma crítica a hierarquia atual e comprovando que
preguiça é um problema muito antigo, o caso é levado até as autoridades do
governo francês que uma a uma o passam adiante até que o pepino chega às mãos
do inspetor Capolini (Giles Lellouch), um bonachão que podia ter evitado muitos
problemas caso fosse mais atento afinal o dinossauro saiu voando pela primeira
vez da casa do professor praticamente debaixo do nariz dele. Quando finalmente
seus neurônios conseguem ligar os pontos, o velho cientista acaba sendo
condenado à guilhotina, o que atrapalharia os planos de Adèle. Ao retornar para
Paris, a aventureira percebe que coisas estranhas estão acontecendo e o pânico
tomou conta da população, mas sua principal preocupação é barrar Capolini e
para tanto ela terá a colaboração de Andrej Zboroeski (Nicolas Giraud), um
jovem inteligente, mas pouco confiante e que mal consegue pronunciar o próprio
nome, assim coleciona tentativas frustradas de conquistá-la. Apesar do título,
está claro que esse não é um filme convencional de múmia, aliás, elas quase
fazem figuração tendo participação ativa somente nos minutos finais, o que pode
ser decepcionante para os fãs de aventuras no deserto. Por outro lado, o visual
desenvolvido para essas criaturas milenares é algo único, criações que dá
vontade de assistir com opção de câmera lenta só para observá-las mais
detalhadamente. Talvez nunca a sétima arte as tenha apresentado dessa maneira,
contudo, seus movimentos rígidos podem causar estranhamento pelo fato do
público ter se acostumado com a agilidade dos mortos-vivos da franquia A Múmia. Já o tal pterodátilo não é uma
criatura para receber elogios, principalmente quando é apresentado muito de
perto, totalmente falso. De qualquer forma, o destaque mesmo é dado à heroína
feminina já que as garotas nas aventuras geralmente são retratadas apenas como
o interesse romântico dos mocinhos, aquela figura necessária para sofrer nas
mãos dos vilões e levar as histórias ao clímax.
Baseado
em "Les Aventures Extraordinaires d'Adèle Blanc-Sec", de Jacques
Tardi, estes quadrinhos franco-belgas são desconhecidos no Brasil e consequentemente
o longa-metragem tem dificuldades para achar seu público, embora tenha na
bagagem uma passagem de sucesso pelos cinemas franceses e ter sido exibido no
Festival de Cannes. Talvez para rivalizar com as aventuras protagonizadas pelos
famosos heróis Asterix e Obelix (detentores de uma filmografia em desenho
animado e também em live-action), as histórias de Adèle surgiram inicialmente
como tiras em jornais e no início ela era uma escritora de ficção que depois
passou a se dedicar ao jornalismo investigativo. Sempre com olhar crítico e
abordagens interessantes, foram nove livros publicados entre 1976 e 2007
contando as aventuras dessa aventureira que ganhou sua versão cinematográfica
graças a Luc Besson, cineasta, roteirista e produtor que alterna projetos
ambiciosos hollywoodianos, como O Quinto Elemento, com produções
menores em sua terra natal, como o cult Subway.
Na realidade faz tempo que ele deve estar obcecado pelo comum comentário “nem
parece um filme francês” e tem apostado cada vez mais em produções em estilo
americano de olho no faturamento. Infelizmente, As Múmias do Faraó não
corresponderam às expectativas. Os primeiros minutos trazem um arsenal de
informações que podem confundir assim como o excesso de personagens, embora
exista uma narração para auxiliar o espectador. Conforme a narrativa avança as
coisas vão sendo colocadas em seus devidos lugares e conseguimos nos situar
melhor no enredo. O problema é a falta de unidade da obra. A aventura e o
suspense brigam por espaço com o humor que parece sobressair (comédia à moda
francesa fique claro) e o diretor comete um grave deslize a certa altura ao
colocar a protagonista em uma cena relaxando em uma banheira com os seios a
mostra por consideráveis minutos. Não era um filme-família? De qualquer forma,
a narrativa não é de todo ruim, é pontuada de bons momentos como a sequência de
fuga de Adèle do Egito, algumas piadas envolvendo Zboroeski e o passeio
das múmias por Paris admirando a paisagem e até sugerindo um detalhe
arquitetônico que se tornaria característico do prédio do Museu do Louvre. A
irônica cena final dá um excelente gancho para uma paródia de um dos maiores
sucessos do cinema de todos os tempos, Titanic,
mas os anos passam e uma nova chance para Adèle na frente das câmeras parece cada
vez mais distante.
Aventura - 107 min - 2010 - Dê sua opinião abaixo.
Infelizmente, eu não conheço essa obra, mas acredito que deva ser interessante. Honestamente, gosto de filmes franceses, mas não acho que já tenha visto um filme de ação ou aventura produzido por esse país, o que é uma pena! O seu texto mostra um filme que, apesar de parcialmente deficiente, vale a pena ser conferido.
ResponderExcluirGostaria de sugerir um blog do qual faço parte para que você visse, chama "Um Oscar por Mês" - título quase autoexplicativo:
http://umoscarpormes.blogspot.com/
Espero que o confira, será legal ouvir sua opinião lá.