NOTA 8,5 Filme menos conhecido dos cultuados irmãos Coen diverte e leva à reflexão com história edificante sobre sonhador traído por sua ingenuidade |
O protagonista da história é Norville Barnes (Tim Robbins),
um jovem ingênuo e sonhador que chega a Nova York da década de 1940 com uma ideia
na cabeça, mas que entusiasmado com a possibilidade de colocá-la em prática acaba
se envolvendo em uma trama de corrupção de uma grande corporação.
Inesperadamente o presidente das Indústrias Hudsuker, o senhor Waring (Charles
Durning), comete suicídio. Seu lugar deveria ser ocupado por Sidney Mussburger
(Paul Newman) que está preocupado com uma cláusula do estatuto da companhia que
prevê que o novo presidente deve colocar em oferta pública as ações do
fundador. O maquiavélico executivo arma então um plano para convencer o mercado
de que a empresa está a beira da falência, o que faria com que as ações
tivessem seus valores rebaixados. Sem compradores, os atuais acionistas então
poderiam aumentar suas participações na empresa adquirindo ações a preço de
banana. Para tanto, seria necessário uma pessoa despreparada para assumir o
comando de tudo e eis que Barnes surge na hora e lugar errado. Ele está lá só para
entregar uma correspondência, mas acaba criando algumas confusões e invertendo
o jogo graças a sua invenção: um novo brinquedo. Barnes mostra a todos os
interessados simplesmente um círculo desenhado em um papel e ninguém compreende
sua brilhante ideia. Mesmo assim, Mussburger o encoraja a levar o projeto
adiante e o sonho vira realidade. Assim nasce o bambolê, um popular brinquedo
do século 20 que durante décadas fez a alegria de muitas crianças. Crente que o
produto seria um fracasso, o ganancioso executivo cai do cavalo. O rapaz
sonhador consegue salvar a imagem da empresa, porém, nesse processo de fazer
fortuna rapidamente acaba se corrompendo, o que explica o trocadilho contido no
título. Quem observa tudo de perto e desconfia que existam coisas erradas nessa
indústria é a ambiciosa repórter Amy Archer (Jennifer Jason Leigh), com quem o
mais novo homem bem sucedido do pedaço está se relacionando. Para completar,
através de uma narrativa ágil e cheia de humor e cinismo, o narrador passa ao
espectador detalhes a respeito da trama que o protagonista nem desconfia, como
se fosse um observador onipresente.
Mesmo com orçamento apertado, mas com muita criatividade e
talento em jogo, o time responsável pelo visual do filme faz uma recriação de
época com muita perfeição, desde os cortes de cabelos e figurinos até os
pequenos detalhes dos cenários, porém, com certos toques diferenciados. A
mistura do nostálgico com o onírico ajuda a trazer humor e agilidade ao texto
que, como manda a tradição dos Coen, é conduzido através de personagens com
características marcantes e que flertam entre o realismo e a caricatura como a
repórter Amy, uma mulher que praticamente não tem vida pessoal, vive para o trabalho,
mas é responsável por passagens muito engraçadas graças ao seu estilo de
disparar frases como uma metralhadora. Já o personagem sonhador de Robbins é de
fácil identificação, pelo menos inicialmente quando seus sonhos não são movidos
a dinheiro e sim por ideais. O grande tema de A Roda da Fortuna acaba sendo
desenvolvido a partir da chegada de Barnes ao topo da empresa, unidade que
ficou a cargo da direção de Raimi. É nela que fica explícita a homenagem a
Frank Capra, fora a abertura em que a câmera passeia por uma Nova York bela e
adornada pela neve. A redenção das pessoas que foram com o passar dos anos
perdendo os valores básicos sobre os quais a sociedade deveria se sustentar é
encarnada na figura do protagonista que de um dia para o outro vê sua vida
pacata se transformar. Sua cidade-natal, Muncie, pode ser interpretada como um
modelo de mantenedora dos valores éticos discutidos enquanto a cidade grande é
apresentada como a vilã que trata de destruir esses ensinamentos. Pode parecer
que o roteiro é complexo demais, mas a história é contada de forma deliciosa e
a mistura de características variadas das décadas de 1920 até 1950 completam o
espetáculo. Premiada pela Associação dos Críticos de Londres e selecionada para
concorrer a Palma de Ouro no Festival de Cannes, esta é uma obra que
inexplicavelmente está fora do alcance dos consumidores. Mesmo com toda a
projeção dos Coen, ainda existem distribuidoras e estúdios que não tem visão e
passam batido pela oportunidade de lucrar.
Drama - 111 min - 1994
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