NOTA 7,0 Enfocando mais o protagonista masculino e dando ênfase ao seu amadurecimento forçado, longa oferece certo conteúdo reflexivo |
Devido a uma confusão, Mars acaba
desperdiçando o sêmen original e fora de si tem a brilhante ideia de se divertir
com certa revistinha para repor o conteúdo do vasilhame de doação. Sem querer,
o fruto desta gravidez induzida carregará os genes de um cara bem apessoado e
inteligente, mas cheio de manias e hipocondríaco. Contudo, Kassie ficou anos
sem saber desta troca, embora sinais de alerta não faltassem para ela ver que
seu filhinho tinha muitos pontos em comum com seu grande amigo, tanto que o
próprio logo ficou com a pulga atrás da orelha quando o conheceu. Enquanto Mars
especula a possibilidade de ser o pai, a amiga só tem olhos para o atlético e
bonitão Roland que se esforça para criar laços afetivos com Sebastian apoiando-se
em truques manjados para tentar transformar o filho em sua imagem. Bem
colocada, por exemplo, a frustração do garoto ao ter sua festa de aniversário
decorada e animada por temática esportiva parecendo mais que o pai estava
tentando matar uma vontade de sua própria infância tamanha sua alegria no
evento. Se tem mãe que é cega, Kassie é um ótimo exemplo disso. Enquanto não
fica sabendo da verdade com todas as letras e em alto e bom som, ela
simplesmente vê com bons olhos a aproximação do filho com Mars, afinal o menino
sempre foi de poucos amigos. A confiança é tanta, e a alienação para não
perceber a paixão latente do rapaz idem, que ela chega a deixar Sebastian uns
dias com seu amigo enquanto vai fazer uma viagem romântica com o pai/marido
escolhido a dedo. Apesar de sabermos como tudo vai acabar, só pela cena de
abertura já podemos dar um crédito de confiança ao longa por conta do ritmo
acelerado em que é apresentada a correria da rotina nova-iorquina, o que já faz
um link com o mote principal do roteiro, a opção cada vez mais comum das
pessoas constituírem família em uma fase de mais maturidade impulsionadas pela
certeza de um padrão financeiro mais estável conquistado com muito trabalho. Baseado
em uma crônica do escritor Jeffrey Eugenides, autor do livro que originou o
filme As Virgens Suicidas, o roteiro
de Allan Loeb, de Coisas que Perdemos
Pelo Caminho, alinhava de forma acima da média situações comuns ao gênero
das comédias românticas com conflitos atuais e típicos das grandes metrópoles,
principalmente a discussão sobre as famílias disfuncionais, no caso, Kassie que
as vezes parece ostentar o filho como um troféu que coroa sua condição de
mulher bem sucedida e o próprio garoto cheio de problemas típicos de quem
cresceu cheio de mimos e sem uma figura paterna para se inspirar. Nessas e
outras, Roland, apesar do entusiasmo em ter um filho para sanar possíveis
frustrações e tentando reconstruir sua vida após um divórcio, acaba sendo o
tipo mais estereotipado da trama (não levando em consideração os coadjuvantes
vividos por Jeff Goldblum e Juliette Lewis que em nada agregam à proposta) e
fica sem função quando a questão do romance perde fôlego para o drama familiar.
É justamente a busca por um modelo a se espelhar que rende uma avaliação mais generosa a esta produção. Graças a ajuda para ensinar Sebastian a enfrentar os garotos que o provocam, embora com desfecho frustrante para o menino, ou a hilariante sequência para livrá-lo da praga dos piolhos, Bateman acaba invertendo o jogo e tornando-se o protagonista do filme no papel de um homem totalmente convencido de que é o pai biológico, mas prefere manter isso em segredo para não azedar sua relação com a mulher que ama e tampouco confundir ainda mais a cabeça do filho que para todos os efeitos já tem alguém oficialmente para chamar de pai. O ator, geralmente associado a comédias, tem o perfil exato para viver um homem comum e, mais ainda, um ar inocente que acaba imprimindo uma coincidência entre seus personagens: o cara de meia idade que ainda guarda muitos resquícios da infância e carece de amadurecimento que obviamente é adquirido na marra. Da comédia inicial ao perfil ligeiramente mais dramático da reta final, Bateman rouba a cena e Aniston sábia e generosamente se contenta e dá o melhor de si para uma personagem que acaba ficando em segundo plano, embora sua reação ao saber de toda presepada da troca de sêmen contrarie as expectativas de quem esperava um salseiro típico de humor pastelão. A dupla brilha nesta cena-clímax e reforça a ideia que Coincidências do Amor tem um quê a mais e merece ser lembrada em meio a tantas comédias românticas semelhantes. Os diretores Will Speck e Josh Gordon, do anárquico Escorregando Para a Glória, surpreendem ao equilibrarem humor popular e drama leve, além de provarem eficiência na direção de atores. É perceptível a transformação de Mars do marmanjo imaturo ao homem disposto a assumir responsabilidades e conta muito para tanto os chavões de aproximação com seu filho, incluindo a sempre emotiva cena da hora de dormir quando as crianças costumam revelar sentimentos melancólicos e fazer os adultos ficarem com olhos marejados. Não há como não se afeiçoar ao protagonista, mesmo neurótico um tanto carismático, diga-se de passagem, Sebastian é sua cópia cuspida e escarrada o que justifica a relação pai e filho tomar o lugar de importância do enredo. A obra, em suma, é mais uma a ser somada na lista de recentes produções que focam as famílias modernas, como Plano B e Minhas Mães e Meu Pai, porém, é outra a não aprofundar questões sobre a validade de literalmente programar o nascimento de uma criança, incluindo definições de tipo físico e até projeções quanto ao seu intelecto. Ficamos a espera de um bom filme a respeito.
É justamente a busca por um modelo a se espelhar que rende uma avaliação mais generosa a esta produção. Graças a ajuda para ensinar Sebastian a enfrentar os garotos que o provocam, embora com desfecho frustrante para o menino, ou a hilariante sequência para livrá-lo da praga dos piolhos, Bateman acaba invertendo o jogo e tornando-se o protagonista do filme no papel de um homem totalmente convencido de que é o pai biológico, mas prefere manter isso em segredo para não azedar sua relação com a mulher que ama e tampouco confundir ainda mais a cabeça do filho que para todos os efeitos já tem alguém oficialmente para chamar de pai. O ator, geralmente associado a comédias, tem o perfil exato para viver um homem comum e, mais ainda, um ar inocente que acaba imprimindo uma coincidência entre seus personagens: o cara de meia idade que ainda guarda muitos resquícios da infância e carece de amadurecimento que obviamente é adquirido na marra. Da comédia inicial ao perfil ligeiramente mais dramático da reta final, Bateman rouba a cena e Aniston sábia e generosamente se contenta e dá o melhor de si para uma personagem que acaba ficando em segundo plano, embora sua reação ao saber de toda presepada da troca de sêmen contrarie as expectativas de quem esperava um salseiro típico de humor pastelão. A dupla brilha nesta cena-clímax e reforça a ideia que Coincidências do Amor tem um quê a mais e merece ser lembrada em meio a tantas comédias românticas semelhantes. Os diretores Will Speck e Josh Gordon, do anárquico Escorregando Para a Glória, surpreendem ao equilibrarem humor popular e drama leve, além de provarem eficiência na direção de atores. É perceptível a transformação de Mars do marmanjo imaturo ao homem disposto a assumir responsabilidades e conta muito para tanto os chavões de aproximação com seu filho, incluindo a sempre emotiva cena da hora de dormir quando as crianças costumam revelar sentimentos melancólicos e fazer os adultos ficarem com olhos marejados. Não há como não se afeiçoar ao protagonista, mesmo neurótico um tanto carismático, diga-se de passagem, Sebastian é sua cópia cuspida e escarrada o que justifica a relação pai e filho tomar o lugar de importância do enredo. A obra, em suma, é mais uma a ser somada na lista de recentes produções que focam as famílias modernas, como Plano B e Minhas Mães e Meu Pai, porém, é outra a não aprofundar questões sobre a validade de literalmente programar o nascimento de uma criança, incluindo definições de tipo físico e até projeções quanto ao seu intelecto. Ficamos a espera de um bom filme a respeito.
Comédia romântica - 101 min - 2009
Oi Guilherme!
ResponderExcluirPrimeiramente quero agradecer á sua visita em meu bog, espero contar com ela mais vezes
Sobre o filme mencionado aí em cima o que me interessou foi a resença de Jeff Godblum..há muito tempo que nãoo via o eterno "Ian Malcom" no cinema =)
www.empadinhafrta.blogspot.com
E aí Guilherme,
ResponderExcluirRealmente gostaria de ver a Jennifer fazer outros tipos de filme mais vezes, um drama ou uma aventura, sei lá. Ela tá ficando com a cara desse tipo de comédia, assim como Deborah Secco deveria parar um pouco de fazer papel tipo "Bruna Surfistinha".
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http://algunsfilmes.blogspot.com