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sábado, 30 de dezembro de 2017

MINHA TERRA, MINHA VIDA

Nota 8,0 Embora envelhecido, longa ainda traz uma contundente crítica ao sistema capitalista

Contemporâneo à sua época, o longínquo ano de 1984, Minha Terra, Minha Vida ganhou ares de nostalgia e assumiu o caráter de um registro histórico de um difícil período vivido pelas famílias rurais norte-americanas em tempos de crise econômica, provavelmente um retrato muito próximo a situações vivenciadas em tantos outros países por pessoas cujas sobrevivências também dependiam dos rendimentos de suas plantações e criações. O casal Jewell (Jessica Lange) e Gil Ivy (Sam Shepard) administra uma pequena fazenda que já garantiu o sustento de muitas gerações da família dela e eles pretendem dar continuidade ao legado que será deixado por Otis (Wilford Brimley) que vive com eles e acompanha com tristeza a má fase vivida pela economia rural. Eles trabalham incansavelmente com o reforço do filho mais velho Carlisle (Levi L. Knebel), mas as condições climáticas não iriam garantir uma boa colheita naquele ano. Um inesperado tornado causa um grande prejuízo ao clã que contava com as vendas da safra para quitar suas dívidas com um órgão do governo cuja missão seria incentivar os esforços agrícolas por meios de empréstimos facilitados, contudo, justamente nesse momento difícil, passaram a exigir os pagamentos a prazos apertados e sob rígidas regras, caso contrário os bens dos beneficiários seriam penhorados, incluindo suas próprias fazendas. O mesmo drama é vivido por vizinhos dos Ivy, como Arlon Brewer (Jim Haynie) que chega a pedir emprestada as terras deles durante a entressafra para poder dar continuidade a sua criação de ovelhas que, invariavelmente, mais cedo ou mais tarde também são apreendidas como forma de pagamento de suas dívidas. Toda essa tensão acaba refletindo não só nas finanças dessas pessoas, mas também em seus lados emocionais e psicológicos. Com mais duas filhas para criar, a pequena Marlene (Theresa Graham) e a bebê Missy (as gêmeas Stephanie e Stacy Poyner revezando-se), Gil acaba entregando-se ao vício da bebida e tornado-se agressivo, entrando em constantes atritos com o filho adolescente e com a esposa, esta que assume a posição de ativista dedicando-se a lutar pelos direitos dos agricultores incentivando outros membros do setor a não baixarem suas cabeças e lutar contra os abusos do capitalismo selvagem.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

ENQUANTO VOCÊ DORMIA

NOTA 8,0

Longa que ajudou Sandra Bullock
a se tornar símbolo de comédia
romântica mantém seu frescor,
doçura e simplicidade intactos
Pode ser coincidência ou não. Quando Sandra Bullock se livrou do ônibus desgovernado de Velocidade Máxima, filme que alavancou sua carreira, não demorou muito e um outro meio de transporte viria a cruzar seu caminho, só que desta vez de forma mais leve, sem tanta adrenalina. Na comédia romântica Enquanto Você Dormia ela interpreta Lucy Moderatz, uma solitária funcionário do metrô de Chicago que fantasia uma possível relação amorosa com um passageiro que diariamente e no mesmo horário passa por lá, todavia, eles nunca trocaram uma palavra sequer. Ele é Peter Callaghan (Peter Gallagher), um jovem bem-sucedido que na véspera de Natal finalmente cumprimenta a moça ao comprar seu bilhete, mas poucos minutos depois acaba sendo abordado por um grupo de criminosos, se desequilibra e cai nos trilhos do metrô. Lucy imediatamente o socorre e o acompanha até o hospital onde, em um de seus devaneios, deixa escapar na frente dos familiares do rapaz que está em coma seu desejo de se casar com ele. A partir de então ela passa a ser considerada a noiva que ele tanto falava, mas jamais havia apresentado, o que traz certo conforto à família neste momento difícil. Assim Lucy assume tal papel e ganha a chance única de poder transformar seu amor platônico em algo real e de quebra ser acolhida pelos parentes do acidentado suprindo sua solidão. A farsa ia de vento em popa mesmo quando Peter recobra a consciência e ela o faz acreditar que está sofrendo de amnésia e por isso não a reconhece, mas as coisas saem do controle quando ela conhece Jack (Bill Pullman), o irmão mais velho de seu noivo, por sinal bem mais divertido e agradável que o esnobe caçula. Lucy se apaixona de imediato e tem seu sentimento plenamente correspondido, mas como viver esse amor sem machucar os demais membros do clã dos Callaghan, inclusive o próprio noivo supostamente desmemoriado?

domingo, 24 de dezembro de 2017

KRAMPUS - O TERROR DO NATAL

Nota 7,0 Apesar do título, longa não assusta, mas prende atenção com seu exercício de estilo

Natal é época de reunir a família, trocar presentes e plantar a discórdia. É isso mesmo! Todos sabemos que desavenças fazem parte das relações entre parentes o ano todo, mas parece que o estresse causado pelos preparativos dos festejos de fim de ano acentuam os problemas e quando todos estão reunidos fica difícil manter a pose e as desavenças vem a tona. O resultado é que cada vez mais o espírito natalino está em decadência e Krampus - O Terror do Natal tira proveito disso. O casal Sarah (Toni Collette) e Tom Engel (Adam Scott), embora esteja passando por uma crise, recebe alguns parentes para passarem o Natal juntos, todavia, Max (Emjay Anthony), o filho caçula, se desilude com as tantas alfinetadas entre os parentes e o desrespeito com os símbolos natalinos. Seus tios Linda (Allison Tolman) e Howard (David Koechner), acompanhados de nada menos que quatro filhos, só ajudam a aumentar a tensão com seus comentários desagradáveis e fora de hora. Já a tia Dorothy (Conchata Farrell) ferve o sangue de qualquer um com seu jeito inconveniente de ser e agir enquanto a calada vovó Omi (Krista Stadler) parece a mais sensata de todos, mas a maior parte do tempo parece alheia ao que acontece à sua volta. Irritado, o menino acaba rasgando a cartinha que havia escrito para o Papai Noel pedindo que os festejos voltassem a ser agradáveis como antigamente e jogando os pedaços para o céu deixando explícita sua ira e decepção. Seu pessimismo, no entanto, acaba despertando uma força demoníaca materializada na forma do Krampus, uma criatura que representa o espírito maligno que ataca as pessoas desacreditadas no Natal. Como a sombra do bom velhinho, ele não vem para presentear e sim para punir e sua primeira vítima é Beth (Stephanie LaVie Owen), a irmã mais velha de Max, que preocupada que o namorado não atende o telefone decide enfrentar uma forte nevasca para ir à sua casa e desaparece misteriosamente, assim como parece ter acontecido com toda a vizinhança.

sábado, 23 de dezembro de 2017

ENQUANTO ELA ESTÁ FORA

Nota 4,0 Suspense poderia ir além, mas opta pelo caminho seguro dos sustos e perseguições

Fim de ano é época de alegrias, energias positivas, renovação, bons sentimentos e ... loucos à solta! É isso que vai descobrir a protagonista do suspense Enquanto Ela Está Fora. É véspera de Natal quando a apática dona de casa Della (Kim Basinger) resolve fazer umas últimas comprinhas. Na realidade ela só queria ter uma desculpa para ficar longe do marido Kenneth (Craig Sheffer), um grosseirão que a despreza e maltrata. Antes tivesse escolhido ficar em casa. Quando busca uma vaga para estacionar no shopping na tarde chuvosa e fria (a ambientação é um ponto alto da fita), ela fica furiosa ao perceber que duas delas estavam sendo ocupadas por um mesmo veículo de forma proposital e resolve deixar um recado no para-brisas do mesmo alertando o motorista sobre a atitude egoísta. Todos sabem que não se deve mexer com estranhos, assim já dá para imaginar o que vai acontecer, mas antes do suspense engrenar o início do filme é bem chatinho. Da dúvida entre tomar uma bebida quente ou comer um cookie, passando pela desistência da compra de uma camisola até o encontro com uma antiga amiga da faculdade que parece levar uma vida plenamente feliz, os primeiros minutos da fita são dedicados a mostrar a passividade de Della, uma mulher incapaz de tomar simples decisões. Quando impulsivamente resolve ter alguma atitude diante de um problema acaba não medindo as consequências e se mete em uma grande encrenca. Ao voltar ao estacionamento ela é surpreendida por quatro rapazes que a ameaçam. Um segurança tenta intervir, mas é assassinado pelo grupo e na confusão Della consegue entrar em seu carro e fugir, começando assim uma intensa perseguição cujo longo e intenso clímax se dá em uma densa e escura floresta.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

NOTA 8,0

Embora suavize o quanto pode as
feridas do nazismo, drama consegue
emocionar e divertir de forma equilibrada
e conta com elenco afiado e cativante
O nazismo é uma das temáticas de época mais exploradas pelo cinema. A intensa e controversa ditadura do alemão Adolf Hitler já rendeu diversos filmes, cada qual abordando um viés diferente seja por meio de um acontecimento específico, consequências de algum fato ou a maneira como um grupo de pessoas ou até mesmo um único indivíduo vivenciou tal período. Baseado no best-seller de Markus Zusak, em A Menina Que Roubava Livros temos um modesto retrato da época pelos olhos da esperta e sensível Liesel Meminger (Sophie Nélisse), ou melhor, a história da garota está inerentemente atrelada às atrocidades do regime alemão e curiosamente nos é contada por ninguém menos que a própria Morte (que se faz presente pela voz soturna de Roger Allam no original). Sim, o espectro que tantas boas almas levou por conta da guerra se interessou pela menina quando veio buscar seu irmão mais novo durante a viagem que faziam rumo a um subúrbio da Alemanha para serem adotados por uma nova família depois que a mãe fora acusada e perseguida por comunismo. A popularmente chamada de "ceifadora de almas" poupou a jovem certamente por ter sua curiosidade aguçada já que ela surrupia durante o sepultamento do irmão um livro que o coveiro deixou cair, uma espécie de manual para rituais funerários. Por que uma criança se interessaria por tal leitura? A Morte então passa a acompanhar a trajetória de Liesel desde sua chegada à rua Paraíso, de fato um local que parece transpirar tranquilidade, mas seus moradores apenam tentam levar uma rotina normal, no fundo vivem em constante clima de tensão já que nunca se sabe quando haverá uma batida policial ou uma bomba pode ser lançada por lá. Em troca de dinheiro um casal de meia-idade, adoradores do nazismo apenas de fachada, aceita dar asilo à Liesel que curiosamente aos dez anos de idade ainda era analfabeta, porém, demonstrava uma enorme vontade de saborear a descoberta das palavras. Essa é a deixa para que Hans Hubermann (Geoffrey Rush), seu afetuoso pai adotivo, possa estreitar laços com ela ensinando-a a ler e a escrever.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

LADO A LADO

NOTA 9,0

Com dois papéis femininos de
peso, drama sobre tolerância,
amizade e relações familiares
é uma opção excelente até hoje
Já faz algum tempo que as sociedades de todos os países em geral estão sofrendo reformulações. O conceito da família unida e feliz hoje em dia já não é mais uma unanimidade. Embora muitos núcleos familiares em ruínas ainda prefiram viver uma felicidade de fachada, outros clãs preferem assumir a separação. Ou melhor, os pais decidem pela ruptura quando os desentendimentos começam a ser mais constantes que os momentos de alegria, mas os filhos são um elo para sempre entre eles. O pai e a mãe têm o direito de tocarem suas vidas como bem entenderem, podendo manter relações cordiais ou não, mas e se caso eles encontrem um novo amor? Tal pessoa deve ser incorporada como um novo membro da família? Muitos anos já se passaram desde o lançamento de Lado a Lado, mas ele ainda continua um bom exemplo de filme para colocar em discussão tais relações. Perdoar e compreender o outro são algumas das mais importantes e difíceis tarefas que o ser humano tem e uns dos temas mais comentados talvez desde os primórdios das civilizações, o que implica intimamente no aprendizado de conviver com seus semelhantes em harmonia. São justamente esses itens que conduzem a narrativa escrita por Ron Bass que soube lapidá-los e escrever um texto que equilibra com perfeição situações dramáticas e outras de humor sutil protagonizadas por mulheres que irradiam veracidade, um convite e tanto para unir duas grandes estrelas de Hollywood. A trama gira em torno da rivalidade existente entre Jackie (Susan Sarandon) e Isabel (Julia Roberts). A primeira é a ex-esposa de Luke (Ed Harris), com quem teve dois filhos, Anna (Jena Malone) e Ben (Liam Aiken). Já a segunda é a atual namorada deste chefe de família que se encontra em uma complicada situação. Mantém uma relação amigável com a antiga mulher, mas esta não tolera a sua nova companheira e não perde a chance de criticá-la e envenenar a relação. O filho caçula até aceita a nova união do pai, mas sua irmã é uma adolescente que se revolta, pois ainda deseja a reconciliação dos pais. Luke por sua vez tenta de tudo para que sua namorada seja aceita por todos. Entre discussões e fofocas, a trégua entre Jackie e Isabel acaba por acontecer de uma maneira inesperada. A mãe das crianças revela que está com um grave câncer e agora precisa aceitar o fato que sua então inimiga mais cedo ou mais tarde tomará conta de seus filhos. Só que até as duas entrarem em um acordo muita coisa pode acontecer.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

AS AVENTURAS DE BOBBY

NOTA 7,0

Apesar do título e inocência do
enredo, longa é baseado em uma
tocante história real e propõe
reflexões e fatos históricos
Um cachorrinho meigo e um garotinho estampam a capa do DVD cujo título é o sugestivo As Aventuras de Bobby. Eis aí mais um típico filme para divertir a criançada e dar um pouco de sossego aos adultos enquanto elas estão entretidas. Bem, na realidade ta aí um produto que vem para desmitificar preconceitos. Sem falar uma palavra sequer, felizmente, o cãozinho é a arma para fisgar o público infantil, porém, a essência da história pode ser tediosa aos pequenos, principalmente por não ter muito humor ou aventura. A base do roteiro de Richard Mathews e Neville Watchurst traz certos pontos mais comuns ao universo dos adultos, tais como poder e dinheiro, mas por outro lado o filme pode ser inocente demais para o público mais velho, ainda que traga mensagens universais como fidelidade e solidariedade. De qualquer forma, o diretor John Henderson, também co-roteirista, consegue equilibrar de maneira satisfatória elementos que conjugam bem com estes dois universos distintos, resultando em um agradável filme-família. Logo no início acompanhamos o cachorrinho Bobby salvando seu dono, o vigia noturno John Gray (Thomas Lockyer), do ataque de um touro e sendo aplaudido pelos populares que elogiam a coragem e a força de um bichinho tão pequeno e aparentemente frágil. Ele é o xodó também de Ewan Adams (Oliver Golding), garotinho que, embora muito inteligente, está desperdiçando sua infância trabalhando no moinho do arrogante Sr. Duncan Smithie (Sean Pertwee), um empresário mau caráter que quer lucrar explorando seus funcionários com jornadas e condições de trabalho proibitivas. Gray gostaria muito de ajudar o menino a mudar os rumos de sua vida, assim como o Reverendo Lee (Greg Wise) que há tempos tenta com seus sermões mudar os pensamentos provincianos da população de Edimburgo, na Escócia, também conhecida como a Cidade Velha. Gray estava com a saúde debilitada e veio a falecer antes de ver qualquer tipo de mudança, mas conseguiu ter tempo para dar à Ewan um livro sobre homens que ajudaram a mudar a História do mundo, um incentivo para o menino procurar fazer o que ele não conseguiu. Bobby sentiu muito a perda do dono e diariamente, inclusive a noite, fugia para o cemitério e permanecia próximo ao túmulo. James Brown (James Cosmo), o zelador do local que se encontra nas terras da igreja, bem que tentava afastá-lo seguindo as normas de que animais eram proibidos, mas o cãozinho sempre voltava.

domingo, 17 de dezembro de 2017

DUPLEX

Nota 9,0 Humor negro e piadas escrachadas pontuam comédia em que veterana dá um show

Quem não tem ao menos uma história engraçada ou irritante envolvendo um velhinho sem noção ou literalmente pentelho que atire a primeira pedra. É fato que conforme a idade avança o idoso acaba perdendo um nível considerável de sua capacidade intelectual e bom senso, mas alguns representantes dessa faixa etária muito bem de saúde acabam se aproveitando da generalizada condição para se dar bem e tirar o melhor proveito da situação. É mais ou menos nisso que provavelmente pensou Danny DeVito ao aceitar dirigir Duplex extraindo o máximo de humor de situações anárquicas do início ao fim. A direção não poderia ser de outra pessoa que não uma experiente no campo do humor. Aos politicamente corretos, que fique claro que a índole da personagem idosa do filme não deve ser encarada como uma ofensa as pessoas acima dos 60 anos, até porque no final existe uma justificativa hilária para seu comportamento no ágil e eficiente roteiro de Larry Doyle. Quem é ela? A senhora Connelly (Eileen Essel) é a inquilina de Alex Rose (Ben Stiller) e Nancy Kendricks (Drew Barrymore), um jovem casal que tinha um sonho de consumo: ter um belo duplex no famoso bairro do Brooklyn, na cidade de Nova York. Quando eles enfim encontram o apartamento dos seus sonhos, precisam enfrentar um problema que pouco a pouco torna-se um perturbador pesadelo. A antiga e simpática moradora do segundo andar se recusa a deixar o local e pelas leis do inquilinato americano ela não pode ser despejada. O casal tenta viver pacificamente com a vizinha, mas a senhora apronta tudo que pode e mais um pouco para deixá-los irritados 24 horas por dia literalmente. Até mesmo quando eles tentam dormir a velhinha está com todo pique para aprontar algo. Assim, o casal passa a perceber o real preço de seus sonhos, mesmo com o acréscimo do dinheiro do aluguel que recebem dela. No limite da situação, para conseguirem finalmente o imóvel só para eles, Alex e Nancy começam a planejar várias tentativas de tirá-la do local e pensam até mesmo em matar a aparente doce velhinha.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

LONGE DELA

NOTA 9,0

Atriz estréia na direção e
assina roteiro de drama
com tema difícil, mas de
leve digestão neste caso
Um casal que consegue manter ao menos o carinho e o respeito desde a juventude até a velhice é algo digno de admiração em tempos em que a instituição do casamento já não é levada mais a sério e muitos compromissos são desfeitos até mesmo na hora de dizer o tão esperado sim diante das famílias e amigos. Infelizmente os relacionamentos duradouros uma hora precisam ser encerrados e nesses casos é a própria vida que se encarrega de cortar os laços. É nessa ruptura que está a força dramática de Longe Dela, elogiado trabalho de estréia como diretora da atriz canadense Sarah Polley que também assina o roteiro. Ela não tem nenhum grande sucesso de público em seu currículo, sendo mais conhecida por sua atuação no terror Madrugada dos Mortos, porém, ela já participou de bons títulos independentes e foi dirigida por cineastas de renome, acumulando assim experiências diferenciadas sobre o ato de filmar, preferindo muito mais destacar uma troca de olhares sinceros a um texto rebuscado que poderia não exprimir tudo o que ela gostaria de dizer. É seguindo esse método que Sarah conseguiu cativar a crítica que certamente colaborou para que seu primeiro trabalho atrás das câmeras viesse a participar de festivais e premiações, chegando a festa do Oscar concorrendo nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz para a veterana Julie Christie que também conquistou merecidamente o Globo de Ouro de atriz dramática pelo papel de Fiona Anderson, uma senhora que vive um casamento feliz há mais de quatro décadas com Grant (Gordon Pinsent), responsável pela visão que temos dos fatos que levou este casal a se afastar. Suas vidas tranquilas são drasticamente alteradas quando sua esposa passa a apresentar sintomas constantes de perda de memória. Grant desconfia que ela está sofrendo do mal de Alzheimer, mas Fiona não acredita até o momento em que passa a se informar mais sobre a doença e percebe que aos poucos o seu problema não tiraria apenas a sua qualidade de vida, mas também a do companheiro de tantos anos. Sendo assim, ela decide ser internada em uma clínica para pessoas com problemas degenerativos. Uma das regras do local é que os pacientes não podem receber visitas durante o primeiro mês para facilitar a sua adaptação, mas quando Grant finalmente consegue reencontrá-la vem a decepção, pois ela já não o reconhece mais. Fiona está agora muito próxima de Aubrey (Michael Murphy), outro paciente da instituição, o que faz com que Grant tenha que se contentar com sua nova condição de amigo ao mesmo tempo em que tenta ajudá-la a se lembrar do passado e de quem ele realmente é. A chance de se reaproximar de seu grande amor é quando a esposa de Aubrey, Marian (Olympia Dukakis), o retira subitamente da instituição também temendo a aproximação do marido e de Fiona.

domingo, 10 de dezembro de 2017

UM MONSTRO EM PARIS

Nota 7,0 Apesar de problemas narrativos, animação francesa conquista com visual refinado

Já faz algum tempo que filmes de animação deixaram de ser uma opção exclusiva para a criançada, assim aumentou a pressão dos estúdios em cima dos realizadores. Não basta contar com a bilheteria dos pais ou responsáveis que levam as crianças aos cinemas. É preciso também chamar a atenção de quem não tem a desculpa de ter um pimpolho para acompanhar. Talvez a maturidade mínima exigida dos enredos para se alcançar tal objetivo tenha colaborado para desenhos animados fora do eixo Hollywood ganharem mais visibilidade. Não é só uma trama mais elaborada o chamariz, mas a própria origem diferenciada das produções pode ser um convite para adultos. Sim, ainda há quem ache coisa de intelectual ou chique gostar de filmes franceses, por exemplo, ainda mais se for uma animação que ousa brigar por espaço com os gigantes norte-americanos. No entanto, mesmo amparado por elogios da crítica especializada, Um Monstro em Paris não caiu no gosto popular. A trama escrita por Stephane Kazand Jian e Bibo Bergeron, este também autor da história original e responsável pela direção, se passa na bela Paris de meados da década de 1910. O jovem Emile é apaixonado por filmes e sonha em viver um romance de cinema com Maud, a moça que trabalha na bilheteria das salas de exibição, no entanto, sua timidez o impede de se declarar e ele acaba se contentando em viver um amor platônico. Como projecionista, o rapaz a vê diariamente no trabalho e alimenta o sonho de poder fazer seus próprios filmes, o que poderia ser possível com uma câmera que seu amigo Raoul lhe dá. Metido a galã e vendendo animação, esse homem inventa engenhocas quando tem folga de seu trabalho como entregador de mercadorias, mas uma de suas missões irá acabar em desastre. Certa noite, Raoul e Emile vão deixar uma encomenda na estufa de um professor de botânica, mas na ausência dele deveriam procurar seu macaco-assistente, o esperto Charles. Tudo muito simples, mas a dupla quis se divertir com a tal câmera dentro do laboratório e acabaram criando um gigantesco girassol que não aguentou o próprio peso e tombou sobre as prateleiras de produtos químicos.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O DIA EM QUE A TERRA PAROU (2008)

NOTA 3,0

Refilmagem de clássico de
ficção científica traz mensagem
ambiental, mas ela se perde entre
trama enfadonha e efeitos visuais 
Existem muitos títulos de sucesso do passado que para as novas gerações são motivos de muita curiosidade, principalmente aqueles que marcaram época e cujo conteúdo tinha algum tipo de ligação com a realidade ou mensagem necessária para aquele momento. Guerra dos Mundos, por exemplo, foi uma bem sucedida ficção científica que usou o conflito entre os humanos e os extraterrestres como uma alusão a um conflito bélico (quando o conto foi redigido) e posteriormente como uma metáfora ao comportamento dos humanos que diante de uma ameaça abandona qualquer tipo de princípio visando seu bem estar. Steven Spielberg resolveu refazer o clássico em 2005 e acabou colhendo muito mais comentários negativos que o esperado, mas em compensação engordou em bons punhados de milhões de dólares sua conta bancária e a de sua produtora. Já o diretor Scott Derrickson, de O Exorcismo de Emily Rose, se deu mal tanto em bilheterias quanto em repercussão com o seu O Dia em que a Terra Parou, refilmagem da ficção homônima datada de 1951 na qual um alienígena vinha para a Terra com as melhores intenções, impedir que a violência humana se espalhasse pela galáxia (era o tempo das famosas bombas atômicas e a exploração do espaço avançava a passos largos), porém, é óbvio que sua recepção não foi nada amigável. Mais de meio século separa a obra assinada por Robert Wise e sua refilmagem e embora a violência só tenha se intensificado, a nova versão optou por levantar a bandeira do ambientalismo, mas sem deixar de criticar a conduta dos seres humanos com seu inerente ar superior, o que inevitavelmente gera conflitos nos mais variados campos. Sim, por trás de todo o verniz de blockbuster made in Hollywood existe um conteúdo a ser amplamente discutido, mas infelizmente ele acaba sendo sucumbido pelos efeitos especiais que, diga-se de passagem, neste caso parecem um tanto exagerados em vários momentos. Keanu Reeves é o cabeça do elenco interpretando Klaatu, o alienígena que aterrissa em pleno Central Park, em Nova York, junto com um gigantesco robô, batizado pelos americanos de Gort, ambos saídos de uma estranha esfera colorida. Na realidade, logo de cara não vemos o astro, mas nos deparamos com uma criatura envolta em uma espécie de gordura protetora, algo que mais a frente é comparado a um material que se assemelha a placenta de um bebê. Faz sentido afinal é essa camada nojenta que está protegendo o extraterrestre que para surpresa de todos se apresenta como um humano comum. A explicação, bem criativa, é de que os seres de outros planetas já estavam de olho nos terrestres há muito tempo e provavelmente já estiveram entre nós e realizando experimentos. Assim conseguiram recolher DNA humano para criar uma “armadura” para Klaatu, o que também justificaria sua rápida adaptação a nossa atmosfera e o poder de se comunicar normalmente em idioma local.

sábado, 2 de dezembro de 2017

PASSAGEM SECRETA

Nota 6,5 Drama aborda como judeus tentavam sobreviver na Europa durante a Santa Inquisição

Costumamos ligar a perseguição aos judeus ao período do Holocausto, mas tal situação vergonhosa já vem de longa data, de tempos em que nem o Brasil havia sido descoberto. E quem pensa que os alemães são os únicos grandes vilões desse triste capítulo fique sabendo que antes deles outros povos também demonstraram cruelmente sua aversão ao judaísmo, como os espanhóis. O drama Passagem Secreta especula através de um pequeno grupo de personagens como parte da Europa estava reagindo aos tempos da inquisição. Em 1492, a Espanha decretou que todos os judeus que não se convertessem ao catolicismo seriam conduzidos ao exílio ou até mesmo julgados, podendo ser levados à execução em praça pública ou não. Representantes do governo invadiam as casas para confiscar dinheiro, joias e bens materiais de valor e quem contestasse a ação era eliminado imediatamente. As irmãs Judith e Sara viram ainda pequenas muitas atrocidades, mas foram salvas por seus pais que aceitaram que elas se tornassem cristãs. Rebatizadas respectivamente de Isabel (Katherine Borowitz) e Clara (Tara Fitzgerald), elas se separaram da família e foram viver na cidade de Antuérpia onde, embora ainda tendo que esconder suas origens, as irmãs tiveram alguns anos de felicidade. Isabel, a mais velha, nunca se casou, mas conseguiu para Clara um casamento arranjado com outro judeu convertido que morreu quinze anos depois tentando ajudar membros de sua religião. A inquisição voltava a assombrar os “hereges” e o testamento do falecido guardava surpresas. Deixando a dúvida de que poderia ter tido um caso com a cunhada, algo não explorado no roteiro, ele deixa todos os seus bens para Isabel e a tutela da única filha, Victoria (Hanna Taylor Gordon). Em comum acordo elas decidem ir viver em uma das propriedades da família em Veneza, na Itália, cidade rica em cultura e tolerância e também um importante ponto comercial devido as facilidades de acesso pelo mar, porém, ainda teriam que bancar as católicas e adorando ídolos falsos. Todavia, a mudança coincide com uma brusca ruptura na harmonia do clã. Até então as irmãs nunca tinham tido problemas de convivência, nem mesmo por conta da tal herança.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

OS GIRASSÓIS DA RÚSSIA

NOTA 8,5

Considerado hoje em dia uma
obra-prima, longa foi criticado
na época do lançamento devido
ao sentimentalismo exagerado
O cineasta italiano Vittorio De Sica tem um currículo repleto de obras hoje consideradas clássicas, como Ladrões de Bicicletas e Matrimônio à Italiana, mas algumas delas curiosamente sofreram repúdio da crítica quando lançadas, como é o caso do belíssimo drama Os Girassóis da Rússia, obra injustiçada nos anos 70 sendo acusada de apelativa e de sentimentalismo barato, algo inaceitável na visão dos especialistas para fazer parte do currículo de um grande diretor. Também há boatos de que o passado de estilo neorrealista deste profissional foi deixado de lado neste caso com o único objetivo de fazer um filme que valorizasse a personagem feminina central, interpretada por Sophia Loren, não por acaso esposa do produtor da fita, Carlo Ponti. Picuinhas à parte, felizmente o tempo passou e fez muito bem à produção que ao longo dos anos acabou conquistando a atenção do público e criando fãs cativos que hoje querem que as novas gerações se encantem com esta história. Com argumento e roteiro de Tonino Guerra e Cesare Zavattini, com a colaboração de Gheorghij Mdivani, a trama se passa em plena época da Segunda Guerra Mundial, quando Giovanna (Sophia Loren) e Antonio (Marcello Mastroianni) se apaixonam perdidamente e partem em lua-de-mel, porém, a felicidade dura pouco. Os perigos dos tempos de confronto se aproximam e o rapaz é obrigado a ir à Rússia para lutar. Os anos passam e quando os sobreviventes retornam Giovanna se enche de esperanças, mas seu amado não regressa. Ela é avisada por um soldado que a última vez que ele viu Antonio seu estado físico estava muito debilitado e dificilmente teria conseguido sobreviver. Todavia, confiante de que ele está vivo, ela parte para a Rússia com toda a coragem para encontrá-lo ou ao menos conseguir notícias. Chegando lá, ela consegue descobrir onde o marido está, mas acaba tendo uma desagradável surpresa. Ele agora vive na casa de uma moça russa chamada Mascia (Ludmila Savelyeva) e está levando uma vida muito diferente, justamente um homem que se declarava inimigo irremediável dos russos. Neste momento, Giovanna precisa se decidir entre lutar pelo seu amor ou seguir seu caminho sem ele.

domingo, 26 de novembro de 2017

RECÉM-FORMADA

Nota 2,0 Comédia romântica comete os grandes pecados do gênero: é sem graça e sem emoção

Existe algo pior que uma comédia romântica previsível? Para os detratores do gênero a resposta é sim, pois a lista de exemplos de produções do tipo que além de serem clichês não tem graça alguma e tampouco a trama romântica funciona é extensa. Esse é o caso de Recém-Formada, típico produto para preencher as tardes de ócio. Com roteiro de Kelly Fremon, a premissa já denuncia que não devemos esperar grande coisa da produção protagonizada por uma jovem adulta sonhadora. Ryden Malby (Alexis Bledel) não é mais uma colegial, pelo contrário, está se formando na faculdade e já tem planejado seu futuro (pelo menos os próximos meses). Vai conseguir um emprego em uma empresa respeitável, se mudar para um apartamento maravilhoso em uma agitada metrópole e se divertir o quanto pode com os amigos até que o homem da sua vida surja. Todos os seus sonhos começam a ruir quando uma colega da universidade, Jessica Bard (Catherine Reitman), consegue a vaga de trabalho que ela almejava e assim a jovem é obrigada a ficar morando com os pais, o teimoso Walter (Michael Keaton) e a despachada Carmella (Kelly Lynch), em sua pacata cidade natal. Sentindo que a cada dia a realização de seus desejos se torna mais distante e ainda tendo que aturar as excentricidades de sua avó Maureen (Carol Burnett) e as pentelhices do irmão caçula Hunter (Bobby Coleman), Ryden só consegue ter alguns poucos momentos de felicidade quando está acompanhada do seu melhor amigo Adam (Zach Gilford) ou do vizinho David (Rodrigo Santoro), pessoas que podem ajudá-la a traçar novos rumos para seu futuro. Bem nem é preciso dizer que o inseparável companheiro da moça é apaixonado por ela, esta que por sua vez não corresponde sua paixão preferindo investir no homem mais maduro e com pinta de galã latino. E mais uma vez nosso compatriota está fazendo uma ponta insignificante, mas de qualquer forma está inserido no cinema americano. Falando pouco, porém, marcando presença. O problema é que o longa é tão esquecível quanto a atuação tola de Santoro.

sábado, 25 de novembro de 2017

EM SUAS MÃOS

Nota 5,0 Argumento frágil compromete narrativa que compensa com clima de mistério envolvente

Quer coisa pior que um filme que sugere um suspense e o mesmo é desvendado rapidamente? Pode parecer um ato suicida dos responsáveis pela produção, mas isso não é visto como um problema para diretores fora de Hollywood. Existem muitos exemplos de histórias que poderiam ser intrigantes no cinema europeu, mas que na realidade são dramas. Enquanto os americanos tentam confundir o espectador com mil e uma pistas e ainda deixar para o final uma revelação surpresa que geralmente acaba sendo uma grande decepção, algumas produções européias preferem revelar para o público rapidamente qual o segredo da trama e concentrar seus esforços em analisar as personalidades e comportamentos dos personagens, sejam eles vítimas, suspeitos ou criminosos. Talvez por isso não cause impacto produtos como Em Suas Mãos, mescla de drama e suspense oriundo da França lançado diretamente em DVD no Brasil. Inspirado no romance “Les Kangourus” de Dominique Barberis, o roteiro de Julien Boivent em parceria com Anne Fontaine, também diretora da fita, não é dos mais atraentes. Claire Gautier (Isabelle Carré) trabalha no departamento de reclamações de uma companhia de seguros e se vê envolvida com o problema de um cliente, o veterinário Laurent Fessier (Benoit Poelvoorde) que reclama que uma inundação aconteceu em seu estabelecimento e o seguro que fez não cobre tal imprevisto. Muito prestativa, a moça vai até a clínica veterinária para fazer uma inspeção, faz uma nova proposta de contrato e eles voltam a se ver para assinar a papelada. Nestes encontros, Laurent acaba seduzindo a corretora mesmo ela já sendo casada e até com uma filha. Ele diz que tem predisposição as tragédias e que seu passatempo favorito é conhecer mulheres e ouvir as histórias, sonhos e pensamentos delas. Obviamente a atração será tanta que Claire não irá resistir certa noite que o marido não está e vai marcar um encontro com o sedutor, o problema é que na região onde vive existe um serial killer agindo e que já matou quatro mulheres com a ajuda de um bisturi. Pronto! Ligue os pontos e em meia hora de filme (ou até mesmo em cinco minutos) você já desvendou o mistério.

domingo, 19 de novembro de 2017

DENNIS - O PIMENTINHA

Nota 6,0 Repleto de clichês, clássico sessão da tarde vale a pena por ter o saudoso Walther Matthau

Quem nunca aprontou alguma peraltice na infância que atire a primeira pedra. Curtir umas zoeiras de vez em quando faz parte e é necessário nessa fase da vida, inclusive para tirar lições dos erros, porém, o protagonista de Dennis - O Pimentinha extrapola os limites, mas ainda assim cativa o espectador com sua cara fofa e esperteza. Vivido pelo carismático Mason Gamble, o personagem-título é o típico moleque travesso que existe em toda vizinhança. Sempre com as mãos inquietas e com a cabeça fervilhando mil e umas travessuras, ele não consegue ficar parado e a principal vítima de suas brincadeiras é George Wilson (Walther Matthau), seu vizinho já de idade que tudo que desejava a essa altura da vida era curtir sossegadamente sua bela casa, principalmente seu prezado jardim que cuida com tanta dedicação, ao lado da esposa Martha (Joan Plowright). Contudo, basta ouvir o sonoro "Sr. Wilsooooooonnnnn!!!!" para seus poucos cabelos ficarem em pé. O garoto não faz nada por maldade, mas foi apenas sem querer querendo que entre tantas outras coisas ele joga tinta no churrasco do coroa, troca os dentes de sua dentadura por chicletes ou lhe rouba a atenção na tão aguardada noite em que veria florescer uma exótica planta que cuida nada mais nada menos que a quatro décadas, mas cujo esplendor duro míseros segundos. Rabugento, mas no fundo de coração mole, o florista aceita cuidar do garoto por uns dias quando seus pais precisam viajar a trabalho. Conhecendo a fama de Dennis, nenhuma babá se prontificou a cuidar do ferinha que além de suas costumeiras confusões ainda irá enfrentar, mesmo que levando tudo como uma grande brincadeira, o vagabundo Sam (Christopher Lloyd) que está rondando a pacata vizinhança planejando roubos. Com este simples argumento o diretor Nick Castle criou um dos filmes que viria a se tornar símbolo de nostalgia da década de 1990 e marco na infância de muita gente... Bem, nem tanto por méritos próprios, mas sim pela avalanche de reprises na televisão.

domingo, 12 de novembro de 2017

PALAVRAS E IMAGENS

Nota 7,5 Guerra de pontos de vistas de tema complexo sustenta romance fraquinho

O que é mais interessante: uma imagem cheia de simbolismos e significados ocultos ou um texto bem redigido com vocabulário rebuscado e mensagens subliminares? Intelectuais costumam admirar as artes visuais e a literatura com o mesmo grau de importância, mas mesmo dentro deste grupo tão seleto pode haver defensores ferrenhos de cada estilo de manifestação artística e cultural. É disto que se trama o romance Palavras e Imagens, do diretor australiano Fred Schepisi, de ótimos e saudosos títulos como Um Grito no Escuro e A Casa da Rússia.  O professor de literatura Jack Marcus (Clive Owen) idolatra as palavras e tenta ser um modelo de inspiração a seus alunos, principalmente por ostentar que ainda muito jovem publicou um livro premiado e elogiado pela crítica e por isso foi contratado a peso de ouro para lecionar, mas seu problema com o alcoolismo pode jogar por terra toda a sua boa reputação e carreira, aliás, já o castiga na vida pessoal visto que seu próprio filho tenta ao máximo evitar contato com ele. Já Dina Delsanto (Juliette Binoche) é uma artista plástica que já teve seus dias de glória expondo suas obras em importantes galerias, mas por causa de uma artrite reumatóide, uma séria inflamação degenerativa dos músculos, tem seus movimentos limitados e para sobreviver acaba tendo que se contentar com a vaga de professora de artes, profissão que exerce tentando persuadir com seus ideais e personalidade forte. Ele a saudando com um sonoro "foda-se" e ela por sua vez levantando na direção dos olhos dele o seu dedo do meio, de imediato eles se estranham no colégio e deixam claro serem ferrenhos defensores de suas respectivas áreas de trabalho e conhecimento, mas no fundo ambos sabem que tem uma faísca de sentimento amoroso que surgiu, só que extremamente orgulhosos não querem dar o braço a torcer. Contudo, como também não desejam dar as costas um para o outro, acabam iniciando uma guerra dentro do colégio utilizando como armas os próprios alunos que são instigado à rivalidade, assim vira e mexe estão em contato com a desculpa de precisarem solucionar problemas dos adolescentes.

sábado, 11 de novembro de 2017

MEDO (1996)

Nota 4,0 Apesar do título forte, o medo é praticamente nulo em suspense esquemático e bobinho

Para muitos Reese Witherspoon começou sua carreira em 1999, ano em que estrelou o drama juvenil Segundas Intenções e o cult Eleição, mas a atriz já estava na estrada há alguns anos participando de algumas produções pouco lembradas como o suspense Medo. Aqui ela vive Nicole Walker, uma adolescente que como outra qualquer sempre alimentou o sonho de se apaixonar e ser correspondida por alguém especial, um rapaz educado, sensível, mas obviamente belo e desejável. Ela encontra estas características em David McCall, vivido por um jovem Mark Wahlberg também galgando seus primeiros passos rumo ao estrelato. Ela o conheceu em uma festa na qual ele a ajudou em um tumulto e desde então passou a viver em função de agradar e fazer as vontades do rapaz, inclusive perder sua virgindade. Desde o início Steven (William L. Petersen), o pai da garota, demonstra-se reticente quanto a esse namoro porque o passado e a vida particular do rapaz são um mistério. Por outro lado, sua esposa Laura (Amy Brenneman) se simpatiza à primeira vista pelo rapaz, e isso faz com que seu relacionamento com a enteada melhore, e Toby (Christopher Gray), o pequeno filho do casal, se afeiçoa à David a ponto de respeitá-lo como se fosse um pai. Contudo, pouco a pouco a imagem de príncipe encantado vai sendo desconstruída por ele próprio que não consegue esconder seu ciúmes e começa a se enrolar com mentiras e atos violentos. Por amor, Nicole vai perdoando os deslizes, mas quando o flagra a traindo decide colocar um ponto final no relacionamento, porém, a essa altura ela e sua família correm perigo nas mãos de um desequilibrado sedento por vingança.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

EM UM MUNDO MELHOR

NOTA 8,5

A intolerância e a violência
é discutida por duas vias
diferentes, porém,
intimamente conectadas
Todos sabem que vivemos em uma época de intolerância, individualismo e nos acostumamos a conviver com a violência e o ódio. Falar que as coisas vão melhorar e que o ser humano precisa respeitar seu semelhante viraram frases de uso religioso ou de praxe para serem espalhadas na virada de ano. A dinamarquesa Susanne Bier procurou discutir a utopia da paz do mundo tratando o problema em duas vertentes: dentro de um restrito núcleo e outro mais universal. Não se pode esperar que a população mundial mude seu comportamento se cada um não realizar a sua parte e procurar mudar também. Em Um Mundo Melhor é uma obra que pelo título pode vender seu peixe de forma errada. Não é uma draminha edificante qualquer. Seu conteúdo, embora transmita mensagens aos espectadores, pode não ser do agrado de grandes platéias. Um dos protagonistas, por exemplo, confia que um dia os seres humanos passarão a ser mais corretos, respeitosos e éticos, mas sabe que o caminho para chegarmos a esse paraíso na Terra não é fácil e tampouco rápido. A trama nos apresenta à Anton (Mikael Persbrandt), um médico que trabalha em um campo de refugiados na África, mas quando pode ter folga volta para seu país natal, a Dinamarca. Ele tem dois filhos com Marianne (Trine Dyrholm), de quem está se separando, embora contrariado. Elias (Markus Ryggard), seu filho mais velho, sofre com a perseguição no colégio de um garoto maior que ele que se aproveita para humilhá-lo como pode. As coisas mudam quando ele conhece Christian (William Johnk Nielsen), um menino que perdeu a mãe recentemente e agora vive com o pai, Claus (Ulrich Thomsen). Ele acaba de ingressar no mesmo colégio que Elias, mas não se comporta como um novato na turma. Geralmente os recém-chegados se mostram tímidos e um ótimo alvo para chacotas e brincadeiras cruéis, mas com ele a banda toca de outra maneira. Após defender seu novo amigo em uma confusão, Christian é agredido e como vingança dá uma surra no agressor e o ameaça com uma faca. Assim, os garotos criam um forte laço de amizade, mas um episódio com possíveis consequências trágicas pode colocar essa relação em risco assim como suas vidas.

domingo, 5 de novembro de 2017

O CARA

Nota 5,5 Apostando numa parceria de trabalho improvável, comédia parece pinçada dos anos 80

É para dar vontade de matar quem ainda enche a boca para dizer que Samuel L. Jackson é “o cara”, aquele ator sinônimo de bons filmes. Está certo que ele já fez muita coisa boa, mas o que tem de abacaxi em seu currículo... Talvez para ironizar a sua fama é que ele tenha aceitado participar de uma comédia justamente chamada O Cara, mas cedendo o papel-título para o zero à esquerda Eugene Levy. Este ator não é ruim, mas fincou seu pé no campo do humor revezando-se no papel de bobalhão ou ranzinza, sendo sua atuação mais conhecida a de pai do protagonista dos três primeiros filmes da série American Pie. Nesta comédia mesclada com ação ele dá vida a Andy Fidler, um representante de produtos de higiene bucal e afins que está se preparando para realizar uma palestra para investidores em Detroit, cidade que está em meio a um alvoroço por conta do assassinato de um policial, o fiel parceiro de trabalho do agente federal Derrick Vann (Jackson). Conhecido por seu estilo marrento e desencanado, este tira também é um tanto durão. Agindo sempre disfarçado, ele passa seu dia-a-dia convivendo com as violentas gangues do subúrbio e no momento está tentando recuperar algumas armas que foram roubadas de um arsenal federal e estão prestes a serem vendidas, um crime que pode ter ligação com a morte de seu colega. Vann marca um encontro com um bandido fingindo estar interessado na mercadoria, mas na realidade quer fazer uma prisão em flagrante. Ele seria reconhecido em uma lanchonete por estar sentado à bancada e lendo um determinado jornal, mas os planos não saem como o esperado porque justamente o azarado Fidler estava no lugar e na hora errados. Confundido com o comprador, Joey (Luke Goss), um rapaz com cara de poucos amigos, lhe dá um saco de papel e parte rapidamente. Curioso, o vendedor acaba tirando do pacote um celular e uma arma assustando os frequentadores do local e chamando a atenção de Vann que logo percebe a confusão que aconteceu.

domingo, 29 de outubro de 2017

DOIDAS DEMAIS

Nota 6,0 Comédia investe em clichês e se acomoda sobre talento e carisma de protagonistas

Manter uma amizade não é nada fácil. Se já é complicado quando jovem e sem maiores complicações, pior ainda quando adultos, época em que relacionamentos amorosos, carreira e até o nível social podem revelar-se entraves para manter os amigos por perto. A comédia Doidas Demais aborda o assunto através do reencontro de duas mulheres que já foram grandes amigas, mas quis o destino que elas trilhassem caminhos bem opostos no futuro. Suzette (Goldie Hawn) é alto-astral e desencanada, mas quando perde seu emprego em uma boate cai na real de que não tem como se sustentar, assim resolve viajar centenas de milhas para procurar uma antiga amiga com quem aprontou poucas e boas nos tempos das discotecas. Bem, elas não eram adeptas dos passinhos coreografados e polainas com brilhos e sim do som pauleira e das jaquetas de couro. Elas eram tão próximas que eram chamadas como as "irmãs doidas demais" e amavam tietar bandas de rock, inclusive faziam verdadeiras loucuras para conseguirem chegar perto de seus ídolos. Contudo, Lavinia (Susan Sarandon) deixou o jeitão porra-louca para trás e agora é uma mãe de família e dona-de-casa cheia de regras e metódica e renega totalmente seu passado desregrado, inclusive não atende chamados por Vinnie, o nome que usava quando era roqueira. Obviamente o reencontro gera estranhamento. Enquanto uma insiste em viver como se estivesse nos anos setentistas, a outra se empenha para evitar que as filhas Ginger (Eva Amaurri - filha de Sarandon na vida real) e Hannah (Erika Christensen) façam tantas besteiras quanto ela e se arrependam no futuro. Detalhe, as adolescentes e o marido Raymond (Robin Thomas), este com aspirações políticas, desconhecem suas estripulias da juventude, mas tais lembranças inevitavelmente voltam à tona com a chegada da amiga. Inicialmente Lavínia tenta manter certo distanciamento, mas não demora a querer provar para si mesma que ainda pode ser feliz como antigamente dosando com a vida de responsabilidades que assumiu.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

UM TIO QUASE PERFEITO

NOTA 6,5

Com a velha premissa do sem
noção que cresce com as adversidades,
comédia agrada crianças e adultos com
fórmula comum a filmes para toda família
O título tenta um claro link com Uma Babá Quase Perfeita, a clássica comédia do saudoso Robin Williams, mas felizmente a estratégia é apenas para publicidade. Para o bem do cinema nacional e seu amadurecimento, mesmo com um ou outro momento que possam remeter a citada comédia, estruturalmente Um Tio Quase Perfeito segue seu próprio caminho e foge de tentar recriar situações vividas pelo pai que para poder conviver mais tempo com os filhos assume a identidade de uma simpática senhora. No caso, o bonachão Tony (Marcus Majella) é um aspirante a ator que sem sorte se aproveita de seu talento para ganhar alguns trocados nas ruas vivendo desde uma estátua viva em trajes de guerreiro romano até um pastor vigarista que vende uma água pretensiosamente milagrosa, mas o tipo mais difícil de interpretar é aquele que já deveria estar acostumado: o de tiozão. Sempre contanto com o apoio de Cecília (Ana Lucia Torre), sua mãe, ele vive de pequenos golpes na rua, mas sempre endividados eles acabam sendo despejados de onde moram e para não ficarem pedindo esmolas, o que para eles não seria problema algum tamanha cara-de-pau que ambos tem, eles pedem asilo para Angela (Letícia Isnard), irmã do rapaz. O convívio com a família nunca foi dos melhores e a moça sempre tentou manter certo distanciamento, assim não gosta nada da ideia de abrigar a dupla em sua casa, ainda mais para evitar que os seus maus costumes sirvam de exemplo aos filhos pequenos, Patrícia (Julia Syacinna), João (João Barreto) e Valentina (Sofia Barros). Contudo, um compromisso profissional fora da cidade a obriga a viajar de uma hora para a outra e com o sumiço da babá das crianças não lhe resta alternativa a não ser deixá-las sob a batuta do tio e da avó destrambelhados. Eles não teriam que fazer nada de outro mundo, apenas manter a rotina dos pequenos de ir à escola, fazerem a lição, manter a casa em ordem, mas como já é de se esperar, uma série de situações vão revelar o quanto Tony é imaturo ao mesmo tempo que aos poucos os sobrinhos vão conquistando seu carinho e atenção.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ERNEST E CELESTINE

NOTA 9,0

Com traços delicados e narrativa,
singela, animação francesa aborda
o preconceito através de uma relação
de amizade que desperta ira e medo 
Disney, Pixar, Dreamworks e alguns esforços intensificados nos últimos anos por empresas como Fox e Paramount. Com os avanços das animações digitais o mercado cinematográfico ganhou muito e a concorrência acirrada fez com que os enredos cada vez se tornassem mais inteligentes, até para também poderem fisgar o público adulto que agora não usa mais a desculpa de levar o filho ou sobrinho ao cinema. Tranquilamente os marmanjos podem assistir a produções animadas com a certeza de que estão vendo uma obra tão boa quanto um elaborado filme com atores de carne e osso. Hollywood abriu os olhos para essa possibilidade dos anos 2000 para cá e ao passo que cada vez mais busca modernidades no campo também volta-se à simplicidade jogando certa luz sobre produções estrangeiras ou do próprio circuito alternativo ianque que se não fossem indicadas ao Oscar da categoria certamente não chegariam a ser conhecidas nem mesmo pelos cinéfilos de carteirinha. A delicada animação Ernest e Celestine é um bom exemplo. Coprodução da França e Bélgica, o longa é baseado nos contos infantis da escritora e ilustradora Gabrielle Vicent que através da fábula aborda a valorização da amizade acima de qualquer obstáculo, principalmente tabus sociais como o preconceito entre raças. A trama conta a história da ratinha Celestine, uma aspirante a pintora que cresceu em um orfanato e nunca compreendeu o medo que outros roedores habitantes do subterrâneo tinham dos ursos, os moradores do chamado mundo de cima. Fascinada pelo desconhecido, pois é justamente desbravando esse outro universo que ela conhece Ernest, um grande urso que em nada lembra a imagem da fera que fora forçada a imaginar com as histórias sobre como os grandalhões peludos eram malvados e forçavam as ratazanas a se refugiarem nos esgotos. Divertido, simpático e prestativo, ele ganha alguns poucos trocados tocando música nas praças, mas garante o sustento da família com pequenos furtos. Ernest encontra a roedora em uma lata de lixo e rapidamente conquista a sua confiança, porém, precisam viver essa amizade escondido, pois as sociedades de ambos não aceitam que animais tão distintos, tanto no físico quanto na personalidade, se relacionem.

domingo, 22 de outubro de 2017

COISAS DE FAMÍLIA (2005)

Nota 6,5 Química dos protagonistas, ou talvez sua ausência, eleva comédia previsível e batida

Relações familiares. Está aí uma temática que não sai de moda e que rende muitos argumentos interessantes, mas ao mesmo tempo em que é bom ter várias produções do tipo também é prejudicial para elas mesmas. A repetição de assuntos prejudica suas avaliações e acirra as comparações. Quantos filmes você já não viu a respeito do abismo existente na relação entre um pai e um filho? É nesse resultado que Coisas de Família perde muito, sendo até uma produção descartável. Agora se você assistir sem ficar se lembrando que este ou aquele outro filme era melhor pode até se divertir, mesmo com toda a previsibilidade. O que torna o projeto mais interessante é saber que ele foi criado especialmente para homenagear o saudoso Peter Falk. Quem? A turma mais vivida ou adepta de nostalgia deve se lembrar deste nome por conta do seriado “Columbo” no qual ele interpretou o personagem-título por mais de três décadas. Com uma carreira praticamente toda dedicada à televisão, suas poucas atuações no cinema não são muito famosas, mas tudo o que fez certamente inspirou o ator Paul Reiser a seguir o mesmo ofício. Conhecido pela série de TV “Mad About You”, o próprio ator assina o roteiro que felizmente pôde contar com a presença do veterano intérprete em seu derradeiro trabalho. Falk interpreta Sam Kleinman, um idoso que aparece de surpresa no apartamento do filho, o escritor Ben (Reiser), para informar que a esposa fugiu sem mais nem menos deixando um simples bilhete de despedida. O marido tenta minimizar o problema, mas o filho imediatamente começa a ligar para suas irmãs para saber se elas têm alguma notícia e até se surpreende ao perceber que para uma delas agrada se a separação realmente aconteceu. Nitidamente incomodado com a presença do pai, Ben ia desistir de uma viagem rápida que faria para encontrar uma casa no campo para comprar, mas Rachel (Elizabeth Perkins), sua mulher, o convence a levar o idoso junto para distraí-lo, no fundo torcendo para que eles voltassem a ter um bom relacionamento. No entanto, o que era para ser um dia agradável acaba se tornando uma viagem prolongada e com muito assunto a ser esclarecido.

domingo, 8 de outubro de 2017

UM VIRGEM DE 41 ANOS LIGEIRAMENTE EM APUROS

Nota 1,5 Mais uma paródia de sucessos de momento não vai além de escatologia e vexames

Tirar um sarro dos filmes de terror, dos de ação, de suspenses... As paródias, que na verdade em sua maioria se resumem a uma desconjuntada reunião de esquetes humorísticos que pinçam das fitas homenageadas sequências ou referências de fácil identificação, acabaram se tornando um rentável subgênero. Se não rendem nos cinemas, certamente garantem algum lucro aos serviços de streaming e são certeza para ocupar horários na TV paga, por isso ainda são feitos aos montes. Fora a franquia Todo Mundo em Pânico que gerou cinco longas e pode a qualquer momento ser ressuscitada, outras fitas não passaram do capítulo de estreia, mas de tempos em tempos produtos do tipo são lançados para tirar onda de sucessos de determinado período ou até mesmo de estilos em evidência, mas no caldeirão de loucuras sempre há espaço para reverenciar o passado, rir de celebridades, alfinetar políticos e tripudiar em cima de micos e escândalos.  Apesar de serem lembradas como grandes e descartáveis bobagens, de certa forma são produções que servem como um registro às avessas de sua época. Não é muito comum uma comédia parodiar seu próprio gênero, mas a forte corrente de humor feito sob medida para agradar marmanjos com síndrome de Peter Pan não poderia passar despercebida. O longo título Um Virgem de 41 Anos Ligeiramente em Apuros vende seu peixe sem pudores e até exagera na autoexplicação. O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos e até Colegiais em Apuros servem como inspiração para a história de Andy (Bryan Callen), um sujeito pacato que por vergonha e falta de traquejo nunca conseguiu levar uma mulher para a cama. Seus amigos então resolvem ajudá-lo a desencantar melhorando seu visual e arranjando encontros, mas acabam o metendo em grandes confusões.

sábado, 7 de outubro de 2017

LOBO DO MAR

Nota 7,0 Aventura destaca-se pelo texto, ressaltando que o ser humano é produto do seu meio

O sucesso da franquia Piratas do Caribe poderia ter renovado o interesse nas aventuras em alto-mar, mas não foi o que aconteceu e Jack Sparrow reinou e ainda reina absoluto no imaginário popular como a grande lenda dos oceanos dos anos 2000. No entanto, há sim pelo menos uma produção do tipo que merece uma atenção maior e certamente agradaria ao público que preza a imagem do capitão sisudo e inescrupuloso tão propagada ao longo dos anos através do cinema e da literatura. Baseado no romance de Jack London, Lobo do Mar já teve outras adaptações cinematográficas, mas esta do diretor Mike Barker veio a calhar para apresentar as novas gerações o que é uma verdadeira aventura dentro de um navio. Ou seria drama? Sim, sem apelar para piratas fantasmas ou qualquer outra coisa do além, o roteiro de Nigel Williams propõe uma angustiante experiência a bordo da embarcação Ghost que é comandada com punhos de ferro por Wolf Larsen (Sebastian Koch), mais conhecido pelo apelido que também dá título ao filme. No momento ele está em uma missão rumo aos mares orientais para fazer fortuna com a caça de focas, mas desta vez terá que disputar o domínio das águas com o barco Macedônia comandado por ninguém menos que seu próprio irmão, Death (Tim Roth), com quem há anos trava uma guerra particular. Larsen terá em meio a tripulação um novato, o crítico literário Humphrey Van Weyden (Andrew Jackson), que estava viajando em outro navio, acabou caindo no mar por um descuido tolo e foi salvo pelo capitão. Com seu jeito engomadinho, imediatamente o Lobo do Mar começa a abusar do rapaz e testar seus limites de resistência obrigando-o a trabalhar, mas para sua surpresa ele acaba se adaptando rapidamente a dura rotina e até demonstra uma valentia que talvez o próprio desconhecesse ter. Paralelo a isso, Death está com uma dama a bordo, a jovem Maud Clark (Neve Campbell) que implorou que ele a levasse até um lugar distante para ajudá-la a evitar a ira do seu pai após ela fugir de um casamento arranjado. Tratando-a educadamente no início, certo dia o capitão pede a um dos seus subordinados para matá-la quando descobre que ela é filha do dono de seu barco, a quem ele julga estar lhe roubando nos lucros com as focas.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A ESPINHA DO DIABO

NOTA 8,0

Um dos primeiros filmes do mexicano
Guillermo Del Toro já deixava suas
marcas abordando suspense, drama e
fantasia com pano de fundo histórico
Os melhores filmes de horror não são aqueles escorados em efeitos especiais ou em violência gráfica. Ok, O Exorcista está aí como uma exceção à regra, mas temos os clássicos O Bebê de Rosemary, O Iluminado e até da safra mais recente Os Outros para comprovar que acima de tudo é preciso ter uma boa história para contar sustentada por personagens críveis e motivações essencialmente humanas. O título A Espinha do Diabo sugere uma obra de literalmente gelar a espinha, mas levando a assinatura do cineasta mexicano Guillermo Del Toro sabemos que não se trata de um terror convencional. Bem, hoje conhecemos muito bem seu estilo de unir drama, fantasia e suspense, porém, na época ainda era um ilustre desconhecido. Ele já tinha engatilhado projetos em Hollywood, como Blade 2 e Hellboy, ambos já carregados de vícios da indústria para faturar alto até por serem baseados em personagens existentes no universo dos quadrinhos. Sendo assim, seu drama com pitadas de sobrenatural tendo como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola servia praticamente como seu cartão de visitas. Em meados da década de 1930, um orfanato estrategicamente instalado no meio do nada abriga os já órfãos e os filhos de pais recrutados para o combate. A diretora Carmem (Marisa Paredes) é uma senhora bastante rígida, mas bondosa, e que esconde uma fortuna em barras de ouro que são a obsessão de Jacinto (Eduardo Noriega), um ex-interno que agora trabalha para a idosa com quem também divide a cama eventualmente. Na verdade ele quer o tesouro para fugir com a jovem Conchita (Irene Viseto), cozinheira da casa que também é administrada pelo Dr. Casares (Federico Luppi), poeta, professor e que guarda uma paixão platônica por Carmem por se sentir impedindo pela impotência. Parece um novelão mexicano, mas a mente de Del Toro é muito mais fértil. A relação amorosa mal resolvida destas pessoas vai interferir drasticamente no futuro dos internos, entre eles Carlos (Fernando Tielve) que perdeu o pai vítima de um ataque de bombas e é deixado lá por seu tutor. Logo que chega o menino sente que a vida não será nada fácil e faz alguns amigos graças a curiosidade que desperta por trazer alguns gibis na bagagem, um tesouro para um grupo que necessitava de distração. Assim, de imediato, ele causa ciumeira em Jaime (Iñigo Garcés), até então o centro das atenções e líder natural da turminha.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

INSTITUTO DE BELEZA VÊNUS

NOTA 8,5

Misturando romance, drama
e comédia, longa francês causa
identificação imediata com público
feminino e agrada plateias cults
O cinema francês infelizmente não goza de um grande prestígio no Brasil. Até mesmo entre os que gostam de produções do circuito alternativo existem aqueles que teimam na ideia de que os filmes oriundos da França são chatos, arrastados e na maioria das vezes não chegam a lugar algum, apenas um blá-blá-blá descartável. Porém, graças a Deus, existem exceções. Além de suas histórias dramáticas nos últimos tempos tornarem-se palatáveis a um público mais amplo, as comédias francesas também estão ganhando tramas de cunho universal, mas por outro lado é uma pena que elas recebam títulos que para muitos se tornam piada. Os estrangeiros tem a tradição de batizar suas obras cinematográficas com uma única palavra enigmática ou então capricham na escolha de elementos que aparentemente não refletem claramente a ideia do enredo, assim aguçando a curiosidade dos espectadores. E o que dizer de um título que realmente tem a ver com o conteúdo, mas que pode soar como piada? É o que acontece com Instituto de Beleza Vênus, uma elogiada produção feita sob medida para agradar as mulheres, entretanto, que já nasceu fadada a ser apreciada por um público restrito. Para os habituados a filmes mais cults o título é excepcional, mas para os espectadores de cinemas de shopping, ou melhor, para os fregueses de baldes de pipoca e copões de refrigerante nem é preciso dizer que eles caem na gargalhada logo comparando o nome do filme com o do salão de cabeleireiro da esquina. Para quem frequenta este tipo de estabelecimento provavelmente se identificará com algum ponto da trama que é centralizada na personagem de Angèle (Nathalie Baye), uma esteticista que prefere encontros casuais a manter um relacionamento sólido. Vivendo os dilemas e alegrias típicos de uma quarentona, ela já foi muito machucada e iludida no amor e não está mais na idade de acreditar em príncipes encantados. Cada novo homem que conquista é como se fosse um tratamento de beleza que lhe retira as marcas de expressões de uma vida relativamente triste, no entanto, concentrando a maior parte de seu tempo encerrada dentro do ambiente de trabalho é como se usasse as grandes janelas de vidro como escudo protetor de seus sentimentos, mas ainda assim usufruindo de certa forma do cotidiano do lado de fora.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

HOMENS EM FÚRIA

NOTA 6,0

Procurando abordar questões
morais e religiosas através de dois
personagens fortes e controversos,
longa se perde e distancia o espectador
Existem filmes que são tão ruins que nem nos importamos em tecer comentários negativos, pelo contrário, é até uma satisfação, uma forma de extravasar a raiva de ter perdido seu precioso tempo com semelhante coisa. Pena que nem sempre é fácil apontar se um filme é bom ou ruim. São vários os exemplos de produções que podem deixar aquele gostinho amargo de insatisfação ao final, contudo, isoladamente possuem pontos positivos relevantes como é o caso de Homens em Fúria, reencontro de Robert De Niro e Edward Norton após quase uma década do lançamento de A Cartada Final. Sem dúvidas ambos são ícones de suas respectivas gerações de atores, mas o aguardado embate de talentos resulta em algo frio, distante do espectador, muito por conta do roteiro assinado por Angus MacLachlan, do mais acessível Retratos de Família. O problema deste distanciamento pode acontecer logo nos primeiros minutos devido a diálogos que soam um tanto artificiais, afinal o fio condutor da trama é um prisioneiro tentando conseguir sua liberdade condicional justificando sua boa conduta, o tempo considerável de sua sentença já cumprido e a saudades que tem de transar com a esposa, diga-se de passagem, algo mencionado com riqueza de detalhes. Quem não se importar com a conversa típica de filmes de malandros e confiar no talento dos protagonistas, a trama pode surpreender pelos rumos que toma. Jack (De Niro) trabalha em um presídio como avaliador de condicionais, ou seja, é ele quem tem a responsabilidade de esgotar as possibilidades de verificação para ter a certeza de que pode devolver um indivíduo ao convívio social antes mesmo dele cumprir totalmente a sua pena, mesmo que para tanto sejam necessários meses ou até anos de empenho. O policial está prestes a se aposentar e a essa altura encara um grande desafio: lidar com Stone (Norton), um presidiário acusado de matar os próprios avós em um incêndio, mas que já cumpriu oito anos de sua pena e não vê a hora de conseguir sua liberdade condicional. O problema é que Jack parece ter perdido sua razão de viver agora que caiu a ficha que vai ser desligado da polícia definitivamente e não está mais empenhado no trabalho, assim ele pouco dá atenção aos apelos do detento que então recorre a Lucetta (Milla Jovovich), sua esposa, para ajudá-lo a persuadir o velho. Com toda a propaganda que fez sobre sua vida sexual, é óbvio que Stone quer que ela seduza o agente e assim consiga persuadi-lo a lhe dar o alvará de soltura, mas Jack é durão e não cai na armadilha. Bem, pelo menos não nas primeiras tentativas da moça.