Nota 7,0 Aventura destaca-se pelo texto, ressaltando que o ser humano é produto do seu meio
O sucesso da franquia Piratas do Caribe poderia ter renovado o
interesse nas aventuras em alto-mar, mas não foi o que aconteceu e Jack Sparrow
reinou e ainda reina absoluto no imaginário popular como a grande lenda dos
oceanos dos anos 2000. No entanto, há sim pelo menos uma produção do tipo que
merece uma atenção maior e certamente agradaria ao público que preza a imagem
do capitão sisudo e inescrupuloso tão propagada ao longo dos anos através do
cinema e da literatura. Baseado no romance de Jack London, Lobo do Mar já teve
outras adaptações cinematográficas, mas esta do diretor Mike Barker veio a
calhar para apresentar as novas gerações o que é uma verdadeira aventura dentro
de um navio. Ou seria drama? Sim, sem apelar para piratas fantasmas ou qualquer
outra coisa do além, o roteiro de Nigel Williams propõe uma angustiante
experiência a bordo da embarcação Ghost que é comandada com punhos de ferro por
Wolf Larsen (Sebastian Koch), mais conhecido pelo apelido que também dá título
ao filme. No momento ele está em uma missão rumo aos mares orientais para fazer
fortuna com a caça de focas, mas desta vez terá que disputar o domínio das
águas com o barco Macedônia comandado por ninguém menos que seu próprio irmão,
Death (Tim Roth), com quem há anos trava uma guerra particular. Larsen terá em
meio a tripulação um novato, o crítico literário Humphrey Van Weyden (Andrew
Jackson), que estava viajando em outro navio, acabou caindo no mar por um
descuido tolo e foi salvo pelo capitão. Com seu jeito engomadinho,
imediatamente o Lobo do Mar começa a abusar do rapaz e testar seus limites de
resistência obrigando-o a trabalhar, mas para sua surpresa ele acaba se
adaptando rapidamente a dura rotina e até demonstra uma valentia que talvez o
próprio desconhecesse ter. Paralelo a isso, Death está com uma dama a bordo, a
jovem Maud Clark (Neve Campbell) que implorou que ele a levasse até um lugar
distante para ajudá-la a evitar a ira do seu pai após ela fugir de um casamento
arranjado. Tratando-a educadamente no início, certo dia o capitão pede a um dos
seus subordinados para matá-la quando descobre que ela é filha do dono de seu
barco, a quem ele julga estar lhe roubando nos lucros com as focas.
É óbvio que em algum momento as
duas embarcações vão se cruzar em alto-mar, mas além da disputa entre os irmãos
também haverá um conflito amoroso. Weyden e a Srta. Clark foram namorados e
aparentemente terminaram a relação forçosamente. O reencontro acenderá a paixão
de novo, mas o problema é que Larsen também demonstrará interesse pela jovem e
não medirá esforços para ter o que quer. Como ele mesmo diz, a vida se resume
ao instinto de sobrevivência e sentimentos são bobagens, tanto que ele castiga,
humilha e até mata seus tripulantes sem demonstrar remorso algum. O jovem
crítico insiste que algo de ruim aconteceu no passado do capitão para torná-lo
tão insensível, mas a própria rotina no navio, marcada por vários conflitos, o
ensinará que realmente quem não sabe manejar uma faca ou usar a força bruta não
terá muitas chances de sobreviver a travessia. Filmes que exploram histórias de
aventureiros do mar costumam ter um público fiel e cativo e se caracterizam por
serem produções grandiosas, tanto na parte técnica quanto em sua duração. Para
justificar o apuro na confecção destes projetos, geralmente eles são dotados de
um tempo de arte acima da média. Teoricamente os realizadores estão corretos,
mas se o enredo não interessar ao espectador logo nos primeiros minutos a
produção revela-se um tremendo furo n’água. Difícil captar a atenção quando o
barco está literalmente andando. Filmes do tipo também costumam ter outros
problemas para envolver o público como, por exemplo, a sensação de
claustrofobia devido a maior parte da ação ser concentrada dentro de um mesmo
ambiente, no caso navios que transmitem a sensação asquerosa de um ambiente
frio e sujo. Esse detalhe também pode imprimir um ritmo lento à narrativa, além
do fato da misoginia imperar. Poucas aventuras épicas no mar contaram com
papeis femininos, talvez pela crendice de que elas a bordo é sinal de mau
agouro, mas Campbell não se esforça para mudar as coisas. O papel tem sua
importância, mas ela não estava preparada tanto. Lançado diretamente em DVD, Lobo
do Mar merece uma chance, pois acerta no principal: o texto. Com
diálogos tensos e personagens carregados de humanidade, a narrativa evita
maniqueísmos. O mocinho pode não ser não tão bonzinho e o capitão com cara
fechada no fundo pode ter sentimentos positivos. Os acontecimentos é que ditam
a faceta do momento e realmente sobreviver é arte de equilibrar sentimentos.
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