NOTA 9,0 Com dois papéis femininos de peso, drama sobre tolerância, amizade e relações familiares é uma opção excelente até hoje |
Já faz algum tempo que as
sociedades de todos os países em geral estão sofrendo reformulações. O conceito
da família unida e feliz hoje em dia já não é mais uma unanimidade. Embora
muitos núcleos familiares em ruínas ainda prefiram viver uma felicidade de
fachada, outros clãs preferem assumir a separação. Ou melhor, os pais decidem
pela ruptura quando os desentendimentos começam a ser mais constantes que os
momentos de alegria, mas os filhos são um elo para sempre entre eles. O pai e a
mãe têm o direito de tocarem suas vidas como bem entenderem, podendo manter
relações cordiais ou não, mas e se caso eles encontrem um novo amor? Tal pessoa
deve ser incorporada como um novo membro da família? Muitos anos já se passaram
desde o lançamento de Lado a Lado, mas ele ainda continua
um bom exemplo de filme para colocar em discussão tais relações. Perdoar e compreender o outro são
algumas das mais importantes e difíceis tarefas que o ser humano tem e uns dos
temas mais comentados talvez desde os primórdios das civilizações, o que
implica intimamente no aprendizado de conviver com seus semelhantes em
harmonia. São justamente esses itens que conduzem a narrativa escrita por Ron
Bass que soube lapidá-los e escrever um texto que equilibra com perfeição
situações dramáticas e outras de humor sutil protagonizadas por mulheres que irradiam
veracidade, um convite e tanto para unir duas grandes estrelas de Hollywood. A
trama gira em torno da rivalidade existente entre Jackie (Susan Sarandon) e
Isabel (Julia Roberts). A primeira é a ex-esposa de Luke (Ed Harris), com quem
teve dois filhos, Anna (Jena Malone) e Ben (Liam Aiken). Já a segunda é a atual
namorada deste chefe de família que se encontra em uma complicada situação.
Mantém uma relação amigável com a antiga mulher, mas esta não tolera a sua nova
companheira e não perde a chance de criticá-la e envenenar a relação. O filho
caçula até aceita a nova união do pai, mas sua irmã é uma adolescente que se
revolta, pois ainda deseja a reconciliação dos pais. Luke por sua vez tenta de
tudo para que sua namorada seja aceita por todos. Entre discussões e fofocas, a
trégua entre Jackie e Isabel acaba por acontecer de uma maneira inesperada. A
mãe das crianças revela que está com um grave câncer e agora precisa aceitar o
fato que sua então inimiga mais cedo ou mais tarde tomará conta de seus filhos.
Só que até as duas entrarem em um acordo muita coisa pode acontecer.
Duas das maiores estrelas dos últimos
tempos do cinemão americano juntas em um mesmo filme só pode significar duas
coisas: um belo duelo de interpretações em cena e muita fofoca de bastidores a
respeito da guerra de egos. Contrariando as expectativas, Susan e Julia se
deram tão bem nos bastidores que tal cumplicidade passou para as telas. Elas
são enérgicas nos momentos de raiva de suas personagens e transbordam emoção
quando são forçadas a se unir em prol de um bem maior. Desde os primeiros
minutos, esquecemos que em cenas temos atrizes e passamos a acreditar que
estamos vendo duas mulheres de verdade em um clima de rivalidade intenso e que
mexe com o emocional dos mais sensíveis. Contar que depois de muitas brigas
elas ao menos passam a ser mais tolerantes uma com a outra não é estragar a
surpresa de ver este drama, pelo contrário. O segredo do sucesso está na
delicadeza com que o diretor Chris Columbus trabalha as situações do enredo que
por mais clichês que sejam não deixam de ser tocantes. Temos aqui as diversas
tentativas de Isabel em conquistar a confiança e o amor de seus enteados,
situações quase sempre falhas. Acompanhamos a frustração desta mulher que ainda
não tem a maturidade necessária para passar por cima das decepções. Jackie por
outro lado usa sua experiência de vida para fazer jogo duplo, sem levar a coisa
para o lado da vilania. Ainda se mantém dócil e compreensível na presença do
ex-marido, mas é um tanto ardilosa quando precisa se dirigir à rival, o que
demonstra que ainda não superou o fim de seu casamento. Como água mole em pedra
dura tanto bate até que fura, é óbvio que Isabel conseguirá amolecer o coração
de Ben e Anna através de situações típicas de mãe e filhos, como buscar na
escola o menino ou dar conselhos à garota sobre o primeiro amor, tudo para o
desespero de Jackie que tem que lidar com a agonia de que realmente tais cenas
serão rotineiras em um futuro próximo. Além disso, ela ainda tem que se mostrar
forte em relação a doença para não traumatizar os filhos, assim não estranhe se
sua lembrança maior desta produção não seja a de uma mulher agonizando e sim a
de uma mãe feliz cantarolando e dançando uma canção com as crianças altas horas
da noite. Nesse embate de gigantes, no qual até os atores mirins conseguem uma
brecha para brilharem, é uma pena que o excelente Ed Harris seja desperdiçado
em um papel inexpressivo cuja única função é criar o elo de conflito entre as
protagonistas, mas sem intervir ativamente nessa guerra.
Desenvolvido sem pudor em cima da
previsibilidade, esta obra encontra na sinceridade de suas intérpretes o seu
diferencial. Raramente o cinema oferece espaço para dois bons papéis femininos
sem apelar para um duelo entre o bem e o mal. Neste caso, em nenhum momento uma
ou outra é rascunhada como vilã ou coitadinha. Ambas são mulheres comuns em
busca da felicidade e que vivem os bons e os maus momentos da vida, erram e
acertam, ofendem e se arrependem. Aos trancos e barrancos elas podem entrar em
um acordo de paz, porém, não deixando no ar a sensação de felizes para sempre,
mas sim a entender que houve a conformidade, o que confere a obra um realismo
ausente na maioria dos dramas feitos para emocionar principalmente as platéias
femininas. A costumeira calda açucarada é substituída por uma de sabor
agridoce. Columbus, especialista em obras para mexer com as emoções dos
espectadores mesmo quando investindo no humor, como nos primeiros filmes Esqueceram
de Mim e em Uma Babá Quase Perfeita, mais uma vez acerta
ao realizar um trabalho simples e eficiente. Não inova no estilo de filmagem,
na edição e tampouco reserva ao desenvolvimento do enredo momentos majestosos,
porém, consegue imprimir em sua obra um sentimentalismo único e tocante. O
segredo é ser despretensioso. O diretor afirmou que realizou o projeto com o
objetivo de homenagear sua mãe e esse carinho existente nessa relação era tão
forte que não é a toa que a maioria das matriarcas fica encantadas quando
assistem Lado a Lado. Pode parecer um filme bobinho e sem
importância, mas talvez só coração de mãe mesmo para compreender o conteúdo
desta produção que acabou colhendo elogios da crítica e chegou a ser apontado como
aposta certa para o Oscar. A Academia infelizmente não conferiu indicação
alguma, mas o público tratou de dar o reconhecimento máximo e merecido à obra.
Clássico moderno? Pode não chegar a tanto, mas certamente está guardado com
carinho na memória e nos corações de quem já o assistiu.
Drama - 125 min - 1998
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