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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

CAMINHOS DA FLORESTA

NOTA 8,0

Junção de contos de fadas tem
seus furos e equívocos narrativos, mas
carisma e talento do elenco e recursos
técnicos apurados garantem a qualidade
Espetáculos de sucesso da Broadway mais cedo ou mais tarde terão sua versão cinematográfica, isso é fato. Desde os tempos áureos dos musicais no estilo My Fair Lady, passando pelo premiado Cabaret e culminando em fracassos como Rent – Os Boêmios, projetos que migram dos palcos para as telonas sem dúvida são apostas arriscadas. Teatro e cinema, embora compartilhem características, no fundo são artes distintas, cada qual com seus encantos e recursos para fisgar a atenção de quem assiste. O que pode dar certo ao vivo pode não funcionar na versão filmada e vice-versa. Contando com o aval popular e da crítica graças ao sucesso nos palcos de muitos países, além do chamariz de narrar uma história de fácil assimilação interligando personagens e contos clássicos do universo infantil, Caminhos da Floresta parecia uma aposta segura, mas sua realização complicada se reflete claramente no resultado final. “Into The Woods” foi lançado nos teatros americanos em 1986 com a proposta inovadora de misturar várias histórias dos lendários irmãos Grimm. A adaptação cinematográfica quase três décadas mais tarde já esbarraria na questão criatividade. A saga de Shrek levou ao ápice a fórmula de reinventar e mesclar os contos de fadas e outras produções seguiram a tendência como a própria Disney que em Encantada deitou e rolou tripudiando (ainda que com classe e respeito) em cima dos próprios estereótipos que fizeram a fama do estúdio. A casa do Mickey Mouse mais uma vez banca uma brincadeira com seu portfólio neste musical que não abandona as lições de moral, mas em muitos momentos transpira originalidade e vai muito além do felizes para sempre com uma guinada tensional da trama quando achamos que estamos no clímax. Não é a toa que muitos dizem que o filme poderia ter sido dirigido por Tim Burton devido ao casamento do lúdico com o sombrio. No entanto, a produção é responsabilidade de Rob Marshall, amante dos musicais, tendo acumulado prêmios com o divertido Chicago, incluindo seis Oscars, e sofrido com as críticas ao inconsistente Nine onde os números musicais deveriam alinhavar uma trama que apesar do argumento metalinguístico, um cineasta com bloqueio criativo que busca inspiração nas mulheres que de alguma forma marcaram sua vida, revelou-se um videoclipe megalomaníaco. Nesta nova incursão no gênero, o diretor procurou se ater mais ao script original e a cantoria é parte imprescindível da narrativa substituindo vários diálogos, um tipo de armadilha que o longa supera graças ao carisma do elenco.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

BONECO DO MAL

NOTA 5,0

Inicialmente intrigante, bom
argumento aos poucos é minado por
trama repleta de clichês, situações
inverossímeis e final desconectado
Realizar um filme de terror original é uma obsessão de muitos cineastas e ao mesmo tempo uma tarefa ingrata. É provável que todos os tipos de fobias já tenham sido explorados e nos últimos anos um dos poucos cineastas a dar certa vivacidade ao gênero foi o mexicano Guillermo del Toro com suas produções esmeradas no apuro técnico e visual e seu estilo já vem fazendo escola. Boneco do Mal não é sequer produzido pelo premiado criador de O Labirinto do Fauno, mas muitas características presentes em sua filmografia compõem o universo deste trabalho calcado na mistura do lúdico com o tensional. A história tem como protagonista Greta (Lauren Cohan), uma jovem americana que está de mudanças para um antigo casarão na Inglaterra para cuidar do filho do casal Heelshire (Jim Norton e Diana Hardcastle) que viajarão em breve deixando pela primeira vez o herdeiro aos cuidados de um estranho. Na verdade, muitas moças já foram recrutadas para ocupar o cargo em outras ocasiões, mas todas foram reprovadas pelo exigente Brahms. No entanto, ele não é um garoto de verdade e sim um boneco de cerâmica no tamanho real de uma criança de oito anos que é criado como se fosse alguém de carne e osso pelos pais idosos que nunca aceitaram a morte do filho verdadeiro em um incêndio há duas décadas. A babá obviamente não leva a sério quando lhe apresentam o menino, mas muda de ideia por conta da seriedade com a qual seus patrões lidam com a situação. Quando descobre sobre a tragédia que abalou a família ela se compadece, porém, existe um motivo bem mais forte para ela aceitar uma ridícula rotina que inclui aulas de música, fazer refeições balanceadas e até dar beijinho de boa noite em um brinquedo. A moça opta pelo trabalho levando em consideração não só o polpudo pagamento, mas também o refúgio oferecido, mantendo-a bem longe de Cole (Ben Robson), seu ex-namorado que a persegue. A mansão dos Heelshire pode ter parado no tempo, mas o mundo fora dele não e é óbvio que será fácil para Greta ser localizada, tempo suficiente para ela estabelecer uma estranha relação com Brahms. É um tanto forçada a ideia de que alguém aceitaria viver em um cinzento e depressivo mausoléu, ainda mais incumbida de ingratas tarefas, mas de alguma forma Laura faz o espectador criar rápida intimidade com o bizarro universo que adentra, ainda que ela siga à risca o perfil das protagonistas de filme de terror.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

OUTONO EM NOVA YORK

NOTA 6,0
Fotografia, locações e
figurinos salvam produção
cujo roteiro entrega todas
as emoções logo no início
Richard Gere já estrelou produções de diversos gêneros, mas é praticamente um sinônimo de filmes românticos, tal qual Julia Roberts também tem uma imagem significativa ligada ao gênero. Ambos explodiram juntos na comédia romântica Uma Linda Mulher e quase uma década depois voltaram a se unir, sem fazer tanto barulho, em Noiva em Fuga. Além destas duas produções, o ator participou de diversos outros filmes feitos especialmente para agradar o público feminino, como Dança Comigo?, mas nem sempre conseguiu êxito investindo em terreno seguro, como prova o esquecido Dr. T e as Mulheres. O caso de Outono em Nova York fica em cima do muro. É um daqueles títulos que tem suas qualidades, como uma belíssima fotografia e locações, conta com um enredo agradável, porém, faltam um ou mais ingredientes para transformá-lo em algo acima do regular. Apostando em um romance com pitadas de drama, este segundo trabalho da atriz Joan Chen como diretora chega a um resultado tão frio quanto a própria passagem que serve de pano de fundo para uma história bonitinha e sem grandes pretensões que mostra o nascimento de uma relação amorosa entre um homem mais velho e uma jovem. Will Keane (Gere) é um cinquentão que prometeu a si mesmo nunca mais ter um compromisso sério com uma mulher, assim ele paquera a vontade e cultiva sua fama de conquistador. Quando ele conhece a delicada Charlotte Fielding (Winona Ryder) logo se interessa em viver um romance com a moça, mas talvez não imaginasse que ia acabar se envolvendo tanto com ela. Disposto a esquecer de sua promessa, Keane se surpreende com a recusa da parceira em tornar o caso deles em algo para valer e que dure para sempre. Bem, não é preciso muitos minutos de projeção para descobrir qual o motivo do impedimento e para começar a choradeira. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

2012

NOTA 6,0

A Terra é destruída em
mais um filme sobre
catástrofes naturais, neste
caso com base em crendice
21 de dezembro de 2012. Esta foi uma data que nos últimos tempos assombrou muita gente. Bem, se você estiver lendo esta crítica após o dia 22, pode estourar o champanhe e comemorar: você sobreviveu à profecia apocalíptica maia. Séculos atrás este lendário povo deixou escrito o calendário de milhares de anos à frente, mas os escritos acabam justamente na data mencionada. Desde então astrólogos, religiosos, sensitivos, cientistas, geólogos, autoridades e pessoas de muitas outras áreas passaram a estudar o que isso poderia significar e muitos concluíram que esse seria o dia da extinção da humanidade através de eventos que alterariam drasticamente clima, relevo, direção dos ventos, força das águas entre outras coisas relacionadas à fúria da natureza. Baseando-se nesta impactante crença, muitos produtores trataram de explorar o tema, mas a grande produção batizada óbvia e simplesmente de 2012 foi criada pelo diretor Roland Emmerich. Ninguém melhor que ele que já convocou extraterrestres para acabar com os EUA (Independence Day), trouxe um mega lagarto de terras orientais para arrasar territórios ocidentais (Godzilla) e que mostrou a revolta da natureza contra os maus-tratos que recebe dos humanos (O Dia Depois de Amanhã) para se encarregar de dar o ultimato à população da terra. A trama roteirizada por Harald Kloser em parceria com Emmerich começa em 2009 quando o cientista indiano Satnam Tsurutani (Jimi Mistry) descobre que em poucos anos algumas alterações nas explosões solares esquentariam o núcleo do planeta, assim provocando diversas catástrofes naturais. O governo dos EUA fica sabendo disso através do geólogo Adrian Helmsley (Chiwetel Ejiofor) e logo passa a estudar medidas para evitar o pior. Porém, o profissional erra nas contas e as catástrofes anunciadas começarão antes do previsto. Já em 2012, o divorciado e fracassado escritor Jackson Curtis (John Cusack) está em meio a uma viagem com os filhos para tentar reconquistar o afeto deles. Quando vai acampar, ele recorda de momentos que viveu com Kate (Amanda Peet), mas divide seu tempo ouvindo as teorias paranoicas de Charlie Frost (Woody Harrelson), um sujeito que acredita piamente nas lendas sobre o fim do mundo. Curtis não dá bola para tais ideias, porém, não demora a mudar sua opinião.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A MENINA E O PORQUINHO

NOTA 7,0

Adaptação de clássico literário
infantil pode soar inocente demais
para os novos tempos, mas sua
essência ainda é encantadora
Já faz algum tempo que os adultos estão invadindo a praia das crianças e curtindo desenho animado. Aliás, essas produções às vezes agradam mais aos pais que os próprios filhos ou propositalmente os estúdios já realizam as animações visando essa ampliação espontânea de público. Porém, quando a magia do universo infantil deixa o colorido dos desenhos de lado e é transportada para os filmes com atores de carne e osso o resultado não é o mesmo. Os adultos tendem a não se entreter com piadas batidas, enredo melancólico próprio para dar lições de moral aos pequenos e atuações consideradas fracas, a receita que frequentemente é utilizada neste tipo de produção. Pior ainda quando há bichinhos falantes na trama e os realizadores se concentram tanto em tornar críveis tais criaturinhas que acabam conseguindo um resultado frustrante, pois se esquecem de encontrar um equilíbrio com os demais elementos da produção. Contudo, algumas vezes esses filminhos água-com-açúcar podem ser perfeitamente assistidos e com prazer pelos mais crescidinhos graças ao trunfo da nostalgia que carregam em sua essência. É nesse ponto que A Menina e o Porquinho, protagonizado por Dakota Fanning, consegue um reforço. Esta é mais uma adaptação do clássico livro infantil "A Teia de Charlotte", de E. B. White, que já ganhou uma famosa versão em desenho animado em 1973 que foi repetida a exaustão na TV pelas duas décadas seguintes em todo o mundo. A garotinha que outrora era uma grande promessa de Hollywood interpreta Fern, uma das poucas pessoas a perceber que Wilbur não é um simples porquinho da fazenda onde vive, mas sim um animal muito especial. Com seu carinho e atenção, a garota ajuda o bichinho, que era o menor membro de sua família, a se tornar um porco vistoso e radiante. Quando se muda para um novo celeiro, Wilbur faz amizade com a aranha Charlotte e os laços de amizade entre eles influenciam para que os demais animais da fazenda vivam como se fizessem parte de uma grande e feliz família. Porém, o tempo passa e Wilbur cresce e está a caminho do triste fim de qualquer porquinho criado com tudo de bom e do melhor: virar assado. Quando surge a notícia de que em breve ele será abatido, a esperta e sensível aranha arma um plano para retardar a morte de seu amigo suíno.

domingo, 18 de dezembro de 2016

LINHAS CRUZADAS

Nota 4,0 Velho argumento da reunião familiar em momento difícil neste caso não dá linha

Uma atriz balzaquiana sinônimo de comédias leves. Uma veterana premiada e com boa aceitação junto ao público feminino aqui também atacando como diretora. Uma jovem em ascensão em um seriado de TV e buscando seu espaço no cinema. No comando do texto uma roteirista experiente com temáticas que aliam comédia, drama e romance. De quebra, um conflito familiar de fácil identificação e uma pequena dose de clima natalino no ar. Linhas Cruzadas tinha os ingredientes básicos para cair nas graças da mulherada, no entanto, a receita desandou. Aqui o humor existe, mas é diluído em diversas sequências lacrimejantes. Frustrações, alegrias e sonhos desperdiçados são colocados em pauta quando três irmãs forçosamente se reencontram por conta da iminente morte do pai. Baseado no livro "Hanging Up" escrito por Delia Ephron narrando suas próprias memórias familiares, a trama tem como protagonista Eve (Meg Ryan), uma mulher que desdobra-se para dar conta do seu trabalho e de cuidar da casa, do marido e do filho pequeno, no entanto, nos últimos anos tem praticamente abdicado de seus afazeres para cuidar pai idoso. Lou Mozell (Walther Matthau) está com a saúde bastante debilitada e com problemas de memória e precisou ser internado em uma clínica, assim sempre que o telefone toca sua filha já aguarda por más notícias, mas quando não é seu próprio pai ligando para dizer impropérios são suas irmãs que estão na linha. Na verdade quase sempre é Eve quem tenta manter contato com elas que fazem de tudo para se esquivarem de qualquer tipo de compromisso com o idoso. A caçula Maddy (Lisa Kudrow) é uma atriz frustrada e que também não tem sorte na vida amorosa enquanto Georgia (Diane Keaton), a mais velha, é uma solteirona, porém, bem sucedida editora de revistas que só pensa no trabalho. Embora não morem juntas, ambas são de certa forma dependentes de Eve que aproveitando a situação delicada do pai vai tentar reatar os laços familiares e desfazer mal entendidos do passado.

sábado, 10 de dezembro de 2016

MARCAS DO PASSADO (2006)

Nota 4,0 Drama aborda de forma superficial tentativas de homem comum mudar seu futuro

Muitos filmes já investiram na fórmula da pessoa que descobre que seu futuro não é lá muito auspicioso e corre contra o tempo para tentar mudar seu destino. Geralmente tais produções são ligadas ao gênero fantasia, horror ou suspense e garantem um filme razoavelmente divertido, tudo o que Marcas do Passado não é. Seguindo a linha de um drama policial, o longa dirigido por Mark Fergus, roteirista de Filhos da Esperança e Homem de Ferro, é um tanto arrastado, desinteressante e repleto de personagens sem função que apenas servem para confundir o espectador. O roteiro de Scott Hastings nos apresenta a Jimmy Starkys (Guy Pearce) que está viajando sozinho por uma estrada deserta quando tem um problema no carro. No pequeno vilarejo mais próximo ele consegue auxílio, mas terá que aguardar praticamente o dia todo até que o veículo fique pronto. Para passar as horas, o rapaz começa a vagar pelas redondezas e encontra o vidente Vacaro (J. K. Simmons) e só por distração paga por uma consulta mediúnica, embora não acredite em visões e caçoe a cada novo comentário que o homem faz. Sua atenção muda quando é avisado que em breve uma grande quantia de dinheiro chegará até ele de Dallas, mas subitamente o vidente começa a se sentir mal e interrompe a consulta. De volta a sua casa, Jimmy, que é vendedor, logo se vê envolvido em um negócio lucrativo, a venda de jukeboxes (tipo de toca-músicas antigos e próprio para estabelecimentos comerciais). O negócio começaria justamente por Dallas por ser um importante centro comercial, mas junto com essa novidade ele também passa a receber misteriosas correspondências e seu telefone quando toca fica mudo. Não demora muito para que o rapaz descubra que quem está por trás dessas pequenas brincadeiras é Vincent (Shea Whigham), um antigo parceiro de comércio ilegal que passou um bom tempo na cadeia por conta de um episódio mal explicado envolvendo Jimmy, este que ligando as evidências se apavora ao perceber que pode ser morto pelo ex-amigo que está sob liberdade condicional e cheio de ódio. Segundo a profecia, confirmada por uma cigana, o rapaz estaria a salvo apenas até a primeira nevasca do ano.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

EDWARD MÃOS DE TESOURA

NOTA 10,0

Embora para muitos seu valor
tenha diminuído com as reprises
na TV, esta fantasia ainda diverte
e emociona como poucas obras
Qualquer pessoa que conheça o mínimo possível de cinema sabe que a parceria do diretor Tim Burton e do ator Johnny Depp é uma das mais longas e produtivas de todos os tempos. É um daqueles raros encontros cuja emoção ultrapassa os limites da ficção e mesmo quando o filme não é lá grande coisa os fãs da dupla estão apostos para exaltá-lo afinal este seria mais um tijolinho a reforçar esta sólida amizade e é um prazer inenarrável ser testemunha sentimental da construção desta relação, ainda mais sabendo que nos bastidores desta indústria a guerra de egos é intensa e os amigos da onça existem em peso. Esta trajetória começou no início dos anos 90 e provavelmente no futuro deve render alguma homenagem cinematográfica afinal ambos têm carreiras com projetos interessantíssimos e eles próprios são figuras que despertam curiosidades. Revisitar tal história é delicioso, ainda mais se voltarmos ao início de tudo. Burton é um cineasta que escreveu sua trajetória no cinema na base de bizarrices praticamente. Dono de um visual um tanto excêntrico e adepto do estilo gótico para ornamentar seus trabalhos, o campo do terror e do suspense poderia ser seu habitat natural, mas não é bem assim. Apesar de já ter trabalhado com histórias de arrepiar, o que ele mais gosta mesmo é de fazer as plateias sonharem de forma diferenciada. Com muita sinceridade e sensibilidade o diretor já conseguiu construir verdadeiros clássicos das sessões da tarde que agradam a todas as idades, desde crianças bem pequenas até os idosos, e sempre imprimindo suas marcas. Dificilmente alguém não tenha a lembrança de ao menos uma vez na vida ter esperado com ansiedade a exibição na TV ou ter entrado na fila de espera da locadora para assistir Edward Mãos de Tesoura, um daqueles filmes que marcam época mesmo contando uma singela e até certo ponto previsível história. É óbvio que aqui também faz diferença o apuro visual, mas esqueçam os efeitos especiais mirabolantes. A magia desta produção se concentra em seu aspecto artesanal, atestando que tudo realmente foi feito por mãos talentosas e precisas. O cineasta demonstra criatividade para mesclar a fantasia e referências cinematográficas e literárias de forma que até o público infantil se sentisse atraído para entrar nesse misterioso e fascinante mundo, não se assustando nem mesmo com os primeiros minutos que são mergulhados em uma atmosfera dark. Todavia, o tom de fábula está presente em todas as sequências do filme, a começar pela opção de uma senhora de idade logo na introdução passar a contar para a neta a história do personagem-título como se fosse um conto de ninar. A cidade onde a trama se passa parece um paraíso, os vizinhos se dão bem, as casas são bonitas e padronizadas e seus moradores em geral são estereotipados propositalmente, cada qual com um papel bem delineado. Tem a mulher bondosa, a sedutora, a gordinha fofoqueira, o jovem valentão, a mocinha romântica... O que tira o projeto da mesmice é justamente seu protagonista cuja personalidade, postura e visual destoam totalmente do restante da população provinciana. Pode-se dizer que tal criação seria uma metáfora, um grito para chamar a atenção. Ainda tentando ter seu trabalho aceito pelo mercado cinematográfico, Burton na época se sentia um esquisitão no meio, mas não se rendia as exigências de Hollywood e tocava sua carreira com projetos pessoais e correndo atrás dos recursos financeiros.

domingo, 4 de dezembro de 2016

SEREIAS

Nota 7,5 Sexo versus religião, este é o tema central de suposta homenagem à pintor australiano 

No outro lado do globo terrestre também tem cinema. A Austrália é um país que não tem uma filmografia expressiva, mas vez ou outra surge algum produto de lá. Inclusive já tivemos um filme com o mesmo nome deste território popularmente conhecido como a terra dos cangurus e dos coalas, embora fosse uma produção americana dirigida pelo cineasta Baz Luhrmann e estrelada por Nicole Kidman, ele natural do continente enquanto a atriz apenas naturalizada. Daquelas longínquas terras, no passado, recebemos o romance Sereias. O diretor e roteirista John Duigan se inspirou na história do pintor Norman Lindsay, artista praticamente desconhecido no Brasil, que ousou nas suas obras e foi criticado por cutucar a moralidade de seu tempo. Sexo versus religião. Este é o conflito que serve como pano de fundo para narrar a história do pastor inglês Anthony Campion (Hugh Grant) e sua esposa Estella (Tara Fitzgerald) que em meados da década de 1930 chegam a Austrália a pedido de um bispo local. A missão dada é barrar os trabalhos do pintor Norman Lindsay (Sam Neill) cujas obras supostamente atentam a moral e os bons costumes ao reunir mensagens eróticas e religiosas em uma mesma tela. O jovem pároco deveria convencê-lo a retirar de uma exposição internacional seu quadro “A Vênus Crucificada”, no qual uma mulher nua é retratada se balançando na cruz enquanto aos seus pés se rebaixam membros da Igreja. O casal visita o artista para convencê-lo a mudar o foco de seus trabalhos, mas acaba descobrindo o porquê do apelo sensual de seus quadros. Ele vive em um ambiente rodeado de belas mulheres. Além de sua esposa Rose (Pamela Rabe), eles conhecem Sheela (Elle MacPherson), Gidia (Portia de Rossi) e Pru (Kate Fischer), três belas modelos que lhe servem como fonte de inspiração. No momento em que os Campion chegam elas estão justamente posando para uma nova tela intitulada “Sereias”. Neste universo exuberante e aparentemente de luxúria ainda há espaço para Lewis (Ben Mendelsohn), um camponês deficiente visual que também faz as vezes de modelo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

RUA CLOVERFIELD 10

NOTA  7,0

Claustrofobia, pânico, insegurança
e melancolia se misturam em suspense
que resgata de certa forma a temática e
ambientação de Cloverfield - Monstro
Lançado em 2008, Cloverfield - Monstro não faturou horrores e tampouco caiu no gosto popular, mas por outro lado conquistou a crítica especializada por conta de seu leve sopro de originalidade.O diretor J. J. Abrams, então em evidência com a repercussão do seriado "Lost", era apenas o produtor da fita, porém, seu nome atrelado certamente deu um reforço para a campanha de marketing. Com cerca de 80 minutos de duração, a obra é bastante tensa e claustrofóbica, deixando aberto o caminho para uma continuação, mas a agenda cheia do criador acabou postergando a ideia. Demorou, mas de certa forma ela foi lançada. Com argumento de Josh Campbell e Matthew Stuecken e roteiro final de Damien Chazelle (do premiadíssimo musical La La Land - Cantando Estações), Rua Cloverfield 10 não é exatamente uma sequência. Além de aspectos técnicos mais hollywoodianos, nenhum ator do filme anterior e nem mesmo o personagem-título dão as caras. Ainda assim, Abrams dá um jeito deste trabalho guardar certo parentesco com a produção sobre a ameaça gigantesca que assola Nova York. Enquanto a grande metrópole era destruída, nesta espécie de sequência não-oficial, conhecemos a jovem Michelle (Mary Elizabeth Winstead) que no começo do filme aparentemente está abandonando o lar e seu companheiro. Desconhecendo a situação caótica que a cidade vive, a moça pega a estrada rumo ao interior e acaba sofrendo um acidente de carro que a deixa inconsciente. Quando acorda ela se vê presa em um cômodo desconhecido e sob os cuidados do misterioso Howard (John Goodman) que lhe afirma que todo o planeta está inabitável devido a um ataque químico provocado por uma invasão alienígena. Agora um dos poucos lugares seguros seria seu "bunker", um tipo de abrigo subterrâneo preparado para proteger das piores ameaças possíveis. Por ter salvo a vida da jovem, o anfitrião deixa claro que ela precisará obedecer suas regras, assim como Emmett (John Gallagher Jr.), outro sobrevivente resgatado.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

CLOVERFIELD - MONSTRO

NOTA 7,0

Sem se preocupar em revelar a
ameaça fisicamente, mas deixando
clara sua presença, longa se preocupa
em mostrar as reações das vítimas
Assim como dinossauros, dragões e até um gorila super desenvolvido já invadiram a cidade grande, seja ela qual for, destruindo tudo o que viam pela frente, mais uma criatura gigantesca tentou repetir a façanha no mundo cinematográfico. Cloverfield - Monstro tem como chamariz mais um desses animais gigantescos que aparecem de tempos em tempos para amedrontar as pessoas, mas não trouxe novidades ao subgênero dos filmes catástrofes, a não ser o fato de preferir sugestionar ao invés de apresentar escancaradamente a ameaça, embora tal técnica fosse mérito do clássico Tubarão, mas de pouco uso. Outras referências já testadas e aprovadas em outras produções do tipo foram alinhavadas em uma produção claustrofóbica e com uma inteligente e instigante campanha de marketing. Talvez nisso esteja o segredo do projeto ter bombado nos cinemas americanos, ao contrário do que ocorreu no Brasil onde longa não pegou e a publicidade não foi tão maciça. O grande objetivo do roteiro de Drew Goddard, estreando no cinema, era acompanhar um pequeno grupo de pessoas e ver suas reações diante de uma situação de apuro extremo. O jovem Rob Hawkins (Michael Stahl-David) está de mudança para o Japão e ganha do irmão Jason (Mike Vogel) e da cunhada Lily (Jessica Lucas]) uma festa surpresa de despedida. Para registrar o encontro, seu amigo Hud (T. J. Miller) resolve fazer uma gravação caseira de alguns momentos e depoimentos do grupo embora esteja mais interessado em xavecar Marlena (Lizzy Caplan) que mostra-se indiferente ao cortejo. Beth (Odette Yustman), a ex-namorada do homenageado, também comparece à festa junto com seu novo companheiro, Travis (Ben Feldman), para rolar aquela cena clássica de ciúmes com o rejeitado. Para que perder tempo apresentando essa turma? A ideia é que o espectador se envolva a ponto de sofrer com o que vai acontecer a eles, mas é só uma intenção, ok? Durante a festa uma explosão ocorre e na sequência surgem tremores, barulhos ensurdecedores, queda de energia e mortes começam a acontecer. A cidade de Nova York está sendo destruída por um animal desconhecido e gigantesco e agora todos precisam correr para tentar achar algum lugar seguro, se é que existe algum.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O PÂNTANO (2001)

NOTA 4,0

Usando a decadência de uma
família como metáfora a crise
generalizada da Argentina, obra
é uma opção de difícil digestão
O cinema argentino desde o ano 2000 tem sido reconhecido mundialmente e suas produções consideradas o que há de melhor na área nas regiões latino-americanas. Muito premiado e com o ator Ricardo Darín automaticamente eleito como um grande símbolo do desenvolvimento da arte cinematográfica no país, é certo que suas comédias e dramas familiares fazem sucesso por geralmente narrarem histórias de apelo universal, o que explica a ausência de barulho entre os populares quanto ao festejado entre os críticos O Pântano, trabalho de estreia da roteirista e diretora Lucrecia Martel. É muito difícil se sentir envolvido por um filme cuja estética é literalmente suja, embora a opção seja justificada pela trama ácida, crítica, melancólica e porque não desinteressante. Sim, a percepção de um filme varia de pessoa para pessoa e implica vários fatores, como cultura e experiência de vida, ainda que muitos certamente prefiram omitir suas verdadeiras opiniões ameaçados pelo peso de menções honrosas como dos festivais de Berlim e Sundance, por exemplo. Bater de frente com a opinião de críticos especializados que vêem beleza na lama pode ser a assinatura de seu atestado de burrice ou surpreendentemente provar sua coragem de ser diferente. As divergências de ideias é benéfico, só não vale não assistir e passar adiante falsos elogios rasgados a fim de parecer intelectual, o que realmente não é o objetivo deste texto. A quem interessar participar desta estranha experiência, lá vai a sinopse. Mecha (Graciela Borges) é uma mulher em torno dos 50 anos, mãe de quatro filhos jovens, mas que não se entende mais com o marido Gregorio (Martín Adjemian), entregando-se a bebida para a embriaguez a ajudar a ignorá-lo. Ele, por sua vez, se preocupa com a aparência procurando recuperar o frescor da juventude, mas também é adepto do álcool para esquecer problemas. Já Tali (Mercedes Morán), prima de Mecha, também tem quatro filhos, só que ainda crianças, e ama e se dedica ao máximo para o bem estar da família, inclusive do marido Rafael (Daniel Valenzuela) que ocupa seu tempo caçando. Para escapar do clima quente da cidade, todo o verão estas duas famílias combinam de passar uma temporada no povoado de Rey Muerto que abriga o sítio La Mandrágora, reduto de cultivo de pimentões vermelhos.               

domingo, 27 de novembro de 2016

AS LOUCURAS DO REI GEORGE

Nota 9,0 Cinebiografia ganha vigor com atuação que desmistifica figura histórica aborrecida

É impressionante investigar a História do cinema e ver a quantidade enorme de filmes que foram super elogiados e premiados, mas que a ação do tempo em conjunto com a modernidade acabaram empurrando-os para o limbo. São inúmeros títulos que se perderam na transição das fitas VHS para o DVD e hoje, com os serviços de streaming alimentando a ânsia do público por novidades, infelizmente se tornam cada vez mais ínfimas as chances de grandes produções voltarem ao mercado. Uma pena para os verdadeiros cinéfilos que prezam por conteúdo e qualidade e são privados de ver ou rever obras como As Loucuras do Rei George, uma luxuosa e cuidadosa produção que deixou sua passagem registrada pelos principais festivais e premiações em meados da década de 1990, chegando obviamente ao Oscar conquistando duas estatuetas. A trama escrita por Alan Bennett se baseia em fatos verídicos ocorridos em um período conturbado da vida do monarca da Grã-Bretanha George III (Nigel Hawthorne) no final do século 18. Ele era um homem que mantinha um bom relacionamento com seus súditos e levava uma vida pessoal irretocável, sendo muito feliz no casamento com Charlotte (Helen Mirren). O casal teve nada mais nada menos que quinze herdeiros, entre eles o Príncipe de Gales (Rupert Everett), o primeiro representante na linha de sucessão ao trono e aquele que viria a trair seu próprio pai em nome do poder, um mal que parecia fazer parte do histórico do clã visto que traições semelhantes já haviam ocorrido em outras gerações, nada muito diferente do que ocorria entre tantas outras famílias nobres da época. Seu filho mais velho defendia que o comportamento da família real deveria ser um exemplo à população, apesar de ele próprio levar uma vida desgarrada e cheia de pecados. O grande ponto de conflito é que o rapaz criticava abertamente o comportamento do pai conhecido por suas excentricidades. Conforme o tempo passa essas atitudes diferentes do monarca começam a gerar inquietações, constrangimentos e a levantar suspeitas de que o rei de fato enlouqueceu e eis o momento em que a disputa pela sucessão do trono se acirra.  Uma facção da nobreza se empenhou para tentar minimizar os efeitos da senilidade do rei e diante da incapacidade de seu médico pessoal em identificar as causas para seu problema recorrem ao apoio do doutor Francis Willis (Ian Jolm), um psiquiatra adepto de métodos poucos convencionais.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A FAMÍLIA SAVAGE

NOTA 7,0

Irmãos que não se falavam há
anos se reencontram em drama
com toques de humor que aborda a
imperfeição do ser humanao
Todos os anos na época do auge das premiações surgem alguns títulos independentes que podem surpreender e conquistar a crítica e o público. Geralmente com o respaldo de passagens por festivais cults, eles chegam como as zebras de festas como o Globo de Ouro e o Oscar, porém, não há espaço para todos eles nessas disputas. Foi o que aconteceu com A Família Savage que acabou diminuído com a presença de Juno em seu caminho, uma febre que conquistou com sua trama leve e temática jovem, dois itens que o longa protagonizado pelos talentosos Laura Linney e Philip Seymour Hoffman não podem contar. Eles vivem Wendy e Jon Savage, irmãos que se aproximam depois de muitos anos devido ao estado de saúde delicado do pai, Lenny (Philip Bosco). O problema é como dedicar atenção ao idoso sem abdicar de suas próprias vidas. Apesar de alguns momentos cômicos, a roteirista Tamara Jenkins, estreando aqui também no cargo de diretora, optou por abordar um tema que revela o que há de pior no ser humano, o egoísmo, seja na vida profissional ou na particular. A grande surpresa é que ela não tem medo de expor a velhice sob uma ótica diferenciada. Dramas com idosos tendem a reforçar a mensagem de que é uma obrigação dos mais novos cuidar dos mais velhos, porém, aqui é mostrado sem pudor que tal situação é um entrave e tanto para os filhos e o próprio ancião toma consciência de que é um fardo para os outros e que ele próprio não vê mais razão para viver se não pode ter sua independência preservada. Ao começar a escrever com fezes nas paredes, os filhos são imediatamente chamados para ser discutido o que será feito com Lenny diante dos sinais de demência. Para piorar, ele não tem mais um teto já que vivia há cerca de vinte anos com uma companheira que acabara de falecer, aliás, eles já estavam separados por algum tempo devido a problemas de saúde de ambos. Mesmo guardando mágoas dos tempos de infância pela atenção que o pai negou, os irmãos decidem ampará-lo mostrando que um resquício de civilidade ainda há dentro deles. Todavia, isso implica em mudança de estilo de vida para os dois. Wendy é uma quarentona que a essa altura do campeonato ainda não sabe bem o que quer da vida. Vivendo em East Village, ela é amante de um homem casado, se dedica a trabalhos temporários e sonha que ainda terá seu talento como dramaturga reconhecido, mas parece não confiar no que escreve. Jon, por sua vez, vive em Buffalo e trabalha como professor universitário sem grande reconhecimento, além de ter escrito alguns livros esquecíveis. No momento sofre com a separação da namorada polonesa que precisa deixar os EUA por não ter conseguido renovar seu visto de permanência.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

AS AVENTURAS DE AGAMENON - O REPÓRTER

NOTA 1,5

Longa é um vexame para
o cinema nacional do início
ao fim apoiando-se em
piadas sem pé nem cabeça
Quantas pessoas você já viu na fila do cinema ou em uma locadora apontando um ou mais títulos e dizendo que eles devem ser bons porque suas propagandas passam toda hora na TV ou em praticamente todos os sites existem banners divulgando-os? É se aproveitando dessa inocência do público que muitas empresas tentam lucrar. O artifício da publicidade é usado a exaustão desde os primórdios da televisão para vender margarina, sabonetes e coisas do tipo. Na realidade querem te iludir com a idéia de que o produto que estão oferecendo é ótimo e essencial. Da mesma forma que um bebê aprende a falar e certos gestos na base da repetição, o mesmo impulso as empresas querem despertar em pessoas com a mentalidade já desenvolvida reforçando cada vez mais uma marca ou produto. A Globo Filmes faz praticamente a divulgação de oito a cada dez lançamentos nacionais e desde a campanha de sucesso de Se Eu Fosse Você no final de 2005 adotou a estratégia de inserir anúncios dos filmes em seus intervalos comerciais cerca de dois meses antes da data de estréia, assim conseguindo criar o efeito desejado: cativar o seu espectador para ir ao cinema. Por um bom tempo isso funcionou e os lançamentos de verão brazucas fizeram fortuna, mas quando uma produção é ruim não há santo que ajude. Por alguns dias até pode ser que o público se sinta instigado a assisti-las, mas logo o boca-a-boca negativo mostra seus efeitos. Pior ainda quando um elenco capenga é a bola da vez. Com um enredo sofrível e interpretações de doer de atores misturados a modelos, peças de museu e profissionais do tipo topo tudo, Muita Calma Nessa Hora até fez seu pé de meia, por exemplo, mas os espectadores não caíram na mesma armadilha com As Aventuras de Agamenon – O Repórter e deram às costas à produção. Embora a campanha publicitária fosse muito eficiente, também colocada no ar com antecedência e com direito a um funk tipo chiclete, o elenco reunido já trazia desconfianças. O que dizer de um personagem que é dividido por Hubert,um membro do grupo Casseta e Planeta, diga-se de passagem, em franca decadência, e o onipresente Marcelo Adnet? Besteirol na certa. Idolatrados por destilarem um humor ácido e crítico, os atores falharam ao tentar fazer no cinema o que fazem há anos na TV.

sábado, 19 de novembro de 2016

END GAME

Nota 1,0 Presidente dos EUA é vitimado mais uma vez em suspense repetitivo e desenecessário

Ganhar um Oscar pode ser positivo e também negativo. Alguns artistas após um elogiado e premiado trabalho acabam caindo em uma espiral de fracassos e outros em contrapartida só ganham ou acumulam ainda mais prestígio. E tem aqueles atores que mesmo atuando em verdadeiras bombas acabam alimentando a fama de que “é o cara”. Esse é o caso de Cuba Gooding Jr. que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Jerry Maguire – A Grande Virada, mas depois disso fez pouquíssimos filmes que escaparam de serem duramente criticados ou até mesmo caindo no ostracismo de imediato ao lançamento. Todavia, não é difícil encontrar aqueles que ao verem seu nome estampado em um cartaz de cinema ou na capa de um DVD logo dispararem algo do tipo “esse filme deve ser bom, ele só faz coisa boa”. Coisa boa? Só peneirando duas ou três vezes sua filmografia para ver o que ela tem de bom. O fato é que seu jeito de cara malandro acaba criando empatia com o público e talvez por isso o ator não funcione em papéis mais sérios como o que ele encarna no chato suspense policial End Game. Aqui ela dá vida a Alex Thomas, um agente do Serviço Secreto responsável pela segurança do Presidente dos EUA (Jack Scalia). Certo dia, logo que chega a um evento público em uma universidade o político é atingido por um tiro certeiro e morre. Thomas passa a se sentir culpado pelo ocorrido, já que ele tentou desviar a bala de seu percurso original (super-herói com visão biônica?) e talvez esse pequeno detalhe possa ter provocado a tragédia. Agora o rapaz está obcecado pela ideia de resolver o crime e ganha uma importante aliada, a repórter Kate Crawford (Angie Harmon), mas cada novo suspeito ou pessoa ligada ao presidente que conseguem ter contato logo em seguida acaba morrendo em condições violentas. Logo os dois também passam a ser alvos de criminosos. Resumidinho dessa forma, até que o filme roteirizado e dirigido por Andy Cheng, ator de A Hora do Rush experimentando novos caminhos profissionais, daria para ser encarado afinal a premissa comum é perfeita para matar o tempo sem precisar usar o cérebro, mas infelizmente o longa tenta ser mais inteligente que suas reais possibilidades adicionando a suspeita de uma empresa ilegal estar ligada ao assassinato e até que o político poderia ser dependente de uma droga. O problema é que a maioria dos tiros do roteiro não estilhaça alvo algum, simplesmente somem no ar sem contribuir em nada para a história, apenas ajudam a torná-la pior.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O ANO DA FÚRIA

NOTA 8,0

Misturando ficção e realidade,
suspense político prende atenção
com narrativa coesa, envolvente e
 que continua atual e chocante
Infelizmente temos a cultura de só dar atenção a filmes lançamentos e recorrer a antigos apenas por alguma indicação ou quando precisamos realizar trabalhos escolares ou empresariais e ainda assim a maioria assiste com ressalvas, apenas por obrigação. Bem, vendo por esse lado, O Ano da Fúria seria um título obrigatório para qualquer estudante ou trabalhador da área jornalística, no entanto, sua trama é razoavelmente interessante para agradar espectadores fora deste nicho mesmo sendo uma produção de 1991. O duro é alguém despretensiosamente topar ver um trabalho de Sharon Stone dos tempos em que ela ainda nem tinha dado sua famosa cruzada de pernas em Instinto Selvagem. Sim o filme é velho, mas muito bom. Um jornalista pode se envolver com o assunto de seu trabalho a ponto de interferir nos fatos? Vale a pena se arriscar para ter a matéria de sua vida? É melhor esconder a verdade para não comprar briga com gente influente? Estas são algumas questões que o roteiro de David Ambrose tenta responder com exemplos práticos e inspirados em eventos reais acontecidos a partir de janeiro de 1978, ano em que a Itália estava um verdadeiro caos devido aos intensos e violentos conflitos travados contra o governo, o que justifica o título. Baseado no romance de Michael Mewshaw, este suspense segue os passos de David Raybourne (Andrew McCarthy), jornalista norte-americano que está voltando a Roma para trabalhar no jornal de língua inglesa dirigido por Pierre Bernier (George Murcell), uma suposta conexão da CIA na cidade. Todos que trabalham na publicação são estrangeiros que atuam clandestinamente no país, mas os interesses do repórter vão além de notícias cotidianas. O rapaz deseja escrever um livro inspirado nos atentados terroristas organizados pelas Brigadas Vermelhas, grupo que se infiltrava em ambientes universitários incitando a revolta de estudantes e até de alguns professores com o objetivo de destronar os governantes da época e tomar o poder italiano. Certo do sucesso que sua obra seria, ele sonha com o dia que poderá se casar com Lia Spinelli (Valeria Golino), uma moça que ele conheceu em sua temporada anterior na Itália. Com um filho pequeno, ela não pode abandonar o país diante das ameaças do ex-marido que parece saber algum segredo seu, mas esse gancho a respeito de Lia acaba sendo esquecido quando outra personagem feminina forte entra na trama.

domingo, 6 de novembro de 2016

AS MULHERES DE ADAM

Nota 7,0 Centrado nos relacionamentos de um cafajeste, quem se destaca são suas parceiras

Pode um personagem cafajeste conquistar a simpatia do espectador? A julgar pela comédia romântica As Mulheres de Adam a resposta é sim, muito pelo modo sutil e descontraído que o diretor e roteirista Gerard Stembridge conduz uma história que tinha tudo para causar repúdio nos espectadores mais conservadores, contudo, mostra-se  habilidoso e ousado ao deixar seu enredo ser conduzido por um protagonista de caráter duvidoso, porém, abandonando falsos moralismos e deixando-o a vontade em cena. A trama começa como tantas outras comédias românticas. Lucy Owens (Kate Hudson) é garçonete e cantora em um pequeno bar na cidade de Dublin, na Irlanda, e apesar de muito namoradeira nunca se sentiu apaixonada e correspondida verdadeiramente. Certa noite ela se a apaixona a primeira vista por um de seus clientes, o misterioso e aparentemente perfeito Adam (Stuart Townsend), que como todo jovem que quer vender uma imagem de sucesso e independência ostenta um chamativo e valoroso carro. Após alguns encontros,  nem ela mesma sabe o porquê desse amor instantâneo afirmando que o rapaz não é muito inteligente e tampouco simpático, todavia o charme e lábia dele parecem ser suas armas de conquista, tanto que Laura (Frances O´Connor) e Alice (Charlotte Bradley), as irmãs de Lucy, também se apaixonam logo que o conhecem. Assim, o conquistador barato passa a se relacionar com essas três mulheres na surdina e até o caçula da família, David (Alan Maher), escapa por pouco de ser seduzido, ficando com a pulga atrás da orelha quanto a sua sexualidade ao se sentir atraído pelo futuro cunhado. É uma pena que Stembridge não desenvolva tal gancho e prefira se ater aos envolvimentos héteros do pegador que é um cara-de-pau de marca maior que mesmo após aceitar o pedido de noivado de Lucy não sossega, pelo contrário, seu instinto de caça só aumenta. Dessa atração fatal parece só escapar a mãe da noiva, Peggy (Rosaleen Linehan), que pode não ir para a cama com o jovem, mas não esconde seu apreço por ele e torcida pelo casamento. As aventuras sexuais do rapaz são contadas por pontos de vistas diferentes e não raramente contraditórios, abrindo espaço para o elenco feminino brilhar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

SEMPRE AO SEU LADO

NOTA 9,0

Baseado em um conto
oriental, longa é cercado
de diversos cuidados e
clichês para emocionar
O ditado popular “o cão é o melhor amigo do homem” já foi a fonte de inspiração de dezenas de comédias e dramas ao longo da história do cinema, mas nos últimos anos a participação dos cachorrinhos se restringiu a produções menores e que geralmente eram destinadas ao público infantil e lançadas diretamente no mercado de locação e vendas ao consumidor, muitas delas inclusive eram telefilmes e hoje recheiam as sessões da tarde da TV. Porém, após o extrondoso sucesso de Marley e Eu que lotou as salas de exibição com crianças, adultos e idosos que riram e se emocionaram com a relação de amor e confiança entre um humano e um bichinho de estimação muito sapeca, parece que os produtores acharam um novo filão para explorar. Um animal não precisa necessariamente falar ou ser emperequetado com roupas e acessórios para fazer graça e assim conseguir sucesso, pelo contrário, tal esterótipo só serve para entreter as crianças bem pequenas. Tratar os cachorros em cena com dignidade e naturalidade é o bastante para chamar a atenção dos espectadores infantis e consequentemente de seus pais, irmãos e avós. Seguindo essa linha de pensamento o diretor Lasse Hallström, especialista em lidar com emoções, investiu seu talento em Sempre ao Seu Lado, mais uma singela história de amor e lealdade entre um cão e seu dono. Lançado pouco tempo depois que o simpático Marley ganhou as telonas, este trabalho que segue a mesma cartilha não obteve o mesmo sucesso, embora para muitos já tenha se tornado um novo clássico para de tempos em tempos ser revisto com toda a família. É até fácil identificar o porquê da recepção morna. Faltou um pouco de humor à narrativa, o que fatalmente afasta as crianças e logo seus familiares que as acompanham. O boca-a-boca de “é chato” ou “é  muito triste” pode ter colaborado para as fracas bilheterias em quase todo o mundo.

domingo, 30 de outubro de 2016

ABRACADABRA

Nota 8,5 Nostálgico para muitos, bruxas da Disney ainda garantem uma boa sessão da tarde

É curioso como bruxas, fantasmas, vampiros e companhia bela ao mesmo tempo em que amedrontam as crianças também conseguem fasciná-las, uma particularidade que a sétima arte aproveita a exaustão há décadas. A receita básica para fisgar a atenção do público infantil abordando temas sinistros é praticamente sempre a mesma: colocar um bando de crianças e adolescentes em apuros fugindo das garras de seres horripilantes. Para completar o prato basta cercar-se de crendices populares e adicionar generosas pitadas de humor leve e inocente, além de adorná-lo com uma generosa dose de final feliz. É essa receita que serviu e ainda serve de base para muitas produções infanto-juvenis, sendo uma das mais influentes do gênero. Abracadabra segue os ensinamentos a risca e não dispensa nenhum ingrediente. Essa produção é dos tempos em que a Disney emplacava candidatos a clássicos das sessões da tarde em velocidade ímpar e um dos filmes que melhor capta o espírito de alegria e medo que se misturam na noite de Halloween. Com roteiro de David Kirschner e Mick Garris, a trama gira em torno de Winnie (Bette Midler), Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy), três irmãs feiticeiras que desejam se tornar mais jovens sugando a energia vital das crianças da cidade de Salem. Banidas da face da Terra há 300 anos quando tiveram seus planos descobertos, elas chegam ao século 20 após seus espíritos serem evocados no Dia das Bruxas pelo jovem Max (Omri Katz), uma lenda na qual ele não acreditava assim como sua irmã Dani (Thora Birch) e sua colega da escola Allisson (Vinessa Shaw) também duvidavam. Agora, as feiticeiras estão dispostas a fazer de tudo para garantir sua juventude e imortalidade aproveitando esta única noite de sobrevida. Para tanto elas terão que capturar o maior número possível de crianças para tirar suas vidas, mas elas precisarão enfrentar Max e as meninas que vão fazer de tudo para tentar levar as bruxas de volta ao mundo dos mortos.

sábado, 29 de outubro de 2016

NOITE DAS BRUXAS MACABRA

Nota 5,0 Longa não tem nada de macabro e desperdiça argumento não sabendo trabalhar reviravolta

Kaylie (Brooke Anne Smith) é uma jovem que como tantas outras adolescentes americanas vai passar a noite do Dias das Bruxas trabalhando como babá. O serviço que parecia tranquilo acaba se tornando um pesadelo quando a casa dos seus patrões é invadida por um assassino mascarado. Seria Noite das Bruxas Macabra uma cópia descarada do clássico Halloween - A Noite do Terror? Bem, a julgar pela produção modesta e duração enxuta poderíamos dizer que seria o primo pobre do longa setentista, porém, na metade da história temos uma significativa quebra de expectativas, mas o que também não quer dizer necessariamente que seja um ponto positivo. No primeiro ato, o filme parece seguir à risca a cartilha dos slashers movies. Kaylie é uma adolescente deslocada, do tipo que destila um humor ferino e tem uma visão um tanto distorcida da realidade, o que contribui para não ser muito popular no colégio, completamente o oposto de Daphne (Nikki Limo), sua melhor amiga que inventa estar com gripe para deixar de atender o pedido da família Payton para cuidar de um bebê e assim poder sair para badalar na noite de doces ou travessuras. Kaylie cai na mentira e aceita a tarefa em seu lugar, afinal nada melhor que ganhar uma graninha extra e ainda usufruir um pouco do conforto da casa de uns ricaços, mas é avisada pelo Sr. Miles (Malcolm McDowell), um misterioso e idoso vizinho, sobre os perigos que o Halloween pode oferecer e a recomenda não abrir a porta para nenhum estranho. A jovem imediatamente rejeita o conselho, pois sua noite já começa mal com as tradicionais importunações de adolescentes que aproveitam a data para fazer brincadeiras incômodas, motivo pelo qual a jovem não percebe em um primeiro momento estar sendo observado por um mascarado que não tarda a invadir a residência. Como o velho senhor lhe avisara, muita gente só quer se divertir no Dia das Bruxas, mas não faltam oportunistas para espalhar o mal. Coincidência ou não, esse era o mesmo discurso do personagem de McDowell em Halloween - O Início, remake do filme citado no início do texto que tem como representação da maldade em seu estado mais puro o assassino Michael Myers. Já no filme em questão, o serial killer passa longe de amedrontador.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O PESO DA ÁGUA

NOTA 3,0

Suspense tenta estabelecer
conexões entre duas histórias,
mas nenhuma delas cativa, sendo
válido apenas o capricho técnico
Um título enigmático, um elenco de peso e uma arte publicitária que pouco revela sobre a obra. Esses são elementos que teoricamente unidos podiam fazer um filme de suspense fazer sucesso, mais ou menos a mesma fórmula que alavancou a carreira do diretor M. Night Shyamalan em seus primeiros longas hollywoodianos. Contudo, a receita ainda tem outros ingredientes que em abundância ou em pequenas doses podem comprometer o resultado final, isso sem falar no tempo de espera para sair do forno. A metáfora com a preparação de um bolo, por exemplo, ajuda a justificar o fracasso de O Peso da Água, suspense com todos os elementos citados na primeira frase do texto, mas com excessos, falhas e que foi lançado já cercado de suspeitas de que seria um tremendo imbróglio devido a demora. Tendo estreado no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2000, evento que já é considerado como uma vitrine dos filmes que irão bombar na alta temporada de premiações, estranhamente o longa só foi lançado em circuito comercial nos EUA cerca de dois anos depois. Provavelmente a obra foi mal recebida no festival e os produtores resolveram “consertá-la”.  Será que ela era pior do que a versão definitiva que chegou ao público? Difícil imaginar, mas tudo é possível. Baseado no romance homônimo de Anita Shreve, a trama conta paralelamente duas histórias com pontos em comum, ambas acontecem em um mesmo local e envolvem um turbilhão de sentimentos, mas um século as separa, porém, o passar dos anos provam que ciúme e paixão são atemporais, ou deveriam ser, ligações que este suspense jamais atinge com perfeição. As Ilhas Shoah, no litoral do Estado de New Hampshire, serviram de cenários para uma triste história em meados do ano de 1873. Duas mulheres de uma mesma família, Karen (Karin Cartlidge) e Anethe (Vinessa Shaw), foram assassinadas e seus corpos possuíam marcas de golpes brutais feitos a machadadas. Louis Wagner (Ciarán Hinds) torna-se o principal suspeito, pois poucos dias antes havia se hospedado na casa das jovens e foi expulso acusado de roubo. Maren Hontvedt (Sarah Poley), irmã de uma das vítimas e cunhada da outra, também deveria ter sido assassinada, mas conseguiu fugir e seu testemunho é definitivo para que o citado homem seja condenado pelos crimes e vá para a forca. Logo no início sabemos que Wagner realmente morreu como um criminoso, mas seria ele mesmo o culpado?

domingo, 23 de outubro de 2016

AMOR POR ACIDENTE (2010)

Nota 5,0 Longa repete todos os clichês possíveis de dramas leves e comédias românticas

Há alguns anos produções rotuladas como evangélicas, mas cujos conteúdos e mensagens podem e devem ser apreciados por todos independente da religião, começaram a se popularizar fazendo com que grandes distribuidoras investissem na importação de produtos do tipo e até empresas especializadas nessa filmografia surgiram para abastecer o mercado de vídeo doméstico. A partir de 2012, uma nova onda tomou de assalto as locadoras com títulos que se orgulham de trazer um símbolo que representa os títulos recomendados para toda a família, uma exclusividade que a Focus Filmes traz para o Brasil em parceria com produtoras internacionais que estão investindo pesado neste filão. A essência destes produtos é a mesma que rege o mercado de vídeo evangélico, histórias bonitas de amor e dramas leves envolvendo problemas familiares e do cotidiano que agradam a todas as idades, excluindo qualquer traço ofensivo, porém, não envolvendo necessariamente conceitos religiosos explícitos. Amor por Acidente é um dos exemplos desta seara que tende a conquistar a atenção do público mais sentimentalista com títulos açucarados e artes das capas dos DVD que investem em beleza visual e tons pastéis. A história criada por Charles T. Daniels e Peter Facinelli gira em torno de dois jovens que se conhecem através de um acidente de trânsito e para variar a convivência inicial é das piores já que os dois são um tanto orgulhosos. Eddie Avelon (Ethan Erickson) é um ator frustrado por não ter seu rosto reconhecido nas ruas, afinal ele está sempre coberto pelo pesado e quente figurino do coelho Mulligan, personagem de um popular programa infantil.  Annie Benchley (Jennie Garth) é uma jovem viúva que trabalha como garçonete em uma lanchonete. Após o acidente, eles passam a se esbarrar eventualmente e sempre trocam farpas já que a moça não se conforma que o rapaz praticamente ignorou o acontecido, embora ninguém tenha se ferido. O ponto de equilíbrio entre eles atende pelo nome de Taylor (Dannika Northcott), filha de Annie, uma garotinha de apenas seis anos de idade que é fã incondicional do coelho Mulligan.

sábado, 22 de outubro de 2016

CAÇADORES DE TRÓIA

Nota 6,0 Produção alemã tem clima de aventura dos anos 60 e explora lenda estrangeira

Em 2007 o cineasta Julio Bressane ousou ter a ideia de fazer uma versão da história de Cleópatra filmada em solo e com elenco brasileiro. Preconceituosos como somos, obviamente o longa teve uma passagem relâmpago pelos cinemas e hoje desfruta do pleno ostracismo. Por que isso? Na escola é costume aprendermos um pouco sobre a cultura de boa parte dos países que ajudaram a construir a história e a linha evolutiva das civilizações, portanto, não há nada de errado em um diretor brasileiro ter a ousadia de filmar sua visão sobre algum mito característico de outra nação, mas infelizmente nos acostumamos que é a turma norte-americana que pode usar e abusar de temáticas alheias, isso porque nas aulas de História por lá o patriotismo é exagerado e parece que só existe os EUA no mundo. Por causa desse conceito errado bons trabalhos acabam passando em brancas nuvens como é o caso da aventura Caçadores de Tróia, produção da Alemanha caprichada em termos visuais que aborda um mito da cultura grega. Na trama roteirizada por Don Bohlinger, Heinrich Schliemann (Heino Ferch) desde a infância tem seus sonhos povoados por aventuras passadas na cidade de Tróia e não por acaso quando adulto ele se tornou um especialista em antiguidades. Em Berlim, em 1868, durante uma conferência ele é achincalhado pelos colegas por causa de suas teorias de que a mítica cidade grega realmente existiu e poderia ser encontrada. Como um homem de posses, Heinrich resolve jogar tudo para o alto e se aventurar numa expedição, mas apaixonado pela cultura grega ele tem o excêntrico desejo de se casar com uma legítima mulher desta nacionalidade para ostentar como um troféu quando encontrasse seu tesouro e triunfasse sobre aqueles que um dia o humilharam. Assim ele consegue um casamento arranjado com a jovem Sophia (Mélanie Doutey), cujos pais estão de olho no que podem lucrar com essa união. O problema é que a moça namora escondido um rapaz de idade compatível e tão pobre quanto ela, o que faz com que ela trate com rispidez e rebeldia seu noivo. Todavia a união acontece e ambos partem juntos rumo a expedição.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ESPELHOS DO MEDO 2

NOTA 2,0

Apenas a ideia básica do longa
original é resgatada nesta
sequência fraca e desnecessária
cuja trama tem pegada policial
Continuações de filmes de terror já são previstas quando um novo produto do gênero é lançado e ele nem precisa fazer sucesso para dar criar. Contudo, é de praxe ficarmos com o pé atrás quanto a qualidade dessas sequências, ainda mais quando nem mesmo o protagonista do original aparece para uma ponta, portanto, não há muito o que se esperar de Espelhos do Medo 2, suposta continuação da fita de horror estrelada por Kiefer Sutherland em 2008 que apesar das boas intenções já era uma obra irregular. Esta segunda parte tenta seguir a mesma linha de raciocínio da anterior, mas sua narrativa já começa mal perdendo seu protagonista. Agora quem encabeça o elenco é o jovem Nich Stahl interpretando um personagem perturbado, praticamente um item indispensável nas fitas de terror. Max Matheson sofreu um acidente de carro no qual sua noiva veio a falecer e ele se sente culpado. Após um período de depressão e de se entregar ao vício das drogas e bebidas, inlcusive chegando a tentar suicídio, o rapaz tem a chance de recomeçar sua vida trabalhando com seu pai, Jack (William Katt), que lhe oferece o emprego de vigia na nova loja MayFlower, a mesma que há alguns anos foi o cenário de trágicos acidentes após ter passado por um incêndio. Enquanto não inaugura, o rapaz será encarregado de vgiar o espaço para evitar assaltos e depredações. Para manter-se ocupado e tentar abandonar os vícios, Max aceita o cargo, mas nem imagina a história de arrepiar que está prestes a vivenciar. Como herança da antiga loja, um grande espelho em perfeito estado foi recuperado do prédio que foi incendiado, item neceessário para fazer as ligações entre as duas obras. Logo na primeira noite de trabalho o jovem começa a perceber imagens estranhas nos espelhos, como a visão de uma mulher refletida, porém, ela nunca está presente nos ambientes. Depois ele passa a enxergar a imagem de seus colegas de trabalho também, mas em situações em que provocam a própria morte. Já fica subentendido que cada uma dessas pessoas irá morrer em breve e tal qual da maneira que o espelho apresentou. Mesmo tentando socorrê-los, Max sempre chega tarde demais aos lugares das visões e sabe que a qualquer momento pode ser a próxima vítima. Agora ele precisa descobrir o mistério da tal garota para terminar com a onda de mortes inexplicáveis e proteger a sua própria vida.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

ESPELHOS DO MEDO

NOTA 6,0

Refilmagem de terror asiático
tem boa premissa, mas peca
por sustos manjados e má
exploração do excelente cenário
O início da primeira década do século 21 foi marcada pela invasão dos terrores e suspenses orientais pelo mundo todo. Primeiro foi Hollywood que foi buscar inspiração no Oriente e acabou optando pelas refilmagens de sucessos de lá. Logo cineastas de olhinhos puxados foram importados para terras americanas e não demorou muito para as próprias produções originais asiáticas encontrarem espaço no Ocidente, mais especificamente no mercado de vídeo. Resultado: saturação do estilo. Assim não é de se espantar o fraco desempenho em bilheterias e de repercussão de Espelhos do Medo, refilmagem do terror sul-coreano Espelho. Apesar das críticas negativas que recebe honestamente esta produção não é de todo ruim e consegue ser mais palatável que sua versão oriental. A trama gira em torno de Ben Carson (Kiefer Sutherland), um ex-detetive que foi suspenso do Departamento de Polícia de Nova York há cerca de um ano por uma ação desastrosa que comandou e culminou na morte de um colega de trabalho. O caso fez com que ele se tornasse alcoólatra e dependente de remédios, o que o afastou também de sua família. Tentando retomar sua vida, ele aceita o emprego de vigia noturno das ruínas de uma loja de departamentos depois que o outro funcionário se suicidou. O local sofreu com um incêndio há alguns anos, mas o que sobrou precisa ser mantido intacto por razões de resgate de seguros e brigas judiciais. Sem eletricidade e silêncio amedrontador, o espaço é perfeito para qualquer um deixar sua imaginação criar imagens e sons assustadores, mas certa noite, enquanto patrulha o local, Carson se assusta com algo inusitado e que sabe que não é fruto de sua mente perturbada. Mesmo após o incêndio, os espelhos da loja continuam intactos e parecem refletir imagens horripilantes de acontecimentos do passado e manipular a realidade. As coisas complicam quando eventos inexplicáveis passam a ocorrer com pessoas próximas a ele, como sua irmã Angela (Amy Smart). Assim, o seu lado de detetive fala mais alto e ele busca respostas para os estranhos episódios que passam a assombrar sua vida e para proteger sua ex-mulher, Amy (Paula Patton), e os filhos, Michael (Cameron Boyce) e Daisy (Erica Gluck).

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

ALPHA DOG

NOTA 6,0

Não era a intenção, mas trajetória
de jovem e bem nascido traficante
soa como uma apologia às drogas e aos
crimes, um perigo para mentes fracas
Baseado em fatos reais. Tais palavras são um chamariz e tanto para a publicidade de um filme, mas é fato que muitas histórias divulgadas como verídicas são extremamente mirabolantes, coisas que dificilmente até o mais criativo dos roteiristas poderia conceber. A trajetória de Jesse James Hollywood é um bom exemplo. Quem? Seu nome, uma fusão de um lendário criminoso dos EUA com a alcunha da maior fábrica de celebridades do país, não é muito conhecido fora dos EUA, mas com apenas 25 anos simplesmente era a pessoa mais jovem na lista dos procurados pelo FBI, “honra” que conquistou às custas de tráfico de drogas e homicídio. Para colaborar com a imagem do Brasil, nosso país serviu como esconderijo deste delinquente e também foi palco de sua prisão ocorrida especificamente na cidade de Saquarema no Rio de Janeiro em março de 2005. O filme Alpha Dog trocou nomes e fatos para narrar os acontecimentos que antecederam sua captura (na ficção realizada no Paraguai), assim o bandido com nome de artista virou Johnny Truelove (Emile Hirsch) que aos 19 anos já era um notável traficante em sua área, um subúrbio na Califórnia. Contudo, não bastava ter lucros, era preciso também bancar uma imagem respeitável para botar medo nos inimigos e domar seus subordinados. Jake Mazursky (Ben Foster) é um jovem que está lhe devendo uma grana, mas no fundo sabe que jamais verá a cor do dinheiro, a não ser na base da pressão. A solução encontrada é sequestrar o irmão do caloteiro, Zack (Anton Yelchin), mas como não havia a intenção de machucá-lo a temporada no cativeiro acabou se tornando umas férias curtas, porém, luxuosas para o rapaz que ficou aos cuidados de Frankie (Justin Timberlake), outro jovem que encara a vida como uma balada sem fim. O “refém” passa a curtir festas seja dia ou noite regadas a muita bebida, drogas e garotas bonitas e promíscuas. Zach adora a experiência, afinal qual garotão não gostaria de levar uma vida sem regras e repleta de diversão, o problema é que Jake não tem como pagar a dívida e nem como revelar a verdade para sua mãe que obviamente envolve a polícia no caso. Mais tarde Frankie e Truelove também não teriam como explicar às autoridades que o sequestro foi apenas uma farsa, o que revelaria os negócios sujos em que estão metidos. Em tempos em que muitos pedem a legalização das drogas alegando que a perda da aura de proibido é a melhor maneira de acabar com o vício, a ideia seria que o filme reforçasse que “fumar unzinho” ou “dar uma cheiradinha” não é algo normal e que mais cedo ou mais tarde trará prejuízos físicos e sociais, mas a sensação é que mais de 90% da narrativa exalta tais hábitos e o estilo de vida de seus usuários que nem de longe lembra o drama daqueles que chegam a morar na rua por conta da dependência.