Nota 4,0 Velho argumento da reunião familiar em momento difícil neste caso não dá linha
Uma atriz balzaquiana sinônimo de
comédias leves. Uma veterana premiada e com boa aceitação junto ao público
feminino aqui também atacando como diretora. Uma jovem em ascensão em um
seriado de TV e buscando seu espaço no cinema. No comando do texto uma
roteirista experiente com temáticas que aliam comédia, drama e romance. De
quebra, um conflito familiar de fácil identificação e uma pequena dose de clima
natalino no ar. Linhas Cruzadas tinha os
ingredientes básicos para cair nas graças da mulherada, no entanto, a receita
desandou. Aqui o humor existe, mas é diluído em diversas sequências
lacrimejantes. Frustrações, alegrias e sonhos desperdiçados são colocados em pauta
quando três irmãs forçosamente se reencontram por conta da iminente morte do
pai. Baseado no livro "Hanging Up" escrito por Delia Ephron narrando
suas próprias memórias familiares, a trama tem como protagonista Eve (Meg Ryan),
uma mulher que desdobra-se para dar conta do seu trabalho e de cuidar da casa,
do marido e do filho pequeno, no entanto, nos últimos anos tem praticamente
abdicado de seus afazeres para cuidar pai idoso. Lou Mozell (Walther Matthau)
está com a saúde bastante debilitada e com problemas de memória e precisou ser
internado em uma clínica, assim sempre que o telefone toca sua filha já aguarda
por más notícias, mas quando não é seu próprio pai ligando para dizer
impropérios são suas irmãs que estão na linha. Na verdade quase sempre é Eve
quem tenta manter contato com elas que fazem de tudo para se esquivarem de qualquer
tipo de compromisso com o idoso. A caçula Maddy (Lisa Kudrow) é uma atriz
frustrada e que também não tem sorte na vida amorosa enquanto Georgia (Diane
Keaton), a mais velha, é uma solteirona, porém, bem sucedida editora de
revistas que só pensa no trabalho. Embora não morem juntas, ambas são de certa
forma dependentes de Eve que aproveitando a situação delicada do pai vai tentar
reatar os laços familiares e desfazer mal entendidos do passado.
Inicialmente e pelo título temos
a ideia de uma comédia água-com-açúcar, até por conta do trio principal ter
muita experiência no gênero, mas aos poucos a trama vai ganhando contornos de
drama familiar e até a comemoração do Natal é citada reforçando o caráter
melodramático da obra. Roteirizado por Nora Ephron, irmã da autora do
livro-inspiração, é perceptível que a ideia era justamente apresentar conflitos
e situações manjadas para agradar a um público acostumado com os roteiros
repetitivos e com mensagens edificantes, principalmente as donas de casa,
mulheres maduras que se identificariam mais facilmente com uma trama
possivelmente mais próxima de suas realidades nessa etapa da vida. Não deve ser
mero acaso que Keaton acumulou a função de diretora. Como uma das ex-esposas do
ator e diretor Woody Allen, parece que ela adquiriu seu gosto por histórias que
falam sobre relações humanas e famílias conturbadas. Acostumada a personagens
com um quê de excentricidade e especializada em interpretar matriarcas falastronas
e intrometidas, aqui ela fica até bastante apagadinha. O perfil de Georgia, a
mulher que dedicou sua vida à carreira e não constituiu família, poderia ser
melhor explorado visto que no futuro poderia vir a ser vítima da solidão e
sofrer com o mesmo desprezo com que lida com seu pai. Em evidência na época com
o seriado "Friends", Kudrow tentava conquistar seu espaço também no
cinema, mas os papeis oferecidos em nada a beneficiavam. Aqui interpretando uma
atriz de novelas frustradas e que procura compensar suas tristezas em
relacionamentos amorosos também sem sucesso, a personagem praticamente sai como
uma ouvinte das discussões das irmãs e só abre a boca para resmungar que também
quer fazer parte das brigas afinal faz parte da família. Mais acostumada a
lidar com romances e comédias e açucaradas, Ryan no fim é quem leva o filme nas
costas, mas também não parece muito confortável. Simplesmente está a serviço do
pai e os problemas que enfrenta com sua própria família e trabalho são apenas
citados, jamais trabalhados pela trama. Linhas Cruzadas acaba
sendo uma mal costurada colcha de retalhos de tantos outros filmes e lembrado
apenas por ser o derradeiro trabalho do talentoso Walther Matthau. Triste
lembrança para uma carreira vitoriosa.
Drama - 95 min - 2000
Trio faz o filme valer a pena. Mesmo que não seja acima da média.
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