Nota 6,0 Produção alemã tem clima de aventura dos anos 60 e explora lenda estrangeira
Em 2007 o cineasta Julio Bressane ousou ter a ideia de fazer uma versão
da história de Cleópatra filmada em solo e com elenco brasileiro.
Preconceituosos como somos, obviamente o longa teve uma passagem relâmpago
pelos cinemas e hoje desfruta do pleno ostracismo. Por que isso? Na escola é
costume aprendermos um pouco sobre a cultura de boa parte dos países que
ajudaram a construir a história e a linha evolutiva das civilizações, portanto,
não há nada de errado em um diretor brasileiro ter a ousadia de filmar sua visão
sobre algum mito característico de outra nação, mas infelizmente nos
acostumamos que é a turma norte-americana que pode usar e abusar de temáticas
alheias, isso porque nas aulas de História por lá o patriotismo é exagerado e
parece que só existe os EUA no mundo. Por causa desse conceito errado bons
trabalhos acabam passando em brancas nuvens como é o caso da aventura Caçadores
de Tróia, produção da Alemanha caprichada em termos visuais que aborda
um mito da cultura grega. Na trama roteirizada por Don Bohlinger, Heinrich
Schliemann (Heino Ferch) desde a infância tem seus sonhos povoados por
aventuras passadas na cidade de Tróia e não por acaso quando adulto ele se
tornou um especialista em antiguidades. Em Berlim, em 1868, durante uma
conferência ele é achincalhado pelos colegas por causa de suas teorias de que a
mítica cidade grega realmente existiu e poderia ser encontrada. Como um homem
de posses, Heinrich resolve jogar tudo para o alto e se aventurar numa
expedição, mas apaixonado pela cultura grega ele tem o excêntrico desejo de se
casar com uma legítima mulher desta nacionalidade para ostentar como um troféu
quando encontrasse seu tesouro e triunfasse sobre aqueles que um dia o
humilharam. Assim ele consegue um casamento arranjado com a jovem Sophia (Mélanie
Doutey), cujos pais estão de olho no que podem lucrar com essa união. O
problema é que a moça namora escondido um rapaz de idade compatível e tão pobre
quanto ela, o que faz com que ela trate com rispidez e rebeldia seu noivo.
Todavia a união acontece e ambos partem juntos rumo a expedição.
Bem, a trama romântica é o de menos neste caso, até porque nem chega a
existir realmente um triângulo amoroso, mas o diretor Dror Zahavi compensa com
a exploração das pesquisas de Heinrich que vendeu praticamente tudo o que tinha
para bancar seu sonho. Cheio de disposição o pesquisador enfrenta no trajeto o
desprezo, a fúria, os impedimentos e as armadilhas impostas pelas pessoas que
cruzam seu caminho, inclusive gente poderosa que obviamente quer levar a fama
caso realmente Tróia seja descoberta. Além disso, problemas com epidemias de
doenças, temporadas de chuvas alternadas com períodos de sol abundante e a
morte de uma filha pequena de Heinrich pontuam suas desventuras. Contando com
uma belíssima fotografia que realça os atributos da iluminação que passa a
nítida sensação de calor do ambiente pueril em que boa parte da trama se
desenvolve, o longa ainda oferece uma belíssima direção de arte e um roteiro
razoável. Está longe de ser uma aventura nos moldes que o padrão hollywoodiano
apresenta já há alguns anos, mas seu ritmo ligeiramente lento e estética datada
são um prato cheio para nostálgicos, até porque a obra carrega um clima de aventura sessentista. Mesmo sendo uma produção diferenciada de
um país cuja filmografia ainda é de certa forma estranha a nós brasileiros, é
fato que o longa é calcado em clichês. É previsível que o aventureiro vai
enfrentar os citados contratempos provocados pela natureza e a inveja e a
ganância humana, mas sabemos que o final feliz está garantido. Caçadores
de Tróia é aquele tipo de filme que você assiste sem muitas pretensões
e acaba curtindo, mas infelizmente não nos satisfaz plenamente. Faltam doses de
adrenalina para não deixar o trabalho maçante e fica o sabor amargo da subtrama
sentimental ser mal explorada, o que acaba deixando o espectador um pouco
distante do universo do filme. De qualquer forma mata um tempo livre, mas bem
que alguns minutinhos a menos seriam benéficos e por que não um personagem
cômico para dar uma arejada na atmosfera seca e escaldante.
Aventura - 127 min - 2007
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