NOTA 7,0 Sem se preocupar em revelar a ameaça fisicamente, mas deixando clara sua presença, longa se preocupa em mostrar as reações das vítimas |
Assim como dinossauros, dragões e
até um gorila super desenvolvido já invadiram a cidade grande, seja ela qual
for, destruindo tudo o que viam pela frente, mais uma criatura gigantesca
tentou repetir a façanha no mundo cinematográfico. Cloverfield
- Monstro tem como chamariz mais um desses animais gigantescos
que aparecem de tempos em tempos para amedrontar as pessoas, mas não trouxe
novidades ao subgênero dos filmes catástrofes, a não ser o fato de preferir
sugestionar ao invés de apresentar escancaradamente a ameaça, embora tal
técnica fosse mérito do clássico Tubarão,
mas de pouco uso. Outras referências já testadas e aprovadas em outras
produções do tipo foram alinhavadas em uma produção claustrofóbica e com uma
inteligente e instigante campanha de marketing. Talvez nisso esteja o segredo
do projeto ter bombado nos cinemas americanos, ao contrário do que ocorreu no
Brasil onde longa não pegou e a publicidade não foi tão maciça. O grande
objetivo do roteiro de Drew Goddard, estreando no cinema, era acompanhar um
pequeno grupo de pessoas e ver suas reações diante de uma situação de apuro
extremo. O jovem Rob Hawkins (Michael Stahl-David) está de mudança para o Japão
e ganha do irmão Jason (Mike Vogel) e da cunhada Lily (Jessica Lucas]) uma
festa surpresa de despedida. Para registrar o encontro, seu amigo Hud (T. J.
Miller) resolve fazer uma gravação caseira de alguns momentos e depoimentos do
grupo embora esteja mais interessado em xavecar Marlena (Lizzy Caplan) que
mostra-se indiferente ao cortejo. Beth (Odette Yustman), a ex-namorada do
homenageado, também comparece à festa junto com seu novo companheiro, Travis
(Ben Feldman), para rolar aquela cena clássica de ciúmes com o rejeitado. Para
que perder tempo apresentando essa turma? A ideia é que o espectador se envolva
a ponto de sofrer com o que vai acontecer a eles, mas é só uma intenção, ok?
Durante a festa uma explosão ocorre e na sequência surgem tremores, barulhos
ensurdecedores, queda de energia e mortes começam a acontecer. A cidade de Nova
York está sendo destruída por um animal desconhecido e gigantesco e agora todos
precisam correr para tentar achar algum lugar seguro, se é que existe algum.
Produzido por J. J. Abrams,
criador da série de TV "Lost" que na época era um fenômeno, a tal criatura é inspirada na figura do
Godzilla, o lendário monstro japonês que acabou sendo importado e repaginado
por Hollywood. O lance então é esperar o bichão aparecer e descobrir a ordem em
que os personagens vão ser vitimados. Aparentemente a ideia básica é essa
mesmo, porém, existe um interesse humano no caos que se instaura na narrativa e
o longa também pode ser encarado como uma experiência diferenciada na maneira
de contar e transformar em imagens uma história. A duração enxuta ajuda a dar
ritmo e evitar que o filme se torne enfadonho,
afinal de contas desde o início já sabemos no que tudo isso vai dar. A
filmagem amadora e supostamente descoberta em escombros feita com câmera
tremida na mão, o chamado found footage, já era um recurso bastante manjado,
mas o diretor Matt Reeves, de O Primeiro
Amor de Um Homem retornando ao
cinema após anos dedicados à TV, o usa de forma exitosa. É angustiante ver as
pessoas correndo e gritando desnorteadas, a cidade em ruínas e o estranho
animal gigantesco urrando, se locomovendo rapidamente e destruindo tudo o que
vê pela frente. Contudo, a criatura boa parte do tempo não é mostrada por
completo e com riqueza de detalhes, sendo vista apenas de relance, até porque a
ideia não era centrar a narrativa em suas ações e tampouco acompanhar as
decisões de autoridades ou militares para exterminar o bicho, um clichê desse
tipo de fita. Além de manter um clima de tensão e curiosidade crescentes, a
intenção seria captar o desespero, o exibicionismo, a solidariedade, o egoísmo
entre outras reações do ser humano através de um pequeno e diverso grupo de
amostragem. Para o espectador o que fica latente é a angustia. É quase
impossível assistir e não fazer uma conexão com as tristes imagens dos
atentados de 11 de setembro quando vemos uma gigantesca nuvem de cinzas tomar
conta da cidade por conta de incêndios e desabamento de arranha-céus.
Apesar das boas intenções o
resultado não é marcante. Analisando com profundidade, o longa não tem nada
demais e pode perfeitamente ser esquecido, mas é fruto de uma excelente
estratégia de marketing que foi iniciada com trailers que apenas divulgavam a
data de estreia, nem mesmo o título era mencionado. Aliás, Cloverfield não é o
nome do monstro e sequer tem algum contexto no roteiro, sendo na realidade o
nome do boulevard onde funcionavam os escritórios da produtora do longa. Com a
ajuda da internet, as tais peças publicitárias começaram a pipocar em sites e
blogs e então o boca-a-boca foi geral e todos (modo de dizer) ficaram aguçados
a descobrir do que se tratava a produção. Bons tempos em que o mundo virtual
ainda era capaz de causar certo burburinho em torno de um lançamento e fazer
com que o espectador se sentisse fazendo parte de uma experiência maior que a
simples apreciação de um filme. A cena mais impactante divulgada era a da
Estátua da Liberdade com a cabeça decepada, uma prévia do que estaria por vir,
e em meio ao caos muitas pessoas se preocupavam em fotografar e filmar com seus
celulares o estrago, como se a forte lembrança de tudo que estavam presenciando
já não fosse o bastante. Era preciso ter registro em mídia física, ou melhor,
virtual para comprovar a experiência caso sobrevivessem. O clima de tensão só
não é absoluto por conta da insossa história de amor que conduz a trama entre
Beth e Rob e por conta de algumas falas de Hub que não funciona como alívio
cômico. Realizado com um orçamento mínimo e tal qual ocorreu com A Bruxa de Blair, um fenômeno do final
da década de 1990, Cloverfield - Monstro é mais um
exemplo de que a propaganda é a alma do negócio e, infelizmente, mais uma vez o
público foi incitado a cair em uma tremenda armadilha. Ou quase isso. Sem
assumir seu aspecto de produção B, a fita tem lá suas qualidades como a
ausência de trilha sonora e os próprios atores terem se encarregado das
filmagens, tudo para preservar a ideia de que o filme é resultado de uma filmagem
amadora, embora com um áudio perfeito demais. A curta duração, pouco mais de
uma hora, também remete à capacidade de tempo de gravação de uma câmera digital
comum e ajuda a sustentar a fantasia de que mais que preservar a vida o
importante era um flash da calamidade para a posteridade.
Suspense - 84 min - 2008
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