NOTA 9,5 Animação é como um sopro de originalidade, embora use técnicas tradicionais e por vezes pareça um desenho mudo |
Antigamente desenho animado era
sinônimo de Hanna-Barbera. Animações feitas para cinema automaticamente
lembravam Disney. Os estúdios e produtoras que se arriscavam no mercado
infantil acabavam optando por fazer filmes live action para disputar uma
brechinha para exibição nas salas de cinemas ou até poderiam fazer desenhos,
mas geralmente eles eram exclusivos para abastecer o mercado de locações e
vendas diretas ao consumidor. Nesse cenário restrito, achar uma animação que
não fosse americana era uma tarefa muito difícil e os adultos se divertiam com
os produtos destinados as crianças, alguns, diga-se de passagem, estritamente
feitos para esse público, mas os tempos mudaram. Hoje muitos exploram esse
nicho e as premiações têm ajudado a divulgar os trabalhos dos artistas do mundo
todo, permitindo inclusive o contato de um público maior com produções animadas
destinadas a adultos. Algumas pegam pesado na linguagem, no visual e nas
provocações, mas outros produtos do tipo preferem usar artifícios mais
clássicos e poéticos e ainda assim conseguem chamar a atenção de crianças mais crescidinhas,
apesar de o enfoque ser agradar na realidade a seus pais. Esse é o caso
de As Bicicletas de Belleville,
uma coprodução entre a França, o Canadá e a Bélgica que no mínimo podemos
considerar atípica no cenário cinematográfico do século 21. Curiosa, criativa,
brilhante, única, original, bizarra ou chata. São várias as interpretações que
podem ser feitas desta obra dependendo do ponto de vista do espectador. Para os
mais jovens e os apreciadores de filmes-pipoca a produção deve receber as
críticas negativas, mas para os cinéfilos e público mais maduro ou intelectual os
elogios são rasgados e provavelmente predominantes e merecidos ao trabalho do
cineasta francês Sylvain Chomet. Estreando em longas-metragens quando chegava
aos quarenta anos de idade, o animador já tinha vasta experiência na área de
desenho e quadrinhos e colocou todos os seus conhecimentos em prática neste seu
primeiro trabalho como diretor e o resultado é impressionante e talvez inédito
até então. Os traços estranhos dos cenários e personagens que lembram a
rascunhos criam um visual muito interessante e propositalmente caricatural, mas
que infelizmente deve incomodar aos mais convencionais.