A FRAUDE (2005)

Nota 6,0 Suspense tem boas reviravoltas expostas em diálogos inteligentes em trama intrigante

Estamos tão acostumados com a cultura do imediatismo que facilmente podemos deixar de assistir a bons filmes simplesmente por eles não entregarem o ouro logo de cara e exigirem um pouco mais de atenção e paciência. Se prestarmos atenção, existem várias produções que já na introdução dizem a que vieram ou já deixam dicas para sabermos de antemão seus desfechos. Quando o enredo é mais inteligente e estruturado infelizmente são poucos que optam por assistir até o fim, principalmente se o início não é empolgante. A Fraude pode ser classificado como uma fita desse tipo. A narrativa é lenta e os primeiros minutos não têm diretamente algo a ver com o assunto principal do enredo, apresenta apenas a temática superficialmente. O diretor e roteirista Baltasar Kormakur preferiu conduzir seu trabalho sem pressa, delineando bem os personagens e procurando não deixar arestas em suas trajetórias, visto que nos minutos finais reviravoltas acontecem e é nesse ponto que muitos projetos ao menos razoáveis acabam naufragando. Não é o caso do filme em questão. O enredo nos apresenta à Abe Holt (Forest Whitaker), um experiente investigador de uma companhia de seguros que é enviado para a pequena cidade de North Hastings para averiguar o caso de um homem que morreu carbonizado após um acidente de carro. A única beneficiária do seguro de vida da vítima seria sua irmã Isold (Julia Stiles) que teria direito a uma apólice de um milhão de dólares. Apesar de tudo apontar ser verídico neste caso, alguma coisa inquieta Holt que está praticamente convicto de que está lidando com um episódio de falcatrua. Mesmo querendo desvendar a verdade, ele fica com receio em prejudicar Isold que tem um filho pequeno para criar, Thor (Alfred Harmsworth), e que aparentemente sofre violência doméstica do marido Fred (Jeremy Renner).

O longa, co-escrito por Edward Martin Weinman, pode não ser tão claro em uma primeira apreciação e talvez seja preciso assistir mais de uma vez para conseguir compreender certos detalhes envolvendo tal intricado caso de cumprimento de uma apólice de seguros, até porque são poucos que tem conhecimentos suficientes sobre o assunto. Quando alguém compra um serviço desse tipo, ao contrário do que muitos pensam, não está totalmente seguro de que seu beneficiário receberá uma boa quantia em dinheiro para manter-se. As pequenas linhas dos contratos podem esconder surpresas desagradáveis e muita falcatrua pode rolar, tanto por parte dos beneficiários quanto dos próprios contratados. O personagem de Whitaker fica no meio de um fogo cruzado e apesar de não ter provas concretas acredita fielmente que sua cliente pode estar envolvida na morte do irmão, principalmente por pequenas pistas suspeitas que percebe no comportamento da moça e de seu marido. Embora sinta pena dela e de seu pequeno filho, ele é obrigado a cumprir todo protocolo de sua empresa e ir até o fim na investigação. Ele também poderia simplesmente deixar os fatos passarem batidos e dar ganho de causa à jovem, afinal a companhia de seguros não pode vencer sempre, pois isso acarretaria prejuízos à mesma. Quem se interessaria em comprar apólices de uma empresa que ostenta altos índices de quebra de contratos? Nesse caso ninguém quer que a verdade venha à tona. A maioria quer se dar bem e colocar a mão no dinheiro. O início do longa já mostra Holt averiguando as circunstâncias de um acidente de ônibus e desmantelando um golpe envolvendo os passageiros do veículo que então somavam um número bem maior que a lista de pessoas que embarcaram originalmente. Contudo, o enredo não se propõe a discutir a fundo questões éticas e sociais, afinal é um produto de cunho comercial, visa apenas o entretenimento. De qualquer forma, A Fraude é uma produção curiosa e que surpreende em seu ato final com viradas na trama destacadas em diálogos inteligentes. As opções da direção de arte e das equipes de iluminação e fotografia, usando cores frias, tons escuros e enquadramentos disformes,  ajudam a criar um clima envolvente de melancolia e mistério.

Suspense - 90 min - 2005

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