Nota 5,0 Bons ganchos são desperdiçados por narrativa limitada e que carece de tensão e clímax
Suspenses
baseados em fatos reais costumam ter uma platéia cativa, ainda mais quando as
histórias que os inspiraram são recentes ou tornaram-se célebres casos que
desafiaram a inteligência da polícia e causaram pânico por anos. O Zodíaco
é apenas uma das diversas produções que procuraram desvendar os
mistérios que envolviam a mente sádica e o espírito corajoso de um famoso
serial killer que assombrou a Califórnia por cerca de dez anos. A trama começa
exatamente no dia 20 de dezembro de 1968 quando a pequena cidade de Vallejo foi
surpreendida com um crime bárbaro que resultou na morte um jovem casal de
namorados que para a polícia foram vítimas de um assaltante, mas para o
detetive Matt Parish (Justin Chambers) o episódio não poderia ser explicado
dessa maneira, afinal não havia indícios de que algo havia sido roubado ou ao
menos tocado por mãos diferentes. A partir disso, este homem começa a ofercer
todo o seu tempo para solucionar o caso, mas sua dedicação extrema acaba lhe
trazendo problemas em casa, já que passa a dedicar pouca atenção para a esposa
Laura (Robin Tunney) e ao filho Johnny (Rory Culkin), este que pouco a pouco
também parece se interessar em decifrar o enigma do serial killer que se
autodenomina Zodíaco que não por acaso só ataca nas datas que coincidem com a
realização de uma teoria astronômica. Eis que seis meses depois do primeiro
crime, um novo casal torna-se alvo, só que desta vez o criminoso foi ousado e
logo após o ataque ele próprio ligou para a polícia dando a localização das
vítimas e assumindo a autoria do crime, assim como sua responsabilidade nas
mortes ocorridas no último mês de dezembro. O sadismo do Zodíaco não está
apenas em matar jovens, mas também em desafiar a polícia, os jornais e até
mesmo o FBI com cartas enigmáticas com mensagens cifradas e códigos que
poderiam revelar pistas de seus próximos crimes e quem sabe até mesmo sua
própria identidade. O que causa mais impacto é que as perícias dos crimes
revelam que suas táticas de ataque e para fuzilamento seguem regras típicas de
treinamentos para policiais, o que indica que ele poderia ter feito parte ou
ainda estar infiltrado no grupo que o quer ver atrás das grades.
Nesse
jogo de gato e rato, no qual as autoridades e a mídia tentavam montar um quebra-cabeças
e de certa forma bancavam reféns do assassino que continuava a solta e cada vez
mais atrevido na maneira como assumia sua responsabilidade nos ataques, cerca
de uma década se passou, mas infelizmente o longa dirigido por Alexander
Bulkley, que também assina o roteiro em parceria com Kelly Bulkley, não passa a
real dimensão do pânico que este serial killer espalhou entre os anos 60 e 70.
São poucos os assassinatos exibidos, embora o criminoso tenha assumido numa
carta que matou 37 pessoas, e a tensão de sua presença pelas redondezas é
sentida de forma fria, sendo que a exaltação que os veículos de comunicação
noticiam não parecem corresponder com a realidade do vilarejo. Nem mesmo quando
uma das vítimas consegue sobreviver e dar informações mais concretas sobre o
assassino as coisas esquentam, sendo que a história em seus minutos finais
volta seu foco para a desestruturação da família Parish deixando explícito que
por causa do alto grau de envolvimento de Matt nas investigações um dos
próximos alvos do Zodíaco seria o filho do detetive. Todavia, não espere um
final arrebatador, embora seja extremamente interessante a opção escolhida pelo
diretor que deixa uma brecha para o espectador tirar suas próprias conclusões
sobre o que teria acontecido ao assassino após o seu último contato via carta e
seu suposto derradeiro ataque. Sim, para quem conhece um pouco sobre essa
história sabe que o destino do assassino é uma incógnita. Ele continuou os
ataques após a última carta datada de meados de 1978? Teria abandonado a vida
de crimes? Teria falecido naquela época ou viveu por anos como alguém anônimo?
Mais interessante do que explorar o que se sabe histórica e documentalmente
sobre este serial killer seria a realização de um filme imaginando um ou mais
caminhos que ele poderia ter seguido, mas O Zodíaco prefere o trajeto mais
fácil e infelizmente desperdiça um bom material tanto para cenas de tensão
quanto para uma análise psicológica do personagem-título, visto que ele é
enquadrado como um indivíduo que teria sofrido traumas na infância e teria
alguma disfunção sexual, o que explicaria seu método de “trabalho” que sempre
buscava como alvos casais jovens e os homens eram atingidos primeiro. Com
estilo de produto televisivo, ligeiro e com desenvolvimento limitado, este
filme preenche um tempo livre, mais pelo interesse em descobrirmos detalhes de
um caso intrigante sem final hollywoodiano, mas deixa a sensação de que poderia
ser algo infinitamente melhor. Atenção: não confundir com o longa de David
Fincher lançado dois anos depois, um produto com muito mais requinte e
conteúdo.
Suspense - 96 min - 2005
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