NOTA 9,0 Sem maquear fatos, drama é entregue ao público de forma crua e com temas fortes como o preconceito |
Não é novidade para os cinéfilos que
as premiações adoram produções fortes e que tratem de temas polêmicos. Para os
atores participar de um trabalho do tipo é uma prova de fogo irrecusável,
afinal para se despir de vaidades é preciso ter coragem e quanto mais realistas
forem os personagens e seus dramas melhor para os intérpretes comprovarem que
não são apenas produtos da indústria de cinema, mas sim que dentro deles é que
se encontra a emoção necessária para o trabalho funcionar independente de
assuntos financeiros ou aspectos físicos. Sundance, Berlim, Cannes e tantos
outros festivais grandes ou menores por todo o mundo prezam trabalhos de
cineastas e atores que mostram que para fazer cinema não é preciso ter milhões
em caixa e as vezes até os votantes da Academia de Cinema e do Globo de Ouro
deixam o glamour de lado e exaltam o minimalismo. Não é a toa que no Oscar de
2002 Halle Berry demorou a se levantar da cadeira quando teve seu nome
anunciado como a Melhor Atriz. Nem a própria acreditava no que ouvia. Ela atuou
em A
Última Ceia, produção independente, de baixo orçamento e que não poupa
o público de uma história amarga e com momentos impactantes. A principal rival
da atriz, segundo apontavam críticos, era Nicole Kidman que fez de um tudo no
esfuziante musical Moulin Rouge.
Justiça seja feita. Na pele de Leticia Musgrove a até então quase desconhecida
Halle entrega-se a um personagem difícil, cheio de nuances e que lhe exigiu
muito mais sensibilidade que técnica. Já com alguns prêmios conquistados por
este trabalho, ela lembrou em seu discurso que os tempos estavam mudando e que
finalmente uma negra ganhou aquele que é considerado o maior prêmio do cinema.
Antes intérpretes “de cor” só haviam sido premiadas na categoria de
coadjuvantes. Curiosamente, é justamente o racismo o grande tema do filme
dirigido por Marc Foster que começa e termina denso, mas no recheio conta com
uma história de amor que surge pelos acasos da vida, mas com vários fatores
contra o sucesso dessa relação. Por seu modelo europeu de fazer cinema e também
pelas liberdades artísticas que uma produção fora dos grandes estúdios
americanos permite o cineasta suíço, que anos depois causaria barulho com O Caçador de Pipas, chega a um resultado
fenomenal que mexe muito com as emoções do espectador, mas é preciso estar
preparado para enfrentar este verdadeiro choque de realidade.