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quinta-feira, 30 de abril de 2015

A ÚLTIMA CEIA

NOTA 9,0

Sem maquear fatos, drama
é entregue ao público de
forma crua e com temas
fortes como o preconceito
Não é novidade para os cinéfilos que as premiações adoram produções fortes e que tratem de temas polêmicos. Para os atores participar de um trabalho do tipo é uma prova de fogo irrecusável, afinal para se despir de vaidades é preciso ter coragem e quanto mais realistas forem os personagens e seus dramas melhor para os intérpretes comprovarem que não são apenas produtos da indústria de cinema, mas sim que dentro deles é que se encontra a emoção necessária para o trabalho funcionar independente de assuntos financeiros ou aspectos físicos. Sundance, Berlim, Cannes e tantos outros festivais grandes ou menores por todo o mundo prezam trabalhos de cineastas e atores que mostram que para fazer cinema não é preciso ter milhões em caixa e as vezes até os votantes da Academia de Cinema e do Globo de Ouro deixam o glamour de lado e exaltam o minimalismo. Não é a toa que no Oscar de 2002 Halle Berry demorou a se levantar da cadeira quando teve seu nome anunciado como a Melhor Atriz. Nem a própria acreditava no que ouvia. Ela atuou em A Última Ceia, produção independente, de baixo orçamento e que não poupa o público de uma história amarga e com momentos impactantes. A principal rival da atriz, segundo apontavam críticos, era Nicole Kidman que fez de um tudo no esfuziante musical Moulin Rouge. Justiça seja feita. Na pele de Leticia Musgrove a até então quase desconhecida Halle entrega-se a um personagem difícil, cheio de nuances e que lhe exigiu muito mais sensibilidade que técnica. Já com alguns prêmios conquistados por este trabalho, ela lembrou em seu discurso que os tempos estavam mudando e que finalmente uma negra ganhou aquele que é considerado o maior prêmio do cinema. Antes intérpretes “de cor” só haviam sido premiadas na categoria de coadjuvantes. Curiosamente, é justamente o racismo o grande tema do filme dirigido por Marc Foster que começa e termina denso, mas no recheio conta com uma história de amor que surge pelos acasos da vida, mas com vários fatores contra o sucesso dessa relação. Por seu modelo europeu de fazer cinema e também pelas liberdades artísticas que uma produção fora dos grandes estúdios americanos permite o cineasta suíço, que anos depois causaria barulho com O Caçador de Pipas, chega a um resultado fenomenal que mexe muito com as emoções do espectador, mas é preciso estar preparado para enfrentar este verdadeiro choque de realidade.

terça-feira, 28 de abril de 2015

GNOMEU E JULIETA

NOTA 8,0

Clássico de Shakespeare é
adaptado para o universo
infantil com modificações e
protagonizado por anões de jardim
Tragédia não combina com o universo infantil, isso é fato, porém, quem disse que uma história triste não pode ser adaptada para ao universo dos pequenos? Baseado no romance “Romeu e Julieta” de William Shakespeare, Gnomeu e Julieta é mais uma animação a provar que o gênero pode ajudar as crianças a se aproximarem de uma literatura mais madura e clássica, tal qual a Disney já fez com Pocahontas e O Corcunda de Notre Dame, por exemplo, mas no caso o diretor Kelly Asbury muniu-se de um arsenal de piadas visuais e no roteiro para chamar a atenção da criançada. Co-diretor de Spirit – O Corcel Indomável e Shrek 2, o cineasta procurou nesta nova incursão no campo das animações não ser tão sério quanto na aventura do cavalinho, porém, sua incursão pelo mundo shakespeariano também não se revela tão divertida quanto seu passeio pelo reino de Tão Tão Distante, ou melhor dizendo, não se revela tão anárquica. Apesar de carregado de citações a filmes de sucesso e a referências populares e modernas, Asbury pegou mais leve no humor desta vez até porque tinha a preocupação de manter a essência do conto original, ainda que modificando o texto em vários pontos para atenuar a dramaticidade. A primeira cena traz um gnomo avisando que a história que está prestes a ser contada não é inédita, pelo contrário, já ganhou centenas senão milhares de adaptações mundo a fora seja em forma de filmes, especiais de TV, espetáculos teatrais, histórias em quadrinhos, enfim todas as plataformas midiáticas já usufruíram da essência daquele que é considerado o conto mais romântico de todos os tempos. Só para nos atermos no campo da sétima arte, considerando desde os tempos dos filmes mudos é uma conta trabalhosa somar o número de versões que tal narrativa já rendeu, mas é uma pena que a maioria das versões peca pela falta de originalidade, mas o desenho em questão surpreende positivamente. A rivalidade entre os Capuletos e os Montecchios continua sendo o mote principal, mas os visuais dos personagens e da ambientação da história mudaram bastante. Saem de cena as pessoas e os suntuosos cenários originais para entrarem em seus lugares os anões de jardim que vivem em gramados cercados de vegetação abundante e de cores vibrantes. Tais adornos de quintal conseguem conquistar logo a primeira vista com suas aparências simpáticas e personalidades bem delineadas, mas a opção por eles foi um risco assumido por Asbury visto que eles estão em desuso, uma ousadia ainda maior subvertendo a tragédia a um ambiente fantasioso onde tudo pode acontecer.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

O APRENDIZ DE FEITICEIRO

NOTA 3,0

Mais uma tentativa de Nicolas
Cage em ter uma franquia de
sucesso não tem história e vira
refém de efeitos especiais  
Quando você assiste a um pretenso filme de aventura e desde a introdução se entedia é para se questionar: existe algo mais frustrante que uma produção que promete diversão e adrenalina e no fim entrega uma baboseira confusa e sonolenta? A resposta é sim caso essa fita seja estrelada pelo caído Nicolas Cage que há anos tenta desesperadamente ter em mãos um sucesso com potencial para se tornar uma franquia. Motoqueiro Fantasma só teve uma continuação para cumprir tabela, mas não agradou, e se A Lenda do Tesouro Perdido é de longe seu trabalho que mais chegou perto de seu objetivo melhor não mexer em time que está ganhando. Assim em O Aprendiz de Feiticeiro o ator mais uma vez de uniu aos estúdios Disney, ao diretor Jon Turteltaub e ao produtor Jerry Bruckheimer, um nome sinônimo de blockbusters e que também buscava desesperadamente lançar mais uma série tão lucrativa quanto sua saga dos Piratas do Caribe. Contudo, o projeto não vingou. Sua fórmula mágica e maniqueísta (mocinhos e vilões estereotipados, situações previsíveis e enxurrada de efeitos especiais) então já mostrava sinais de desgaste. A trama já não começa bem com um prólogo longo e confuso que nos apresenta um episódio envolvendo o poderoso e lendário mágico Merlin e seus três discípulos, Balthazar Blake (Cage), Veronica (Monica Bellucci) e Maxim Horvath (Alfred Molina), este último que acabou enveredando para o caminho do mal. Centenas de anos se passam e já no século 21 o adolescente Dave (Jay Baruchel) vive traumatizado por conta de uma lembrança ruim da infância. Certa vez ele havia ido a uma loja de antiguidades em busca de um presente para a garota por quem era apaixonado e lá encontrou Blake que logo que bateu os olhos no menino tinha a certeza de que ele poderia ser um novo merliano, o seu sucessor nas artes da feitiçaria. Um anel com a imagem talhada de um dragão se enrolaria no dedo do predestinado quando estivesse de sua posse, mas o incrédulo Dave se recusa a ser o escolhido, ainda mais pelo susto que levou ao presenciar um conflito entre seu possível mestre e Horvath que surge inesperadamente no local.

sábado, 25 de abril de 2015

UM DIA DE SORTE

Nota 0,5 História frouxa e situações e diálogos ridículos detonam longa totalmente descartável

Existem filmes que pelos primeiros dez ou quinze minutos já nos fazem indagar quem em sã consciência aprovaria algo do tipo para ser produzido? Pior, por que eu estou perdendo meu tempo com isso? Um Dia de Sorte é um produto que exemplifica bem tal situação. Como bom cinéfilo só se dá por satisfeito quando os créditos finais chegam para conseguir fazer uma avaliação mais sincera lá vai o veredito: a frustração é total. Este drama com pitadas de ação e suspense começa sem rumo e segue assim até os minutos finais apoiando-se em situações e diálogos constrangedores, embora levados a sério demais pelo ator Val Kilmer, também produtor da fita ao lado do premiado Kevin Spacey. O ator de olhos claros e madeixas alouradas que outrora foi uma promessa de sucesso hoje vive de papéis tolos em produções obscuras como neste caso em que vive o criminoso John Cologne que acaba de dar o maior golpe de sua vida, não por acaso o seu último trabalho sujo antes da aposentadoria. Porém, antes de fugir para a Flórida para dar novos rumos à sua vida ele terá que se livrar da mercadoria do último roubo. Seus planos fogem do controle quando ele conhece em um parque por acaso Antoine (Bobb’E J. Thompson), um garoto aparentemente sozinho no mundo, mas muito maduro e que faz o fora-da-lei repensar suas atitudes e descobrir o que deve mudar em sua vida. Agora ele quer devolver uma misteriosa pasta ao gângster que roubou, o inescrupuloso Jimmy Espinosa (Lobo Sebastian), mas tal negociação pode ser perigosa e colocar sua vida em risco. Ele bola um plano e conta com a ajuda de seu amigo Manny (Wilmer Valderrama) para colocá-lo em prática, todavia, Jonh precisará juntar em uma única tarde muito mais dinheiro do que imaginaria conseguir em toda sua existência. Seu desejo de mudar os rumos de seu destino é o que o motivam a correr contra o tempo e cumprir a tarefa. A nota baixíssima só se justifica por uma ou outra sequência de conversa telefônica em que a tela é dividida para mostrar a imagem das duas pessoas. Efeito manjado, contudo, eficiente.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

LOUCA OBSESSÃO

NOTA 10,0

Filme com boas narrativas nunca
envelhecem e esta adaptação de uma
obra de Stephen King é a prova contando
com magistral atuação de Kathy Bates
Alguns filmes ficam melhores quanto mais o tempo passa e muitas vezes é melhor assistir a uma produção antiga que o lançamento do momento. Loucura pensar assim em uma época em que as pessoas se contentam a ver um filme incompleto ou com falhas através de atividades ilícitas pelo puro prazer de dizer que viu antes de quase todo mundo? Santa ignorância dos adeptos da cultura do imediatismo. Muita informação em tempo recorde e quase nada de aproveitamento. Muitas pessoas que se dizem cinéfilas e adoram prosear sobre o assunto ignoram a própria falta de cultura sobre o tema, limitando seu repertório a produções lançadas no máximo há dois anos e ainda assim com dificuldades para resgatar lembranças. Pior quando se vangloriam por saber de cabo a rabo como é a produção que promete bombar nas férias sem ao menos ela ter estreado em seu país de origem. É uma pena que as coisas estejam nesse pé. Existem muitos títulos excelentes do passado que são praticamente desconhecidos pelas novas gerações. Não importa o quanto o tempo passa e eles ficam cada vez melhores. O aspecto antigo que tanto incomoda alguns pode se tornar fascinantes para outros e contribuir e muito para a vida útil do longa. Nesta definição podemos encaixar tranquilamente Louca Obsessão, um arrebatador suspense que colocou o nome de Kathy Bates entre as grandes estrelas do cinema. Hoje uma atriz muito conceituada, na época ela acumulava trabalhos pequenos em seu currículo, mas encontrou aqui a grande chance para aparecer e aproveitou muito bem a oportunidade, tanto é que foi super premiada pela atuação, incluindo a conquista do Oscar. Ela dá vida a Annie Wilkes, uma ex-enfermeira que se considera a maior fã do escritor Paul Sheldon (James Caan). Ele ficou muito famoso com uma série de publicações cuja personagem principal se chama Misery Chastain, mas sua glória também significou seu fracasso. Devido a um bloqueio criativo sua vida profissional se resumiu em continuar a escrever histórias para essa coletânea, assim, conforme o tempo passava, ele perdia a vontade de escrever por prazer e só trabalhava pensando em sua sobrevivência. Porém, ele está decidido a colocar um ponto final na saga e se isola em um hotel em uma cidade afastada para se inspirar e fugir de problemas que pudessem atrapalhar seu trabalho. Quando finalmente pode voltar para sua casa, ele é surpreendido pela estrada coberta de neve e acaba sofrendo um acidente, mas é salvo por Annie que mora nas proximidades do hotel e vigiou cada passo do autor como se fosse uma fã de um artista de cinema ou da música.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

ÁGUA PARA ELEFANTES

NOTA 6,5

Embora o casal principal
não tenha química, longa
se beneficia da força do
vilão e da ambientação
A arte circense está em franca decadência há algumas décadas, transformando-se em uma opção de lazer apenas para crianças bem pequenas ou aos mais velhos que podem matar as saudades de seu tempo de infância. Em uma época em que bugigangas tecnológicas escravizam o ser humano vendendo a idéia de que não há melhor diversão que ter o mundo em suas mãos em um pequeno eletroeletrônico, a simplicidade das caras e bocas de um palhaço ou os clássicos truques de mágica já não conseguem mais chamar atenção como antigamente. O cinema frequentemente aproveita sua própria arte para homenagear outras manifestações artísticas, mas o circo é um cenário que há muito tempo não era aproveitado. Baseado no romance homônimo de Sara Gruen, Água Para Elefantes tem como ambientação principal a alegria e a magia de um picadeiro, mas a realidade dos bastidores dos espetáculos tem clima festivo quase nulo e histórias tristes de trupes circenses espalhadas pelo mundo não faltam. O roteirista Richard LaGravense responsável, por exemplo, pelos textos dos filmes As Pontes de Madison e O Encantador de Cavalos, usou como pano de fundo a crise econômica americana da década de 1930 para contar uma bela história de amor. Jacob Jankowski (Robert Pattinson), sem família e nem dinheiro, viveu sua juventude trabalhando no Circo dos Irmãos Benzini em uma época em que a economia americana passava por um período difícil. Foi nos bastidores do mundo circense que o ex-estudante de veterinária conseguiu a chance de um emprego onde não precisava ter um diploma ou conhecimentos específicos, bastava saber fazer com que os outros acreditassem no seu papel, como August (Christoph Waltz), o dono do circo, dizia. Assim, o rapaz começou a adestrar animais, principalmente para as apresentações de Marlena (Reese Whiterspoon), por quem se apaixona a primeira vista, mas ela já é comprometida com seu patrão, um homem que, apesar de ser muito educado e compreensível, mostra-se extremamente cruel quando o assunto é proteger o que é seu ou fazer dinheiro. Com a chegada da elefanta Rosie no circo para um novo número a proximidade entre o adestrador e a artista aumenta e August não vai deixar a relação passar em brancas nuvens aproveitando-se que ambos dependem dele para sobreviver em uma época em que a falta de perspectivas e a desolação imperam. Jogar a sorte para o alto em nome do amor era uma loucura que poucos teriam coragem.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A PROPOSTA (2009)

NOTA 8,0

Após vários fracassos,
Sandra Bullock faz as pazes
com o sucesso atuando em
seu gênero cativo
Após muitos anos protagonizando comédias fraquinhas, Sandra Bullock voltou a ganhar os holofotes há alguns anos estampando a publicidade de três longas que estrearam em datas muito próximas. Ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Um Sonho Possível, um dia antes foi eleita no Framboesa de Ouro a pior intérprete por Maluca Paixão e, por fim, fez as pazes com as bilheterias com A Proposta, comédia romântica que não traz inovação alguma e talvez por isso mesmo seja perfeita. Quando a receita é boa, não importa quantas vezes ela seja repetida, mas é preciso tomar cuidado para não errar na seleção dos ingredientes. A diretora Anne Fletcher, de Vestida Para Casar, não nega a previsibilidade da premissa do longa, mas consegue suavizar isso com um roteiro bem trabalhado, uma edição caprichada, um elenco de coadjuvantes excepcionais e, principalmente, um casal de protagonistas em perfeita sintonia, embora inicialmente possa causar certa estranheza pelo fato do mocinho da fita, Ryan Reynolds, parecer muito mais jovem que sua companheira, uma impressão que temos provavelmente por causa do tempo de carreira de cada um. Sandra interpreta Margaret Tate, a pretensiosa e mandona executiva de uma editora de livros que não faz a menor cerimônia para pisotear seus subordinados. Andrew Paxton (Reynolds) é seu assistente há anos e perdeu o direito a ter um tempo só seu. Ele vive atendendo aos pedidos da chefe, desde os mais simples até os mais insanos, sem receber um único agradecimento, mas aguenta o sufoco sonhando que um dia poderá realizar seu maior sonho: ter um livro publicado. Todavia os dias de manda-chuva de Margaret estão contados. Por ser canadense ela vive nos EUA como imigrante e depende do visto para permanecer no país e isto lhe é negado e em breve ela será deportada. A única maneira de se ver livre de uma vez por toda da fiscalização do governo é estar casada com um cidadão americano.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

REVELAÇÃO

NOTA 7,0

Mesmo com boa premissa e entrecho
final eletrizante, suspense é recheado de
situações clichês forçosamente amarradas
e se sustenta sobre o carisma de seus astros
Depois do estrondoso sucesso de O Sexto Sentido Hollywood insistentemente buscou manter em alta o gênero suspense com toques de espiritismo, atraindo a atenção inclusive de alguns profissionais sem intimidade alguma com o assunto. O diretor Robert Zemeckis sempre gostou de desafios e experimentar coisas novas, não a toa leva sua assinatura obras como Uma Cilada Para Roger Rabbit e a trilogia De Volta Para o Futuro. Apadrinhado por Steven Spielberg, ele também buscou trilhar caminhos semelhantes aos de seu mestre e do cinema espetáculo rapidamente pulou para o time de respeito da sétima arte. No entanto, após faturar o Oscar por Forrest Gump, Zemeckis tentava manter sua reputação profissional em alta, porém, a sorte parecia não acompanha-lo. O suspense Revelação mostrava-se ideal para mais uma vez comprovar que era um profissional sério e competente, mas faltou pouco para constatarmos isso. Por outro lado, é inegável seu faro para projetos que podem render generosas bilheterias, ainda mais contando com a ajuda de dois grandes astros. Michelle Pfeiffer e Harrison Ford na época amargavam anos de projetos fracassados ou medianos, contudo, seus nomes ainda causavam impacto, ainda mais porque os dois iriam trabalhar juntos pela primeira vez e interpretando papéis ligeiramente atípicos em suas carreiras. Eles dão vida ao casal Claire e Norman Spencer que começam a trama se despedindo da única filha que vai estudar em outra cidade. Casados há um bom tempo e levando uma vida confortável em um belo casarão isolado a beira de um lago, suas pacatas rotinas mudam consideravelmente de uma hora para a outra, ou melhor, há cerca de um ano Claire sofreu um acidente de carro e desde então vive em estado de alerta e com sobressaltos.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

K-PAX - O CAMINHO DA LUZ

NOTA 6,0

Drama com premissa
interessante tem boas
intenções, mas sua narrativa
não empolga muito
Geralmente os filmes dramáticos têm vida útil longa, ou seja, são aqueles que não importa o quanto o tempo passa eles sempre continuam vivos na memória coletiva ou ao menos seus títulos tratam de perpetuar sua fama. Tomates Verdes Fritos, A Casa dos Espíritos, As Pontes de Madison e tantas outras produções do gênero certamente ainda despertam curiosidade nas novas gerações e aguçam a nostalgia dos mais velhos. Pena que nem todo drama consegue esse tipo de status. Algumas produções caem no ostracismo pela falta de prêmios, indicações, elenco famoso ou por abusar absurdamente dos clichês, mas alguns filmes até são feitos com as melhores intenções, mas acabam se atropelando justamente em seus objetivos. Talvez este seja o caso de K-Pax – O Caminho da Luz, longa com uma premissa interessante, porém, com uma narrativa filosófica e até certo ponto crítica um tanto arrastada, o que não favorece a obra. Uma meia hora a menos seria benéfica. A história começa apresentando a abordagem por policiais de um estranho homem em uma estação de trem. Sua primeira aparição já entrega os segredos do personagem. Prot (Kevin Spacey) surge aparentemente do nada, cercado por uma luz e um homem comum o olha atentamente e demonstra que tal visão lhe fez bem. Seria ele um dos famosos espíritos de luz que vez ou outra descem na Terra para ajudar os humanos? Essa não é a teoria na qual os policiais acreditam. As suspeitas de ele ser um criminoso ou até mesmo um terrorista vão por água abaixo quando ele se recusa a tirar os óculos escuros para não ter os olhos ofuscados pelo excesso de luz do Sol e ao mencionar que veio do planeta K-Pax pertencente a uma galáxia desconhecida até mesmo pela ciência. Assim, ele é encaminhado para um hospital psiquiátrico e desafia o ceticismo e os conhecimentos de médicos e pesquisadores, chamando principalmente a atenção do Dr. Mark Poweell (Jeff Bridges) que está disposto a provar que o suposto extraterrestre na verdade está sofrendo de um grave distúrbio de personalidade. Sem reagir aos medicamentos e cada vez detalhando mais as particularidades da vida em um planeta que parece um sonho, Prot acaba encantando os demais pacientes do lugar que acreditam que um deles será escolhido para ir com ele para K-Pax em sua próxima viagem que seria dentro de alguns dias. Paralelamente, Powell se rende ao fascínio que passa a sentir pela inteligência e compreensão deste paciente em especial, o que intensifica suas invetigações sobre seu caso a tal ponto de sua família e amigos perceberem que o próprio parece não estar em seu juízo perfeito.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

REGRAS DA VIDA

NOTA 9,5

Drama de época traz a tona
temas espinhosos em
embalagem elegante e
emociona o público
Todos os anos alguns filmes conseguem uma participação significativa na temporada de premiações, porém, infelizmente, nem todas podem ser laureadas e mesmo as que são em algumas categorias estão fadadas a serem esquecidas ou viverem apenas na memória dos cinéfilos. Ainda bem que quase sempre é possível resgatar essas obras do passado e apresentá-las a novos espectadores e curiosos que fatalmente nos primeiros meses do ano se divertem em busca de informações de títulos premiados do passado. Nessas pesquisas é certo que se encontrará muitas vezes o nome do diretor Lasse Hallström, um um especialista em lidar com emoções e presentear as platéias com belas imagens. Ele consegue de tal forma prender a atenção do espectador com suas tramas que rapidamente estamos ambientados aos cenários e íntimos de seus personagens. Esse encantamento transformou Regras da Vida em um dos títulos mais relevantes de 1999 e quase deu o Oscar ao cineasta sueco. Não ganhou o prêmio máximo, mas levou outras duas importantes estatuetas: ator coadjuvante (Michael Caine) e roteiro adaptado. O veterano intérprete também foi agraciado pelo Associação Norte-Americana dos Atores de Cinema, mais conhecido como Screen Actors Guild, e o texto foi premiado pela Associação Nacional dos Críticos dos EUA. Aparentemente simples e puro romantismo, como é possível se deduzir pelo título e material publicitário, o longa reserva surpresas em seu roteiro. A história se passa na década de 1940, época de guerra e medo, e aborda temas como incesto, aborto, traição e dependência química, ou seja, assuntos que até hoje são polêmicos e que talvez ninguém imagine-se encontrar em um drama de época.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA

NOTA 9,0

Longa revela inspiração de
autor para criar conto
clássico infantil investindo na
mescla de realidade e fantasia
Muitos contos clássicos infantis já ganharam tantas versões cinematográficas, teatrais, televisivas e até mesmo em livros que hoje fica difícil saber quais são as verdadeiras e isso também aguça a curiosidade para saber qual o fundamento delas. O fato é que em alguns casos a história por trás da criação pode ser tão boa quanto o produto final como a mostrada no filme Em Busca da Terra do Nunca, uma obra com potencial para agradar e emocionar pessoas de todas as idades apostando em um enredo que consegue fazer o espectador soltar a sua imaginação ao mesmo tempo em que mantém os dois pés na realidade. Baseado em fatos reais, o título foi um dos mais cotados das premiações da temporada 2004/2005, mas sua sensibilidade e criatividade não foram suficientes para derrotar a onda de reconhecimento à obras com conteúdos mais fortes e realistas que imperava. Uma pena. Se fosse produzido anos antes poderia ter sido super premiado, pois agrega todos os ingredientes necessários para levar o público às lágrimas e a sonhar, além de contar com uma parte técnica de primeira. Um prato cheio para as festas do Oscar de antigamente. A inspiração para criar obras de cunho cultural pode surgir dos momentos ou lugares mais inesperados. O escritor de peças teatrais James M. Barrie (Johnny Depp) está enfrentando dificuldades com seu trabalho mais recente que não foi bem recebido tanto pelo público quanto pela crítica, porém, seu financiador, o senhor Charles Frohman (Dustin Hoffman), ainda confia em seu talento e está disposto a bancar a montagem de outra peça. A vontade de escrever novamente surge para o rapaz num despretencioso passeio pelo parque. Lá ele conhece a jovem viúva Sylvia Davies (Kate Winslet) e seus quatro filhos, entre os quais lhe chama a atenção o pequeno Peter (Freddie Highmore), muito maduro e resistente para entrar no mundo de magia e inocência pertinente a qualquer menino de sua idade, mas aos poucos ele consegue convencer o garoto que o melhor da vida é se divertir e assim passa a se dedicar a brincadeiras e atividades lúdicas com ele e seus irmãos. Dessa forma, a mente do autor se abre e renasce a esperança no coração de um homem adulto fisicamente, mas sentimentalmente desejando não precisar crescer jamais. Então inicia-se uma grande e pura amizade entre todos eles, até porque os garotos passam a ver o adulto brincalhão como um substituto à figura paterna que perderam, mas a relação de Barrie, que é casado, com essa família passa a ser questionada pela sociedade elitista e conservadora da década de 1920. Mesmo assim, o rapaz continua se divertindo com as crianças aparentemente felizes, mas no fundo amarguradas, e também tenta ajudar a mãe delas a enfrentar um grave problema de saúde. Em meio a tudo isso, baseado no cotidiano desta família, a imaginação de Barrie aflora e ele consegue escrever uma das maiores obras da literatura infantil mundial: "Peter Pan".

sábado, 11 de abril de 2015

A CONSPIRAÇÃO (2011)

Nota 0,5 Boa premissa só segura filme por alguns poucos minutos e o tédio é constante

Um homem acorda e se vê preso dentro de um pequeno compartimento e tem como único elo com o mundo um rádio transmissor. Com os olhos fixos em um cronômetro regressivo, como se uma bomba pudesse explodir a qualquer momento, ele não sabe como foi parar lá, mas graças aos diálogos que consegue travar com outra pessoa que parece estar vivendo a mesma situação descobre que está participando de uma trama terrorista. A premissa é até bacana, desde que fosse para um curta-metragem, mas A Conspiração tem a ousadia de tentar ser um longa-metragem. Isso não é um elogio, ok? Vamos à trama. Jeremy Reins (Stephen Dorff) certo dia acorda dentro de um claustrofóbico lugar, possivelmente o bagageiro de um carro. O que parecia ser um sequestro comum torna-se algo mais perigoso quando este agente do Serviço Secreto descobre que foi usado como cobaia em uma trama terrorista. Vendo a contagem regressiva para acontecer uma catástrofe, Reins é forçado por seus raptores a ter informações do mundo exterior à beira de um colapso através de um rádio de frequência curta. É a partir deste aparelho que o agente consegue fazer contato Henry Shaw (JR Bourne), outro que parece estar vivendo a mesma situação, e descobre que sua mulher Molly (Chyler Leigh) também foi sequestrada e está ferida. A única maneira do agente acabar com tudo isso é divulgando um segredo que ele jurou à sua corporação proteger com todas as suas forças. A claustrofobia é um tema bastante comum em filmes de suspense. Já vimos desde pessoas presas em um elevador até indivíduos enterrados vivos, mas é preciso ter muita criatividade para segurar a atenção do espectador por cerca de uma hora e meia utilizando um único ambiente e às vezes apenas um ator em cena, como é o caso. O protagonista é lançado em uma situação enlouquecedora, mas não duvide que o desespero maior fique por conta de quem assiste.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A FUGA DAS GALINHAS

NOTA 10,0

Com animação tradicional
aliado a um roteiro inteligente,
longa prova que desenhos também
são negócios de gente grande
Talvez nunca ninguém imaginasse, mas simples galinhas um dia conseguiram fazer muito mais sucesso que astros de carne e osso e protagonizaram um dos melhores desenhos de longa-metragem de todos os tempos. No final dos anos 90, o terreno para as animações feitas em computador praticamente do início ao fim já estava preparado e os desenhos tradicionais já não chamavam mais atenção, porém, ainda havia pessoas que acreditavam que imagem não é tudo e que um bom roteiro salvaria qualquer técnica arcaica. Na base do stop-motion, o bom e velho recurso de trabalhar com bonecos de massinha, é que foi projetado A Fuga das Galinhas, um excepcional trabalho voltado ao público infantil, mas que já adiantava a tendência de que desenho animado deveria agradar também aos adultos que então não usariam mais a desculpa que assistiam produções do tipo por causa das crianças. Definitivamente as animações estavam virando programa de gente grande. O roteiro inteligente é uma colcha de retalhos que alinhava sequências inspiradas em clássicos filmes de guerra, só que a guerrilha aqui é entre galináceas e uma dupla de humanos. A granja da Sra. Tweedy durante o dia parece aparentemente normal, mas a noite, enquanto os humanos dormem, o galinheiro fica agitado. As galinhas que vivem lá sonham com uma vida melhor e não se conformam com o triste fim de virar assado quando pararem de produzir ovos. Uma delas é a inteligente Ginger que está elaborando planos para que todas escapem voando para fora da cooperativa. O único problema é que as galinhas não podem voar mais que alguns centímetros acima do chão, suas asas produzem movimentos limitados. Todas as tentativas de fuga são frustradas e a preocupação aumenta quando a dona da granja compra uma máquina de fazer tortas de frango para aumentar seus lucros, o que indicaria que um número maior de galinhas perderia a vida todos os dias.  Porém, a salvação cai literalmente do céu. Um belo dia, Rocky, um galo persuasivo e conhecido por suas façanhas no ar, aterrissa na granja por acaso. Ele estava fugindo de seus donos circenses e as galináceas aceitam a permanência dele naquele território com uma condição: ele deve ensiná-las a voar. O canastrão aceita a proposta, mas conforme o tempo passa o cerco fecha e todos aqueles animais correm o risco de morrer naquela espécie de campo de concentração. Mesmo assim, com trabalho de equipe, determinação e um pouco de sorte, o bando destemido trama uma última tentativa para conseguir a liberdade. A idéia básica deste desenho surgiu do longa Fugindo do Inferno, protagonizado por Steve McQueen, no qual um grupo de soldados tentam de todas as maneiras escapar de um campo de concentração, premissa que já foi usado em muitas outras produções de guerra, mas talvez pela primeira vez adaptada para o universo infantil. Há ainda espaço para satirizar Indiana Jones, Guerra nas Estrelas, entre tantos outros títulos de sucesso e clichês do cinemão americano, porém, mesmo quem não tem um amplo conhecimento cinematográfico ainda irá conseguir dar boas gargalhadas. Até política entra no meio do sarro com a citação da velha rixa existente entre americanos e ingleses.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

ATOS QUE DESAFIAM A MORTE

NOTA 5,0

Embora tenha como protagonista
um dos principais ilusionistas de
todos os tempos, falta magia a esta
mescla de romance e suspense insossos
Por várias vezes o cinema viveu um período de coincidências de temas. Do ponto de vista de minúsculos insetos quanto ao gigantismo do mundo, passando pela infestação de demônios aproveitando-se dos temores que rondavam a época da virada do milênio e até chegando a explorações do planeta Marte para verificar as condições para a vida humana, muitos podem considerar a repetição de temáticas como espionagem industrial. Alguém deu com a língua nos dentes e passou adiante ideias, mas no cinema pouco se cria e muito se copia, isso é fato! Um mesmo argumento pode oferecer diversos caminhos a serem trabalhados. Entre os anos de 2006 e 2007, por exemplo, a magia estava na moda. O Ilusionista contou uma típica história de amor com herói, mocinha e vilão enquanto O Grande Truque apostou na rivalidade, a busca pela fama de dois mágicos custe o que custar. Sem a mesma publicidade e sucesso, quase que simultaneamente foi lançado Atos Que Desafiam a Morte, mais um romance envolvendo o universo da magia, mas misturando personagens e fatos reais e fictícios. Harry Houldini, nome artístico de Ehrich Weiss, até hoje é considerado um dos principais nomes da arte do ilusionismo de todo o mundo, famoso por trucagens envolvendo sofrimentos corporais e fugas espetaculares, como conseguir escapar de correntes e tanques aquáticos. Coube ao ator Guy Pearce encarnar tal figura no auge de seu sucesso, mais especificamente no final de sua turnê pela Europa em 1926. Obcecado por teorias a respeito de vida após a morte, quando chegou a Edimburgo, na Escócia, desafiou médiuns e outros mágicos a revelarem as últimas palavras de sua mãe antes de vir a falecer e que só ele ouviu. A frase foi guardada em um envelope e colocada em um cofre e só seria revelada quando surgisse alguém que provasse ser capaz de entrar em contato com o mundo dos mortos. Tal pessoa ganharia um generoso prêmio em dinheiro e, como não poderia deixar de ser, Houldini conseguiu desmascarar dezenas de charlatões que se candidataram à missão.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O SOL DE CADA MANHÃ

NOTA 7,0

Em meio ao seu inferno
profissional, Nicolas Cage
consegue acertar ironicamente
interpretando um fracassado
No Brasil estamos acostumados a acompanhar a previsão do tempo nos telejornais sendo apresentadas por mulheres bonitas e com um sorriso estampado no rosto. Bem, esse já seria um ponto a ser estranhado em O Sol de Cada Manhã, afinal o protagonista é um homem que tem sucesso justamente nesta atividade. O segundo ponto contra seria o fato do intérprete deste cara ser Nicolas Cage que um dia já foi um nome quente em Hollywood, mas há tempos tem atuado em produções irregulares ou simplesmente obsoletas. Contudo vale a pena dar um voto de confiança ao ator. Este filme historicamente já faz parte do momento de crise profissional dele, porém, ao mesmo tempo significa um lampejo de salubridade em sua carreira. Acostumado a trabalhar em projetos de ação cheios de efeitos especiais e barulhos, Cage se entrega neste caso a um filme simplório e de certo modo intimista, uma proveitosa mistura de drama com doses de humor e crítica à cultura americana e que tem potencial para envolver as plateias que gostam de boas histórias que lidam com situações cotidianas. Cage dá vida à David Spritz, um apresentador da previsão do tempo em uma famosa emissora de TV de Chicago e que vive uma vida que é o sonho de qualquer pessoa. Ele é famoso, trabalha apenas duas horas por dia e recebe um salário altíssimo, o que lhe garante um excelente padrão de vida. Agora, ele está cotado para trabalhar em um programa de abrangência nacional, o que aumentaria seu prestígio e conta bancária. Sorte na vida profissional, azar na pessoal. Apesar do bom momento na carreira que atravessa, sua vida atrás das câmeras não poderia ser pior. Para Spritz ter uma vida totalmente feliz precisará acertar primeiro suas relações pessoais que estão em frangalhos. Ele é divorciado de Noreen (Hope Davis), seus filhos estão se distanciando dele e apresentando desvios de comportamento e ele ainda tenta desesperadamente conseguir uma palavra de aprovação de seu próprio pai, Robert (Michael Caine), um jornalista premiado que sempre o subestima. Os problemas de relacionamento com os filhos, a descoberta de que ainda ama a ex-mulher e a repentina revelação de uma grave doença do pai, todas estas descobertas trarão mudanças significativas para a vida de Spritz e momentos de tempestade emocional estão por vir. 

terça-feira, 7 de abril de 2015

DO QUE AS MULHERES GOSTAM

NOTA 7,0

Garanhão machista ganha o
dom de ouvir os pensamentos
das mulheres e assim rever
seus conceitos e condutas
Depois que se enveredou pelo caminho da direção em A Paixão de Cristo e Apocalypto, duas produções caras, complicadas e arriscadas, parece que os convites para Mel Gibson atuar começaram a ficar cada vez mais raros ou o próprio ator tornou-se mais seletivo. Seus trabalhos como diretor possivelmente criaram uma espécie de barreira para ambos os casos, afinal quem recriou as últimas horas de Jesus Cristo e se aventurou a explorar o cotidiano de uma extinta civilização certamente não poderia aceitar fazer qualquer papel, ele estaria em um patamar acima em sua carreira, isso sem falar no Oscar que já havia conquistado como diretor por Coração Valente. As constantes declarações polêmicas do ator a respeito de grupos sociais e religiões, por exemplo, também contribuíram para seu gradual afastamento do mundo do cinema, mas ainda assim o público não esquece seu rosto e os filmes dos quais participou e que marcaram época como a quadrilogia Máquina Mortífera. Símbolo de grandes bilheterias nos anos 80 e 90, praticamente na virada para o século 21 o ator ainda provava que podia transitar tranquilamente pelos mais variados gêneros e garantir bons lucros, como é o caso da comédia romântica Do que as Mulheres Gostam, longa que também marcou o retorno de Helen Hunt em um papel de destaque após os vários prêmios que recebeu cerca de dois anos antes por Melhor é Impossível. O casal tem química instantânea e contagiante. A história criada por Josh Goldsmith e Cathy Yuspa tem como pano de fundo o mundo da publicidade. Propagandas de cerveja, por exemplo, visam fisgar principalmente o público masculino com mulheres bonitas em trajes mínimos ou a boa e velha isca do jogo de futebol, aquela desculpa para se reunir com amigos. Antigas propagandas de cigarros vendiam uma falsa sensação de liberdade investindo pesado em viagens para captar imagens de belas paisagens, também visando a atenção dos homens. E as mulheres? Como elas eram retratadas nas propagandas? Os anos passaram e pouca coisa mudou. A maioria não se reconhece como as gostosonas da praia, as modelos que sorriem ao se besuntar de cremes hidratantes e também não querem ser retratadas como a dona de casa perfeita que sorri ao limpar um vaso sanitário. Justamente pelo fato da publicidade não compreender a alma feminina é que a empresa de marketing onde trabalha Nick Marshall (Gibson) está passando por maus momentos. Como chefe do departamento de criação ele acredita estar com seu emprego assegurado, mas quem cochila acaba sendo passado para trás.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

NOME DE FAMÍLIA

NOTA 8,0

Longa acompanha trajetória de
um jovem indiano para se adaptar
ao cotidiano americano sem abrir
mão da família e suas tradições 
As diferenças culturais que envolvem a adaptação de estrangeiros ao cotidiano agitado e aparentemente desregrado dos EUA, considerado a terra das oportunidades, são fontes inesgotáveis de inspiração para o cinema. O interesse pela exótica Índia também cresceu consideravelmente em todo o mundo. Nada melhor, portanto, que unir em um mesmo projeto as oportunidades e o modernismo inerente do solo americano e as crenças e tradições próprias da cultura indiana. Para tanto, a experiência de vida da cineasta Mira Nair foi fundamental para a realização de Nome de Família. Nascida e criada em meio aos costumes dos povos desse fascinante país, ela ficou conhecida quando lançou Um Casamento à Indiana, onde apresentou um pouco sobre a cultura de sua terra e com o qual ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Em seu terceiro projeto de grande expressividade, o outro foi a produção americana Feira das Vaidades, a diretora procurou mais uma vez revelar as crenças e o cotidiano da Índia, mas desta vez optou por acrescentar alguns elementos pertinentes ao mundo ocidental. Baseado no livro “O Xará”, da escritora inglesa Jhumpa Lahiri, esta é uma história sobre amor, valores, tradições e lealdade tendo como fio condutor a adaptação de um jovem indiano à vida fora de seu país, uma experiência que traz reflexos diretos a toda a sua família que tenta conviver com as novidades dos avanços da humanidade, mas sem perder suas raízes. Por ter intimidade com o tema, Mira realizou uma obra objetiva, bem construída e livre de deslumbramentos perante a uma cultura que praticamente é desconhecida por grande parte do público. Pensar nos americanos com anseio e receios quanto a presença de indianos em suas terras é fácil, mas poucas vezes paramos para pensar que a situação inversa também amedronta. O filme tem início nos anos 70, mas a narrativa escrita por Sooni Taraporevala acompanha a trajetória de uma família por três décadas até os dias atuais (lembrando que o filme é de 2006). Dessa forma, além de falar sobre xenofobia, dificuldades, transgressões e preservação da essência, o longa também consegue inserir alguns contextos políticos à trama enquanto configura um interessante painel de personagens que evoluem enfrentando um eterno confronto entre a manutenção das raízes e a aceitação da modernidade com seus prós e contras.

domingo, 5 de abril de 2015

CÍRCULO DE PAIXÕES

Nota 5,5 Ambição e amor motivam as relações entre jovens em drama romântico pouco ousado

Um filme que tem como objetivo fazer um retrato da juventude precisa essencialmente seguir os estereótipos que regem a rebeldia, ou seja, mostrar jovens indisciplinados, beberrões e namoradores, enfim pessoas que peitam qualquer regra para mostrarem que cresceram, mas continuam na ingenuidade de acreditarem que a maioridade significa ausência de limites. Muitos filmes que mostram os jovens contemporâneos chegam a ser de difícil digestão por causa de seus conteúdos que batem de frente com qualquer convenção e em momentos assim é comum as pessoas mais velhas relembrarem com saudosismo como era a juventude de antigamente, por vezes pintando um falso retrato como se todos os jovens do passado fossem santinhos. Entre os anos 50 e 60, por exemplo, o mundo todo começava a experimentar a força rebelde dos adolescentes e é justamente esta época que serve como pano de fundo para a trama do drama-romântico Círculo de Paixões. Baseado em um conto de Sue Miller, o roteiro de Ken Hixon enfoca os ritos de passagem da adolescência para a vida adulta e também aborda a questão da importância da ascensão social, um sonho talvez inerente a qualquer ser humano e independente da época. Quando eram crianças, os irmãos Holt, Jacey (Billy Crudup) e o caçula Doug (Joaquim Phoenix, cujo personagem é o narrador da história), ficaram órfãos de pai e desde então passaram a ajudar a mãe, vivendo assim suas vidas de forma humilde. Porém, um segredo do passado sustenta a ira do irmão mais velho em relação à família de Lloyd Abbott (Will Patton), clã conhecido na pequena cidade de Haley por suas finanças abastadas. Os filhos da Sra. Helen (Kathy Baker) acreditam que esse homem aplicou um golpe neles, já que a mãe vendeu para ele uma patente de uma invenção, que o ajudou a acumular fortuna, e também crêem que ele foi o responsável pela morte do pai deles. São as divergências de classes sociais e os sentimentos de inferioridade e obsessão que desencadeiam as histórias de amor do longa.

sábado, 4 de abril de 2015

O APARTAMENTO (1996)

Nota 5,0 Ciranda amorosa em ritmo típico de filme francês é confusa e dispersa atenção 

Um vício que muitos têm é de quase sempre cobrir de elogios produções fora do circuito hollywoodiano, ainda que na maioria das vezes seus conteúdos sejam de difícil assimilação. Contudo, existem alguns filmes do tipo cujas tramas são tão intrincadas que não conseguem atrair nem mesmo distribuidoras e talvez isso explique a demora de praticamente uma década para o thriller francês O Apartamento ter sido lançado no Brasil diretamente em DVD. O longa só conseguiu tal façanha devido a uma estratégia de marketing, visto que seu remake americano, intitulado Paixão à Flor da Pele, foi lançado por aqui em circuito comercial, embora sem atingir sucesso. Também pode ter influenciado o fato dos atores Vicent Cassel e Monica Bellucci estarem em alta em meados da década de 2000 emplacando muitos trabalhos em solo americano. É certo que só o fato de ser um filme francês e carregar certa aura (involuntária) de raridade, acrescido de ser a chance de fazer uma comparação com sua versão hollywoodiana, já seriam suficientes para chamar a atenção para este trabalho escrito e dirigido pelo então estreante Gilles Mimouni. O problema é que quem deposita grandes expectativas no projeto se decepciona. A narrativa não linear tem a função de prender a atenção do espectador até o final, mas é muito difícil seguir esta trama que fala de encontros e desencontros, coincidências e armações, sentimentos e desejos. Max Mayer (Cassel) é um executivo bem sucedido que após dois anos em Nova York está de volta a Paris e vai se casar com a noiva Muriel (Sandrine Kiberlain). Antes, porém, terá um encontro de negócios em Tóquio, mas algo faz o rapaz mudar todos os seus planos de uma hora para a outra. Ele vê de relance em uma cabina telefônica uma mulher que acredita ser Lisa (Bellucci), uma paixão avassaladora que teve em um passado recente, e próximo onde a moça estava encontra uma chave de um hotel parisiense e resolve entrar escondido no quarto para lhe fazer uma surpresa, mas não a encontra. Contudo, chama a atenção de Max um obituário rasgado o que o leva a um cemitério. Não encontra Lisa, mas passa a seguir um estranho chamado Daniel (Olivier Granier), a pessoa com quem a mulher da cabina estava conversando dizendo que a relação havia acabado. Como ele sabia que esse Daniel é o mesmo do telefonema? O que significa o tal obituário? Essas são apenas algumas das peças do quebra-cabeça proposto por Mimouni, porém, cheio de lacunas. E ainda em meio a tudo isso, por meio de flashbacks, ficamos sabendo como Max conheceu Lisa.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O DOM DA PREMONIÇÃO

NOTA 6,5

Elenco famoso e talentoso
trata de prender a
atenção em suspense que
não assusta ninguém
O diretor Sam Raimi é mais conhecido por ser o responsável pela trilogia Homem-Aranha que rendeu muita grana e marcou a primeira década dos anos 2000 e consequentemente o início do século 21. Apesar de já ter dirigido até drama, seu apreço é o mundo fantasioso e seu início de carreira também foi lidando com algo do tipo, porém, optando por explorar o lado sombrio e macabro em um projeto praticamente amador. A Morte do Demônio poderia ser considerado um produto trash, mas o passar dos anos elevou o status da obra à cult, uma iniciativa digna de aplausos. O fato de realizar um filme de terror com poucos recursos e apoiando-se na criatividade e técnicas simples, porém, inovadoras para a época, ajudou a fazer a fama do cineasta que tentou resgatar suas origens profissionais em O Dom da Premonição. Na realidade, a idéia realmente era só revisitar o campo dos mistérios do além, pois nesta produção elenco de peso e capricho na parte técnica não faltaram. A protagonista da trama é Annie Wilson (Cate Blanchett), uma viúva mãe de três filhos que possui dons psíquicos e sustenta a família lendo a sorte das pessoas, mas isso lhe custa a desconfiança da ala mais conservadora da população da pequena cidade interiorana onde vive. Donnie Barksdale (Keanu Reeves) é um dos principais desafetos dessa mulher e a acusa de estar manipulando sua esposa Valerie (Hilary Swank), a quem ele maltrata, para terminar o casamento. Quem sempre está ao lado de Annie é Buddy (Giovanni Ribisi), um rapaz perturbado que diz ter uma dívida de gratidão com a vidente e parece sempre estar por perto nos momentos em que ela precisa de ajuda. A vida de Annie passa a ser literalmente um pesadelo quando, através de suas visões, se envolve com o caso do assassinato de Jessica (Katie Holmes), uma patricinha que é noiva do diretor do colégio da cidade, o senhor Wayne (Greg Kinnear). Na realidade ela conheceu a moça ainda com vida e na mesma hora teve um sonho premonitório denunciando sua morte, mas omitiu o fato do casal. Agora, ela quer a todo custo comprovar quem é o culpado, mas não será fácil convencer as pessoas de que sua intuição está certa.