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segunda-feira, 20 de abril de 2015

REVELAÇÃO

NOTA 7,0

Mesmo com boa premissa e entrecho
final eletrizante, suspense é recheado de
situações clichês forçosamente amarradas
e se sustenta sobre o carisma de seus astros
Depois do estrondoso sucesso de O Sexto Sentido Hollywood insistentemente buscou manter em alta o gênero suspense com toques de espiritismo, atraindo a atenção inclusive de alguns profissionais sem intimidade alguma com o assunto. O diretor Robert Zemeckis sempre gostou de desafios e experimentar coisas novas, não a toa leva sua assinatura obras como Uma Cilada Para Roger Rabbit e a trilogia De Volta Para o Futuro. Apadrinhado por Steven Spielberg, ele também buscou trilhar caminhos semelhantes aos de seu mestre e do cinema espetáculo rapidamente pulou para o time de respeito da sétima arte. No entanto, após faturar o Oscar por Forrest Gump, Zemeckis tentava manter sua reputação profissional em alta, porém, a sorte parecia não acompanha-lo. O suspense Revelação mostrava-se ideal para mais uma vez comprovar que era um profissional sério e competente, mas faltou pouco para constatarmos isso. Por outro lado, é inegável seu faro para projetos que podem render generosas bilheterias, ainda mais contando com a ajuda de dois grandes astros. Michelle Pfeiffer e Harrison Ford na época amargavam anos de projetos fracassados ou medianos, contudo, seus nomes ainda causavam impacto, ainda mais porque os dois iriam trabalhar juntos pela primeira vez e interpretando papéis ligeiramente atípicos em suas carreiras. Eles dão vida ao casal Claire e Norman Spencer que começam a trama se despedindo da única filha que vai estudar em outra cidade. Casados há um bom tempo e levando uma vida confortável em um belo casarão isolado a beira de um lago, suas pacatas rotinas mudam consideravelmente de uma hora para a outra, ou melhor, há cerca de um ano Claire sofreu um acidente de carro e desde então vive em estado de alerta e com sobressaltos.

Passando a maior parte do tempo sozinha em casam Claire começa a vivenciar estranhas situações como portas que se abrem sozinhas, vidros que se partem e ruídos esquisitos. Tais fatos se intensificam depois que ela passa a bisbilhotar a vida do casal que habita a única casa das proximidades e encasqueta que o vizinho assassinou a esposa. Então a imagem de uma jovem mulher começa a amedronta-la com suas repentinas aparições e acredita em um primeiro momento que seja o espírito da suposta falecida tentando entrar em contato. Aos saber de tais visões, Spencer não dá muita bola ao assunto, porém, conforme o tempo passa fica claro que os misteriosos eventos tem alguma ligação com o casal fazendo com que Claire investigue por conta própria e se aproxime cada vez mais de uma terrível história do passado do marido. Zemeckis não faz questão alguma de disfarçar que se inspirou em obras do mestre Alfred Hitchcock, como Janela Indiscreta e Psicose, além de explorar assuntos sobrenaturais, temática em moda na época. Todavia, este é um suspense com pegada clássica já que há um esforço para desenvolver os personagens e as situações em que se envolvem de maneira lenta, o que ajuda a preparar terreno para os vários sustos que a produção reserva mais a frente. Envolvente e elegante, podemos dizer que o filme é até clean afinal não há sanguinolência, evita-se o abuso da trilha sonora antecipando sustos e temos apenas uma ou outra cena envolvendo aparições de fantasmas, mas mesmo assim é difícil não se sentir intrigado ou desgrudar os olhos do longa. A maneira como o roteirista Clark Gregg conduz a história nos faz indagar se ela passou por diversas modificações durante as filmagens ou se o trunfo do filme seria mesmo brincar com o espírito investigador de quem assiste. O vizinho seria mesmo um assassino? A protagonista está com problemas psicológicos? Seu marido realmente esconde um passado sombrio? A trama seguirá a linha de suspense do além? Estas são algumas indagações que surgem em nossas mentes.

Lançado com status de superprodução, hoje este suspense pode parecer apenas mais um titulo qualquer em meio a centenas de produções meia-boca que prometem mais do que cumprem, mas para as carreiras de seus protagonistas simbolizou uma revitalização. Ford já estava se acostumando a papéis de bom-caráter ou de príncipe-cinquentão e aqui se arriscou em uma interpretação ambígua, embora não consiga enganar por muito tempo quanto a real índole de seu personagem, mas o charme do galã ajuda a sustentar a farsa. No entanto, é Pfeiffer com seu carisma e beleza quem rouba a cena. Demonstrando a fragilidade comum às mulheres suja rotina se resume a cuidar do marido e da casa, Claire passa a brincar de detetive para preencher seu tempo ocioso, mas acaba perdendo a noção entre o real e o fantasioso. Com uma atuação crível e sem exageros, até mesmo na reta final cujas cenas despertam angústia e adrenalina, a atriz praticamente carrega o longa nas costas. Quem tem medo de afogamento melhor preparar o espírito. Não é exagero dizer que uma sequência em específico evoca o já citado Psicose, tanto pela coincidência de acontecer em um banheiro como também pelo apuro técnico e estético empregado. Todavia, o passar dos anos comprovam que o sucesso instantâneo de Revelação foi fruto apenas de um bom marketing. Projetado de última hora para ocupar o tempo de Zemeckis durante uma interrupção forçada das filmagens de Náufrago, é nítido que o enredo não tem nada de original, mas o que faz a diferença é a forma como os clichês são oferecidos. Além de contar com protagonistas de apelo junto ao público, coisa pouco comum no gênero, o longa também abandona alguns vícios típicos de produções que almejam intrigar o espectador. Há muitos momentos de silêncio, os efeitos sonoros são utilizados com parcimônia, cenas escuras demais são evitadas e existe uma preocupação em buscar ângulos e movimentações de câmera meticulosamente delineados. Contudo, à medida que o final se aproxima, a previsibilidade começa a tomar conta da trama e o suspense intimista dá lugar a uma boa dose de adrenalina que para alguns é o calcanhar de Aquiles da fita. De qualquer forma, as qualidades superam com folga os defeitos, o que torna difícil entender o porquê do filme não ter criado raízes no imaginário coletivo.

Suspense - 130 min - 2000 
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2 comentários:

  1. Marcou minha época de VHS.

    E é um ótimo suspense, de fato.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Esse filme é demais. Achei muito bem bolado. Principalmente o desfecho.
    Amei seu blog!! =D

    Bjs ;)

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