NOTA 7,0 Em meio ao seu inferno profissional, Nicolas Cage consegue acertar ironicamente interpretando um fracassado |
Flertando com o humor negro, o drama e a crítica ao estilo
de vida dos sonhos vendido pelos americanos bem-sucedidos, o filme pode
aparentemente passar a idéia de ser algo pesado, mas temos uma agradável
surpresa ao nos depararmos com um projeto de certa forma leve e que acalenta o
emocional do espectador. O roteiro se concentra nos altos e baixos da vida do
protagonista, um profissional exemplar, mas um fracasso como chefe de família,
porém, a interpretação de Cage demonstra literalmente que a esperança é a
última que morre. Longe dos estereótipos de heróis que interpretou a exaustão,
o ator interpreta um cidadão comum que apesar da imagem de sucesso tem que
lidar com problemas banais do cotidiano como a obesidade e o vício em cigarros
da filha pré-adolescente Shelly (Gemmenne de La Peña), os conflitos com o pai,
o casamento que acabou por tolices, enfim situações desagradáveis que em sua
maioria foram originadas por ele próprio, muito devido a seu desligamento do
mundo, momentos de distração ou esquecimento que não o deixaram enxergar a sua
realidade tal qual ela era. Talvez justamente por no trabalho só precisar
decorar certas coisas, apresentar e ir embora, Spritz demonstra total
incapacidade em lidar com as pequenas coisas do dia-a-dia, como se esperasse
que alguém fizesse aquilo para ele, desde uma simples compra no mercado até
lidar com o envolvimento involuntário do filho Mike (Nicholas Hoult) com um
terapeuta pedófilo. Aliás, as tramas paralelas colaboram e muito para o
envolvimento do espectador, isso porque são totalmente críveis e conduzidas por
um elenco afiado. Todavia, o excesso de problemas na vida do protagonista pode
se tornar um empecilho para alguns penetrarem em seu universo, embora seja
comum que uma desgraça sempre venha acompanhada de outra. De qualquer forma,
são passagens verossímeis que são adicionadas sem a intenção de comover
gratuitamente o público. Ainda bem. Com um enredo embriagado de melancolia
e intimismo é até difícil de acreditar que este projeto leva a assinatura do
cineasta Gore Verbinski que na época colhia os louros do primeiro capítulo da
saga Piratas do Caribe e já pensava nas duas novas sequências desta aventura
fantasiosa. Para descansar um pouco ele resolveu navegar por águas dramáticas e
se deu bem. Além de provar que tem talento para filmar obras mais realistas sem
cair em clichês, ele ainda conseguiu dar um gás para a carreira de Cage, inclusive
introduzindo um recurso interessante em sua obra: a narração em off do próprio
protagonista para melhor situar o espectador e acentuar o tom cômico ou crítico
das cenas.
A estrutura narrativa adotada foge totalmente ao esquema
sentimentalista de Hollywood, apesar de ser uma produção americana, e nos leva
a uma jornada profunda e crescente de desastres na vida do protagonista, mas em
nenhum momento ele abre espaço para o choro fácil e sempre mantém a cabeça
erguida para tentar consertar sua rotina familiar e até mesmo em seu trabalho,
já que ele é apenas um apresentador e não um meteorologista, o que o leva a se
tornar alvo de constantes ataques do público na rua devido as suas previsões do
tempo furadas. Impossível não rir em cenas como as que Spritz fica com cara de
bobo no meio da rua ouvindo piadinhas e recebendo alimentos arremessados por
populares arruaceiros. Graças a momentos como estes é que o longa se torna uma
opção interessante. Ao mesmo tempo em que o roteiro de Steven Conrad é ácido, também
há espaços generosos para momentos levemente cômicos, o que deixa a obra mais
descompromissada e palatável para os espectadores. Talvez o entrecho mais
puxado para o drama seja o desenvolvido na relação de Spritz com Robert. Apesar
do distanciamento, o homem do tempo terá o apoio do pai para norteá-lo durante
a fase da sua vida em que ele tentará reparar os erros do passado. Caine,
apesar da frieza de seu personagem, mais uma vez constrói um coadjuvante que
está a um passo de se tornar o personagem principal. Subestimado pelo público e
até mesmo pela crítica que não deu muita bola, O Sol de Cada Manhã é um filme
no fundo edificante e que nos leva a refletir a respeito das escolhas que
fazemos para nossas vidas, opções que podem se refletir de forma positiva ou
negativa mais cedo ou mais tarde. Traçando um paralelo com a realidade do
protagonista, planejar o dia de amanhã é tão difícil quanto prever como estará
o tempo, afinal ambos são surpreendentes e difíceis de dominar. Ainda bem que
sempre após a tempestade vem a bonança.
Drama - 102 min - 2005
Nicolas Cage nunca me convenceu....
ResponderExcluirGostei apenas de sua atuação em Despedida em Las Vegas. No resto acho ele um ator mediano que teve sucesso e que agora.....colhe os louros da derrota.
Gostei da resenha. bom blog. estou seguindo.
ResponderExcluirclimadefavela.blogspot.com