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segunda-feira, 27 de abril de 2015

O APRENDIZ DE FEITICEIRO

NOTA 3,0

Mais uma tentativa de Nicolas
Cage em ter uma franquia de
sucesso não tem história e vira
refém de efeitos especiais  
Quando você assiste a um pretenso filme de aventura e desde a introdução se entedia é para se questionar: existe algo mais frustrante que uma produção que promete diversão e adrenalina e no fim entrega uma baboseira confusa e sonolenta? A resposta é sim caso essa fita seja estrelada pelo caído Nicolas Cage que há anos tenta desesperadamente ter em mãos um sucesso com potencial para se tornar uma franquia. Motoqueiro Fantasma só teve uma continuação para cumprir tabela, mas não agradou, e se A Lenda do Tesouro Perdido é de longe seu trabalho que mais chegou perto de seu objetivo melhor não mexer em time que está ganhando. Assim em O Aprendiz de Feiticeiro o ator mais uma vez de uniu aos estúdios Disney, ao diretor Jon Turteltaub e ao produtor Jerry Bruckheimer, um nome sinônimo de blockbusters e que também buscava desesperadamente lançar mais uma série tão lucrativa quanto sua saga dos Piratas do Caribe. Contudo, o projeto não vingou. Sua fórmula mágica e maniqueísta (mocinhos e vilões estereotipados, situações previsíveis e enxurrada de efeitos especiais) então já mostrava sinais de desgaste. A trama já não começa bem com um prólogo longo e confuso que nos apresenta um episódio envolvendo o poderoso e lendário mágico Merlin e seus três discípulos, Balthazar Blake (Cage), Veronica (Monica Bellucci) e Maxim Horvath (Alfred Molina), este último que acabou enveredando para o caminho do mal. Centenas de anos se passam e já no século 21 o adolescente Dave (Jay Baruchel) vive traumatizado por conta de uma lembrança ruim da infância. Certa vez ele havia ido a uma loja de antiguidades em busca de um presente para a garota por quem era apaixonado e lá encontrou Blake que logo que bateu os olhos no menino tinha a certeza de que ele poderia ser um novo merliano, o seu sucessor nas artes da feitiçaria. Um anel com a imagem talhada de um dragão se enrolaria no dedo do predestinado quando estivesse de sua posse, mas o incrédulo Dave se recusa a ser o escolhido, ainda mais pelo susto que levou ao presenciar um conflito entre seu possível mestre e Horvath que surge inesperadamente no local.

Estar no meio deste fogo cruzado, ou melhor, deste embate cheio de raios e explosões, acabou custando a popularidade de Dave no colégio que se tornou alvo fácil de brincadeiras afinal ninguém acreditava em tal experiência que vivenciou. Já na faculdade ele reencontra Becky (Teresa Palmer), o seu grande amor da infância, mas por coincidência ou não também voltam em seu encalço os feiticeiros rivais. O adolescente então descobre que é o único que pode derrotar a maligna bruxa Morgana (Alice Kriege) que está prestes a ser libertada por Horvath e quer, como de praxe, dominar o mundo e ressuscitar os mortos para lhe servirem. O rapaz então aceita seu destino e decide se empenhar a aprender a lidar com a magia ao mesmo tempo que tenta levar uma vida normal e conquistar de vez sua paixão de longa data. Claro que desde o início já sabemos que tudo vai acabar bem para o jovem feiticeiro, mas o grande truque da produção deveria ser mostrar como ele conseguiria equilibrar sua rotina comum com os compromissos com a magia, contudo, nada funciona do início ao fim. Para começar, prega-se que o uso dos poderes mágicos deveria ser com parcimônia, invisível o máximo possível aos olhos dos humanos, mas como fazer isso em um filme cuja existência se justifica pelo abuso de efeitos especiais? Turteltaub reconhece que seu trabalho é refém de firulas digitais e lança mão de um grande arsenal de trucagens aproveitando-se da liberdade que o tema oferece. Logo no primeiro encontro entre Blake e Horvath, por exemplo, já temos uma prova de que absolutamente qualquer coisa que esteja ao alcance deles pode ser manipulado e usado como arma, seja de defesa ou de ataque. O diretor também aproveita os recursos modernos para fazer uma homenagem a própria Disney, talvez um pedido de Bruckheimer cujas ideias sempre são apadrinhadas pelo estúdio. Em determinado momento é recriada uma cena emblemática da animação Fantasia na qual Mickey Mouse vive um aprendiz de feiticeiro e tenta encantar vassouras e baldes para fazerem a limpeza da casa de seu mestre. Dave assume o comando dos esfregões, mas a sequência soa deslocada, uma homenagem falha para um clássico dentro de um filme esquecível no catálogo da empresa.

Muitas cabeças trabalharam para criar um projeto, no fundo, tão medíocre. Lawrence Konner, Mark Rosenthal e Matt Lopes pensaram no argumento, sendo que o último fez a primeira versão do roteiro que não agradou. Doug Miro e Carlo Bernard reescreveram, mas mesmo assim não evitaram furos, contudo, os deslizes tentam ser escamoteados pelo ritmo frenético que não deixa tempo livre para o espectador refletir sobre o que está vendo e tampouco criar vínculos com os personagens. Contudo, nada que impeça que ao chegar nos créditos finais caia a ficha de que acabara de assistir a um show pirotécnico sustentado por um fiapo de roteiro. Mesmo contando com a tecnologia a seu favor, O Aprendiz de Feiticeiro soa ultrapassado e carece de personalidade própria. Acompanhamos com tédio o que deveria ser empolgante e nem os momentos de humor funcionam, salvando-se a presença de Drake Stone (Toby Kebell), um estridente mágico colaborador de Horvath, uma atuação que também merece destaque e atípica no currículo de Molina. A grande piada do filme, para variar, é a presença de Cage. Além de sua atuação no estilo piloto automático cada vez mais ser aperfeiçoada, no caso ele ainda surge com uma bizarra cabeleira para acentuar a seu já natural visual de maluco. Contudo, por este trabalho ele não merece o prêmio de pior atuação. Quem lhe rouba o título é Baruchel que apesar de ter uma imagem que casa bem com o personagem (um nerd com jeitão desengonçado) não soube desenvolver o perfil. Esperava-se que sabendo de sua importância para salvar o mundo adotasse uma postura mais confiante e amadurecesse gradativamente, no entanto, ele continua sendo um bobão e no clímax sua pinta de herói não convence. Nem as tiradas de humor auto-depreciativas de Dave causam efeito. Existe o gancho de que Blake tem uma história de amor trágica com Veronica e que pode se repetir com o relacionamento do estudante e Becky, mas Turteltaub não consegue desenvolver nada a que se propõe. Sua preocupação é com os efeitos especiais para torrar boa parte do certamente polpudo orçamento. O pior é que mesmo assim o final deixa a desejar desperdiçando o potencial da vilã Morgana que é acionada apenas para um embate a fim de reiterar que o Bem sempre vence o Mal.

Aventura - 101 min - 2010

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