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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PERIGO EM BANGKOK

NOTA 2,0

Mais uma vez Nicolas Cage
surge inexpressivo em produção
esquecível, um remake bobo e
cheio de erros narrativos
Um assassino profissional deve ser rápido, não deixar pistas, ter sangue frio e jamais se envolver com suas vítimas ou quem quer que seja. É uma pessoa solitária que raramente pode se dar o direito de aproveitar o mundo real, mas logo precisa retornar a sua clausura, ao seu universo particular. O isolamento do protagonista de Perigo em Bangkok ironicamente pode ser compreendido como uma metáfora ao sentimento do espectador diante do longa. É muito difícil se sentir inserido neste universo em que o silêncio e o barulho de perseguições e tiroteios se alternam, mas em nenhuma destas circunstâncias identificamos algum elemento que faça este passatempo valer a pena. O campo de ação e suspense outrora era o porto seguro do ator Nicolas Cage, mas infelizmente mais uma vez ele colecionou um novo fracasso para o seu então já combalido currículo, contudo, o projeto teoricamente parecia ter potencial. Refilmagem de um longa homônimo tailandês de 1999 dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang, que depois viriam a fazer fama com produções de horror como Assombração, a obra tentaria ser ao máximo fiel ao original, tanto que os diretores foram mantidos assim como o cenário.  Todavia, o orçamento seria bancado por Hollywood, o que implica na aceitação de certas exigências. Os irmãos já não haviam se dado bem na primeira incursão americana, o suspense Os Mensageiros, mas agora estavam com material próprio em mãos, o que aumenta as chances de acerto, ainda mais que ele havia recebido o prêmio da crítica no Festival de Toronto de 2000. Filme de ação premiado? Sim, qual o problema? Provavelmente o longa original era melhor estruturado e com personagens mais sólidos, tudo o que falta ao remake. Na trama escrita por Jason Richman, do superior Em Má Companhia (o que não chega a ser um grande elogio), Cage vive Joe, um assassino profissional muito competente, mas que chegou a um estágio da atividade em que pesa a solidão que ela exige. A introdução busca fisgar o espectador dando a entender que este não é um filme de ação e suspense sem propósitos. Com narração em off, o protagonista revela detalhes sobre seu cotidiano que não compreende contatos sociais, apenas regras a serem rigidamente seguidas para seu trabalho ser perfeito. No entanto, ele sonha em abandonar essa carreira e levar uma vida normal.

Conhecido por ser um matador que não falha e livre de remorsos, Joe é contratado por Surat (Nirattisai Kaljaruech), um poderoso gângster tailandês para ele ir até a cidade de Bangkok para eliminar quatro desafetos do criminoso. Ele aceita a missão como seu último trabalho. Chegando lá ele contrata um ladrãozinho pé-de-chinelo chamado Kong (Shahkrit Yamnarm) para vigiar e comunicar todos os passos dos alvos a fim de traçar a melhor estratégia para eliminá-los. Como de costume, o ajudante também será morto ao término do acordo, mas neste caso o matador quebra as próprias regras que se impôs. Estranhamente, ele se apega ao jovem e passa a atuar como uma espécie de mentor. Ao mesmo tempo, Joe acaba se interessando por uma atendente de farmácia, Fon (Charlie Yeung), uma garota nativa completamente surda e muda. Talvez vivendo a famosa crise da meia-idade, o matador acaba baixando a guarda, mas justamente quando Surat decide partir para cima dele. Mas ele não ia fazer um grande favor a esse bandido? Qual interesse em ter Joe morto? Abafa o caso. Se bons filmes de ação já têm lá seus furos, imagine quando a produção é mal feita do início ao fim. Geralmente dizem que os problemas dos trabalhos de Cage é ele mesmo, mas é certo que além do ator não buscar se renovar os roteiros que ele aceita são duros de engolir. A premissa no caso não é das piores, já até foi usada em outros trabalhos de forma idêntica ou com variações, mas o problema é como a história é desenvolvida. Após os primeiros minutos, que devem animar os fãs de gênero e dar uma pontinha de esperança a quem preza pelo conteúdo, a dispersão de atenção já é notada, a começar pela forma suja e decadente como Bangkok é captada. Diante dos olhos estáticos e semblante apático de Joe, vemos uma cidade caótica, movimentada e onde a vida noturna se confunde com o submundo. Enquanto moças dançam em boates a procura de “serviços extras”, fora desses locais conchavos de criminosos fervilham seja para venda de drogas, muambas, extorsão ou o simples prazer de matar. É uma visão singular e preconceituosa, necessária para dar clima à produção, mas que pode ser mal interpretada por muitos. Cage, com seu pavoroso corte de cabelo, parece um zumbi ou extraterrestre em cena, afinal seu personagem não está acostumado a badalar. Seu incômodo é perceptível e se confunde com a sensação que a essa altura o espectador já está sentindo. Quem se guia pelo título, espera ver muitas cenas de perseguição e com barulhos ensurdecedores de tiros e derrapagens de carro, no caso com o acréscimo de possíveis cenas de lutas visto o cenário oriental da trama. Decepção a vista. Tais sequências não empolgam, são rápidas e aquelas que deveriam representar o ápice de tudo pecam pelo excessivo uso de tons escuros o que compromete a apreciação, isso se alguém ainda estiver acordado na reta final.

Se fica a dever em adrenalina, pode ser que os diretores tenham optado em elaborar melhor os ganchos dramáticos do enredo. Nada disso. O envolvimento de Joe e Kong não passa credibilidade, soa forçado, ainda mais quando nos damos conta da rapidez com que o pupilo aprendeu a lutar, mas de qualquer forma o rapaz talvez seja o único personagem que consiga demonstrar alguma emoção genuína. Pelo seu histórico de vida, é nítido que lhe faltou uma figura paterna como exemplo, por isso sua afinidade instantânea com aquele que lhe estendeu a mão. Inicialmente ele não sabe bem qual a profissão de Joe e pode ser que o enxergue como uma espécie de segurança, o que lhe inspira confiança. E o que dizer do forçado romance que não decola? Como um homem frio e avesso a contato pessoal pode de uma hora para a outra ceder aos encantos de uma moça, ainda mais quando a jovem em questão não tem graça alguma? O fato de ser surda e muda por ser interpretado como uma descarada forma de envolver o espectador para torcer pela redenção do protagonista, no entanto, a armadilha falha pela total falta de emoção desta relação, algo acentuado pela inexpressividade da atriz. Involuntariamente as cenas de Fon e Joe provocam risos desde o primeiro encontro em uma farmácia no qual ela faz mil e umas mímicas para conseguir estabelecer contato com o matador que então está ferido. Se ele há anos evita contato social, como ele se comunica tão bem com a moça compreendendo seus gestos e expressões? E como ela trabalha em uma profissão que exige diálogo com o público? A falta de credibilidade do romance fez com que os Pang abandonassem o gancho pouco depois da metade da projeção, mas já tarde demais para consertar alguma coisa.  Geralmente remakes são rotulados como produções inferiores e realizadas com o único objetivo de lucrar, não importando se vão subestimar o espectador ou se aproveitar da memória curta do mesmo. Pior é quando obras relativamente recentes ganham uma repaginada de seus próprios criadores, tudo para atender as vontades dos espectadores americanos que são avessos a produtos estrangeiros por conta das legendas ou dublagens. Perigo em Bangkok, no entanto, não agradou e afundou nas bilheterias, não sendo nada mais que um passatempo ligeiro para platéias pouco exigentes e que se contentam com clichês. Para quem gosta de conteúdo, um verdadeiro exercício de paciência difícil de ser concluído.

Ação - 99 min - 2008 

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