NOTA 4,0 Embora respeite a obra literária de Paulo Coelho, longa parece arrastado demais e dificilmente cria vínculos com o espectador |
Infelizmente os brasileiros têm mania de se menosprezar. Fora o futebol,
parece que em absolutamente tudo somos vistos como fracassados por outros
países, porém, esses são comentários de pessoas que se dizem espertas, mas no
fundo não passam de intelectuais frustrados que só fazem levar adiante
pensamentos contrários as massas, uma forma ilusória de se sentir acima dos
populares. Não é de hoje que alguns brasileiros tem se destacado
internacionalmente. Pelé, Xuxa, Caetano Veloso, Fernando Montenegro e em uma
fase mais recente Ronaldinho, Rodrigo Santoro, Ivete Sangalo e o ex-presidente
Luis Inácio Lula da Silva são alguns dos exemplos de personalidades que
construíram fama fora de nossos limites. Independente de suas realizações serem
boas ou ruins, o fato é que eles ajudaram a desfazer a imagem que o Brasil é um
país predominantemente habitado por índios (parece esquisito, mas até pouco
tempo ainda alguns países tinham tal visão). Um nome que há décadas já está em
evidência internacionalmente é o do escritor Paulo Coelho, conhecido pela
predileção por temáticas místicas, de autoajuda e afins. Suas obras, algumas já
vendidas para mais de 150 países, são questionadas por muitos que a consideram
uma literatura sem valor, no entanto, elas parecem atrair a atenção de muitos
produtores de cinema, ainda mais em tempos em que vivemos um boom do casamento
entre filmes e livros. Contudo o autor não parece seduzido facilmente por
cifras milionárias e faz jogo duro para vender os direitos para adaptações
cinematográficas. Após uma mal sucedida experiência de adaptação de uma de suas
obras para uma telenovela, Coelho finalmente cedeu, ou melhor, vendeu a um bom
preço os direitos de Veronika Decide Morrer, lançado sem
grandes alardes. Produção norte-americana, o longa não causou barulho em seu
território, mas curiosamente nem mesmo no Brasil foram feitos esforços para seu
sucesso, provavelmente uma previsão de que seu ritmo lento não agradaria e uma
gama de curiosos poderia espalhar críticas negativas. Bem, realmente este é um
filme para quem gosta de produções mais contemplativas ou no mínimo seja fã de
Coelho ou tenha lido a obra que serviu de inspiração. O problema é que fica
difícil se concentrar em um trabalho composto basicamente por cenas longas e
muitos momentos silenciosos que deixam a amarga sensação de que nada acontece
durante toda a projeção, ainda mais para aqueles que assistem com muita
expectativa e aos poucos precisam lutar contra a decepção. A impressão é que o
filme dura muito mais que o divulgado, algo que uns bons cortes na sala de
edição resolveriam facilmente adicionando ritmo e melhorando consideravelmente
o envolvimento do público com o longa.
Existem muitas obras literárias que acabaram sofrendo muitas
modificações quando adaptadas para o cinema, geralmente a maioria resultando em
trabalhos problemáticos que na ânsia por lucros no final das contas não agradam
aos fãs dos livros e tampouco o público leigo do assunto, mas Coelho pode se
dar por satisfeito com a atenção dedicada pelos produtores à Veronika
Decide Morrer. O conceito de autoajuda de sua obra foi preservado,
ainda que no longa fique a impressão que a protagonista em um passe de mágica
passou a enxergar a vida com outros olhos. Na realidade é muito difícil colocar
em pouco mais de uma hora e meia o conteúdo de mais de uma centena de páginas,
portanto é dever do espectador apreciar o filme e absorver sua mensagem para
depois refletir levando em consideração seus ideais e conceitos. Para alguns o
desejo de Veronika de tirar a própria vida não tem justificativa e a obra já
perde seu valor logo nos primeiros minutos. Infelizmente as sociedades
contemporâneas exageram no culto às riquezas materiais. Não há motivos para uma
jovem que vive em um belo apartamento e com dinheiro para se vestir bem querer
se matar, mas para ela nada disso adianta se ela não tem com quem dividir seus
problemas e alegrias quando está em casa. Dizer que a busca de um amor é a
causa de sua depressão seria um erro. Ela sente falta é de contato humano, seja
ele qual for, uma crítica implícita ao ilusório pensamento que vende a internet
como o meio para se comunicar com o mundo todo. Facilita com certeza, mas é
fato que verificamos que cada vez mais as pessoas estão egoístas e presas em
seu mundinho particular. Curiosamente a jovem suicida consegue esse tão
almejado contato afetuoso justamente em um local onde se sentia uma estranha
inicialmente. Muitos filmes já trouxeram ao público emocionantes histórias
tendo como palco hospitais psiquiátricos, mas neste caso existe uma falha
grave. Fora a protagonista defendida com esforço por Gellar, os demais
personagens são desinteressantes, sem aprofundamentos, somente estão em cena
para contar seus “causos” tristes ou de superação, mas não criam vínculos com o
espectador, como é o caso de Claire (Erika Christensen), uma jovem interna, e
Mari (Melissa Leo), uma paciente de meia-idade prestes a deixar a clínica se
preparando para enfrentar o mundo real. Já o paciente Edward, embora fale
pouquíssimo, consegue expressar seus problemas através de expressões faciais e
gestuais de forma convincente, mas seu envolvimento romântico com Veronika não
cativa, soa forçado. Grande parte dos problemas desta obra está na direção fria
da inglesa Emily Young que parece fazer questão de manter o espectador
distanciado de seu trabalho e se cerca de tudo que pode para atingir tal
objetivo. Talvez ela tenha se preocupado mais com técnica do que a emoção. O
início com cores escuras e trilha sonora mais forte chama a atenção, convida o
público a experimentar a claustrofobia do mundo dos perturbados mentais, mas
aos poucos os tons mais claros começam a tomar conta da tela acompanhados de
canções mais suaves. A medida que existe essa regressão sonora e visual
totalmente justificável em termos artísticos, a tendência é que o nível de
atenção do espectador caia na mesma proporção culminando em um final que não
causa impacto algum.
Drama - 103 min - 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este espaço está aberto para você colocar suas críticas ao filme em questão do post. Por favor, escreva o que achou, conte detalhes, quero saber sua opinião. E não esqueça de colocar a sua avaliação do filme no final (Ruim, Regular, Bom ou Excelente).