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quarta-feira, 6 de julho de 2016

VERONIKA DECIDE MORRER

NOTA 4,0

Embora respeite a obra literária
de Paulo Coelho, longa parece
arrastado demais e dificilmente
cria vínculos com o espectador
Infelizmente os brasileiros têm mania de se menosprezar. Fora o futebol, parece que em absolutamente tudo somos vistos como fracassados por outros países, porém, esses são comentários de pessoas que se dizem espertas, mas no fundo não passam de intelectuais frustrados que só fazem levar adiante pensamentos contrários as massas, uma forma ilusória de se sentir acima dos populares. Não é de hoje que alguns brasileiros tem se destacado internacionalmente. Pelé, Xuxa, Caetano Veloso, Fernando Montenegro e em uma fase mais recente Ronaldinho, Rodrigo Santoro, Ivete Sangalo e o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva são alguns dos exemplos de personalidades que construíram fama fora de nossos limites. Independente de suas realizações serem boas ou ruins, o fato é que eles ajudaram a desfazer a imagem que o Brasil é um país predominantemente habitado por índios (parece esquisito, mas até pouco tempo ainda alguns países tinham tal visão). Um nome que há décadas já está em evidência internacionalmente é o do escritor Paulo Coelho, conhecido pela predileção por temáticas místicas, de autoajuda e afins. Suas obras, algumas já vendidas para mais de 150 países, são questionadas por muitos que a consideram uma literatura sem valor, no entanto, elas parecem atrair a atenção de muitos produtores de cinema, ainda mais em tempos em que vivemos um boom do casamento entre filmes e livros. Contudo o autor não parece seduzido facilmente por cifras milionárias e faz jogo duro para vender os direitos para adaptações cinematográficas. Após uma mal sucedida experiência de adaptação de uma de suas obras para uma telenovela, Coelho finalmente cedeu, ou melhor, vendeu a um bom preço os direitos de Veronika Decide Morrer, lançado sem grandes alardes. Produção norte-americana, o longa não causou barulho em seu território, mas curiosamente nem mesmo no Brasil foram feitos esforços para seu sucesso, provavelmente uma previsão de que seu ritmo lento não agradaria e uma gama de curiosos poderia espalhar críticas negativas. Bem, realmente este é um filme para quem gosta de produções mais contemplativas ou no mínimo seja fã de Coelho ou tenha lido a obra que serviu de inspiração. O problema é que fica difícil se concentrar em um trabalho composto basicamente por cenas longas e muitos momentos silenciosos que deixam a amarga sensação de que nada acontece durante toda a projeção, ainda mais para aqueles que assistem com muita expectativa e aos poucos precisam lutar contra a decepção. A impressão é que o filme dura muito mais que o divulgado, algo que uns bons cortes na sala de edição resolveriam facilmente adicionando ritmo e melhorando consideravelmente o envolvimento do público com o longa.

A atriz Sarah Michelle Gellar, famosa pelo seriado “Buffy –A Caça Vampiros”, tem aqui sua grande chance de mostrar sua veia dramática já que sua imagem é muito atrelada a produções de humor ou de temática adolescente que não lhe exigem grandes esforços, salvo no drama Segundas Intenções. Ela dá vida ao personagem-título, Veronika, que logo no início nos apresenta em uma série de colagem de imagens e um desabafo em off um pouco de sua rotina aparentemente perfeita. Ela é bonita, bem sucedida na profissão, tem um invejável apartamento, mas é a prova de que dinheiro não traz felicidade. Faz falta um companheiro de verdade, mas ela sabe que o amor é feito de fases e que provavelmente quando se tornasse mãe seu príncipe encantado se tornaria um vilão. Ela ainda divaga um pouco sobre a situação do mundo atual, um ambiente que realmente nos angustia e cada vez faz mais cobranças que doações. Diante de uma vida que julga totalmente sem graça, ela decide ingerir uma grande quantidade de comprimidos de uma só vez em uma tentativa desesperada de cessar seu sofrimento, todavia não consegue. Ela é socorrida e levada para uma instituição psiquiátrica onde recebe os cuidados do Dr. Blake (David Thewlis) que lhe dá a notícia de que ela está a salvo temporariamente. Os remédios que ingeriu afetaram drasticamente seu coração. Uma cirurgia poderia levá-la a morte imediatamente e qualquer tratamento seria apenas paliativo. Sua única alternativa é tentar viver da melhor forma possível dentro da clínica o pouco tempo que lhe resta, mas isso ela só descobre depois que tem contato com outros pacientes e conhece seus dramas, principalmente o do misterioso Edward (Jonathan Tucker), um jovem que ficou muito perturbado após o grave acidente que matou sua namorada. Até a parte em que tenta mais uma vez se suicidar e é impedida pelos médicos a trama parece atraente, mas a partir do momento em que a protagonista descobre repentinamente um motivo para querer viver a narrativa começa a declinar. O roteiro de Roberta Hanley poderia se aprofundar mais na temática da depressão, um dos principais males da modernidade, mas a expõe com uma simplicidade que incomoda. Logo os pensamentos negativos de Veronika começam a ficar escassos e a fotografia que destaca uma luz branca, efeito semelhante ao usado quando querem passar a ideia do Paraíso, ajudam a refletir seu momento de vida, praticamente a mesma sensação daqueles que de uma hora para a hora dizem ter sido salvos por Deus quando se apegaram a uma religião.

Existem muitas obras literárias que acabaram sofrendo muitas modificações quando adaptadas para o cinema, geralmente a maioria resultando em trabalhos problemáticos que na ânsia por lucros no final das contas não agradam aos fãs dos livros e tampouco o público leigo do assunto, mas Coelho pode se dar por satisfeito com a atenção dedicada pelos produtores à Veronika Decide Morrer. O conceito de autoajuda de sua obra foi preservado, ainda que no longa fique a impressão que a protagonista em um passe de mágica passou a enxergar a vida com outros olhos. Na realidade é muito difícil colocar em pouco mais de uma hora e meia o conteúdo de mais de uma centena de páginas, portanto é dever do espectador apreciar o filme e absorver sua mensagem para depois refletir levando em consideração seus ideais e conceitos. Para alguns o desejo de Veronika de tirar a própria vida não tem justificativa e a obra já perde seu valor logo nos primeiros minutos. Infelizmente as sociedades contemporâneas exageram no culto às riquezas materiais. Não há motivos para uma jovem que vive em um belo apartamento e com dinheiro para se vestir bem querer se matar, mas para ela nada disso adianta se ela não tem com quem dividir seus problemas e alegrias quando está em casa. Dizer que a busca de um amor é a causa de sua depressão seria um erro. Ela sente falta é de contato humano, seja ele qual for, uma crítica implícita ao ilusório pensamento que vende a internet como o meio para se comunicar com o mundo todo. Facilita com certeza, mas é fato que verificamos que cada vez mais as pessoas estão egoístas e presas em seu mundinho particular. Curiosamente a jovem suicida consegue esse tão almejado contato afetuoso justamente em um local onde se sentia uma estranha inicialmente. Muitos filmes já trouxeram ao público emocionantes histórias tendo como palco hospitais psiquiátricos, mas neste caso existe uma falha grave. Fora a protagonista defendida com esforço por Gellar, os demais personagens são desinteressantes, sem aprofundamentos, somente estão em cena para contar seus “causos” tristes ou de superação, mas não criam vínculos com o espectador, como é o caso de Claire (Erika Christensen), uma jovem interna, e Mari (Melissa Leo), uma paciente de meia-idade prestes a deixar a clínica se preparando para enfrentar o mundo real. Já o paciente Edward, embora fale pouquíssimo, consegue expressar seus problemas através de expressões faciais e gestuais de forma convincente, mas seu envolvimento romântico com Veronika não cativa, soa forçado. Grande parte dos problemas desta obra está na direção fria da inglesa Emily Young que parece fazer questão de manter o espectador distanciado de seu trabalho e se cerca de tudo que pode para atingir tal objetivo. Talvez ela tenha se preocupado mais com técnica do que a emoção. O início com cores escuras e trilha sonora mais forte chama a atenção, convida o público a experimentar a claustrofobia do mundo dos perturbados mentais, mas aos poucos os tons mais claros começam a tomar conta da tela acompanhados de canções mais suaves. A medida que existe essa regressão sonora e visual totalmente justificável em termos artísticos, a tendência é que o nível de atenção do espectador caia na mesma proporção culminando em um final que não causa impacto algum. 

Drama - 103 min - 2009 

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